Ele se sentou e começou a se servir, enquanto os olhares de repúdio eram dirigidos ao Leonardo.
Rafael estava certo de que terminaria de jantar e iria ao encontro do Marcos, no celeiro. Ele ia investir suas fichas no cowboy gostosão e esquecer de vez o primo. Depois de tudo que ouvira na noite anterior, resolveu dar um basta de uma vez por todas, em qualquer vestígio de sentimento que sentia pelo Leonardo.
O jantar transcorreu como o de costume, a tirar pelo tio do Rafa que não parava de falar de gado, negócios, agropecuária, enfim. Duda percebeu a agitação do amigo e a sua pressa em sair logo da mesa.
- Se for se contratar com o Marcos tente ao menos disfarçar. O seu celular não para de tocar. – disse o Duda. – Mas antes, será que podíamos conversar?
- Depois. – cochichou o Rafa. – Eu marquei às dez horas em ponto. Resolvi investir nele, e se der certo, não me envolverei com mais ninguém.
- Será que é isso mesmo que você quer?
- O que tanto vocês cochicham, posso saber? Por acaso estão tramando alguma coisa? – perguntou a tia dele.
- Claro que não tia. Eu só estou mostrando umas fotos minha ao Eduardo. Bom, Já terminei o meu jantar, e peço licença para me retirar. Vou apreciar o céu estrelado e depois dormir.
- Por que não chama o seu amigo pra ir junto com você?
Sua tia adorava enchê-lo de perguntas, e ele tinha que se segurar para não explodir. O Leonardo sabia que ele não iria apreciar nada lá fora e que ele pretendia ir para algum lugar.
- O Duda preferiu ficar e assistir um filme no quarto.
- É verdade. – afirmou ele, dando cobertura ao amigo.
Sem mais rodeios, ele seguiu para o celeiro ao encontro do Marcos. O Leonardo saiu em seguida, despistando o Eduardo, para que ele não pudesse avisar ao Rafael, e passou a segui-lo discretamente. A distância entre a casa e o celeiro era mais ou menos de 600 metros, e ele andava rápido com medo de encontrar algum bicho no caminho, pois era noite a mal conseguia ver a vegetação. Leonardo se escondia em galhos e plantas, até que finalmente, o avistou entrando no celeiro, onde as luzes permaneciam acesas.
*****
- Pensei que não fosse vir. Não respondeu a minha última mensagem. – Marcos estava encostado num canto.
- Eu não tive tempo de responder. A minha tia é mais grudada em mim, do que no próprio marido dela. Mais enfim, o importante é que eu vim.
- Senti saudades de você. Hoje não nos falamos... Eu tive que ir até a cidade comprar alguns materiais. Semana que vem acontece à feira agropecuária e com certeza o seu pai ai está aqui.
- Sério? Já vi que os meus dias serão um tormento. Falando em pais, e os seus?
- Estão dormindo. Eles dormem cedo...
- Eles devem ter o maior orgulho de você. Um filho formado, bonito, educado, trabalhador... Eu diria que você é o exemplo de homem perfeito! Só não entendo o que faz aqui neste fim de mundo.
- Bom, respondo a sua primeira afirmação, estou longe de ser perfeito. Tenho muitos defeitos e você vai descobri-los aos poucos. E em relação a está neste lugar lindo... O seu pai me paga muito bem pra cuidar dos negócios dele aqui na fazenda... Mas agora que já conversamos sobre os nossos pais, que tal falar de nós? Hã?
- É justamente sobre isso que eu quero conversar com você. Naquele dia no lago, você me disse que tinha namorada. Como pretende seguir uma historia comigo, sendo que é comprometido?
- Eu menti! Não existe namorada. Nunca existiu. Eu sou gay. Não curto mulheres.
- E porque não me disse isso antes? – Rafael mostrou certa raiva.
- Porque eu precisava ter a certeza de que você estava interessado em mim. E outra, eu trabalho para o seu pai; fiquei com medo de alguém ou até você mesmo, falar de nós dois e ele me demitir.
- Eu pensava que você tivesse mais atitude e coragem. – ele balançou a cabeça.
- E tenho! Quer vê? –Marcos o puxou pela cintura e o prendeu nos braços. Em seguida mordeu os lábios dele e devorou sua boca, como se fosse um canibal. Rafael ficou meio sem jeito, mas logo depois já se rendia aos encantos dele.
Afoito, Marcos tirou a camisa e a calça, ficando só de cueca. Rafael também se despiu e ambos se abraçaram mais uma vez. Desta vez, com toques mais lentos, descobrindo cada detalhe do corpo um do outro... Leonardo por sua vez, assistia toda a cena de longe, e raiva se misturava a uma tristeza profunda que atingiu a alma dele. Segurou-se para não chorar. Queria ser forte e sair dali o mais rápido possível. Sumiria da vida do Rafael pra sempre!
No caminho de volta, ele desabou no choro e uma lembrança dos dois veio-lhe a mente.
*******
TRÊS ANOS ATRÁS...
- Essa noite foi a mais perfeita de todas! Eu ainda estou meio confuso, mas não tenho dúvidas do amor que sinto por você. Promete que vai ser meu? – Rafael, com apenas 14 anos, estava deitado sobre o peito do Leonardo, sentindo as primeiras sensações do amor. Seu coração pulsava por dentro, afinal, seu primo sempre fora sua grande paixão, e ele finalmente pôde contemplar um momento especial ao lado dele.
- Eu prometo! Seremos felizes, e ganharemos o mundo. Não importa o que vão pensar de nós, o que irão dizer... O importante é que temos um ao outro e você é a coisa mais importante da minha vida.
- Jura Leo? Eu não saberia viver sem você. Eu sei que sou novo de mais e você deve está pensando: como vou me aventurar com um adolescente? – Mais você sabe que isso ao importa e eu enfrento tudo por você.
- Eu disso. Eu te amo Rafael! Vamos ficar juntos!
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Ele voltou à realidade. Aquela lembrança foi à última cena, antes do jantar e das avalanches de decepções que ele viria a descobrir do Rafael. E mais uma vez, dentre tantas vezes, ele estava ali, chorando e se decepcionando com a mesma pessoa. Mas colocaria um ponto final nesta história e viveria a sua vida.
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Enquanto isso na fazenda, o Duda já em seu quarto, refletia a conversa que teve mais cedo com o Leonardo. Se fosse verdade, o grande amor da sua vida era inocente e não um pervertido e aproveitador de menores, como ele sempre julgou. Duda escondia uma paixão secreta por ele, desde o primeiro dia em que o viu, mas quando soube que o seu melhor amigo, era apaixonado pelo próprio primo, fez questão de guardar este sentimento e sofrer calado, a dor de amar e não ser correspondido. Ninguém sabia do que ele sentia, ninguém!
*****
Após mais uma transa selvagem, misturada com carinho e troca de palavras doces, Marcos alisava os cabelos do Rafael e seus olhos pareciam buscar os dele, para revelar algo que talvez o chocaria.
- Você quer me dizer alguma coisa? Está me olhando de um jeito estranho...
- Primeiro, eu quero saber o que sente por mim. Porque eu vejo como você fica quando o seu primo está por perto.
- Eu quero você. Eu estou apaixonado por você. Esqueça o Leonardo. Agora somos nós e mais ninguém. – Rafael beijou os lábios dele e se afastou. – Agora me diz, o que você quer me dizer?
- Bom, eu vou direto ao ponto. Você não precisa ficar comigo se quiser... Rafael, eu freqüento clube de orgia. Eu sou viciado em sexo grupal, e queria que você participasse comigo.
- Você o quê? – ele se espantou!
CONTINUA...