Gabriel narrando
Eu estava sem saída. Eles iriam acabar comigo. O primeiro soco que levei foi do Diego, seguido de um chute que eu nem vi de onde veio. Eram socos e chutes que eu nem tinha como me defender, eu ja sangrava por toda parte. Eles começaram a me carregar pra uma ruazinha perto da escola, claro que pra não dar muita bandeira, ja que espancar alguém na porta da escola não é algo tão normal assim. chegando la eles me jogaram no chão e começaram a me chutar por todos os lados, principalmente no estomago. Eu ja tinha chorado tudo o que eu podia e nem pra isso tinha mais forças, eu estava com muita falta de ar, acabei fechando os olhos, eu estava cansado. De repente eles pararam de me chutar, e foi um alívio muito grande.
- Tá bom galera. Era só pra ele levar um susto mesmo.- Disse o Diego com um sorriso no rosto.
- Não, espera aí, tive uma ideia melhor.- Eu abro o olho e vejo um outro garoto desabotoando a calça. Ah meu Deus, eu não acredito que eles vão ter coragem de me... de me... es-estuprar. Comecei a entrar em panico, quando sinto um líquido quente atingir o meu rosto. Sim, o garoto estava urinando em mim. Isso sem dúvidas foi mais humilhante do que toda aquela surra. Alguns dos outros começaram a fazer o mesmo. Meu Deus como isso é nojento. Eu voltei a chorar com toda a minha força, estava ali derrotado, acabado, destruído. Sinto por último um chute na cabeça que me faz desmaiar.
Horas depois, acordo deitado no mesmo lugar, ja era noite e eu estava me sentindo muito fraco. Levantei-me com muita dificuldade me apoiando na parede. Olho a hora no meu celular que estava dentro da bolsa e vejo que ja são 18:30 hrs. vejo também chamadas do celular do meu pai, da minha mãe e do Max. Claro que o unico que não ligou foi o Gus que devia estar pouco se lixando pra mim. Não retornei de volta pois estava com raiva e precisava pensar. Tudo aquilo foi culpa do Gustavo. Se ele tivesse vindo me buscar no horário certo, esses caras não tinham me pegado. Aposto que ele nem se deu ao trabalho de passar na escola, ja que o Max iria de ônibus, eu que me virasse pra voltar pra casa. Andei pelas ruas me arrastando. o percurso que demora uns 15 minutos de carro, eu demorei quase uma hora a pé. Tambem, no estado que eu me encotrava, quase não conseguia andar. Eu estava fedendo muito a urina e estava com nojo de mim mesmo. Eu comecei a chorar de novo lembrando de tudo, da dor, da humilhação. cheguei na porta de casa e entrei. Estavam todos na sala com cara de preocupados. Inclusive o Gustavo, que deveria estar pensando só na culpa que cairia sobre ele caso eu tivesse sei la, morrido. Minha mãe me olha e se desespera.
- MEU FILHO!! MEU DEUS O QUE FIZERAM COM VOCÊ??- Ela começa a chorar descontroladamente e tenta vir me abraçar, mas eu a afasto com o braço esticado.
- Eu estou fedendo a urina, essa não é uma boa ideia.- falo sério.
- Mas filho o que houve? quem fez isso?- meu pai pergunta, mas eu ignoro. Começo a andar lentamente em direção ao meu alvo, o Gustavo. Eu estava possesso. Cheguei bem perto dele e o fuzilei com os olhos. Se tinha uma coisa que o meu olhar poderia transmitir naquele momento, era ódio. Comecei a falar rangendo os dentes.
- Isso tudo aqui é culpa sua.- Falei mas ele virou o rosto pro lado para não me encarar- OLHA PRA MIM!- Segurei seu rosto em minha direção.- Você ta me vendo nesse estado? Eu quero que você me veja bem, e memorize bastante o que você vê. Ta sentindo esse cheiro?- Ele permaneceu calado.- RESPONDE PORRA!- Minha mãe e meu pai se assustaram com meu tom de voz e com o meu vocabulário. Claro, eram acostumados a ir pra igreja e não eram acostumados com palavrões, mas eu estava nem aí pra eles. O gus só fez um sinal afirmativo com a cabeça.- Esse cheiro é de urina. Sim, depois de terem me espancado, acharam que era uma boa ideia mijar na minha cara.- Minha mãe chorou com mais força e abraçou o meu pai. Max assistia tudo do sofá em silencio. Ele virou o rosto de novo pro lado.- EU DISSE PRA VOCÊ VIRAR A DROGA DESSE ROSTO PRA MIM. NÃO É VOCÊ QUE É O MACHÃO DAQUI? POR QUE NÃO ME OLHA?- Virei seu rosto pra mim agora com força.- Eu me encontro nesse estado graças a você. Eu fiquei na porta da escola esperando você passar e bastava só você chegar no horário certo e nada disso teria acontecido. Mas eu aposto que você nem passou por la né? Eu que me virasse não é? Até porque o seu unico irmão ali estava em outra escola e voltaria de ônibus, pra que perder tempo comigo não é mesmo? Eu poderia ter sido salvo disso, mas não, você mais uma vez conseguiu ser um babaca e por pura birra não foi me buscar, seu inutil. Mas deixa estar... eu não quero mais sua ajuda pra nada. Nem que eu vá pra escola todos os dias a pé, mas com você eu não vou mais, a partir de hoje pode esquecer que eu existo, esquece que você tem um irmão mais novo, porque eu vou fazer questão de esquecer que eu tenho um mais velho. Na verdade não tem como eu esquecer de alguém que nunca existiu né?- Nessa hora, uma lágrima despencou de uma vez de seu olho- aah não, não acredito que você vai começar a chorar... mas logo agora que você conseguiu o que queria vai começar a chorar?- Falei com um sorriso sarcástico. Eu não me reconhecia.- Deve ser lágrima de alegria né? Em saber que você finalmente se livrou de mim. Vamos fazer um acordo? É o seguinte, eu morri pra você e você morreu pra mim, combinado?- Ele baixou e balançou a cabeça negativamente, agora com um choro mais forte.- Mas como não? Pensei que era isso que você queria. Todas as vezes que me bateu, que me ofendeu... pensei que eram tentativas de me afastar, como agora você não quer? É claro que vai aceitar a minha proposta.- peguei em sua mão e a apertei.- Pronto, acordo feito. Agora é oficial, você definitivamente não faz mais parte da minha vida, nem eu da sua. Pode pegar o vinho e abrir pra comemorar.- Eu parei com o tom sarcástico e voltei a falar sério novamente.- Essas são as minhas ultimas palavras antes de morrer para você, então escuta com atenção: EU TE ODEIO. VOCÊ É UMA DAS PIORES PESSOAS QUE EU JA CONHECI. - Não aguentei e comecei a chorar de novo, só que agora, de raiva e decepção.- VOCÊ REPRESENTA PRA MIM AS PIORES COISAS QUE SE PODEM ACHAR EM UM SER HUMANO. FUTILIDADE, EGOÍSMO, NARCISISMO, EGOCENTRISMO, ENTRE OUTRAS "QUALIDADES" QUE VOCÊ TEM. EU SINTO NOJO DE VOCÊ E PRINCIPALMENTE VERGONHA DE SER SEU IRMÃO.- Ele continuava chorando de cabeça baixa.- Agora se me dão licença eu vou subir e tomar um banho, porque eu não aguento mais me sentir esse lixo em forma de gente, e por favor eu não quero ninguém me seguindo e nem me enchendo de perguntas agora.- Meus pais me olhavam com cara de extrema surpresa. Não esperei respostas e subi. Vou tomar um banho pra lavar até a alma.
Entrei no banheiro do meu quarto, tirei minha roupa e entrei debaixo do chuveiro, deixei a água correr pelo meu corpo, depois de um tempo comecei a me esfregar com muita força e nessa hora eu comecei a chorar como nunca antes. Eu chagava a gritar e não me importava com quem estivesse ouvindo, eu só queria colocar tudo aquilo pra fora. Eu chorava que ficava sem ar, enquanto me esfregava com muita, muita força. Eu queria tirar todo o nojo que eu sentia de mim naquele banho. Eu estava fazendo aquilo com tanta força que parecia que minha pele ia ser arrancada. Se isso acontecesse por mim tudo bem, eu não queria estar mais dentro daquela pele mesmo. De repente vejo o Max na porta do banheiro acompanhando a cena com um olhar triste. Eu olhei pra ele com desespero. Ele tirou o calção e ficou só de cueca, entrou debaixo do chuveiro e tentou tirar a esponja da minha mão.
- NÃO Max, sai daqui, larga essa esponja. Eu não quero que ninguém me veja assim, eu preciso me limpar.- Comecei a esmurrar seu peito ja sem força, ele me abraçou.
- Xiiiii.... calma, tá tudo bem, vai ficar tudo bem ok? Eu estou aqui. Pode chorar o quanto quiser, eu não vou sair daqui. - Ele continuava me abraçando, segurando minha cabeça em seu peito.
- Por que comigo Max? Por que sempre comigo? Eu nunca faço nada contra ninguém e mesmo assim todo mundo me odeia. Eu deveria morrer isso sim.
- Ei- ele nos afastou um pouco e pegou no meu rosto com as duas mãos.- Nunca mais fale uma besteira dessas ta me ouvindo? Eu te amo muito. Você é muito especial pra mim, pro João Lucas, pros nossos pais... podem ser poucas pessoas, mas sãos as que mais importam. Não se esqueça que eu vou estar do seu lado pra tudo o que você precisar.- Eu continuei chorando. Ele pegou a esponja e começou a passar com delicadeza na minha pele e eu só ficava parado vendo ele me limpar. Ele pegou o shampoo e passou nos meus cabelos, depois tirou e passou o condicionador. Ele estava me dando banho. Eu só conseguia chorar. Ele então foi la fora, voltou com uma tolha e me envolveu com ela, começou a enxugar meus cabelos, depois meus braços, costas e peito e por ultimo minhas pernas. Eu estava meio sem reação, pois nunca imaginaria o meu irmão cuidando de mim daquela forma. Saímos do banheiro e no quarto ele tirou sua cueca e vestiu uma seca. Jogou uma pra mim e eu a vesti também. Deitou na minha cama e me chamou. Fui e deitei em seu peito, o abraçando com muita força. As lágrimas caíam agora em silencio, acompanhadas de uma respiração pesada. Minha mãe entra pela porta. Meu Deus como eu estava com vergonha de que ela me visse nesse estado.
- Gabriel, meu filho me conta por favor quem fez isso com você?- Ela perguntou e eu enfiei o rosto no pescoço do Max tamanha a vergonha de falar sobre o assunto.
- Mãe a senhora não está vendo que ele ta muito abalado? Não é legal ficar falando disso agora, deixa pra vocês conversarem amanhã ta bom? Pode deixar que eu cuido dele.- O Max respondeu por mim e nossa mão compreendeu. Ela se aproximou e beijou meu rosto, passando a mão nele logo em seguida. Saiu e não falou nada. Passaram-se quase uma hora e nada de eu conseguir dormir. As lágrimas ja haviam secado deixando apenas a respiração forte.
- Gabe?
- Oi.- Minha voz saiu bem falhada.
- Você confia em mim não é?
- Sim, mais que tudo. Você se tornou o meu porto seguro Max.
- Então me fala, quem fez isso com você?
- Não, você vai acabar fazendo besteira e vai sobrar pra mim de novo.
- Gabriel escuta bem, essa foi a última vez que eu deixei algo acontecer com você naquela escola. A partir de hoje eu vou ficar bem atento, nem que pra isso eu tenha que sair do futebol.
- Não Max, você não pode deixar de viver sua vida por minha causa, isso não existe.
- Olha eu prometi pra mim mesmo e pra você que eu não vou mais deixar nada te acontecer, e eu costumo honrar a minha palavra.
- Deixa isso pra la Max por favor, você vai se meter em encrenca.
- Se você não me contar, eu descubro sozinho e vai ser pior.
- Foi o Diego- Falei essa frase mais baixo que as outras.- E aqueles garotos da sua sala que me derrubaram no pátio.- Quanto mais eu falava, maior era a vergonha. Seu peito encheu de ar e muito rapidamente se esvaziou. Ele estava bufando de raiva.
- Eu vou matar aqueles desgraçados.- Ele deu um soco no colchão.
- Está vendo? Eu sabia que você ficaria assim, por isso não quis contar.
- Tudo bem, eu vou me acalmar, agora tenta dormir, você está precisando.
- Eu não consigo. As cenas voltam uma apos a outra na minha cabeça.
- Tudo bem, então a gente pode conversar sobre alguma coisa pra ver se você se distrai até conseguir dormir, que tal?
- Ta legal.
Começamos a conversar sobre assuntos variados. Ele me falou de uma menina da sala dele que ele estava ficando e que achava que iria dar certo. Estava pensando em pedir a menina em namoro. Eu ja tinha visto ela na escola, e era de cair o queixo a sua beleza. A típica loira dos olhos azuis. Fiquei feliz por ele. Continuamos conversando sobre algumas outras coisas até que ele pergunta.
- Gabriel, você ja ficou com alguém?- Nessa hora eu devo ter ficado muito vermelho.
- N-não- cara que vergonha falar sobre aquilo com ele.
- Você ja beijou alguém?
- Ta-também não.- Aquela situação era extremamente embaraçosa pra mim. Saí de cima dele e me virei para o outro lado.- Acho melhor a gente ir dormir agora, já estou com sono. Se quiser pode voltar pra sua cama, obrigado por tudo, de verdade.- Falei ainda virado para a parede, não queria encará-lo.
- Olha tudo bem, você não precisa sentir vergonha de mim ok? Eu sou teu irmão, a gente cresceu juntos, se conhece desde sempre. Não precisa ficar assim... Eu entendo que esse é seu jeito mesmo, tímido, mais na tua e agora eu sei que não há problema nenhum nisso.- Claro que não era só pela timidez que eu nunca beijei alguém, mas ele não precisava saber desse detalhe.- Anda, vem cá, deita aqui de novo.- Ele me puxou pelo braço e me deitou em seu peito novamente. Alguns minutos se passaram e eu apaguei.
No dia Seguinte...
Acordei por volta da uma da tarde. Nossa, como eu dormi. Não era de acordar esse horário, ainda bem que é sábado. O Max ja não estava mais na cama. Levantei, fiz minha higiene e desci para a cozinha e encontrei meu pai.
- Boa tarde pai.
- Boa tarde filho, o Max ja me contou tudo o que aconteceu com você e hoje mesmo entraremos com providências para resolver isso. Não vamos deixar isso impune. Ah e ia me esquecendo, matriculei você na academia aqui perto, você vai fazer jiu jitsu. Era pra começar na segunda, mas por causa dos machucados, você começa na quarta.- Eu mal tinha acordado e o meu pai ja me vem com esses tiros todos. Ferrou.