Boa tarde gente!!! Eu sei que deveria ter postado na terça, mas não deu e não vou prometer mais até eu sair desse sufoco. Adorei os comentários, uma pena mesmo sobre o conto do Playboy, mas cada um sabe o que é melhor para si.
Sobre o conto de hoje, está com o dobro do tamanho e espero que não fique cansativo, pois o foco fica numa outra personagem, e no próximo teremos a festa e vcs conheceram o Nando!! Bjos e boa leitura.
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Ouço uma batida na porta tão suave que chega a ser agoniante.
- Pode entrar Isa.
- Eh com licença senhor Villar, eu trouxe os documentos que estão necessitando de sua assinatura para o acordo com a empresa a qual vamos prestar consultoria. E seu café também.
Fico olhando fixamente para ela e a percebo constrangida.
- Isa você tem alguma afeição por mim?
- O que? – fala meio a voz esganiçada.
- Uma queda?
- Não senhor não, digo não que o senhor não seja atraente não é isso não, é que eu não me sinto bem com homens – vejo seu rosto ficar imensamente vermelho e os olhos arregalarem. - ai merda.
- Olha só - falo levantando e indo me pôr atrás dela colocando minhas mãos em seus ombros, a sinto ficar tensa sob meus dedos. - dona Isa falando a palavra com M. Garota você está começando a me fazer pensar que realmente não é um caso perdido. Sente-se pequeno gafanhoto.
Ela me olha com uma grande interrogação estampada no rosto. Claro nunca troquei muitas palavras, sempre a achei meio palerminha, mas estou disposto a dar uma chance, pois se há algo que a vida tem me ensinado é que eu sou um cara muito fechado a novas perspectivas, desacreditado na capacidade das pessoas de serem muito mais do que aparentam, além de um conceito que estava tão encrustado em minha mente que ao menos o percebia. Realmente espero levar uma bofetada e vê essa menina se torna muito mais do que ela mesma possa imaginar.
- Quer dizer que você gosta de meninas.
Isa começa a respirar com muita força e logo em seguida as lágrimas começam a rolar. Meus culhões o que eu fiz??
Agacho a sua frente e seguro seus braços firmemente.
- Isa olhe para mim e respire, isso inspire fundo agora expire. – fico uns três minutos fazendo esse exercício de relaxamento, ela se acalmou, mas não para de soltar lágrimas.
- Seu Villar eu gosto muito da empresa, por favor me dê uma chance, me jugue pelo meu trabalho e eu sei que ainda não estou cem por cento, mas é justamente pelo medo de me indispor com alguém eu...– continua chorando – eu quero muito ficar aqui- fala expressando com as mãos de forma que não entendo, provavelmente se sente tão deslocada que não sabe o que fazer com elas.
- Isa de onde diabos você tirou que eu vou demiti-la?
- Não vai?
- Não vejo motivos. Porque pensou isso?
Ela baixa a cabeça respira realmente fundo, e solta – por eu ser gay.
Fico olhando atônito, como assim ela acha que vou demiti-la por ela ser gay!?
- Isa que absurdo é esse? O que você já passou até aqui?
- Muitos obstáculos - fala distante.
- Isa vá pegar suas coisas. – vejo seus lábios tremerem. – eu quero que me conte tudo e não dá para fazer isso aqui, quero que se sinta bem o suficiente para chorar se necessário for, não sou um bicho papão garota e você vai ter que se torna macho para os planos que tenho e não me pergunte nada, apenas vá logo.
- Tudo bem senhor Villar.
Em menos de quarenta minutos leio e assino tudo que precisava de meu aval e aviso ao Quim que não tenho hora pra voltar. Pego o telefone e ligo para o Mel a foto dele com aqueles olhos que eu acho incríveis me olhando me deixa parado admirando até que escuto alguém gritando do outro lado da linha.
- Pelo amor de deus Júlio responde, aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, você me abandonou no café da manhã e VOCÊ tinha me prometido que sempre o tomaríamos juntos.
- Eu sei desculpe-me meu Peter Pan, o que posso fazer para compensa-lo?
- Peter Pan?
- Sim. Você às vezes se nega a ser um adulto. – só escuto um “ai essa doeu”. Só pode ter sido a Julia.
- Hahhaha... Bem pode almoçar comigo.
- Ai Juca, que difícil.
- Por favor, vou levar uma funcionária- falo com a vozinha mansa que uso para pedir algo que ele não está com vontade, mas por mim acaba fazendo.
- Por quê? Está ficando com ela? – acho que senti certa irritação na sua voz
- Não! – apresso-me em dizer e baixo meu tom de voz mesmo estando só na minha sala. – ela é lésbica e hoje achou que ia demiti-la por isso.
- Oh pobrezinha! – fala num tom de voz de espanto e compaixão.
- Ela é muito introspectiva e decidi que a quero sendo uma fodona aqui na empresa, não pergunte o porquê, apenas o tomei como um desafio, só não contava que o fato de ela ser tão retraída se deva a sua sexualidade. Preciso de você nessa conversa ou posso ser inconveniente falar alguma merda muito grande. Por favor, Mel, você já me conhece e sabe que não sei ser delicado e sinto que ao menos nesse começo devo ser um pouco e isso é extremamente difícil para mim, porque nem percebo quando vejo o estrago já está feito.
- Tudo bem, mas ainda são dez horas só estarei livre ao meio dia, pode ser lá em casa assim eu mesmo preparo algo, ou melhor, preparo aqui mesmo e faço só acabamento tudo bem?
- Ok. – fiquei muito feliz com ele se referir ao meu apartamento como dele também, isso me dá mais força ao meu plano de impedir dele sair de casa assim tão cedo e me deixar sozinho para me virar naquela casa que só de tentar imaginar sem ele é desagradável.
- Beijo tchau – e desligou.
- Mano você pode me fazer um favor – Quim fala da porta me olhando com uma cara muito estranha. – porque está com esse cara de retardado?
- Hm?
- Essa cara com o sorriso do coringa.
- Idiota. O que você quer?
- Quero que passe no shopping e pegue uma encomenda na joalheira, aquela em que a mamãe sempre compra presentes para a família. Encomendei uma tornozeleira com vários pingentes cheios de significados para minha jujuba.
- Tornozeleira? Quem usa uma tornozeleira hoje em dia Joaquim!?
- Eu sou casado com uma chef seu ignorante, ela não pode ficar usando joias durante o dia, até a aliança ela tem de tirar e eu queria algo que sempre ficasse com ela, e mamãe sempre diz que joia é o melhor presente quando se quer dar algo com significado eterno.
- Nossa virou o romântico, Julinha mudou mesmo você. Eu te entrego amanhã então.
- Não! Você tem de guardar até o sábado, se ficar comigo ela descobre e é o presente do dia do nosso primeiro beijo.
Sério eu não conheço mais esse cara romântico a minha frente que consegue lembrar até a data do primeiro beijo e ainda gosta de comemorar. Será que vou ser assim um dia? Acho improvável até agora não houve nenhuma mulher que me fez sentir essa ansiedade que vejo no meu irmão, em pequenos detalhes para agradar e manter por perto, essa loucura que ele tem em chegar a casa e ter Julia ali só pra ele. Acho que nunca nenhuma mulher me fará sentir isso, uma pena.
- Ei Juca, está me ouvindo?
- Sim, sim e é até bom porque tenho que fazer hora para chegar em casa para o almoço.
- Ué você vai embora agora? Para ir para casa? Cadê meu irmão responsável?
- Idiota
- Fala logo – diz entrando na sala e cruzando os braços. Quim é um homem muito bonito, antes da Julinha ele era um pegador de marca maior, apesar de não termos os genes dos mesmos pais ninguém diria que eu não sou seu irmão de laço sanguíneo, o que particularmente acho uma besteira, pois muito maior que o sangue é o amor que partilhamos com outa pessoa. Quim tem 1,95 de altura os cabelos depois de Julia passaram para um tom mais escuros quase que chegando aos meus e vai até o meio do pescoço, a Julia diz que tem um tesão absurdo nos cabelos dele assim principalmente quando está de terno. Ele tem olhos cor de Mel e quando se sente muito feliz seus olhos adquirem um tom mais amarelado, e claro o homem é enorme só perde pro Ricardo.
- Vou levar a Isa para...
- Seu filho de clara você não vai sair daqui para foder na sua casa enquanto está todo mundo trabalhando. Júlio você não é esse irresponsável, você pode estragar tudo seu idiota levando uma mulher, e depois vai está tão ferrado que nem eu ou a Julia vamos poder fazer nada seu idiota.
Vejo meu irmão falar isso com raiva e a única reação que tenho é rir. Gargalhar mesmo.
- Eu não vou deixar você ir, é para o seu próprio bem.
- Quim quando foi que eu levei uma mulher em meu apartamento para transar? Aquilo é sagrado pra mim, meu abatedor é outro e mais a Isa gosta do mesmo que nós.
- Como? – fala com cara de paspalho.
- Isso aí, ela gosta mulher.
- Mas eu pensei...
- Pensou errado, te falei que ela é minha próxima pupila, só deu que por alguma merda que eu falei a mulher se entregou e começou a chorar porque achava que eu ia demiti-la por isso. Quim eu não sei te explicar, mas você sabe que eu tenho uma ótima percepção para pessoas fortes para os negócios e eu senti isso, por mais que na maior parte do tempo eu a achava meio barata tonta, porém agora me veio que todo um problema psicológico envolvendo a sexualidade dela pode estar expondo esse medo e criando esse bloqueio e eu não vou saber lidar com essa parte por isso estou levando-a para conversar em casa junto com o Mel.
- Porque com o Mel?
- Porque o Mel tem a capacidade de me fazer enxergar aquilo que é invisível para mim, então acho que ele pode fazer isso por ela. E não, não estou virando um cara bonzinho essa garota vai ser muito importante para nós, para empresa. Tenho certeza.
- Está bem então. Você anda muito estranho Juca.
Ouvimos uma leve batida na porta e Isa entra bem tímida perguntando se estou pronto. Ter aonde ir antes de casa é muito bom por que não saberia muito bem como conversar com ela sozinho.
Partimos para o shopping e quando lá chegamos fomos direto a joalheria, e além da encomenda do Quim aproveito para comprar dois relógios, um para mim e outro para o Mel. O do Mel eu peguei segundo a recomendação de um rapaz que acho ser gay também, e como o Mel é acho que ira gostar, entretanto me bate uma dúvida já que o Mel tem um gosto bem sofisticado e não curti coisas demasiadamente femininas, quer saber foda-se eu gostei e ele vai ter que gostar!
Quando chegamos ao prédio vejo que Isa ficou impressionada com tudo aos mínimos detalhes.
- Senhor Villar que lugar lindo – ouça suas próximas palavras como sussurro – minha Angel iria adorar morar aqui.
Vamos seguindo até chegar à porta do elevador e só então me lembro de que Mel sempre adora estar apenas de cueca e camiseta, envio uma rápida mensagem a ele para não estar pelado quando chegarmos. De resposta recebo uma carinha vermelha. Solto um riso bobo.
Assim que entramos Mel grita da cozinha.
- Que bom que chegaram, por favor, venham para cá e me ajudem a por a mesa.
Assim que entramos na cozinha Mel vai em direção a Isa e a abraça sussurrando algo no seu ouvido que não compreendo, ela está com saltos baixinhos e ficam praticamente com a mesma altura, em seguida vem em minha direção e ao contrário do que imaginava apenas dá um abraço de lado e nem um beijo na bochecha ganhei, aquilo me deixo com um sentimento inferiorizado, não gostei dessa mudança de tratamento. Será que ele ficou chateado por eu pedir para vir para casa almoçar comigo?
- Juca? Planeta terra, Mel chamando.
- Oi.
- O que houve?
- Nada. – sua cara me diz que não acreditou e que vamos conversar depois. Não sei bem quando isso aconteceu, mas nos comunicamos muitas vezes apenas pelo jeito de olhar.
- Isa você pode arrumar a mesa da varanda para almoçarmos, por favor? Já está tudo lá só é preciso organizar, você pode seguir por essa porta a mesa fica mais próxima da parte da sala.
- Claro.
Em seguida Mel vira-se em minha direção com as mãos na cintura.
- Juca olha no meu olho e diz que bicho que te mordeu?
- Você!
- Eu? - fala apontando as duas mãos para si e com a cara de inocência que não combina com ele nesse momento.
- Porque me tratou diferente?
- Porque tem alguém do seu trabalho aqui? Porque eu não quero que digam que temos um relacionamento maior que amizade.
Aquilo doeu quando saiu de sua boca.
- Eu sou tão ruim assim Mel?
- Não! Você é um príncipe – diz já com as mãos no meu rosto – eu só pensei que pudesse não gostar.
Envolvi meus braços em seu corpo e puxei para mim. - Eu já não sou tão babaca assim concorda?
- Sim.
Ouvimos um pigarro e só assim lembrei-me da intenção deste almoço.
Seguimos para a varanda e Mel nos presenteia com um almoço divino. Ele fez uma carne com alcachofra e um arroz branco com uma salada mediterrânea incrível. E cara ultimamente eu estou correndo vinte minutos a mais sempre porque não tem como encarar o que o Mel faz e dizer “só vou comer o suficiente”, num dá! Eu como até meu estomago não aguentar. Bebemos um vinho muito bom escolhido por nossa visitante, um tanto doce ao meu gosto, mas bem encorpado e combinou muito bem a refeição.
Após encerramos tudo Mel preparou um ambiente bem aconchegante no pequeno Jardim que ele insistiu em dizer “que é másculo”, virou uma piada para ele, sempre quando quero opinar ele diz que é másculo e pronto acabou-se a conversa.
- Isa qual o seu nome completo?
- Isadora Souza Gama, senhor.
Mel me olhou com uma cara e entendi que ele entendeu o drama.
- Por favor, Isa como eu já cheguei cheio de intimidade te chamando de Isa quero que me chame apenas de Mel nada de senhor. – ele chegou um pouco mais perto e falou baixinho – meu nome é Eugenio Melanio Junior, mas não gosto de ser chamado assim, parece até que querem me castigar ou me matar de vergonha, me chame apenas de Mel, tudo bem para você?
- Sim senh... sim Mel. – e foi nesse momento que vi Isa sorri, não aquele sorriso nervoso, algo bem mais relaxado e mais engraçado foi que Mel de certa forma me excluiu da conversa, não de forma grossa, mas apenas para ir a relaxando e ganhando sua confiança, fiquei apenas de ouvinte pela maior parte do tempo.
- Bem Isa eu adorei o jeito que dispôs a mesa sabia? – vejo estampada a interrogação no rosto da Isa assim como no meu, que diabos de conversa ele que levar assim? – não me olhe com essa cara, apesar de aparentemente ser retraída você colocou os utensílios apenas necessários ao que íamos comer sendo que deixei um jogo completo ao seu dispor e isso significa que sua perspicácia é notável, pois no pouco tempo que ficou na cozinha sondou o que estava sendo preparado apenas no olhar e foi discreta, pois em momento algum eu a notei fazendo isso. Além disso, deixei flores campestres para orna a mesa, porém as coloquei em um vaso alto que além de feio ficaria impedindo a visão entre nós e achei fascinante você mudar de vaso e ainda utilizar o maior como decantador. Você encontrou uma nova função para ele, então tudo isso me levou a enxergar a mulher profissional eficiente eficaz que mora em você.
Minha boca está aberta, não consigo nem disfarça, mas tudo bem ninguém está prestando atenção em mim mesmo. Esse cara me fascina, é por isso que digo que ele enxerga onde não vejo nada.
- Isa o que impede de ser assim no seu trabalho? Essa mulher segura que tomou decisões e enfrentou riscos? Eu poderia lhe dizer que achei o ó você mudar minhas flores de vaso, mas ainda assim assumiu que eu poderia gostar que realmente melhorasse e muito nosso ambiente e ainda nos proporcionou uma nova experiência com o vinho. Olhe para si e me diga o que lhe aconteceu menina? Porque não expõem essa inteligência onde poderá ser vista e apreciada?
Vejo-a baixar a cabeça, mas diferente do que aconteceu comigo ela não chora ou ficou assim tão abalada.
- Aconteceu o preconceito Mel.
- Fale mais, fale da sua namorada. – ela o olha espantada. – oh, por favor, né meu bem você tem essa correntinha com duas meninas, e usa esses brincos que eu particularmente achei lindooos com o nome Angel, para mim aqui já tenho todas as provas, você tem alguém então ponha tudo para fora quero saber quando o preconceito lhe abalou, mas antes fofoca sobre sua menina.
Respirando fundo e dando outro sorriso sincero ela começa – vamos lá – agora uma gargalhada contida. - Ela se chama Roberta, mas todos a chamam de Angel pois parece aquelas modelos da victoria secret.
- Pera – Mel fala sorrido igual a um bobo e eu rio junto ao apesar de ninguém notar que continuo ali, apenas rio pela influencia de seu sorriso.
- Roberta Carvalho?
- Você a conhece?
- Estudamos juntos, no ensino médio. Julia me contou que ela estuda que nem louca, faz medicina certo? Julinha quase não há vê e nem eu tive minhas mensagens respondidas, ela está na especialização?
- Está na residência, se especializando em cardiologia. - fala com uma voz de orgulho enorme.
- Eu não sabia que ela era deste lado da força. – fala Mel.
- Bem nem ela na verdade.
- Vou parar de te interromper me conte logo mulher ou terei um ataque de nervos aqui.
- Bem nos conhecemos na faculdade, eu estava cursando secretariado executivo e ela medicina claro, minha Angel já estava no segundo ano de curso quando entrei e eu após um ano consegui estágio com um dos professores que dava aula para a sua turma. E bem os alunos lotavam o gabinete dele nos horários de atendimento e como estava trabalhando, mas não para a faculdade apesar de exercer minha função lá. Fiquei nervosa desde a primeira vez em que a vi, mas meus sonhos desabaram quando comecei a meio que ir aos locais em que ela frequentava e a vi com um cara e tipo ele era o sonho das garotas do campus, eles namoravam desde o inicio da faculdade, ou seja, há três anos. Bem adiantado a história eu não mais corri atrás de conhecê-la, pior coisa da vida é se apaixonar por hétero ainda mais quando você tem certeza que não terá chances nenhuma.
- Nem me diga – Mel falou e olhou para mim de relance, não consegui lê seus olhos, não me deu tempo, mas fiquei desconfortável será que ele se apaixonou por algum cara das entrevistas para o restaurante?
- O que eu não contava é que o professor que me deu o estágio também estava como orientador dela, não oficialmente, pois ainda não havia iniciado o período para isso, mas afinidade dos dois era incrível e por tabela comecei a ter contato e em oito meses já éramos melhores amigas, sendo que eu não havia falado que era lésbica já que não era assumida e ela quase não falava nada de seu namorado. Havia me conformado com o status de amiga e sabia que não sairia nada dali, isso na minha cabeça o coração, todavia continuava bobo e apaixonado, então resolvi que ia me dar uma chance com outra pessoa.
- Que triste, se não soubesse que estão juntas hoje meu coração ia estar em caquinhos. – Mel falou segurando a mão de Isa.
- Eu sei você realmente me faz sentir que partilha dos sentimentos dos outros. Bem amadureci essa ideia e no fim do ano na festa de réveillon quando estava na casa dos pais dela, já que natal ela ficou com o namorado, resolvi contar quando já estava praticamente entregue ao sono, apenas disse que quando voltasse à faculdade iria namorar, não sabia com quem, mas com certeza encontraria alguém.
- Nossa você soltou a bomba assim?
- Sim queria que ela ficasse ciente que não ficaria o mesmo tempo com ela, precisava entregar meu coração a outro alguém, me dar à chance de ao menos tentar ser feliz.
- Nossa Senhora que corajosa você.
- Não foi coragem, foi desespero sabe, pior de que eu me separar primeiro seria ela ir antes, eu estava sendo egoísta, mas o que eu poderia fazer? – vejo Mel apenas concordar com a cabeça. - Depois disso no dia seguinte ela me evitou, parecia estar magoada só não entendia o porquê já que ela namorava. Inventei uma desculpa e no dia dois fui embora, não ficaria a semana inteira sendo ignorada. Uma semana depois ela bate na minha porta com uma dúzia de mala e Samuel o seu gato no colo, simplesmente joga o bichinho no chão me agarrou e cola nossos lábios me beijando, e lógico que eu fui ao céu. Tivemos uma longa conversa, ela me contou que terminou o namoro no dia seguinte ao ter indo embora, como forma de me conquistar ela entregou o apartamento para me força ficar com ela no meu, segundo a Angel ela queria me conquistar aos pouco e afastar qualquer menina, não sei como, mas a danada descobriu o que eu era e ficou deixando eu pensar que não sabia de nada.
- Nossa que determinação, na verdade sempre a vi como uma moça determinada só não imaginava que seria assim tão forte a ponto de correr atrás e jogar um relacionamento de anos para o ar.
- Eu sei ela foi muito confiante. Descobri que desde que iniciamos nossa amizade o relacionamento dela ficou abalado, ela o mantinha não sei nem o porquê, o próprio pai seu Roberto era contra ela ficar com ele, dizia que ela só séria feliz comigo, quando ela o contou que eu iria tentar um relacionamento ele disse com todas as letras que ela era uma idiota se me deixasse ter a chance de descobrir que outra pessoa poderia me fazer feliz, porque ela se arrependeria por não ser ela a provocar essa felicidade em mim.
- Então o pai era a favor do relacionamento?
- Sim já a mãe não gosta de mim desde que descobriu que a filha me pediu em namoro.
- Uau que história Isa. E onde entra o preconceito que te desestabilizou, foi a mãe dela?
- Não, com essa eu sei lidar.
- Então? – mais uma vez a vejo respirar fundo, porém percebo o olhar triste voltando.
- Uma vez nós fomos a uma praça onde sempre tem muitas famílias e principalmente comida boa, adoramos comida mexicana e lá tem uma barraquinha. Bem fizemos o nosso pedido e fomos para uma mesa que fica perto de onde brincam as crianças estávamos abaixo de uma árvore com uma das mãos dadas admirando aquela felicidade que só criança tem sabe, até nos espantamos com um cara socando a nossa mesa. – vejo seus começarem a marejar. – ele foi gritando dizendo que éramos umas putas pervertidas e que se viéssemos a nos beijar ali ele quebraria a nossa boca para dar exemplo para o filho de o que é certo e o que é errado. – nesse momento até meu peito se comprime, vejo os olhinhos do Mel se apertar querendo não soltar lágrimas, os de Isa já transbordavam. – como pode a violência e o desrespeito ser um bom exemplo para uma criança?
- Calma querida se você não quiser continuar, tudo bem ok? – Fala Mel enxugando com os dedos as lágrimas de Isa.
- Não, por favor, me deixe falar, está sendo muito bom partilhar isso com alguém de fora, e você me faz sentir bem.
- Então prossiga meu bem, despeje isso tudo vamos por todo esse veneno para fora.
Isa apenas concorda com a cabeça em um gesto afirmativo e continua sua história.
- Angel nunca abaixou a cabeça para esse tipo de atitude, ela pratica defesa pessoal e várias artes marciais desde novinha com o pai que é mestre, então ela não tem medo. Ela levantou e disse que só não daria uma surra no cara ali mesmo em respeito ao filho dele e disse também que se ele encostasse em um fio de cabelo da sua namorada ele era um homem morto, porque ela não teria receio de nada. Senti-me tão protegida naquele momento, um cara próximo ajudou a afastar o homem, ele disse que sua irmã é gay e que se alguém a ameaçasse assim ele ficaria louco, ele ficou conosco durante a tarde toda e viramos amigos depois disso. O problema mesmo foi que algumas semanas depois eu estava voltado de uma entrevista e assim que desci num ponto de ônibus perto da praça meu coração apertou, mas estava tão determinada a comprar tacos para Angel que decidi enfrentar aquele medo que nem eu sabia de onde vinha, a partir daí não me lembro de muita coisa apenas de estar indo embora e em algum lugar isolado aquela voz dizer “cadê sua namoradinha putinha?”
Nesse momento por mais ignorado que tenha sido eu me achego a Isa e abraço por trás e Mel faz o mesmo, não sei quanto tempo ficamos ali, mas foi tempo o suficiente de eu entender o medo que ela sentia, pelo menos parcialmente, sabia que havia algo a mais.
- Depois disso eu acordei no hospital, e perdi alguns dentes, rasparam uma parte do meu cabelo para drenarem um coágulo, eu estava inchada e não sabia onde estava, mas toda a vez que dormia sem a ajuda dos remédios eu acordava gritando porque aquela voz me perseguia.
- Isa que horror foi o cara da praça não foi?
- Sim, viram imagens das câmeras de um prédio. O seu Roberto ficou louco atrás dele, mas ele fugiu só foi encontrado há seis meses morto, o desgraçado violentou um menino de treze anos e o pai o matou. – eu sinto tanto ódio dentro de mim, como alguém pode ser tão maligno, odioso e perverso. Se algo fosse feito ao meu filho eu o mataria sim! E de modo doloroso e lento.
- Isa eu sinto muito – falo sem saber direito o que dizer para lhe amparar. – eu sinto muito mesmo se estamos lhe forçando. Eu só não imaginava que você havia passado por algo tão vil.
- Tudo bem senhor Villar...
- Ahh não – diz Mel – o chame de Júlio, senhor Villar fica só no trabalho.
- Tudo bem... - e deu uma risada que me fez perceber que ela tem potencial para superar as dores que a vida lhe impôs no passado.
- Meninos ainda têm mais – então ela se vira em minha direção fixando seus olhos em mim. – Júlio eu sou meio retraída no trabalho...
- Meio Isa? Você é uma ostra garota.
- Juca você não está ajudando! – Fala Mel com seu olhar de mau, pelo menos ele acha que é. Eu tento não ri dele.
- Tudo bem Mel, eu sei que sou assim, bem, Júlio hoje eu me vi voltando ao meu antigo emprego. Depois de três meses no emprego eu poderia por meu cônjuge nos planos de saúde, dental, funerário e todos esses outros. Eu e Angel fizemos um contrato de união estável e levei, foi um escândalo – sorri sem um pingo de humor. - e eu fui demitida dois dias depois. E sinceramente a surra que eu levei não me marcou tão profundamente quanto ser dispensada, eles não se importaram no impacto que aquilo ia ser para empresa ou para mim, apenas não aceitaram um homossexual e é por isso que hoje evito contato com a maior parte dos funcionários da Villar, pois não tenho interesse em ser escorraçada novamente, eu já ouvi nos corredores alguns comentários sobre gays e foram os piores de todos, eu não quero perder meu emprego apenas por amar alguém do mesmo sexo que eu se o que deve ser levado em consideração é meu desempenho profissional.
Mel me olhou indignado e eu entendia bem o porquê, apenas com o seu olhar entendi ele falando como eu deixava isso acontecer embaixo de meu nariz.
- Passamos praticamente a tarde inteira aqui e já são quase seis, eu preciso ir para casa.
- Oh é verdade, podemos te levar, não é mesmo Juca!
- Ah claro.
- Obrigado gente, mas eu estou indo encontrar-me com Angel e seu Roberto. Vou de táxi.
Após o Mel se despedir da Isa com trocas de telefone e choramingo, ele a deixou ir. Já percebi que vou ter que dividi-lo com mais um.
- Ai Juca tadinha dessa menina, por isso era tão introspectiva, mas aposto que depois de hoje ela vai melhorar muito, porém lhe recomendo realizar uma reunião na empresa, pois a questão da homofobia em qualquer âmbito é grotesca e no trabalho da nesse resultado ai, a garota é ótima! Só num pequeno teste que fiz com ela baseado no pouco que me falou demostrou que ela é muito mais capaz do que você falava.
- Eu sei, e vou fazer sim como você está me recomendando agora chega de falar de trabalho ou de Isa. Vamos tomar um banho assim você pode ficar a vontade, deve está se sentindo preso nessa roupa.
E com a cara mais deslavada ele fala um não.
- Como NÃO?? Você está sempre de cueca e camiseta!
- Hum o bonitão que vê meu corpo gostoso nu??? – e caiu na gargalhada que não me deixa ficar como um cão raivoso.
- Hahaha... Mel o mais gostoso daqui sou eu... Olha esses músculos. – falo retirando a camisa e me exibindo.
- Se músculo fosse sinônimo para homem gostoso seu título seria apenas deste apartamento peter pan, porque com certeza o cara que mora a dois andares abaixo ganha de você.
Filho de uma puta desse Ricardo, tantos prédios para o desgraçado morar e ele vem para cá só para se mostrar! Pego minha camisa muito puto nessa porra do caralho e marcho para meu quarto. Preciso de um banho ártico para não descer a pancada no Ricardo, filho de uma vaca vesga!
- Ei Juca, ei ei ei... eu estou falando com você!
- Vai falar com a porra do Ricardo!
- Que babaquice – só ouço seu riso. – definitivamente és meu peter pan!
- É bom que eu seja mesmo! – grito antes de fechar a porta.