Final de tarde, começo de noite e Luciana chega ao calçadão da praia como fazia quase todos os dias após seu expediente. Vai direto para o restaurante, senta-se numa mesa e pede um refrigerante e uma porção de batatas fritas. Olha em volta, mas não encontra quem procura. Tira o tablet da bolsa e começa a navegar pela internet, finalizando algumas coisas do trabalho. Luciana tinha 29 anos e havia passado em um concurso público para o posto de saúde de um município praiano do seu Estado. Havia alugado uma casa perto da orla marítima e aproveitava o calçadão para caminhar, descansar e curtir um pouco da brisa do mar. Ali também era ponto de prostituição e Luciana acabou fazendo amizade com Milena, uma travesti que fazia programas ali. Era por ela que Luciana procurava. Meia hora depois, um carro parou e Milena desceu dele. Despediu-se do motorista e subiu o calçadão. Deu dois passos e viu Luciana. Sorriu para ela e caminhou em sua direção.
- Lu, já chegou, guria? – Milena adorava chamá-la de guria apesar de não ser gaúcha. – Já to aqui faz uma eternidade. Que novidade é essa de você estar trabalhando tão cedo? – perguntou Luciana, dando um abraço e dois beijinhos na boneca. – Ai, menina, esse é o único horário que ele pode. A mulher ainda tá no trabalho e pensa que ele tá em casa. A póbi. Aí ele passa aqui, me pega, nós vamos pra um motel pertinho daqui, bem furreca, e ele me faz comê-lo uma hora direto. Haja energia. Se ainda fosse num motel bacana, mas nem isso – reclama Milena e se senta na mesa com Luciana. Ela oferece um refrigerante, mas Milena prefere uma cerveja. Pede uma porção de churrasquinho também. – Preciso de sustança – brinca. A amizade entre as duas aconteceu graças à profissão de Luciana. Em uma das noites em que ela estava passeando pelo calçadão, aconteceu uma discussão entre uma das garotas e um cliente. O homem não gostou da recusa da moça em fazer-lhe sexo oral sem camisinha e lhe deu um murro bem forte, fraturando seu nariz. Luciana estava perto e foi ela quem atendeu a jovem. Milena era sua amiga e ela e Luciana acabaram se aproximando.
- Teu marido deu notícias? – perguntou Milena. – Não. Falei com ele segunda-feira, mas só – respondeu Luciana. – É por isso que existe chifre no mundo. Para idiotas como esse, que deixam uma coisinha deliciosa como você solta na cidade pra qualquer um pegar – brincou Milena. – Que história é essa de qualquer um? Ta pensando que vou sair dando pra todo homem? Além disso, ele confia em mim. Ele sabe que eu sou fiel – respondeu. – Querida, quando a bichinha lá de baixo pisca, não tem essa de fiel. A natureza é forte, guria, vai por mim. Uma hora ou outra, tu vai sentir falta de um corpinho quente do teu lado na cama, uma mãozinha sem-vergonha passeando pelo teu corpo, uma boquinha falando sacanagem no teu ouvido e outras coisinhas que você sabe bem o que são – disse Milena. Luciana não respondeu. No fundo, ela sabia que a amiga tinha razão. Estava morando ali na cidade há seis meses. Passava a semana inteira sozinha e só encontrava o marido nos finais de semana e nem era em todos eles, pois não voltava pra casa sempre. Precisava matar o tempo com trabalho, leituras, passeios e, quando necessário, masturbações. – Mudando de assunto, você ainda vai trabalhar hoje? – perguntou Luciana. – Acho que não. Esse último bofe me deixou numa preguiça e tanto. Acho que vou voltar pro meu palácio e mandar meus escravos prepararem um belo banho de sais e me fazerem uma massagem – disse. – Ai que inveja. Eu ia te convidar pro meu humilde casebre, mas depois dessa, to até com vergonha – devolveu Luciana. – Quer saber? Que espécie de nobre eu seria se não fosse na casa de meus súditos? Aceito o convite – riram e saíram. O que mais atraía Luciana em Milena era seu sempre elevado senso de humor.
- Eu disse que teu marido devia vir pra cá, mas já me arrependi. Se ele tivesse aqui, eu não poderia vir também. Só se fosse pra nós brincarmos os três – disse Milena, esparramando-se no sofá da sala. – Cê acha que eu ia deixar o João brincar com você? Ta doida? – falou Luciana, sentando-se no sofá também. Milena colocou as pernas no colo da amiga, acomodando-se melhor. – Tira minhas botas, por favor. Quer dizer que você tem medo que teu bofe goste de umas pirocadas, é? – provocou. Luciana tirou uma bota e torceu de leve o dedão dela, que reclamou de dor. – Claro que não. Se tem uma coisa que o João tem horror é de viado. Uma vez, eu tava chupando ele e, sem querer, minha língua tocou no buraquinho dele. Você precisava ter visto o pulo que ele deu e o berro. A transa acabou ali mesmo – disse Luciana, tirando a outra bota e começando uma massagem nos pés de Milena. – Vixe, então teu marido é desses machões ignorantes? Cuidado, hein? Uma vez, saí com um machão desses e ele disse logo: ‘nem se atreva a tocar essa porcaria aí em mim. Aqui, o macho sou eu e eu é que vou te foder’. Nós começamos a nos beijar, a nos tocar, ele agarrou logo meus peitos e minha bunda e disse que ia me arregaçar. Eu fiquei calada e deixei ele pensar que dominava tudo. Fomos pra cama e eu comecei a dançar pra ele e tirar minha roupa. Ele ficou doidão, eu o deitei na cama e disse que ia fazer uma brincadeirinha. Vendei os olhos dele e o amarrei. Fui descendo com a língua pelo corpo dele até chegar na rola. Comecei a chupá-lo e ele enlouquecendo, gozando rapidinho. Ele ficou todo mole na cama e aí foi minha vez. Peguei um potinho de gel, lambuzei meus dedos e comecei uma massagem nas bolas e no pau dele. Ele foi relaxando e endurecendo de novo. Aí, encostei no rabinho dele e meti um dedo. Ele não disse nada. Depois, coloquei o segundo e ele se derreteu inteirinho. Resumindo, arregacei ele a noite toda.
Luciana parou a massagem e ficou olhando pra Milena. – Você tá querendo dizer que todo homem gosta de dar o cu? – perguntou. – Não, linda. Eu estou dizendo que muitos desses machões só fazem pose. Se você souber seduzi-los direitinho, eles acabam cedendo e adoram. O ânus é uma zona erógena. O problema é o preconceito, mas dar o cu não faz ninguém de viado. Conheço muitos homens que gostam de ser penetrados e são casados, sem problema nenhum. E digo mais: esse preconceito é das mulheres também. Muitos caras saem comigo porque sentem prazer no cu, mas não pedem às esposas para fazer um fio-terra ou dar uma lambidinha para elas não pensarem que eles são gays. Meu dentista, por exemplo, é assim. A gente sai de vez em quando, ele me come, me chupa, eu o como, é maravilhoso. O ser humano é complicado, guria. O preconceito é uma merda. As pessoas preferem deixar de ser felizes por causa do preconceito. Uma vez, um cara me ligou, marcou o programa, foi me buscar e me levou a um hotel. Quando cheguei lá, entrei no quarto e ele foi embora. A cliente era uma mulher, a patroa dele. Ela pediu que ele me contratasse pras pessoas não verem uma mulher pegar uma boneca na rua e levar pro hotel. Ela disse que era bissexual e, comigo, poderia ter o corpo, os lábios, a pele, o cheiro, os seios, o carinho de uma mulher e, ao mesmo tempo, a rola dura de um homem dentro dela. Vai entender – contou Milena. Luciana recomeçou a massagem dos pés dela e aquela conversa toda dos programas de Milena a deixou excitada.
Perto das onze horas, Milena disse que precisava ir embora, mas Luciana não permitiu, dizendo que estava tarde. – Dorme aqui. Amanhã, te levo pra casa no caminho do trabalho – convidou. Era o que Milena queria e ela aceitou sem hesitar. Subiram as escadas e Luciana a levou ao quarto de hóspedes. Emprestou uma camisola e uma calcinha e foi ao seu quarto. Milena tomou um banho, trocou-se e se deitou. Meia hora depois, bateu no quarto de Luciana. – Posso ficar aqui um pouquinho com você? To sem sono – pediu. Luciana fechou o livro que estava lendo e a chamou pra cama. Milena correu e pulou ao seu lado. Ofereceu-lhe um cigarro, que foi aceito. – O que você está lendo? – perguntou. – A Casa dos Espíritos, da Isabel Allende. Conhece? – respondeu. – Não gosto de espírito. Não consigo dormir quando leio livro de terror – falou Milena em tom de brincadeira, dando uma baforada no cigarro. – Você adora se fazer de besta pra melhor passar, né? Te perguntei porque eu sei que você adora ler. Se quiser, te empresto quando acabar – disse. – Pode ser. Mas, se tirar meu sono, você vai ter de cantar pra eu dormir – falou. – Ta bom, engraçadinha. Acaba esse cigarro e vamos dormir – disse ela. – Não quer brincar um pouquinho antes de dormir? – se insinuou Milena, segurando a mão de Luciana. – Pensei que você estivesse acabada pelo teu cliente – respondeu a médica. – Por você, vou ter energia sempre – falou. – Deixa de coisa, Mi. Nós somos amigas e eu sou casada – disse Luciana. – Quem disse que amigos não podem transar? Eu não tenho ciúmes do teu marido – respondeu Milena, que nunca escondeu o tesão que sentia por Luciana.
Luciana apagou as luzes, deu um selinho em Milena e se virou de lado. Resignada, Milena também apagou seu cigarro, se virou e a abraçou por trás, em conchinha. – Não sei por que você usa pijama. Ta fazendo tanto calor – disse baixinho no ouvido dela. Discretamente, colocou sua mão na barriga da amiga, por dentro da blusa do pijama, e deu um beijo no pescoço dela. Nisso, Luciana começa a sentir um certo volume cutucando-a na bunda. – Posso saber o que é isso que eu to sentindo aí embaixo? – disse com uma voz meio embargada. – É só meu brinquedinho que quer te dar boa noite. Ele sentiu uma bundinha gostosa aqui e, por força do hábito, pensou que era hora de brincar – respondeu, fazendo piada. – Pois diga a ele que não é não, que ele vá dormir – falou Luciana, sentindo um arrepio nas costas. – Faz um carinho nele que ele dorme – sugeriu Milena. Luciana não respondeu e fingiu que já dormia. Na verdade, ela se calou para não entregar o tesão que estava sentindo. No fundo, Milena estava certa quando disse mais cedo que a natureza era muito forte e ela acabaria sentindo falta de um corpo quente para esquentá-la à noite. Ali, ela percebeu que estava sentindo falta.