Olá, se você abriu esse texto pensando em ler um conto erótico com muito sexo ou um conto com um lindo romance apaixonante, eu poderia recomendar você a não continuar, mas vou dar a mesma dica para aqueles que apenas pretendem ler uma história: a decisão é sua.
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Na Ordem do Caos
Capítulo 1 - A Reminiscência do Café.
Quando você se sente incompleto, como se faltasse algo em você, há uma grande insatisfação consigo mesmo, e isso afeta a todos ao seu redor. Se você deseja deixar todo um passado para trás, tenha certeza que aquele passado já não está contigo, era o que eu queria acreditar, mas por uma pequena mudança e medos internos, você cria toda uma balbúrdia gigantesca, e parece que tudo toma um rumo diferente com resultados invariáveis, e você só tende a se perder mais, e se seu sentimento imperfeição te aflige como um vazio. Era o que pensava naquela manhã, que eu acordara cedo por causa de um amigo.
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Em algum lugar... 15 de Dezembro 08h36min
Nem eu esperava tamanha coincidência naquela manhã frívola de Domingo, apenas iniciando uma nova rotina, mas aquela era uma manhã distinta, se eu acreditasse em destino, personificaria-o como um Dom da máfia siciliana, que gosta de brincar sadicamente com seus subjugados, suspeitos de traição antes de deferir golpe mortal.
— Claus? – alguém indagava meu nome enquanto passava perto.
Era uma voz muito familiar, eu estava andando na minha velocidade natural, sempre olhando para baixo, examinando cada passo, cada paralelepípedo e sujeira do chão, um dos meus hábitos adquiridos devido minha insociabilidade. E deslocando para os lados para ver as árvores. Repentinamente senti uma pontada, não sei se no corpo ou na alma, é aquela sensação que te paralisa por alguns segundos, mas parece durar minutos, onde passam muitas memórias como cenas de filme e você tenta distinguir o real do irreal.
— Claus? Aqui! – aquela voz de novo.
Depois de acordar de meu transe, virei-me e o senti se aproximando, era ele... Depois de tanto tempo.
— Olá – disse ele. E o olhei de relance e voltei meu para baixo. — Quanto tempo! – exclamou animado.
— Ô-o-o... – Respondia nervoso — É... – Arfei.
Deu-se alguns segundos silenciosos entre nós após isso, como se a conversa já tivesse acabado. Eu não sabia ou tinha algo para dizer, especialmente a ele. Por algum motivo ainda estava com sequelas daquele estado, ainda tentando distinguir e processar tudo. Mas sempre odiei esses momentos, olhei-o meio confuso.
— Continua grande – disse voltando meu olhar pra cima.
— Haha! Sim... E você pequeno – disse ele rindo.
— Devo ter crescido algum tanto – respondi corado.
— Mas está mais bonito, gostei da barba – revelou vergonhosamente.
Eu fiquei surpreso, ainda não sabia como reagir a elogios, parecia que tudo estava voltando, minha evolução pessoal se desmanchando em um retrocesso iminente mergulhado em memórias que escolhi esquecer.
— Grato – respondi nervoso olhando para os lados como se procurasse algo.
Durante o olhar de relance, eu o vi com uma expressão estranha, não consegui definir, apenas ficou em silêncio. Eu não ficaria mais ali para descobrir.
— Eu vou indo, preciso fazer umas coisas. – disse me afastando.
Quando estava virando de costas para sair, ouvi dele:
— Nem nos cumprimentamos, nem um abraço... - – disse ele cautelosamente. — Imaginei que abraço após aquilo tudo seria muito, mas esperava ao menos um aperto de mãos – reclamou enigmático.
Eu não estava entendendo, ele nunca foi assim, tão sincero e expressivo ao que sentia, se sentia...
— Você sabe que nunca fui de contato... Até hoje não sou – Esclareci com angústia nas palavras.
— Estou exigindo demais – reclamava ele si próprio.
— Está. – rebati bruscamente. Fui me afastando mais.
— Espera! – chamou ele se aproximando — Preciso conversar algumas coisas com você – concluiu.
— Seria? – indaguei.
— Não aqui – arfou — Em um lugar mais adequado – sugeriu ele pensativo.
Apenas o olhava sem tanto receio, sempre tive uma lerdeza quanto as coisas, e muita falta de atenção quanto as coisas, comecei a pensar o que seria, fiz minhas hipóteses, qualquer coisa que fosse, não importava mais, cada segundo perto dele era temeroso
— Tem tempo para um café? – sugeriu ele atenciosamente.
— OK! – eu não consegui analisar direito, apenas saiu. Eu sempre sinto uma pressão sob mim nessas ocasiões, que qualquer resposta poderia ser uma consequência ruim dependendo de como eu agisse. — Eu tenho uns 20 minutos livres. – Ressaltei, tinha lembrado para justificar minha resposta.
===== Na Cafeteria 08h42min =====
https://youtu.be/Qr5AIKRPIHo
Fomos em uma famosa cafeteria perto da praça do centro que estávamos, um Starbucks. Não frequentava, porém conhecia. Eu não tinha costume de tomar café pela manhã, era algo da minha infância, tentei algumas vezes retomar, no entanto, acabava em arrependimento, com certeza era tempo perdido. A cafeteria estava cheia, pela lógica, naquele horário era de se esperar, mas logo conseguimos uma mesa. Lugares cheios... ainda não estava acostumado, outrora poderia me sentir preso em uma caixa onde as pessoas são as laterais, apenas divagava em meus pensamentos claustrofóbicos enquanto sentávamos.
— O que vai querer? – surgiu a voz dele na minha cabeça.
— Não sei. – Respondi instintivamente.
Sempre me torturei com minhas indecisões, dificultava em escolher algo, fazer escolhas é sempre difícil e requer segurança. Por mais simples e fúteis que sejam.
— Cafés são tão complexos e de uma variedade... – cochichei.
— Humm... Sei – disse ele duvidoso — Vou escolher um capuccino – concluiu chamando o garçom.
— Então acho que vou ficar com um tradicional... – escolhi olhando para os lados tentando enxergar o garçom.
Mesmo depois de servidos, ainda estava pensando se escolhi certo o tipo de café, faz tempo que não o tomava. Então mesmo quente fiquei encarando o café...
— Como tem passado? – perguntou ele interessado.
— Bem. – respondi rispidamente e se instalou um certo silêncio.
— Não vai beber? – questionou ele cortando o silêncio.
— Ainda não – disse confuso. — Preciso examinar o que vou ingerir... – expliquei ainda encarando a bebida quente.
Tinha ainda uma neurose com os alimentos que eu consumia, comprar exigia muita atenção, paciência e informação. O mesmo ao preparar, comer fora já era perigoso demais, tinha que examinar tudo, o lugar, quem trazia, fazia, olhar bem o alimento. Com o café não foi diferente.
— Então tá - replicou ele como se tivesse dando um gole logo em seguida. — Bem... Claus, quero falar com você sobre o que houve... – eu ouvia a voz dele desaparecendo a cada viagem que eu iniciara na minha cabeça em busca de quaisquer traços ou pó irregular na minha bebida, e trazendo lembranças de como gostava de café com muito açúcar...
— Claus? – ouvi despertando um pouco. — Está me ouvindo? – indagou ele.
— Sim, estou. – respondi olhando ainda para o café...
— Por que não me olha? - perguntou inconformado.
— Eu não quero olhar nos seus olhos...
E tomei um gole daquele café. Aqueles segundos eternos voltaram.
— Tudo bem – disse ele desacreditado. — Posso continuar? – questionou seguidamente.
— Está ainda quente! – observei desgostoso e direcionei meu olhar a ele com mais atenção, vi uma expressão confusa, mesmo em um rosto que sempre achei de uma pessoa brava e com aquela altura e tamanho, era de dar medo a muitos marmanjos. — Deveríamos ter ido a uma sorveteria – confessei.
— De manhã cedo? – replicou. — Para deixar você deixar o sorvete derreter? – continuou.
— Sabe, na minha infância eu só tomava o tradicional café coado com leite em pó, onde morava não tinha tanta diversidade dessa bebida, que sempre achei linda de ver, pareciam tão deliciosas e diferentes do café normal. – desabafava espontaneamente. — Na França, no século XVI, durante o reinado de Luís XIV, época em que o café ainda estava sendo introduzido no antigo continente, que somente foi adicionado açúcar a esta bebida que estava conquistando todos. Então se eu tomasse só o café propriamente dito, teria que ser com bastante açúcar, o que é perigoso. Nunca gostei do amargo, não conseguia entender como elas poderiam gostar daquela bebida amarga horrível... – expressei enojado. — Quando cheguei aqui, experimentei muitas dessas variedades, gostei bastante dos expressos e em especial os que colocavam chantilly e chocolate. Poderia ser algo que eu adicionasse a minha rotina diária. E você pode estar se perguntando na minha indecisão no início, é normal, mesmo eu tendo preferências. Podia ter escolhido um Mocha, um capuccino ou um macchiato que são mais ornamentados e deliciosos a mim, onde poderia ficar mais entretido que um café simples. Entretanto, até as coisas simples são complicadas, é algo que pode-se dizer ser relativo. Eu parei com o café com leite há anos, o leite não me fazia bem, poderia ser intolerância à lactose ou apenas uma intolerância devido à idade, leite é bom quando se está em fase de crescimento, nunca fui ao médico para confirmar. - pausei para ganhar fôlego.
— Deveria – respondeu ríspido.
— Deixa eu terminar de concluir, por favor!? – pedia aborrecido.
— Continue! – disse ele irônico. Não me importei muito e voltei minha atenção à bebida.
— Eu poderia ter ficado só com o café ou a nova variedade conhecida, café tem tantas variedades dependendo da forma como é preparado, do tipo de café, da quantidade de água, da temperatura, dos ingredientes... Umas das bebidas mais versáteis. Isso faz uma confusão na minha cabeça. Portanto, mesmo vivendo sozinho, tenho uma certa liberdade para fazer o que eu quiser em casa, tipo cozinhar. Porém me refiro só ao café da manhã, seria um ótimo desjejum para se fazer dentro ou fora de casa, ainda mais numa cidade grande como essa. Contudo, numa rotina de acordar cedo para estudar, e não ter tanto tempo para comer - eu demoro muito - depois de ter acabado a escola, tentei voltar ao hábito de tomar, porque tinha e mesmo eu não sentindo fome ou vontade, sabendo que poderia fazer mal ou me arrepender, eu tomava. Era um hábito em que eu não analisava na balança, apenas fazia diariamente. Estava preso. Foi preciso uma mudança radical para acabar com isso, responsabilidades me ajudaram muito e mudar de lugar foi a finalização de todo esse ciclo do meu reflexo inconsciente das situações de deterioração pessoal. – bebi um gole do café e olhei para ele — O que me lembra como o café chegou ao Brasil, você sabe? – Eu questionei objetivo.
— Talvez tenha lido algo sobre há muito tempo, mas não devo me lembrar – respondeu prontamente. Ele já tinha acabado com seu capuccino — Mas diga! – ordenou.
— Foi em 1727, o café estava sendo amplamente introduzido em colônias inglesas e francesas na América, África e Ásia. O então governador do Grão Pará queria mudas da planta, e como a Guiana Francesa tinha plantações e estava próxima, mandou seu sargento-mor para Caiena, com a missão de conseguir a preciosa muda. Ele conquistou a confiança da esposa do governador da capital Caiena, que logo lhe cedeu uma muda do café arábico e trouxe para o Grão-Pará, onde foi plantada, mas não houve tanto sucesso. Mais adiante tentaram introduzir no Maranhão e todo Nordeste, sem sucesso também. Quando chegou ao sudeste, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, a planta se adequou muito bem à região, casou-se perfeitamente e o sucesso logo viria, especialmente para São Paulo, onde transformou o estado, tornando-se a maior economia do país, que perdura até hoje e iniciando a política café-com-leite com Minas. Ademais, a produção do café perdeu força durante os anos. – tomei outro gole e fiz uma parada.
- Nossa! - Exclamou ele fingido. — Uma aula! - concluiu sarcástico. — Pra quê tudo isso? – indagou.
— É só uma curiosidade... – disse e bebi novamente. - Mas uma coisa sempre me deixou intrigado – acrescentei.
— O quê? – ele perguntou cerrando as sobrancelhas.
— Sobre o sargento-mor e a esposa do governador de Caiena... – respirei fundo. — Fico me perguntando como o sargento conseguiu a confiança da mulher pela muda. Fico criando hipóteses na minha cabeça, se fosse de uma forma, digamos mais íntima, ele teria a conquistado e caído fora com a muda, simplesmente a enganou e a largou. Ou teria voltado alguma vez e contado a verdade? Se tivesse acontecido assim, imagino como o sargento-mor foi um babaca. Porém em uma questão mais alheia e nacional foi o responsável por um grande sucesso nacional, fico me perguntando... – repetia com meu olhar embaçado para além longe dele. — Mas são só viagens minhas – conclui.
— Eu prefiro não viajar tanto – respondeu prontamente — Mesmo quem cometeu os piores dos pecados, já fez coisas grandiosas e boas – ressaltou ciente.
Pouco me importava o que ele achava, fiz uma expressão de desdém e bebi meu café.
— Alimentos quentes me queimam por dentro e me tiram a sensação de me sentir vivo. – falei aleatoriamente.
— Você é estanho – constatou ele.
— É... Eu sou. – arfei friamente.
— Não é ruim, você sabe. Estranho é relativo. – continuou se justificando — Mas tenho que te dizer algo que estou esperando há algum tempo, esperando até depois desse discurso histórico-pessoal – continou ele olhando feio pra mim.
— Pode falar agora – pela primeira vez o olhei fixamente.
— Depois desse tempo, eu refleti muito, às vezes me sinto mal por escolhas que tomei. Hoje quando te encontrei coincidentemente, consegui te reconhecer, tudo porque me dispus a sair do carro para visitar aquela praça, se eu o encontrei, não deveria perder a oportunidade. Perdemos contatos e laços. Você sabe como sou complicado. – Completou amargamente.
— Sempre soube, desde o primeiro dia que o conheci – disse sinceramente.
— Queria te pedir perdão... – suplicou com um olhar que não consegui definir e uma voz doce. — Por favor? Eu só queria que me perdoasse pelas coisas que fiz, não eram as coisas certas com você. – completou culpado.
— Te perdoei faz algum tempo, Maurício – revelei olhando para o café.
— Como? Por quê? – perguntava ele surpreso.
— Eu não te odeio, Maurício – disse olhando para ele novamente. — Nunca te odiei. – terminei lhe lançando um olhar.
— Claus, Eu... – balbuciava ele e tentava pegar na minha mão.
— Eu seria incapaz – disse tirando minhas mãos da mesa. E ele retomou a sua posição inicial.
Aguardei um tempo, fiquei um pouco abalado.
— Eu tenho que ir agora – disse me levantando.
— Espere, Claus! – pronunciou e segurou meu braço — Obrigado por não me odiar – disse ele com uma voz doce, seus olhos brilhavam.
— Aquela vez... – arquejava reflexivo — Eu disse que seria incondicionalmente.
— Claus... – suspirava ele meu nome.
— Mas agora não importa mais, me empenhei muito em fazer o que você sempre quis e o que era melhor para ambos – airmei rígido.
— Ainda parece estar tudo estranho com nós – ele replicou confrangido.
— Estranho é relativo, você sabe – parafraseei. — Eu realmente tenho que ir – disse me afastando.
— Tudo bem, mas quero te encontrar novamente – disse ele se levantando.
— Como quiser – respondi e sai de perto.
Fui pagar meu café e nos separamos na porta, fiz questão de não olhar para trás. Ainda tinha meu compromisso e estava atrasado.
===== Praça Municipal 09h11min =====
O centro da praça estava lindo, muito bem enfeitado, e relativamente movimentado, comum para aquela época do ano, a maioria eram espectadores se organizando para ver a atração, mesmo que não oficialmente. Eu estava ansioso como de costume, sem falar do nervoso, pois cheguei atrasado.
— Oi, cheguei – disse meio atrapalhado a ele.
— Claus presente! – disse ele colocando o dedo na minha testa.
Algo que me deixaria irritado em outro momento, mas não podia reclamar, tinha atrasado.
— Desculpa o atraso, Regente – expliquei ofegante e tirando o dedo dele de mim.
— Pensei que não viria, até pensei em trocar de ajudante – inferiu ele brincalhão.
— Se trocasse, com certeza seria melhor e mais responsável, certo? –rebati irônico. — Afinal, sou substituível – completei.
— E quem não é? – indagou ele me oferecendo a ficha.
— Ninguém é. – respondi irredutível e peguei da mão do Regente.
Regente era meu amigo, seu nome Lourenço, mas não o chamava pelo nome naqueles momentos, ao menos preferia. Talvez ele fosse a amizade mais duradoura que tive, e umas das poucas que consegui formar. Ele regia o coral oficial da cidade, um grande maestro. Como era época de natal, o trabalho do coral aumentava, um tempo propício. Sempre fui muito fascinado por música dos mais diversos gêneros, eu não era do coro, sequer sabia cantar ou tocar algum instrumento, mas me voluntariei para ser ajudante dele, depois de muita insistência e "chantagem", assim teria uma certa experiência.
— Parece que está todo mundo presente agora – constatei enquanto fazia uma chamada. — E arrumados!
— Ótimo! Só mais alguns minutos e vamos iniciar - disse ele sorrindo. — Contudo... – postergou ele sério.
— Sim? – Indaguei prontamente.
— Não me explicou porque se atrasou ainda – disse firmemente com os braços cruzados.
— Não sou obrigado. – respondi grosseiramente.
— Até não pode, mas se propôs a me ajudar aqui, ao menos deveria ter alguma consideração – E olhei para ele, parecia irritadiço. — Parece que não consegue ser responsável de verdade – completou indelicado.
— Responsabilidade... Responsabilidade... – eu cochichava.
— Responsabilidade. – afirmou ele.
Eu não estava muito à vontade para ter mais uma discussão inútil com ele, estava sem saco realmente. Depois de tudo aquilo voltando a mim, não era o momento de eu falar sobre isso naquele lugar e naquela hora. Porém ainda tinha uma parte de mim culpada por não ter explicado e ter sido grosseiro. Então apenas me afastei dele e fui para perto de uma árvore de Ipê onde não tinha ninguém.
— Claus! – chamou ele – Você chegou estranho, estava nervoso e ofegante – disse me seguindo – Só fiquei preocupado – confessou chegando perto. E me encostei na árvore debaixo de sua sombra.
— Olha, Lourenço... – iniciei. — Depois eu te falo, pode ser? – sugeri impaciente.
— OK. Mas sem fugir de novo! – ordenou ele a mim.
— Claro – rebati cínico.
— Você é muito irritante, garoto – revelou ele irascível.
— É a intenção – disse brincando e me sentei na grama.
Não que eu gostasse de ser irritante para ele, eu refletia sempre sobre mim, em como eu era uma pessoa chata e sem graça diante das outras pessoas, e quando interagia, surgia o "eu difícil", alguém que poucas pessoas tem paciência para conviver ou conversar, eu não respondia muitas coisas e enchia de perguntas ao mesmo tempo, fora as coisas aleatórias. Por tempo dei a essa situação a causa de perda de muitas pessoas da minha vida, eu sempre me vi como o culpado que não pode se socializar com ninguém. Uma bomba relógio nas mãos das pessoas que mantinham algum afeto por mim e eu tinha medo... Lourenço, eu não tinha certeza, estava no meu lado há mais tempo que outros, e ainda estava lá, mesmo depois de brigas, discussões e eventos. Não sei se a contagem da bomba em sua mão chegou ao 0, ou simplesmente se deixou ser destruído junto da bomba para ficar ao lado dos destroços em uma futura construção.
Naquela ocasião embaixo da árvore, ele mesmo sentou-se ao meu lado na sombra da árvore de Ipê e me deu um abraço. Eu fiquei muito surpreso, por isso não retribui o abraço, apesar já termos nos abraçado antes, o que torna tudo mais estranho. Aquele abraço foi diferente, talvez por estarmos em público.
— Cada batida é uma resposta sua pra mim – sussurrou no meu ouvido. — E cada batida minha será uma resolução para cada conflito – apertou ainda mais. E se soltou do abraço. Voltei a ficar de pé e ele em seguida.
O abraço me modificou, talvez tenha me desarmado, Lourenço sabia muito bem fazer isso, então senti que devia a ele.
— Lourenço.... – comecei a esfregar minhas mãos nos meus braços. — É que... – comecei a falar.
— Então era esse seu compromisso? – disse aquela voz familiar novamente surgindo na nossa frente.