Gabriel narrando
- Gabrieeeel.- Escuto o Gus me chamar do seu quarto.
- Eu tenho que ir, o Gustavo quer que eu durma com ele, pois acha que o papai ainda vai bater nele e comigo la ele não vai tentar nada. Max foi tudo horrível, se você ver como estão as costas dele, tem cortes e marcas por todos os lados, até na bunda. Acho que dessa vez o nosso pai exagerou.
- Sério? Nossa, vamos la, quero ver como ele está.- Chegamos em seu quarto.
- Woow.- Max fez esse som com a boca enquanto olhava as costas do Gus.- Cara, meu pai fez um estrago em você.
- Eu sei disso Max, não precisa me lembrar.- Respondeu Gus com tristeza.
- Olha mas bem que você mereceu...
- Cala a boca Max.- Falei sério. Não era hora para aquilo.
- Ah então quer dizer que agora você vai ficar defendendo ele, depois de tudo o que ele ja te fez?- O Max também ficou sério.
- Não é questão de defender, você tem que saber respeitar o momento dos outros, não ta vendo como ele está? Ele não precisa ouvir isso agora.
- Mas você é muito burro mesmo viu Gabriel, e ainda por cima vai dormir com ele e me deixar sozinho no quarto.- Ah agora eu entendi tudo, comecei a rir.
- Max, você está com ciúmes por que eu vou dormir aqui hoje?- Ele ficou mais vermelho que um tomate.
- Que mané ciúmes o que... é só que... que... você tem que parar de ser besta assim.- Ele acabou se enrolando e dando uma desculpa fajuta.
- Olha, assim como eu te dei uma segunda chance, eu vou dar uma pro gus ok? Eu te garanto que se ele me tratar de novo daquela forma, eu juro que ele pode estar morrendo mas eu não o ajudo, pode ter certeza.- O Gustavo ouvia tudo calado.
- Ta bom então... Mas você vai me deixar sozinho mesmo?-Ele forçou um beiço pra frente. Eu ri.
- Por que você não dorme aqui com a gente?- O Max olhou pro gus.
- Posso?- Perguntou meio sem jeito.
- Vai, deita logo ai moleque.- Respondeu o Gus com um sorriso amarelo que não conseguiu disfarçar sua tristeza.
A cama do Gustavo é uma king size e caberia nós três tranquilamente. Ele afastou pro canto, eu fiquei no meio e o Max do meu outro lado. Eu acordo no meio da noite sentindo algo molhado no meu peito. Abro os olhos e vejo o Gus abraçado em mim e chorando no meu peito.
- Gus, o que foi?- Passei a mão na sua cabeça.
- Minhas costas, elas estão doendo muito.- Eu imaginava que seria aquilo. O Max acordou também.
- Mano o que foi?- Ele perguntou com a cara muito sonolenta.
- as costas dele doem.- respondi por ele.
- Eu vou la embaixo pegar uma pomada pra passar em você.
Max narrando
Eu sai quase me arrastando da cama. Desci as escadas e encontro o meu pai chorando muito no sofá. Minha mãe estava de plantão.
- O que foi pai?- Fiquei preocupado.
- Filho eu juro por tudo o que é mais sagrado, eu não queria ter batido no seu irmão daquele jeito. Era pra ser algo mais leve, só pra ele lembrar das coisas erradas que ele fez, mas eu perdi o controle, eu estava cego de raiva, eu-e-e-eu...- Ele se enrolou e começou a chorar forte.
- Ei pai, calma... Eu acredito em você. O senhor nunca foi assim. Por que ficou com essa raiva anormal?
- Max, quando fomos na delegacia, uma psicóloga que avaliou o gabe por conta do acontecido, falou que ele era mais traumatizado pelo que vivia aqui em casa, do que pelo que fizeram com ele em si.-Nossa, por essa eu não esperava... e uma parcela de culpa é minha.- e tem mais, ela falou que poderia nos denunciar por negligencia e que eu poderia perder a guarda do Gabriel. Você sabe o que é para um pai ouvir isso? Eu sai de la em estado de choque e tudo o que vinha na minha cabeça era que a minha família seria destruída pelo Gus... ai eu acabei fazendo essa besteira. Se não fosse o Gabriel, eu nem sei o que eu teria feito ao gus, e eu jamais me perdoaria por isso... no fim eu mesmo destruiria o meu bem mais precioso- Nossa, era muita informação. Primeiro eu perderia o gabe e segundo meus pais seriam condenados ou algo do tipo? Bom, isso não importava mais.
- É pai, mas tentar ensinar o Gustavo a não traumatizar o Gabriel psicologicamente, fazendo com ele até pior, não resolve nada. O que você fez, foi muito pior do que o que o Gustavo fazia.
- Eu sei, eu estou tão arrependido, depois que o gabe chegou e eu acabei acertando ele sem querer, foi ai que a minha ficha caiu.- Eu não acreditei.
- Você só pode estar de brincadeira né? Você teve coragem de bater no Gabriel, que apesar de tudo ainda teve compaixão e foi la defender quem você estava atacando, justamente pra defender o gabe?- Eu fiquei meio indignado.
- Eu ja disse que foi sem querer, tenta me entender.- Ele me olhou, triste.
- Posso até tentar te entender, mas não agora. Está tarde e eu não tenho tempo pra perder com isso. Sabe o que eu vim fazer aqui embaixo a essa hora? Pegar uma pomada pra passar no gus que ta chorando até agora de dor.- Fui para a cozinha, peguei o remédio e depois subi sem falar mais nada. Cheguei no quarto e o Gustavo tava com a cabeça enfiada no pescoço do Gabriel, enquanto ele tentava acalmá-lo. Não vou mentir que desde que eu e o Gabe nos reaproximamos, eu sinto um pouco de posse sobre ele. É como se ele agora dependece só de mim e eu estava gostando de cuidar dele. Ver que agora ele e o Gus iriam ter esse mesmo tipo de relação, me deixou com um pouco de ciúmes. Na verdade, eu sou bem possessivo com tudo, mas principalmente com pessoas. Se alguém era meu amigo, essa pessoa tinha que ser mais meu amigo que dos outros e com o gabe não era diferente. Ele tinha se tornado o MEU protegido, alguém que EU cuido e de repente ele está todo preocupado com o gus pelo que ele passou... Entreguei o remédio pro gabe.
- Por que você demorou?- Ele me perguntou em um tom de voz baixo.
- Porque o papai está la embaixo e eu estava falando com ele.- Nessa hora o Gustavo se sentou muito rapidamente na cama e foi para o canto.
- Meu Deus, é agora. Ele ta vindo aí, ele vai me bater mais, Meu Deus eu não vou aguentar, alguém por favor faz alguma coisa.- Ele ficou apavorado..
- Calma Gustavo, ele não vem fazer nada com você, para de fazer drama eu em.- Pra que aquela cena toda? Só pro gabe ficar com mais pena dele?
- Drama? Você quer olhar minhas costas de novo pra ver como estão?- Ele baixou a cueca e me mostrou sua bunda, que estava pior que as costas.- Você ta vendo isso? Acha mesmo que estou fazendo drama?- Eu nada respondi. Acabei me sentindo culpado por isso.
- Me desculpa mano, falei sem pensar.- Fiquei meio envergonhado.
- Deita ai gus, eu passo a pomada em você.- Falou o gabe mudando de assunto, fazendo com que o Gustavo se deitasse. O Gabriel começou a passar a pomada nas costas dele e foi descendo cade vez mais, até que chegou na bunda. Aquela cena estava me incomodando.
- Eu acho que ja ta bom Gabriel.- Falei puxando seus braços.
- Ei, qual é? ainda não terminei.
- Terminou sim, agora vamos dormir que eu to com sono.- Encerrei o assunto e peguei a pomada da mão dele. Ele se conformou e deitou também. Dessa vez, deitei a cabeça dele no meu peito e passei seu braço em volta do meu corpo, o gus ficou sozinho. Acabamos dormindo.
Gabriel narrando.
Acordei naquele domingo de manhã me sentindo bem. Apesar de tudo, no fim das contas tudo acabou bem. Eu continuava me dando bem com o Max e agora estava me dando bem com o Gus. Esse sempre foi o meu desejo, poder ter os meus irmãos me tratando bem de novo, por mais que os dois tenham percebido da pior forma o quão idiotas estavam sendo, eu estava tão feliz que foi como se o passado tivesse sido apagado da minha mente. Eu estava tão cansado de tudo que passei, que era melhor não mexer mais naquela história e conviver bem com meus irmãos daqui em diante.
Estavamos na cama do Gus e o Max estava me apertando um pouco, com uma força além do normal, eu estava ficando sufocado.
- Max? Max acorda, você está me sufocando.- Ele parecia estar sonhando com algo e não acordava.- Max eu estou ficando sem ar, MAX.- O Gustavo tirou o braço do Maxwell de cima de mim com muita força e o empurrou, ele acabou acordando e eu fiquei tossindo.
- Tá louco me empurrando assim Gustavo?- Ele falou com revolta na voz.
- Eu louco? Você quase mata o Gabe sufocado, tava sonhando com o que mano?- Ele começou a rir.- Não vai me dizer que confundiu o Gabe com a sua namoradinha da escola hahahaha.- Eu olhei pro max que estava muito vermelho.
- Q-q-que? Lógico que não, você ta doido mano?- Ele estava muito constrangido.
- Ah não? E essa barraca armada aí em seu safado? Hahahahahahaha- O Gustavo sorria muito da situação, chegava a gargalhar... só então eu fui reparar esse pequeno grande, enorme detalhe. Meu Deus eu não acreditei naquilo. Eu também comecei a rir muito da cara dele, ele estava muito envergonhado.
- Você ta pensando que eu sou o que Max? Algum tipo de boneca inflável? hahaha- O Gus não parava de rir um segundo.
- Vocês são ridículos, isso é normal, todo homem acorda assim.- Eu ja estava começando a ficar com dó do coitado pela cara de envergonhado dele.- Vou no banheiro.- O Max concluiu, e quando ia saindo.
- Não vai bater uma e melar o banheiro mano, lembra que a gente ainda vai usar hahaha.- O Gustavo não cansava de zuar ele. O Max de costas mostra o dedo do meio pra gente. A gente ficou la sorrindo.
Descemos e fomos tomar café, depois de algum tempo na cozinha, meu pai chega. O Gustavo me olhou imediatamente com o rosto cheio de tensão.
- Bom dia.- Ele falou mas nem eu nem o Gus respondemos. Terminamos de comer e subimos. Foi um dia tenso, nós não saímos do quarto e nosso pai também não se deu ao trabalho de tentar se reaproximar.
A noite chegou e era hora de ir para a igreja. Engraçado ter que ir para a igreja depois de tudo o que aconteceu, mas tinhamos que ir, nos vestimos e descemos, nossos pais ja nos esperavam no carro. Minha mãe parecia não saber do ocorrido e não seria eu que contaria. Entramos no carro no banco de tras e eu no meio. Chegando la o gus passa o braço pelos meus ombros e vamos andando até a area ao lado da igreja, logo avistamos a Patrícia, sua namorada. Ela nos olha com uma cara de "eu perdi alguma coisa?" eu começo a rir discretamente.
- Nossa, o que aconteceu pra você estar tratando o Gabriel desse jeito amor? Alguém fez uma lavagem cerebral em você?- Ela falou rindo.
- Amor, eu percebi o quão idiota eu fui e aconteceram umas coisas com o gabe que foi tudo culpa minha e eu me arrependo muito do que eu fiz. Minha família ia sofrer muito por minha culpa. Eu nunca mais vou ser daquele jeito.- ele respondeu sério. Acho que meio que pra provar que suas palavras e seu arrependimentos eram verdadeiros.
- Que bom amor que você se arrepende, fico feliz. Espero que agora você veja o que eu sempre vi no Gabriel, Um menino doce e carinhoso.- Fiquei envergonhado. O Max chegou.
- Gente o nosso pai ta mandando a gente entrar.- Ele falou sério. é impressão minha ou ele está chateado com alguma coisa? Saí de perto do Gus e fui onde o Max.
- Ei, ta tudo bem com você?- Perguntei.
- Tudo ótimo.- Ele me respondeu sério, olhando pra frente sem me encarar. Entramos e sentamos.
O pastor começou a pregar e falar sobre homossexualismo. Eu sempre ficava incomodado quando ele abordava esse tema, eu tinha a impressão que todos da igreja estavam me olhando e só esperando a hora de me atacar. Fora isso o culto transcorreu normal até que chegou ao fim. Novamente ele mandou que nos confraternizacemos uns com os outros. O Max estava com os mesmos amigos do domingo passado, fui lá e fiquei perto deles, agora sem medo da rejeição por parte do meu irmão.
- E ai Gabriel- O Pedro falou comigo. Confesso que eu não ia com a cara dele. Ele estava sempre com um sorrisinho sarcástico no canto da boca, como se estivesse esperando eu dar um deslise em algo.
- E aí, beleza?
- Você ja mudou de ideia sobre jogar futebol com a gente, ou ainda continua uma boneca de porcelana?- Ele e os outros começaram a rir. Olhei para o Max e a minha surpresa foi o sorriso estampado no rosto dele. Eu não estava acreditando que ele tinha mesmo sorrido daquilo e não tinha feito nada pra me defender. O que será que está acontecendo com ele? Será que ele não mudou mesmo?
- Pelo visto eu continuo sendo uma boneca de porcelana mesmo.- Falei sério e saí dali. Os meus olhos começaram a encher d'água. Por que eles estava estragando tudo? Logo agora que tava ficando tudo bem , ele tinha que voltar a ser um idiota? no meio do caminho encontrei o Gustavo mas abaixei a cabeça pra que ele não me visse chorando mas foi inevitável.
- Ei, ei, ei o que foi?- ele falou todo preocupado enquanto tentava pegar meu queixo para levantá-lo, porém desviei.
- Não foi nada.- Falei olhando pra baixo e cruzando os braços.
- Como nada? Ninguem chora por nada Gabriel, me fala. Pode confiar em mim mano.- Ele colocou uma mão em meu ombro.- Depois do que você fez por mim, eu sou capaz de fazer qualquer coisa pra te defender.
- Aqueles amigos idiotas do Max fizeram uma piada sobre mim e eu pensei que ele fosse me defender, mas ele acabou foi rindo da minha cara. Eu achei que ele tivesse mudado Gustavo, mas pelo visto não foi bem assim né. Parece que eu não posso confiar em ninguem mesmo. Você ta aqui agora mas não vai demorar a voltar a agir como antes, assim como o Max.- Eu estava de saco cheio de só me foder naquela família.
- Ei, não venha descontar em mim o que o Max fez com você. Eu em nenhum momento te dei motivos pra pensar isso de mim.- Fiquei calado. Ele estava certo.
- Desculpe, eu só estou...
- Cansado. Eu sei. Vem ca- Ele me envolveu em seus braços. Como era bom abraçá-lo. Ele é grande e eu me sinto aconchegado no seu abraço. Logo o Max apareceu com uma cara de poucos amigos. Nossos pais estavam conversando com seus amigos da igreja, e pelo visto iriam demorar um pouco. O gus começou a falar com ele, só que de forma calma.
- Ei mano, qual foi? Não viu aqueles caras tirando sarro do nosso irmão não?
- Eu sabia! Eu sabia que você iria vir correndo contar pro Gustavo. Nossa como você é fresco mano, foi só uma brincadeirinha eu em.
- Ele não veio correndo me contar nada, eu que insisti. Cara por que você não fez nada? Você sabe que isso não é frescura. O nosso pai te falou que ele é dessa forma por causa do modo que nós o tratavamos?
- Então por que você não foi la proteger ele, ja que ele agora é um grude com você?
- Cara e o que isso tem a ver? De onde você tirou isso? Ele é meu irmão tanto quanto você é dele. Você sabe pelo que a gente passou até aqui, não é possível que você vai jogar tudo isso fora. Não vai me dizer que...- O gus começou a rir.- Você está com ciúmes de mim e do Gabriel?- Eu levantei a cabeça e encarei o Max pela primeira vez naquela conversa. Ele não respondeu nada e ficou bem vermelho.- Mano, deixa de besteira. Eu só to aproveitando esse tempo pra curtir ele melhor e pra conhecê-lo melhor também, afinal nós sempre fomos como desconhecidos um pro outro. Não precisa se sentir assim, vem cá você também.- Ele estava abraçado comigo só com um braço e com o outro envolveu o Max que passou seu braço pelas minhas costas.
- Mano, desculpa por eu ter sorrido de você, eu fui um idiota como sempre.- Ele me pareceu envergonhado. Eu achei muito fofo ele com ciúmes.
- Ta tudo bem mano.- dei um sorriso amarelo. Meus pais chegaram.
- Que bonito meus filhos se abraçando desse jeito! Da até gosto ver vocês se dando tão bem assim.- Falou minha mãe beijando a testa do Gus. Nosso pai entrou no carro.
Entramos todos no carro e não demorou muito chegamos em casa. Logo todos foram dormir, ja que no outro dia seria segunda feira e a vida de todos voltaria a rotina, menos a minha, que ficaria em casa até a quarta feira me recuperando. Lembrei agora daquela maldita aula de jiu jitsu. Essa semana promete.