Cap.8
O que era para ser apenas uma ajuda acaba se tornando um momento de ainda mais nervosismo, quando Maurice firma sua mão na minha e ajuda-me a terminar de cortar o bolo. Um momento de muita emoção, meu coração batia aceleradamente, fazendo eu não ter mais dúvidas que algo dentro batia desesperadamente por ele.
- Aqui está, Dona Cristina ! - falou, soltando a minha mão. Durante alguns segundos ele olhou nos meus olhos e então entregou a ela - para quem vai o primeiro pedaço ? - ela sorriu.
- Acho que não é surpresa a ninguém. Vou dar para aquela pessoa que mais tem me apoiado, e que é a única razão da minha existência atualmente - falou, vindo até mim. Beijou meu rosto, e me entregou a fatia - é para você filho ! - falou, me fazendo sorrir e lacrimejar ao mesmo tempo. Era duro saber que a pessoa que você mais considera pode te odiar depois de descobrir o que você é de verdade.
- Obrigado mamãe... - falei, me afastando do bolo. Quando vi que ela começou a se entreter e a sorrir demais do outro lado da sala, sai de fininho em direção ao meu quarto. Eram tantos acontecimentos tristes... Meu pai havia morrido. Por pouco não acabei com a minha vida. Agora corria o risco de ser odiado se descobrissem a realidade sobre mim.
MINUTOS DEPOIS
Continuava eu, escorado na janela, pensando na vida, olhando para o céu em busca de respostas para o que eu estava passando. De repente escuto aquele rangido característico de porta abrindo. Olho para trás e vejo Maurice entrando no meu quarto. Continuo a olhar para o céu, até que ouço a sua voz chamar a minha atenção.
- O que houve ?
- Do que está falando ?
- Porquê não está comemorando com todos ?
- Ah... Sei lá... Ouvir minha mãe me elogiar daquela forma... E saber que ela pode mudar de idéia e assim como você me considerar uma aberração dói a alma - continuava olhando a lua e as estrelas, quando ele se pronuncia.
- Eu... Eu não te considero mais uma aberração... - assim que ouvi ele falar isso, virei meu pescoço e olhei para ele.
- Não ?
- Não... - falou, olhando para o chão por alguns segundos, e depois para mim - você não tem nada de aberração. Você não é uma aberração...
NARRADO POR MAURICE
Eu não sabia direito o que tinha acontecido comigo. Desde quando fiz respiração boca a boca nele e toquei seus lábios, eu me sentia perdido, confuso, carente, estranho. Sempre que eu pensava nele, só me vinham coisas boas na mente. Sentia vergonha, ódio de mim mesmo por te-lo feito chorar e pensar em tirar a vida por causa de algo que eu disse. Já não via nele coisas ruins. Somente coisas boas. Me sentia muito confuso, em relação a tudo. Aquele toque de mãos, aquela palpitação que eu sentia no peito não era nada normal, eu sabia disso.
NARRADO POR ANTÔNIO
A festa acabou, todos se foram. E lá fui eu, dormir e embarcar no mar de sonhos em que nenhum problema ou medo podia me atingir. Era eu e meus singelos pensamentos. Assim que o dia amanheceu, ensolarado, naquela manhã de 1918. O mundo estava cada vez mais envolvido na Guerra. Eu estava cada vez mais envolvido em dúvidas.
- Onde está a mamãe ? - perguntei, assim que sai do quarto e encontrei apenas Maurice na mesa.
- Ainda está dormindo. Pelo jeito eles ficaram conversando até tarde por aqui.
- É verdade - falei, me sentando a mesa. Comecei a me servir, quando ele falou.
- Não quer ir tomar banho no riacho depois ? - perguntou.
- Porquê não ?
- Sei lá... Não tem nenhum trauma do que aconteceu ?
- Você vai estar lá, porquê eu teria trauma ?
TEMPO DEPOIS
Não demorou muito para nos trocarmos e irmos apenas com a sunga para o riacho.
- Ah, é linda - falava, se referindo a minha pergunta de como e a Torre Eiffel - é um monumento lindo da França.
- Tenho vontade de ir na França um dia.
- Quem sabe sua mãe mande você se graduar lá.
- Quem sabe... - falei, sorrindo.
- Quem chegar por último é a mulher do padre ! - gritou, sem me dar bem tempo de me preparar. Sai correndo em direção a piscina. Porém não vi um buraco que existia no gramado. Assim que pisei, meu pé afundou e eu o torci.
- Aiiii - imediatamente ele parou quando me ouviu gritar. Me joguei no chão e fiz careta, com dor.
- O que foi que houve ? - perguntou, voltando rapidamente.
- Acho que torci o pé - imediatamente ele olhou o meu pé, tocou.
- Parece que torceu mesmo... - falou - desculpa por ter te feito correr .
- Não é nada... Eu que sou um desastrado - ergueu o olhar, e só então percebemos o quão perto estávamos um do outro. Olhares grudados, corações palpitando, suspiros... Essa era a nossa situação.
Continua
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