Ladrilhos 09

Um conto erótico de Igor Alcântara
Categoria: Homossexual
Contém 2518 palavras
Data: 02/10/2015 23:48:07
Última revisão: 03/10/2015 11:37:05

Eu continuei olhando pros ladrilhos sem acreditar. Meus dedos da mão direito levantaram até meu lábio inferior. Eu estava indeciso entre a sensação de prazer com êxtase do beijo e a sensação que eu ainda não sabia bem como definir que estava se formando no meu peito. A ignição da SW4 foi dada e eu me virei. Rômulo estava sério ao volante checando o celular à minha espera.

Eu caminhei e entrei no carro frio pelo ar condicionado. Ele continuou checando o celular calado até que o guardou e começou a dar ré em direção ao portão. O ar fora do carro estava melhor, alí dentro eu estava sufocado pelo silêncio que pairava entre nós dois. Ele foi dirigindo sério enquanto eu continuava em silêncio e olhando pra minhas pernas. Ele estava me fazendo sentir vergonha pelo o que havia feito.

- Me desculpa... – eu disse baixinho achando que ele talvez não fosse escutar.

Talvez ele não tenha escutado de fato. Ele continuou calado e dirigindo sério. Desde que tinha o conhecido semanas atrás eu nunca o havia visto tão sério.

- Rômulo... – eu tentei.

Ele me lançou um olhar rápido e voltou a olhar pra frente. O trânsito estava muito devagar, coincidentemente.

- Victor... – ele suspirou – eu não sou gay. Não. Sou.

- Me desculpa.

- Não tenho nada contra e poderia ser, mas não sou. Não gosto de caras.

- Tudo bem. Eu agi por impulso. Me desculpa, não vai acontecer de novo.

- Qual a dificuldade pra vocês entenderem isso? Não é como se eu fosse obrigado a ser gay.

- Vocês?

- Você e todos os outros amigos gay que tentei ter. Justamente por não ver nada de errado eu nunca discriminei e fiz amizade numa boa. Mas vocês sempre confundem as coisas, que droga!

Então era disso que o César estava falando.

“Você vai acabar da mesma forma que todos os outros. Eu já assisti esse filme desde o colegial... Rômulo não vai se apaixonar, você vai confundir as coisas e depois vai chorar pra sua mãe.”

Lembrar do tom dele me fez me contrair.

- Eu errei. Tudo bem, eu sei. Já disse que não vai mais acontecer.

- É melhor que não aconteça Victor porquê da próxima vez eu não sei como vou reagir. Nenhuma cara havia feito isso. Você é um amigo bacana que eu quero manter mas eu não sou gay, não confunda as coisas. Não invente onde não existe.

- Já entendi.

Que pisada na bola. É óbvio que todo resquício de amizade que eu tinha com o Rômulo havia acabado. Ele no mínimo queria me ver morto. Logo agora que eu finalmente estava tão perto dele. Eu gostava da companhia do Rômulo. Gostava das mensagens, de compartilhar as imagens, de sair com ele, de ver aquele rosto com nariz afilado e cabelos pretos marcantes. Gostava da forma como tudo parecia perfeito quando ele estava perto. De como ele cuidou de mim no meio da família dele, não me deixando sozinho, não me deixando ficar isolado, me enturmando com os primos. Gostava da preocupação em me receber, em me devolver a mochila... Claro, gostava da forma como ele se preocupou na noite do assalto. Eu comecei a chorar.

Ele não disse nada. Eu só me sentia mal. Me sentia mal pela possibilidade concreta de perder o Rômulo, de não ter mais a presença do meu lado, de ele não querer mais nem mesmo me responder uma mensagem. Eu havia estragado tudo, como ele disse. Limpei o nariz enquanto ele dirigia e olhei pela janela.

Ele continuou dirigindo com o carro andando apenas poucos metros em curtos intervalos de tempo. Aquilo perdurou por longos 30 minutos até que chegamos na minha casa. Eu destravei o cinto e abri a porta sem dizer nada.

- Boa noite. – ele disse ainda olhando pra frente.

- Boa noite. – eu disse antes de bater a porta. Subi a calçada e entrei em casa.

Minha mãe acordou no sofá. A TV estava ligada.

- Victor, que horas são? – ela disse se colocando sentada.

- Mais de onze.

- Como foi com o Rômulo?

Eu queria responder algo mas meus lábios se curvaram e eu abaixei a cabeça voltando a chorar bem mais solto que no carro. Chutei os chinelos e sentei do lado da minha mãe tendo meus cabelos afagados por ela e a cabeça puxada em direção ao seu colo. Minha mãe sabia que não deveria perguntar nada naquele instante. Eu só precisava daquilo, um colo.

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- Eu avisei, não avisei? – César disse indo chegando do meu lado com duas cervejas. Me deu uma e entrou na água do meu lado encostando na parede da piscina.

- Não acredito que ele fez isso. – eu disse tomando um gole.

- Muito corajoso. Ele deve ter pensado que você estava a fim pra ser tão confiante assim, Rômulo.

- O que eu fiz pra dar a entender isso? Eu fui amigo dele, porra!

- Exato. Você fez isso.

- E daí? Eu tenho que ser mal educado por acaso? Eu ajudei o cara quando ele tava com a mão machucada e por isso eu preciso casar com ele?

- Precisa sim! Se você não quisesse que ele se apaixonasse então não teria sido tão... educado, como você diz.

- Eu só fui simpático, César!

- Que seja, Romildo!

- Não me chama assim!

- Que se dane! Você tem culpa! Você deu espaço! Você o ajudou e como se não bastasse trouxe ele pra dentro da nossa casa, pro meio de nossa família uma semana depois de tudo! Trocou mensagens, bateu papo! Você sabe o que o WhatsApp faz com as pessoas?

- A mãe dele é muito querido pelo papai.

- E o que você tem a ver com isso? Agora é obrigação sua tratar o filho dela como poodle aqui em casa?

- Eu não tratei ninguém como um poodle! O Victor é um cara legal apesar disso que aconteceu.

- Tratou sim! É sempre assim. Você é um cego! Você pega as pessoas e as trata como íntimas rápido demais. Se abre todo! Para de ser assim Rômulo! Eu não tô dizendo que ele não seja um cara legal e nem que não possa ser seu amigo, só vai com calma! Ainda mais ele sendo gay...

- O que isso tem a ver?

- O que isso tem a ver? – ele gritou.

Eu fiz sinal com o dedo pra ele falar mais baixo. Ele virou a cerveja na boca tomando vários goles seguidos e terminando com os olhos apertados.

- O que isso tem a ver? – ele repetiu mais baixo. – Gays em 99% dos casos se apegam mais fácil e você não ajuda sendo lindo, forte, rico e bancando o herói depois do assalto.

- Ele confundiu as coisas...

- Ah não diga... Ele e mais quantos? – César e essa ironia insuportável.

- Olha, se você gosta mesmo dele, vai lá... Chama pra sair, finge que não aconteceu nada e está tudo bem. Mas sinceramente, tenha limites. Ou então ele vai continuar apaixonado. Você tem certeza que deixou claro que não quer nada com ele?

- Muito claro.

- Acho bom mesmo, porque se restar dúvida ele vai querer de novo.

- Não... Ele não seria capaz. Eu avisei. Isso não vai acontecer de novo.

- Tomara. Mas ele rendeu bem. Foi o único que te rancou um beijo até hoje e eu vou te zoar pro resto da vida por isso. – ele tomou o último gole da cerveja e mergulhou. – Agora disfarça essa cara que a Ana tá vindo aí.

Eu continuei de braços cruzados na parede da piscina enquanto Ana sentava do meu lado e César surgia da água do outro lado da piscina.

Tudo bem. Eu ia dar mais uma chance pro Victor.

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DIAS DEPOIS

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- Bom dia Cleide. – eu cheguei no que chamavam de almoxarifado da prefeitura. Mas que de almoxarifado não tinha nada. Na verdade estava mais pra galpão onde se guardavam processos, jornais e tudo mais de papel de muitos anos.

- Bom dia César! Chegou cedo hoje. Não são nem oito horas ainda.

- É... Minha faculdade está em reforma e por conta disso hoje não vai haver aula pra minha turma.

- Hum. Já vai começar?

- Vou sim.

Eu passei pelo balcão onde Cleide ficava com sua tradicional xícara de café e passei pra dentro do galpão. Era apertado e pra andar era preciso passar por cima de vários processos.

Eu estava há duas semanas – naquele dia iniciando a terceira – tentando achar o processo administrativo que minha mãe sofreu e por conta dele perdeu o emprego na prefeitura há muitos anos atrás. Eu descobri pelas minas constantes pesquisas que ela se envolveu num escândalo envolvendo corrupção e por conta disso ela e os colegas da época foram todos exonerados dos cargos que ocupavam.

Eu tinha a numeração de cor e salteador, até com os pontos. O problema é que os processos estavam simplesmente jogados em pilhas quase da minha altura e não havia nenhum tipo de critério então o jeito era ir procurando de um a um.

No fundo da sala haviam quatro pilhas de papéis que iam até minha cintura, essas sim empilhadas da forma certa. Eram os que eu já havia visto no decorrer das duas semanas. Decidi separá-los pra não embaralhar tudo de novo. A Cleide gostava. Assim a sala se organizava enquanto eu procurava algo que ela nem sabia nem queria saber. Ela só tinha preocupação em ler a mesmo revista Veja todas as manhãs.

Tirei minha camisa e troquei por uma camiseta velha que eu estava usando pra fazer aquele serviço. Passei uma máscara presa às orelhas e comecei olhando os processos conferindo a numeração. Sempre buscando a sequência completa de números. Nada. Um após o outro.

Eu queria saber cada detalhe da vida da minha mãe. Antes de ir de fato procurar por ela eu precisava do máximo de informações possíveis. Esse era um pedaço importante da vida dela. Pelas minhas pesquisas esse foi um dos únicos empregos formais que ela teve. Perdeu porque se envolveu num esquema de corrupção dentro da prefeitura. Bem, ela não se envolveu diretamente. Mas como era secretária, sabia de tudo e não falou nada deu no que deu. Isso segundo me contavam.

Pastas e mais pastas iam passando pela minha frente. Eu já havia checado todo o sistema de processos virtuais. Ele não estava lá, então só sobrava a opção de estar naquele galpão mesmo no meio de centenas de outros tão antigos e velhos quanto.

Um número. Dois números. 7 números! Meu olhos até se abriam mais. No oitavo número a sequência se perdia. Não era aquele processo. Pegava mais um da pilha e recomeçava.

Eu tenho um pouco de renite e aquelas semanas alí estavam acabando comigo. A noite minhas crises estavam cada vez mais fortes, mas eu não tinha outra opção. O processo estava alí. Tinha que estar.

Eu queria muito encontrar minha mãe. Queria mesmo. Queria saber quem ela era, como ela era, se éramos parecidos, quem era o meu pai, se eles estavam juntos, se tinham contato, se eu tinha irmãos biológicos, se algum deles era mais novo ou mesmo mais velho. Era pensar nisso que me fazia respirar aquele cheiro horrível e forte de papel velho e recomeçar a busco numa nova pilha de processos.

- César, meio dia.

- Já? – eu perguntei com as mãos sujas de mofo e poeira puxando a máscara com cuidado.

- Sim. Hoje você nem lanchou. O que tanto você procura, me fala.

- Arquivos confidenciais! – eu falei sorrindo. – Obrigado. Amanhã eu venho.

- Tudo bem. Se cuide. Mande abraço pro seu pai.

- Ok.

Troquei de roupa novamente e lavei as mãos. Mais uma vez voltei pra casa sem nada a não ser vontade de espirar e coçar a garganta. Tudo bem, eu iria terminar as pilhas e iria sim encontrar algo. Nem que fosse o último processo da última pilha.

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- Tô começando a ficar preocupada com você. – minha mãe disse. – Você só tem ido pra faculdade, não come direito e vive dormindo.

- Não tenho pra onde ir. Sou caseiro. A senhora sabe.

- Caseiro demais pro meu gosto. Eu sei que aquela noite não foi fácil Victor mas não é por isso que o mundo vai parar. Há outros rapazes por aí, você não precisa necessariamente do Rômulo. Você poderia tentar conhecer alguém da sua faculdade.

- Não vou conhecer ninguém. – eu disse pegando flocos do cereal e colocando na boca. Minha mãe sabe que adoro cereal mas ela não compra com frequência porque cereal não é uma coisa muito importante. Acho que deve ter comprado pra me ver melhor. – Não quero conhecer ninguém.

- Victor, essa não é a forma correta de tratar a situação.

- Que situação. Não há situação pra se tratar. Eu vou pra faculdade agora. Não se preocupe com almoço, eu me viro por lá mesmo.

Eu joguei a tijela na pia e fui pro quarto me arrumar. Aqueles últimos dias tem sido um inferno. Tirei o celular do bolso e ele estava da mesma forma que há 5 minutos antes. Sem nenhuma notificação de mensagem.

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23:45, ok, ainda é sexta hein! Não atrasei.

Tay Chris: Está perdido demais. Vamos lá: Primeiro, olha, eu não acho que seja isso. A postura da mãe do Victor não é de alguém que iria abandonar uma criança e depois ter outra e ficar apenas com uma. Segundo, não, Rômulo não podia brigar com o César pelo motivo que ele disse, apenas por ser uma festa de família e o pai não querer nenhuma briga entre eles, por isso ele especificou que não podia brigar naquele dia. Terceiro, César também disse que ele não era gay.

Lytah: Indecisão desse povo kkkk

Tozzi: Claro que vai. Sempre afeta.

Mr. Anônimo: Noss! kkk

tavinhoo: Coitado do Victor depois desse beijo.

LiloBH: A gente fica com aquela sensação do tipo "Me recusooo!" e quer quebrar o computador.

esperança: Eu espero que não mudem muito.

Drica (Drikita): Que bom que voltoooou! Sinta-se em casa. Obrigado!

LUCKASs: Vou já falar disso, pera um pouco.

Drica Telles(VCMEDS): Rômulo não podia brigar porque o pai é muito chato com brigas entre ele e o César, é algo que ele já explicou em caítulos passados e inclusive estavam numa ocasião de família, ia piorar muito. Além disso foi dado preferência a um convidado dele e não do César. Foi isso.

Monster: Frouxe é ótimo kkkk

Renan46a: Eu passei por problemas com o meu outro conto e por isso ele foi cancelado. Tem um texto explicando até. Quanto a data de postagem, eu vou já comentar sobre isso. Espera só eu terminar de responder.

guisandes: Não sei de nada. Alguém vira gay?

Tozzi: Então leia agora o que vou escrever aqui embaixo.

Gente, eu realmente peço desculpas a todos que vem aqui a procura de capítulos novos. Eu sei como isso é chato. Mas com a minha rotina atual não tem como postar em mais de uma vez por semana. Então, reafirmando, os contos saem às sextas feiras a noite, depois das 22h que é quando eu chego em casa e posso revisar o texto, responder cada comentário e publicar. Mais frequente que isso, não dá mesmo. Desculpem.

Obrigado a todos os comentários. Vocês são demais. Até sexta que vem!

Abraço.

Igor.

kazevedocdc@gmail.com

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Comentários

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Até entendo a situação do pai dele ser chato com brigas e tudo mais, porém, por mais que eu ame e respeite meu pai, jamais permitiria que alguém, principalmente um amigo, dentro de minha casa fosse humilhado e vitima de preconceito de nenhum tipo...Mesmo depois de todos irem embora em nenhum momento ele cobrou respeito ao irmão, como se tudo que ele fez fosse normal. Então me desculpe, mas mantendo minha opinião sobre o Rômulo, que aliás deu sim todos os sinais para o Victor e provavelmente para os outros também e depois dá uma de Madalena arrependida, oras se ele já passou por isso outras vezes então tinha que no minimo, se não queria por as cartas na mesa, deixar subentendido para evitar constrangimentos e decepções para ambas as partes, até o imbecil do coisinha percebeu isso. Com relação ao ultimo capitulo, é surpreendente tanto esforço para encontrar a mãe vindo de alguém como ele e tomara sim que tenha um irmão por parte de pai que ele já conhece e se chama Victor.

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eu sei exatamente como o victor se sentiu quando viu que tinha feito besteira.ja me sentir assim nãi foi uma ou duas vdzes não.e no meu caso a besteira teve consequencias permanentes.espero que no caso do victor tenha solução.beijos lindo

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Qual o mistério de César ? Não creio que a "procura pela mãe" seja a única coisa intrigante nele. Não vou opinar sobre o Rômulo e nem o Victor, prefiro esperar o desenrolar da história. Abracos man...

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Muito bom. Se nao tem outro jeito a nao ser esperar ate sexta,que assim seja,esperarei.

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Aqui na cdc "viram"... tomara que o Victor encontre um cara legal logo, to com dó dele...

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Pelo amor 😒😒. Por que sempre tem que ser assim, hein ? Todo conto é a mesma coisa. O cara faz ele sofrer até não querer mas, mas ele ainda fica ali correndo atrás do cara como se fosse um cachorrinho e não quer saber mais de ninguém, parece que não existem outros caras 😒😒. Pelo amor de Deus. Por que, hein ? Existe gente assim mesmo na vida real ?

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Com certeza isso!!! kkk Sobre hoje: ainda esperando o Rômulo enxergar.

Estou adorando sua estratégia de múltiplos narradores. Sobre o César: Não é que você está quase me convencendo que ele é gracinha!

Abraços para você, Kaio, Lucas e Bernardo dê algumas noticias tem tempo que não fala deles...

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Entendo você, e espero ansiosamente com todo prazer toda sexta feira pra ler mais um capítulo, nada a falar sobre o capítulo de hoje, só tenho a dizer que estou amando e aguardo o desenrolar da história.

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A rapaz adorei... Agora entendi td sexta estarei aqui

👏👏👏👏👏

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