Na Ordem do Caos 5

Um conto erótico de Hayel Mauvaisanté
Categoria: Homossexual
Contém 3352 palavras
Data: 19/10/2015 20:05:25

Na Ordem do Caos

Capítulo 5 - Convergência Solsticial.

===== 16 de Dezembro 06h22min =====

Se existia uma coisa bem agridoce pra mim, era acordar cedo. Eu gostava até determinado tempo, tinha minhas obrigações como estudante, então era mais do que necessário. Porém o fato é que com o tempo, adquiri insônia, durmia cada vez menos, passei a madrugar, até hoje. Em certos casos, eu dormia até tarde, o que já me causou alguns problemas. Ao tempo que precisava acordar cedo e estar acordado pela manhã, porque sempre achei que se eu dormir demais, estaria desperdiçando muitas coisas, principalmente tempo! mesmo que fosse nada. Minha preguiça interna se aliava com minha insônia, mas eu precisava de horas regulares de sono.

Então na manhã seguinte, acordei cedo por costume, era Dezembro, período de férias natalinas, mas eu não tinha. Mesmo com férias da faculdade, fazia um estágio profissional renumerado em uma clínica de psicologia. Ganhava pouco, mas podia me virar, ainda ganhava uma pensão do meu pai quando ele se disponha a ajudar, os raros momentos que eu o encontrava e queria fugir. Portanto, precisava trabalhar.

Fiz minhas tarefas que fazia antes sair, arrumar bem minha cama do meu jeito, me higienizar, deixar alimentos preparados em depósitos, e por fim, me arrumar. Até o momento que a porta batia. Odiava aquele barulho de visita, e como ela não tinha olho mágico, fui abrí-la só de calça.

— Bom dia, Sr Rogério. – disse eu ao abrir a porta e vê aquele senhor de meia idade com um roupão.

Rogério era o proprietário da casa eu onde estava habitando, por conveniência, ele morava por perto, então poderia vir cobrar a qualquer hora.

— Dia Claus. – respondeu ele meio ranzinza, e fuxicando para da além de mim e da porta. — Sabe por que vim aqui, não é? – indagou ele ultrapassando meu espaço.

— Sim, sei. Veio cobrar o aluguel. – respondi me afastando um pouco, mas sem sair da porta. E naquele momento ele me fitou com um olhar nervoso.

— E? – falou ele esperando algo.

— Olha, Sr. Rogério... – comecei a me explicar. — Eu ainda não consegui todo dinheiro. – e olhei para baixo. — Mas prometo conseguir até o natal, só quero que o senhor tenha paciência – e respirei um pouco.

Ele me analisou por um tempo, continou me olhando com um olhar nada agradável.

— Já são dois meses, Claus. – afirmou ele com voz firme.

— Eu sei. Mas confie em mim. – disse eu com minha expressão mais sincera e convincente do mundo.

— Sabe, que sou uma boa pessoa, Claus. – respondeu ele mexendo no bigode. — E que você é um rapaz correto e responsável, por isso vou te dar uma chance. – resmungou como se fosse a Madre Tereza de Calcutá.

— Obrigado, senhor Rogério. – Agradeci mesmo não gostando nada da situação.

— No entanto... – começou ele se afastando mais. — Vou te dar o prazo até depois do Natal, certo? – ressaltou ele firmemente. — Quero meu dinheiro.

— Claro, senhor – respondi quase que prontamente. — Prometo que te darei seu dinheiro até lá. – prometi mesmo não pensando muito nisso.

— Certo, estarei esperando. – bufou ele.

— Desculpe, senhor. Mas tenho que ir me arrumar – disse fechando a porta na cara e me aliviando por me livrar daquele senhor.

Irônico e engraçado, era eu rir do Seu Barriga sempre indo cobrar os 14 meses de aluguel do Seu Madruga quando criança e eu hoje estar na mesma situação que ele na minha vida adulta. Ao me lembrar e pensar, comecei a rir sozinho da ironia da vida enquanto me sentava no sofá. Talvez eu não conseguisse todo dinheiro do aluguel até o prazo, parte do meu salário já tinha um fim destinado. E o dinheiro da pensão acabava. Poderia estar sendo negligente e irresponsável com isso, mas era algo que não queria pensar, eu teria chances, mesmo que de conseguir a parte restante. Funcionava muito sob pressão. Inclusive, nem Lourenço sabia minha situação, escolhi não contar a ele, se não eu não teria escolha de ir morar com ele, e eu não queria depender dele daquela forma.

♪ We are only speaking from our conscience

He's gonna take us when he wants us

We only need a little pie... ♬

Quando estava me arrumando para trabalhar, ouvia o toque do meu aparelho, dessa vez sabia sua localização, precisava ficar atento às horas. E recebi sua ligação:

— Bom dia, dormiu bem!? – Lourenço dizia eufórico ao barulho da cidade grande do outro lado da linha.

— Pior, acordei vivo. – respondi com o aparelho entre o ombro e a orelha enquanto colocava meu sapato.

— Você e suas piadas... – comentou ele indignado. — Quer que eu vá te buscar? – sugeriu ele arquejando.

— Não, obrigado. – disse meio alheio a ele. — Tente se concentrar nas suas coisas. – recomendei com um tom forte.

— Não sabia que eu incomodava tanto – resmungou ele com sua sensibilidade.

— Incomoda sim – respondi ríspido. — Mas não é o caso, você precisa me largar um pouco e pensar mais em ti. Eu posso ir sozinho e chegar na hora. – expliquei enquanto terminava de colocar o sapato e me levantava.

— Tá legal, Petit Claus – falou ele com uma voz frustrada e entrando em uma área menos barulhenta — Vou fazer coisas minhas e te deixar um pouco, mas não espere muito – avisou ele do outro lado.

— Eu ia sentir sua falta mesmo – respondi me dirigindo ao espelho.

Às vezes queria que Lourenço entendesse que nem sempre eu era grosseiro e frio com ele por puro egoísmo meu, eu só queria que ele tivesse idéia que um dia eu não estaria ali. E que eu não precisa ser tratado como criança, quando ele tem toda uma vida cheia de futuro e sucesso à sua espera. Então ele ficou um tempo sem falar.

— Sabe, ontem o Maurício me ligou... – cochichei enquanto deixava no viva-voz.

— Como ele conseguiu teu número? – questionou ele surpreso.

— Disse que a Paola passou meu contato, quando eu puder, tento falar com ela. – disse penteando meu cabelo molhado.

— Entendi. E o que ele queria? – questionou mais sério.

— Ah, ele tá bem persistente mesmo. Nunca foi assim comigo. – comentei reflexivo. — Queria um encontro. – disse enquanto tentava desviar dos meus próprios olhos no espelho.

— Encontro!? – expressou ele desacreditado.

— É, encontro. – reiterei cansado.

— E você? – indagou ele parecendo confuso.

— Aceitei. – respondi rápido, mas antes de ele falar algo — Mas do meu jeito. – expliquei.

— Como assim? – questionou ele interessado.

— Vai saber – disse enigmático.

— Espero – arfou ele. — Eu não sei não... Ele tá parecendo cada vez mais invasivo com você – comentou ele mais sério.

— Invasivo... – cochichei enquanto ajeitava meu uniforme. — Loureço, tenho que ir. – disse eu apressado olhando o relógio no smartphone.

— Claus... – postergava ele. — Toma cuidado com ele – dizia Lourenço suspeito com a voz séria. O que me deixou tenso.

— Eu sei me cuidar. – respondi grosseiramente. — Tchau! – me despedia.

— Espera, até... – dizia ele enquanto encerrava a ligação.

Antes fosse, eu não tinha planejado nada, era algo que pensaria quando tivesse mais tempo, mas aquela proposta e ele não saíam da minha cabeça. Corri apressado para clínica onde trabalhava.

===== Clínica de Psicologia 07h35min =====

Esforcei-me para chegar no horário, a cidade grande não é um lugar fácil, mesmo quase 5 anos morando em uma, não conseguia me acostumar. A recepcionista foi logo me entregando a lista de pacientes que viriam naquele dia e junto dos marcados durante a semana para eu me preparar e analisar para recebê-los, foi quando reparando nas datas daquela lista, deparei-me que até o dia 24, eu estava livre. Não me importava se era véspera de Natal, nunca comemorei esse feriado, nem em família quando criança, passavam como dias normais pra mim. Contudo, foi analisando o calendário, que tive a idéia e decidido a data de me encontrar com Maurício, e prontamente peguei meu smartphone desligado, liguei e fui para o banheiro da clínica, afim de marcar com ele antes de eu começar meu trabalho, sentei-me em um vaso sanitário que estava bem limpo por sinal, procurei seu número recente.

— Alô? Maurício? – cochichava eu cuidadoso com o aparelho.

— Oi, estou sim. – Dizia ele com sua reconhecível voz doce ao som de chiados.

— Ocupado? – questionei preventivo.

— Não. Só acabei de sair do banho – respondeu ele explicando.

— Ah... Isso me lembra coisas. – sussurrei nostálgico. — Mas vim te avisar do encontro. – disse mais firme voltando à realidade.

— Também me lembra – rebateu ele mais agradável. — Sim, pode dizer, achou tempo livre!? – questionou ele atencioso.

— Encontrei. Dia 23 entre às 19h e 20h, esse dia eu poderei, o que acha!? – indaguei apreensivo.

— Para sua sorte, eu posso sim – dizia ele com um tom de voz animado. — Mas espero que não vá dormir durante o encontro – comentou ele fazendo piadinha.

— Relaxa. Nesse dia posso ficar até tarde. – expirei e olhei para os lados.

— Então tá tudo certo – comentou ele concordando. — Vou escolher um bom restaurante que abra no dia – anunciou ele.

— Se eu quero um encontro, é pra ver e conversar com a pessoa, não pra comer – disse grosseiramente.

— Podemos fazer os três, Claus. – Rebateu ele rindo – Vai gostar – previa ele sem algum dom.

— Espera! – Exclamei. — Eu tô meio que entrando para o veganismo... – revelei a ele sem tanta confiança.

— Entendi. Pensava que ainda era só vegetariano. – Cochichou ele.

— Pode ser. Só tenha cautela ao cuidar o restaurante. – Avisei para evitar desgostos.

— Sei de alguns dos seus gostos. Vou me esforçar – disse ele carinhosamente.

— Tá. Tchau, tenho que ir – disse já encerrando a ligação e voltando para meu trabalho.

Os dias da semana foram passando rápido, o tempo é algo bem inerente ao ser humano, cria uma profunda sensação psicológica, quase que ilusão diferente em cada um, onde longos dias podem passar rápidos e horas duram muito mais que são, nossos sentidos, nem sempre são tão confiáveis. Lourenço pra minha supresa, distanciou-se um pouco, não ligava todo dia, não vinha me encontrar, conversávamos naturalmente quando ia ajudá-lo nos ensaios e apresentações do coral, era sempre o básico sobre nossos dias. Nem me perguntava sobre meu encontro ou Maurício, e não tinha coragem de perguntar nada sobre ele também. Sentia-me culpado por ter sido tão rígido com ele. Por outro lado, andava ansioso demais pelo encontro que eu acabara de marcar, compromissos muito importantes onde você está cheio de dúvidas e incertezas deixavam-me muito nervoso e apreensivo. Chegava momentos que quando pensava sobre, andava para um lado para o outro refletindo sobre. Até que não havia como evitar com o tempo, nem na minha mente.

https://youtu.be/1Aso0_gnMoA

===== 23 de Dezembro 19h34min =====

Lourenço sabia da data do meu encontro, tinha contado três dias antes, esperava mais dele, entretanto, ele se limitou a dizer: "Legal" e "Bom encontro", em quase 5 anos, eu não tinha estado tão distante dele como estava e não conseguia imaginar o que acontecia. Pensei em falar com ele antes de ir, mas achei melhor não incomodá-lo. Ele tinha ensaio do coral no dia, e uma apresentação na noite de véspera. Enquanto me concentrava no encontro, não sabia aonde iria, imaginei que pelo fato de Maurício ser afortunado, seria um lugar refinado e de classe, mas eu não tinha roupas para estas ocasiões, muito menos poderia pagar por algo tão refinado, ia com intuito de não comer nada.

Quase hora dele chegar, Maurício queria me buscar, porque o restaurante era um pouco longe, apesar do receio, a única opção era aceitar. Porém, só perto do encontro, comecei a me questionar de porquê eu realmente queria me encontrar com ele, eu sentia que faltava algo entre nós, não sabia o que era, isso era frustrante. Não gostava de tratá-lo na situação que eu estava o tratando, e de repente me lembrei do seu desenho... Ainda no fundo, eu poderia querer continuar o que nunca aconteceu. Foi quando ele chegou até minha casa com seu carro, que não sei a marca e o tipo, não entendo de marcas de carros, mas era um carro igualmente grande.

— Boa noite! – Disse ele saindo do carro vestido com uma calça jeans, uma camisa verde escura, um casaco, e de tênis branco, estava bastante despojado.

— Noite – respondi timidamente. — Pra onde vamos? – já perguntava receoso.

— Espera a gente chegar – dizia ele se movimentando para abrir a porta.

— Deixa que eu mesmo abro pra mim – disse rígido. — Só espero que não seja uma cilada, senão você tá ferrado. – ameacei.

— Calma aí, eu juro. – E ele entrou no carro.

Logo eu entrei, tentei não enxergá-lo. Nunca estive tão próximo dele, não daquele modo.

— Coloca o cinto – avisou ele prestativo.

— Eu sei – disse tentando achá-lo.

Tive dificuldades para achá-lo e outras muito maiores para conseguir encaixar certo em mim, me atrapalhei muito tempo com aquilo, sentia ele achando a situação engraçada, acho que depois começou a ficar impaciente comigo pela expressão de desaprovação, mas uma hora eu consegui.

— Consegui! – suspirei aliviado.

— Tem certeza? Podemos esperar mais... – dizia ele sarcástico.

— Vai! – disse eu dando um murro leve no seu ombro. Ele deu a partida em seguida.

Não falamos nada no caminho, ele sabia da minha cinetose, abrir a boca significaria um risco a correr. Eu não tava tão enjoado, não parecia ser uma viagem de horas, eu poderia aguentar. Mas ainda assim estava com o estômago embrulhado, como se tivesse um bicho ali dentro e com dor de cabeça. Eu estava com a janela do carro aberta, gostava de sentir o vento forte. Não era tão forte a sensação claustrofóbica dos carros assim, mas assim deu para me encantar e apreciar as luzes da cidade, ainda mais no natal, onde fica mais decorada. Luzes de noite de uma cidade grande eram maravilhosamente lindas e solitárias.

45 minutos de viagem, e eu enjoado, tínhamos chegados ao local. Ele anunciou: "chegamos", e eu só pude agradecer. Afobado para sair do carro. Ele disse para seguí-lo, e fui. Era um restaurante relativamente grande e charmoso, não conhecia, não era daqueles extremamente refinados cinco estrelas, mas ainda sofisticado. Não fiquei tão desadequado com minha camisa do Mickey sobre uma xadrez, calças jeans e um tênis preto. O bom era que o restaurante acompanhou o suposto nascimento de Jesus Cristo, e aninhou-se adequadamente à época com árvore muito bem organizada, guirlandas, luzes, presépio... Deixou com um ar íntimo e de casa. Ele se sentou numa mesa perto da janela, logo eu seguida acompanhando.

— Não é um restaurante vegano, mas eles também fazem pratos vegetarianos. Bem apropriável. – comentou ele ao sentar.

— Parece aceitável. – cochichei desanimado me sentando.

— Você não é irredutível assim. – comentou ele desaforado.

— Assim não, só quando me convém. – rebati mal humorado.

— Garoto abusado... – resmungou ele.

Parecia que não tínhamos começado bem, ele apenas se limitou a deixar passar depois de resmungar, eu também, ele estava aprendendo a lidar comigo. Logo o garçom chegou a nossa mesa com os cardápios, entregando-nos.

— Quero uma bisteca ao molho cítrico. – disse ele ao garçom.

Ao ponto que o garçom perguntou para beber, ele disse um vinho que não lembro, não entendo de vinhos também. Não consumo nenhum tipo de bebida alcoólica, para falar a verdade, odeio. Quem bebe vinho é de desconfiar.

— Você já escolheu? – perguntou ele me examinando.

— Acho que não quero nada. – sussurrei olhando o cardápio.

— Por que não? Tem pratos que você come aí. – indagou ele me pressionando.

Ainda que não seja um restaurante de alta classe, os preços dos pratos não eram pra mim. E como me sentia pressionado por ele já ter me levado até ali, mesmo indeciso, optei por escolher o mais barato que eu encontrara.

— Ah... – respirei fundo. — Talvez esse bolinho de inhame, arroz cateto e cebola recheada — disse pausadamente enquanto estava com a cabeça enfiada no cardápio.

— E para beber, senhor? – perguntou o garçom ao meu lado me assustando.

— Á-a-agua – balbuciava eu envergonhado. — De preferência. – escolhi eu, ao passo que o garçom e Maurício me entreolharam confusos.

Assim que o garçom foi, de certa forma fiquei mais envergonhado de estar ali, pelo jeito que eu estava agindo, ainda me escondia sob o cardápio.

— Isso chega até ser fofo – comentou ele quando eu olhava pra baixo.

No momento fiquei um pouco corado, mas não podia fraquejar diante dele. Eu não era aquele que ele conhecia anos antes, pelo menos era o que eu acreditava.

— Isso não é fofo. – resmunguei, coloquei o cardápio na mesma e o fitei desafiando-o a continuar.

O garçom chegou com nossos pratos, então posteriormente fiquei incomodado com aquele pedaço de carne de prato dele, o cheiro era horrível, o modo como ele a cortava, sentia-me num filme gore. Não fiquei muito nisso, o meu chegou também, tinha que examinar a comida.

— Está morando aqui? – perguntei enquanto tentava tomar a decisão de comer ou não comer!? Eis a questão.

— Não. Estou hospedado em um hotel – respondeu ele cortando o pedaço de carne. — Estou aqui temporariamente por causas de uns assuntos... – explicou me olhando.

— Profissionais? – Indaguei curioso.

— Também. – Rebateu ele comendo um pedaço, mastigando.

— Não imaginei te encontrar aqui. – cochichei olhando para janela.

— Moro numa cidade do interior desse estado. Haveria chances de eu vim para capital, não é? – indagou ele mexendo no prato.

— Pode ser. Mas não pense que por estar perto, vim pra cá pra te encontrar – esclareci meio nervoso. — Só tive a oportunidade e aproveitei... – arfei pensativo.

— Não penso. – riu ele.

— Essa cidade é grande demais para poder encontrar alguém assim... – comentei olhando para ele.

— Pois é... – arquejou ele. — Claus... – murmurou enquanto largava os talheres no prato.

https://youtu.be/HbQZrPwmYxI

Posicionei-me melhor naquela cadeira, sentia-me incomodado. Pus minha visão sobre ele, tinha um semblante de seriedade.

— Preciso realmente te contar tudo o que houve. – disse ele com uma voz impassível.

Repentinamente o clima ficou tenso, respirei fundo, fixei meu olhar, minhas mãos suavam. Era aquilo que eu tanto esperava?

— Bem... Antes de começar, só tenho que te falar uma coisa. – disse ele mais calmo.

— Éhhhh... – eu arfava. — Bom, talvez seja isso que eu esteja esperando o tempo todo e tenha me levado até aqui. – comentei enquanto fechava meus punhos na mesa. — Por favor, diga. – supliquei.

— Jorge está morto. – disse ele ríspido com um semblante sério e depois tomou sua taça de vinho.

Como assim? Fiquei atordoado com a notícia, a pessoa que tinha sido seu maior empecilho e talvez a mais importante da vida dele, morta? Onde ele queria chegar? O que eu tinha a ver? Comecei a criar hipóteses na minha cabeça, ao mesmo tempo que tentava raciocinar a notícia, estava desconfiado. Peguei-me em um transe insurgente.

— Claus? – clamava ele meu nome me despertando.

— Sim? – respondi instintivamente. — Desculpa, estou perdido com isso agora. – Expliquei tentando me recompor.

— Entendo... – arfava ele. — Mas tenho que te contar tudo que eu houve pra eu sumir da sua vida. – disse ele mais reflexivo.

— Certo. – respondi me ajeitando. — Só não acho que aqui seja o lugar adequado para conversar sobre isso – olhei para os lados. — Muita gente. – afirmei perto dele.

— Entendo. Mas você não vai comer? Não tocou em nada. – disse ele olhando para meu prato praticamente intacto.

Prontamente peguei minha taça com água, vai saber qual era sua procedência, peguei aquela taça, levantei pra cima, onde tomei um gole daquela água morna bruscamente.

— Pronto. Isso é o suficiente pra mim. – disse colocando a taça na mesa. — Vou perder a fome mesmo depois dessa conversa. – comentei.

— Como queira. – Rebateu ele aceitando.

Depois ele chamou o garçom para pagar a conta. Ele queria pagar por mim, mas fiz questão de pagar pelo o que consumi ou não consumi. Na porta do restaurante, eu tava curioso e apreensivo.

— Onde vamos conversar mais à vontade nessa cidade que é movimentada por todo lado? – questionei olhando para os lados.

Ele sorriu, abriu a porta, olhou pra mim. Como se esperasse eu entrar, coisa que eu faria quando eu quisesse.

— Quer ir para igreja comigo? – sugeriu ele da porta.

— Bom, é a proposta mais indecente que recebi até hoje. – disse eu sorrindo. — Vamos. – disse eu entrando.

Não ingeri praticamente nada além da água aquela noite, mesmo achando apetitoso o prato daquele restaurante. Não eram minha louça e talheres, eu poderia ainda botar tudo pra fora no carro de Maurício, meio idiota da minha parte também pagar pelo prato, gastar praticamente todo dinheiro que tinha e não consumir. Porém no fundo, estava incrivelmente intrigado com a morte de Jorge e o que poderia ter acontecido comigo e Maurício, algo que me marcara tanto.

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Comentários

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Mauricio ... não sei o que dizer sobre ele . Seu conto como sempre mt bom , e com aquele toque de misterio . Beijos de sangue e fogo de um targaryen .

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Eu preciso me situar: quem é Jorge? Que tensão esse final... ainda mais que eu colei o link em outra aba e fiquei escutando as músicas enquanto lia.

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Estarei acompanhando o conto, porém não irei ficar comentando... espero que entenda rsrs

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