Cap.23
- Mas... Ele é um homem ! - dizia eu, totalmente confuso com isso.
- Mesmo assim, vocês se gostam muito. Seja gentil com ele, ele já está sofrendo muito, tanto quanto nós com isso que aconteceu - disse a minha mãe, fazendo eu olhar para ele em busca de lembranças. Mas eu não me lembrava de absolutamente nada. Nada antes do momento em que eu acordei.
MINUTOS DEPOIS
- Quando você bateu a cabeça, atingiu a parte do cérebro que cuida da memória, causando assim esse trauma temporário.
- O Senhor tem certeza que e temporário doutor ? - perguntou o garoto.
- Absoluta Ghilherme. Em algum tempo a memória dele retornará. Pode ser que ajude você relembrar com ele momentos que passaram juntos, talvez ajude a memória a se ativar mais rápido. Mas por enquanto, ficamos a mercê do tempo para que tudo volte ao normal.
- Que pena doutor ! - falou ele, limpando os olhos - eu... Eu preciso ir... Descansar... Espairecer... Pensar um pouco em tudo isso o que Aconteceu ! - falou, começando a andar. Por algum motivo e quase que involuntariamente, eu segurei o seu braço.
- Não chore mais por minha causa, por favor...
NARRADO POR GHILHERME
Infelizmente eu não pude atender o pedido do Lucas. Assim que cheguei em casa, desabei em lágrimas. Havia fraquejado, pela primeira vez. Não pude ficar lá, e continuar dando apoio mesmo ele não lembrando de mim. Mas não era para menos. Imagine se você, de um dia para outro descobre que a pessoa que você ama pode ficar meses sem lembrar de você. Isso dói o coração de qualquer amante. Doía em mim saber que não poderia beija-lo, porquê possivelmente ele não iria querer. Doía em mim saber que eu teria que ficar um tempo sem estimativa longe dele. Coloquei o fone de ouvido e fiquei me torturando com músicas tristes no ouvido e as boas lembranças que tenho dele.
- Filho, você quer comer alguma coisa ? - meu pai perguntou, abrindo a porta.
- Não pai, obrigado por ter vindo perguntar - Achei que ele havia ido embora. Porém alguns segundos depois, sinto alguém puxar o meu pé. Quando me viro, era ele - o que faz aqui ? - um leve sorriso de canto de rosto se formou nele.
- Eu sei que você imagina que para mim, as relações são baseadas no dinheiro e posições que tem as pessoas. Em alguns casos isso e válido para mim, mas não no amor. Por muito tempo eu pressionei você para assumir algo com aquela garota rica e feia lá - ele me fez rir naquele momento - mas a verdade é que eu só queria que você tomasse coragem e falasse de vez que você não é igual aos outros garotos.
- O Que ? Sério ?
- Sim. Eu não te obrigaria a casar com ela, até porquê acho que nem obrigado você o faria - ele riu - porém o meu trabalho foi poupado, quando você teve a ideia de inventar um namorado falso e de certa forma assumir realmente o que você é, me deixando assim feliz.
- Espera ai, eu não inventei nenhum namorado falso.
- Não minta para mim, eu ouvi vocês conversando no corredor no dia em que a nossa família estava reunida aqui.
- Se soube então, porquê não falou nada ?
- Bem... Para Que ? Logo eu percebi que aquela relação falsa foi se tornando verdadeira e vocês formaram um casal de verdade. Ri muito, pois vocês realmente estavam sendo felizes juntos, e era isso que me importava naquele momento. Infelizmente isso aconteceu e... Ele esqueceu de você por algum tempo. Eu acho que você não devia fraquejar agora. Você devia dar uma prova de amor e manter-se perto dele. Tentar conquista-lo de novo, logo o sentimento que não se esvaiu de dentro dele vai surgir. Você deve estar lá, ao lado dele, defendendo ele das pessoas ruins que podem aproveitar-se dele enquanto estiver desmemoriado. E quando ele lembrar de tudo, vai lembrar também da atitude nobre que você teve quando mais precisava, provando assim honrar as calças que veste, sendo um homem de verdade.
- Você acha isso mesmo papai ?
- Acho. Descanse bastante, e amanhã faça aquilo que você faz de melhor. O encante de novo - falou, sorrindo.
- Pode deixar papai.!
E então ele se foi. Não nego, aquilo me animou incrivelmente. Mesmo ele não lembrando de mim, lembrar as nossas felicidades ao lado dele seria ótimo. Tenho certeza que posso encanta-lo de novo. E que mesmo desmemoriado, ainda serei feliz ao seu lado.
NO DIA SEGUINTE
Eram umas 8 horas quando acordei. Tomei um café, Comi algumas guloseimas e então sai. Peguei o carro e fui, ligeiramente mais animado que na noite anterior. Parei em frente a uma floricultura e comprei um buquê de rosas. É clichê ? É... Mas continua sendo lindo dar flores a alguém. Parei no estacionamento do hospital, e com uma cara um pouco mais alegre, adentrei aquele recinto que havia sido desesperador para mim no dia anterior. Caminhei um pouco mais, e então cheguei ao quarto. Vi que ele ainda dormia. Entrei sem fazer muito escândalo. Me sentei na cadeira ao lado da cama dele. Repousei o buquê sobre uma mesa e fiquei o observando. Como sempre destilava a linda beleza que carregava. Não importava os arranhões, ele ainda estava lindissimo. Ainda continuava sendo o meu Lucas.
- Chegou cedissimo hoje ein ? - falou, de olhos fechados.
- Está acordado ?
- Sim. Não consegui dormir direito hoje. Tive uns pesadelos estranhos. Sonhei com cobras, sangue, veneno, morte. Foi muito sombrio e me fez perder o sono.
- Deve ser algum trauma que ficou do acidente...
- Como foi esse acidente ?
- Bem... Você estava ajudando uma senhora a atravessar a rua na saída da festa de Bodas dos meus pais. Quando vinha retornando, uma pessoa te atropelou.
- Era uma mulher ?
- Não sei. Porquê ?
- Sonhei com pessoas de cabelos compridos. Curiosamente eu não conseguia ver os rostos.
- Que esquisito - olhava o Sol, e a quantidade de raios que ele enviava para dentro do quarto, o deixando todo iluminado - Olha, trouxe para você - falei, entregando a ele o buquê.
- São lindas as flores.
- Não é ? Você sempre gostou muito quando eu lhe presenteava com flores.
- Sério ? - ele riu - é tão estranho. Namoro alguém e lembro tão pouco da pessoa.
- Já eu lembro tanto de você...
- A quanto tempo namoramos ?
- A alguns meses...
- E a gente se gosta ?
- Bem... Eu gosto muito de você. Creio que você também...
- A gente já...
- Já o Que ?
- Você sabe... Já... - então entendi.
- Naaaooo - ri - nosso namoro é meio que assexuado.
- Mas você acha ruim ?
- Não... Eu não namoro com você buscando sexo. Eu gosto de sentimento, gosto de carícias. Gosto de como namoramos...
- Mas me conta... Como isso começou ?
- Ah... - ri - a história é longa e cômica.
- Ah, então espera, deixa eu ir ao banheiro.
- Quer ajuda ?
- Ficaria agradecido - tirei o soro do suporte e fui o ajudando a chegar ao banheiro.
- Ainda está muito dolorido ?
- Bem pouco. Acho que o remédio adormeceu as dores.
- Que ótimo.
- Já volto - ele fechou a porta. Sorri. Todo aquele sentimento bom que tomava conta de mim quando namoravamos regressou. Realmente, apenas estar perto dele era o suficiente para me deixar feliz.
TEMPO DEPOIS
Logo ele saiu do banheiro, molhado. Não precisou muito da minha ajuda...
- Acho que você ainda não comeu. Não é ?
- Não...
- Ah... então vou atrás da enfermeira para você.
- Não precisa, ela vem aqui depois.
- Mas você já deve estar com fome. Não quero que espere. Já volto.
NARRADO POR LUCAS
Apesar de não lembrar nada dele, algo me dizia que Ghilherme era a pessoa que eu mais amava naquele momento, e eu devia ser extremamente gentil com ele. Algo me dizia que ele não merecia hostilidade, que ele realmente não mentia. Liguei a TV buscando assistir algo interessante naquela manhã, quando escuto a porta abrir.
- Ué... - mas não foi pelo retorno dele. E sim uma garota que entrou - quem é você ?
- Você perdeu mesmo a memória ein... Me chamo Natália !
Continua
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