Gabriel narrando.
Eu tinha passado a segunda e a terça feira implorando para o meu pai me tirar daquela aula, mas ele era teimoso como uma mula. Chegou a quarta e eu tive que ir, infelizmente. Entrei na sala, de cabeça baixa, lógico que todos iriam olhar pra mim, coisa que eu detestava. Subi um pouco a cabeça e o vi. Nossa, se ele estava lindo na minha casa, ali ele estava a personificação da testosterona. Ele tinha os cabelos presos em um coque, presumo eu que para não atrapalhar no treino. Seus olhos brilhavam como águas cristalinas e aquele kimono o deixava muito sexy. Deu até água na boca. Não, não Gabriel, tira isso da tua cabeça. Você não pode pensar isso sobre ele, você não pode ter esses pensamentos pecaminosos. Além do mais, ele só podia estar me olhando e pensando uma coisa: O que um garoto como eu estava fazendo ali? Fui cortado de meus pensamentos.
- Pessoal esse daqui é o Gabriel e ele vai começar a treinar com a gente a partir de hoje.- Falou o cara que devia ser o mestre.- Muito prazer, eu sou o Matheus e esse são o Ricardo e o Jorge, que me auxiliam nas aulas, falou apontando para o Ric e para um outro cara. Esse outro cara era loiro mas tinha os cabelos bem curtos. Ele era muito forte. parecia uma parede.- Seja bem vindo, o Jorge vai treinar com você hoje.- Droga, bem que poderia ser o Ricardo, pelo menos ele eu ja conhecia. O Jorge se aproximou de mim.
- E ai cara, beleza?- Sua voz era grossa. Só acenei afirmativamente com a cabeça. O mestre Matheus pediu para que executássemos alguns golpes. Eu não entendi o porque de me colocar com o jorge, ja que ele era tão grande e eu não conseguiria fazer nada contra ele nem com toda a minha força.
- Vamos moleque, coloca força. Aqui não é pra quem ta com frescura não.- Logo percebi onde fui me meter. Lá deviam ser todos assim, machistas e arrogantes. Esses caras que lutam parece que têm o rei na barriga. Acham que todos são inferiores.
- Calma, eu não tenho tanta força assim, você ja viu seu tamanho comparado ao meu?- Tentei me defender.
- Não interessa, tem gente aqui da sua idade que consegue.- Ele ja parecia meio irritado.
- Mas nenhum deles começou hoje.- Também não fiquei por baixo.
- Garoto você deve ser daqueles filhinhos de papai né? Mimadinho que sempre foi protegido por todos. Mas aqui vai ser diferente, aqui você vai aprender a virar homem.- Eu estava começando a ficar com medo dele. Aquele cara gigante me ameaçando.
- Ei o que foi que eu te fiz pra você me tratar assim?
- Ei o que foi que eu te fiz pra você me tratar assim?- Imitou minha voz com desdém.- Fala como homem, moleque.- Eu olhei desesperado pro Ricardo que estava do outro lado da sala com um outro aluno. Ele me olhou e eu quase supliquei com os olhos para ele me salvar. Ele entendeu e veio ao nosso encontro.
- Ta tudo bem aqui?- Ele perguntou sério e encarando o Jorge.
- Tudo sim Ric, tranquilo.- Ele me olhou e constatou o pavor em meus olhos.
- Jorge é melhor nós trocarmos de aluno. Eu ja conheço o Gabriel e acho que ele vai conseguir se soltar mais comigo. Fica la com o Isac.
- Mas o mestre falou que...
- Não importa, deixa que com ele depois eu me entendo. Agora vai lá.- Fiquei impressionado com a autoridade que o Ricardo exercia sobre ele. Ele foi para o outro aluno, que me olhou com uma cara muito estranha. parecia... raiva?
- Ta tudo bem Gabriel?
- T-tá sim. Obrigado.- Respirei fundo.
- O que ele tava falando pra você?- Ele continuava bem sério.
- Ele tava me chamando de mimado, e que era pra eu falar que nem homem, que eu não tinha força, que aqui não era lugar pra frescura...
- Cara eu não acredito que você me fez vir aqui só pra isso. Que besteira ficar com medo disso... isso só prova o quanto você é fresco mesmo.- Eu que não acreditei ter ouvido aquilo.
- É talvez eu seja um fresco mesmo, eu não sei nem o que eu tô fazendo aqui, eu vou embora.- Ia saindo mas ele segurou meu braço.
- Não, não, foi mal. Olha, Desculpa. Por um segundo eu esqueci as coisas que você passou. Ele pareceu arrependido.
- Que coisas que eu passei? Você nem me conhece cara e fica me julgando. Você mal sabe o meu nome e quer falar sobre algo que eu passei.
- O Gustavo me contou o que fizeram com você na porta da escola.- Ah que ótimo, porque ja não bastava a humilhação da minha família saber disso, agora o Gus ainda me faz o favor de contar pro amigo dele.
- E vocês provavelmente ficaram rindo juntos da minha cara né? O fracote que chegou em casa com a cara quebrada e fedendo a mijo. Vocês são todos iguais. Pensam que por eu ser mais na minha, podem me tratar como alguém inferior.- Aquele primeiro dia de aula estava uma merda. Ele ficou bem sério mesmo.
- Ei quem disse que eu sou desse jeito? Assim como você diz que eu não posso te julgar de fresco, você também não pode me julgar como alguém desumano dessa forma. Não é porque eu sou amigo do seu irmão, que o meu cáter é igual ao dele, e ele mudou completamente em relação ao modo de te tratar. Garoto você também não me conhece. Você acha que se eu fosse assim, eu tinha te ajudado la tua casa quando o teu irmão te bateu?- Fiquei calado. Ele estava certo.- Você não pode achar que todos ao seu redor querem te atacar. Você entrou nessa aula e eu vou te ajudar a passar por todo esse treinamento, Beleza.- Falou estendendo a mão.
- Tudo bem.- Dei a mão pra ele.
Continuamos com a aula e finalmente acabou. Todos foram para o vestiário.
- Você não vai trocar de roupa não?- O Ricardo me perguntou.
- Não, O Gustavo ja ta vindo me buscar.
- E você vai entrar no carro todo suado desse jeito? Ele não vai gostar... Vem logo, anda.- Ele começou a me arrastar.
- Não, não, não por favor...- Ele parou.
- O que foi?- Eu abaixei a cabeça.
- É que eu t-tenho vergonha...- Ele abriu um sorriso lindo, pegou no meu queixo e levantou minha cabeça.
- Olha você não precisa ficar tão retraído. Parece que você está sempre se defendendo de tudo e de todos. As vezes você me passa a impressão de um filhotinho de gato arisco que está desprotegido da sua mãe e não deixa ninguem chegar perto, ninguem se aproximar e qualquer um que tente, você ataca... Você devia relaxar mais. Se você quiser eu posso esperar aqui com você até que todos saiam para você se trocar.- Concordei com a cabeça. Como ele fazia para me conhecer tão facilmente? Eu me sentia exatamente daquela forma.
Continuamos conversando. Ele me falou um pouco da sua vida. Ele tinha 19 anos, lutava desde criança e morava apenas com sua mãe. Seu pai ja tinha morrido e ele não tinha irmãos. Ele também gostava de jogar video games assim como eu.
- As vezes é muito solitário não ter com quem conversar, falar sobre a sua vida sabe? Eu tenho a minha mãe mas não é a mesma coisa.- Ele me parecia meio triste por isso.
- O pior é que eu entendo. Meus irmãos nunca foram meus companheiros, você sabe...
- Ta aí algo que temos em comum, nós dois somos meio solitários né?- Ele deu um sorrisinho amarelo, pegou no meu joelho e o apertou.- Vamos? Acho que todos ja saíram.
- Eu acho que não precisa, de verdade. O Gus ja ta chegando...
- Você ja está no meio do caminho, pra que isso tudo?- Acabei cedendo e entramos no vestiário vazio.
Ele sem cerimônia alguma tirou seu kimono na minha frente. Algo que para ele devia ser normal, pra mim foi muito constrangedor. Eu só era acostumado a ficar pelado na frente dos meus irmãos, e também só via eles pelados. Isso não acontecia com desconhecidos. Aquela foi a primeira vez que o vi pelado e a unica palavra que poderia descrever aquela visão era: Waaaw. Se ele ja era bonito vestido, pelado ele era um deus grego. É como se cada parte do seu corpo fosse escupída perfeitamente. Eu fiquei morrendo de medo de ele perceber que eu estava o olhando, então comecei a me trocar de costas pra ele. Quando terminei de vestir minha bermuda, virei de uma vez e o peguei me olhando, ainda pelado. Só que agora notei algo diferente, seu pau estava meio bomba. Cara que vergonha, que constrangedor... Ele começou a se vestir na velocidade da luz, mas antes de terminar, eu ja tinha terminado.
- B-bom, acho que ja vou, vou esperar o meu irmão lá fora. Até amanhã.- Não esperei por respostas e saí de la o mais rápido possível. Fiquei na porta da academia e não demorou muito para que o Gustavo aparecesse. Meu pai achou melhor devolver as chaves do carro para ele, ja que ele não teria tempo de nos levar para escola.
- Você sabia que o seu amigo Ricardo dava aula aqui?
- Não, não sabia. Eu sabia que ele lutava e dava aula mas não que era nessa academia.
- Pois é, ele é meu professor...
- Que ótimo, assim eu posso te supervisionar hehe, não quero saber de você fazendo corpo mole em moleque.- Ele bagunçou me cabelo com uma mão enquanto segurava o volante com a outra.
- Ei agora mudando de assunto, que história foi essa de você contar pro Ricardo tudo o que aconteceu comigo? Ficou maluco de me expor dessa forma?- Falei chateado.
- Mano, desculpa. É que eu precisava muito desabafar com alguém sobre tudo o que estava acontecendo e o Ricardo é um dos meus melhores amigos...
- Tudo bem, a merda ja está feita mesmo... Mas você não falou isso pra mais alguém não né? Gustavo eu juro que se você tiver falado isso pra mais alguém...
- Não se preoculpe, eu só falei pra ele e sei que ele não vai contar... Mas por que essa neura toda?
- Por que? Você nunca vai saber qual a sensação de humilhação que eu senti naquele dia. Pra você ter uma noção, o que o papai fez com você, não foi nada comparado ao que fizeram comigo. Foi horrivel, eu não gosto nem de lembrar. Por favor, vê se fica de bico calado!
- Ta, ta bom então. Me desculpe.
Chegamos em casa e fui direto pro banho, pois na academia só troquei de roupa. Acabei lembrando do Ric na academia. Eu nunca tinha visto um daquele tamanho... que coisa enorme, e olha que nem estava dura... Me enxuguei e vesti minha cueca. Saí do banheiro com a tolha no ombro. Quando entrei no quarto senti duas mãos enlaçando minha cintura e me jogando na cama. Era o Max que também se jogou na minha cama.
- E aí como foi a aula?- Ele estava curioso.
- Um tédio. Pior dinheiro que meu pai ja gastou comigo.- Falei se animação.
- Vai valer a pena. Escuta o que eu to te falando.
- Teve um cara la, um tal de Jorge. Ele é professor... começou a falar coisas horríveis pra mim, que eu era fresco, mimadinho e outras coisas sendo que nem me conhece... eu não quero mais voltar lá.- Ele me puxou para um abraço e me deitou em seu peito. O Max depois que mudou comigo, me mima muito mesmo... eu fico todo dengoso quando estou com ele. É tão bom ter alguém que te trate assim.
- Mano não liga pra esse idiota. Você não deve satisfação nenhuma pra ele do que você é ou deixa de ser. Deixa ele pra la... Mas você não conseguiu gostar de nada mesmo?
- Bom, o Ricardo, amigo do gus, é meu professor... pelo menos algo de bom.- Falei com um sorrisinho bobo. Ele me olhou com uma cara estranha e levantou meu rosto do seu peito.
- Que história é essa de pelo menos algo bom? E que sorrisinho é esse, posso saber?- Ele ficou muito sério derrepente. Droga, será que ele estava desconfiando de algo? Eu não posso dar muita bandeira.
- Ué, n-nada demais... é só que eu ja conhecia ele, então ficou menos pior.. só isso.- Fiquei sem graça.
- Olha eu não fui muito com a cara desse Ricardo. Acho bom você ficar longe dele.- Ele continuava sério.
- Mas ele é muito legal. Você nem o conhece, passei um bom tempo conversando com ele. Ele é muito gente boa e tem cara de ser um ótimo amigo e alem do mais...
- Eu não quero saber.- Ele me interrompeu.- Se você vai continuar falando desse cara eu vou la pra baixo.- Ele continuou falando sério.
- Max, qual o seu problema? Eu não to falando nada demais, só que é sempre bom ter um amigo novo. Você sabe como pra mim é difícil me aproximar de alguém...- A essa altura eu ja estava bem sério também.
- Mas você ja tem a mim e ao Gustavo. Pra que você precisa de mais?- Que loucura era essa do Max?
- Maxwell uma coisa não tem nada a ver com a outra. Família é uma coisa, amigos são outra. E alem do mais, você não manda em mim e muito menos em quem eu ando ou deixo de andar. Você não é meu pai.
- Mas sou seu irmão mais velho, portanto você tem que respeitar o que eu falo também.- Ele parecia estar com raiva.- Você sabe que eu não gosto de dividir nada com ninguém. Você é MEU irmão entendeu? MEU.- Nessa hora ele deu um soco no colchão que me assustou.- Você não tem nada que ficar de conversinha com esse babaca. Se eu souber que você continua com essa "amizade"- fez aspas com os dedos.- De vocês, eu paro de falar com você, e eu não estou brincando.