-- Gebersooon, cadê. Você viu o Marcelo por aí? – Disse ele com deboche.
Passei direto, mas infelizmente o morro estava em uma inclinação difícil de subir pedalando, tive que descer da bicicleta. Lucas também fez o mesmo depois de fazer uma curva, ele largou a bicicleta na estrada e correu em minha direção.
-- Escuta, eu não contei para ninguém sobre você e o Marcelo...
-- É mesmo? Saí daqui. Me deixa em paz! Eu não quero nunca mais falar ou ver você na minha frente.
-- Cala sua boca veado. Os caras estavam rindo, mas eles não sabiam... – eu parei e olhei para ele nos olhos – eu não estou mentindo, estava apenas rindo de você, mas não sobre aquilo.
-- Você me chamou de... aquilo lá quando passei por vocês.
-- Boqueteiro? – Ele riu – e qual o problema? Eles não sabem porque eu o chamei.
-- E se você estiver dizendo a verdade, por que veio atrás de mim?
-- Eu não vim atrás de você, aqui é o melhor lugar para usar isso. Olha!
Ele colocou as mãos dele no bolso e tirou de lá uma trouxinha enrolada em um plástico com um pequeno nó encima. O plástico cobria uma substância verde escura, tinha pouco mais de cinco centímetros, do tamanho aproximado de um bombom.
-- O que é isso? – Perguntei curioso.
-- Isso? Isso é erva – ele colocou a mão dele no meu nariz – sente o cheiro.
-- Hum... isso é bom! É de fazer chá? – Lucas soltou uma gargalhada – O que foi?
-- Você não sabe mesmo o que é isso...? – Olhei para suas mãos, depois olhei em seus olhos outra vez, seu sorriso nervoso e desconfiado, e veio-me a resposta como em um flash.
-- Maconha!? – Respondi.
-- Claro animal!
-- Sua mãe sabe disso Lucas? A onde você comprou essa maconha?!
-- Não sei se ela sabe, mas desconfia. Por isso venho aqui, é afastado e sei que ninguém me pega, ah. Vou contar para você, mas se você contar para alguém eu juro que lhe mato. Sabe o Katatal, ele também é veado que nem você, ele me deu esse “big-big” se eu mostrasse meu pau para ele...
-- Eu não sou veado!
-- É não... – Falou sorrindo
-- Vá tomar no cú! Eu sou bissexual... – cheguei no topo do morro e subi na bicicleta.
-- É a mesma coisa... escuta, não vai não. Fica aqui, a gente volta juntos.
Amigo leitor, sei que você deve estar imaginando que eu poderia me aproveitar da situação, e se pensas assim é porque no meu lugar você faria isso? Mas que safado! Eu não sou idiota, eu sei muito bem que o Lucas queria, não é à toa que ele já tinha uma fama de comer alguns gays na cidade que ele morava, e o que era pior porque ele tirava troça no colégio com alguns homossexuais, ele era um hipócrita aproveitador dos mais fracos, mas mesmo assim me olhava com o seu olhar persuasivo de criança, compreenda que ele parecia um menino normal me pedindo para pegar algo que caiu no chão, parecia que eu cometeria um erro hediondo se não concordasse com ele, e o resultado não foi outro...
-- Para onde você vai?
-- É logo ali, atravessa o cercado perto daquela árvore solitária e bem perto tem uma pedra que a gente pode sentar lá.
-- Oquei, eu vou. Mas. Eu quero pedir com isso um favor.
-- Peça ué.
-- Não fala para ninguém o que você me viu fazer no Marcelo.
-- Olha o jeito!
-- É sério cara, não estou brincando, se essa conversa chegar nos ouvidos da minha mãe eu não sei o que eu faço contigo.
-- Demorou.
Partimos então para o lugar que o Lucas dissera, ao chegarmos na árvore solitária, deixamos as “bikes” descansadas atrás do tronco da árvore e subimos o cercado. Lucas me levou por uma vereda delgada, e que se não fosse pela luz do luar nascendo ao leste, estaríamos batendo em arbustos as cegas. A vereda nos levou para um antigo açude seco, que próximo dele há uma pedra de granito alta. Nos tempos em que o açude estava cheio, a meninada usava a pedra para saltar na água. Mas naquela noite era nosso assento, que infelizmente não estava muito confortável, contudo é muito bonito para ver as estrelas além de ser bem silencioso, a frente o árido açude.
Mal chegamos e o Lucas montou o bagulho dele com folha de caderno que ele trouxera no bolso do calção. Estava curioso, desaprovando completamente a atitude dele; porém curioso para saber como ele iria usar aqui. Ele enrolou a folha depois que colocou a maconha na superfície do papel, passou a língua para segurar o cigarro, deixou na pedra.
-- Não vai fumar? – Perguntei.
-- Não, inda não está pronto. Precisa secar primeiro.
Depois de um tempinho sem dizer nada, ele ascendeu o cigarro com um isqueiro desgastado tirado do mesmo bolso das folhas de caderno – sorte a dele não está ventando. Ah, leitor. Como ele fica fofo se deitando na pedra, fitando as estrelas sem nenhuma pretensão em sua feição, apenas relaxando com seu “bagulhinho” e, quem sabe, pensando no próximo “crime” que irá cometer... até que ele esticou o braço mostrando o cigarro de maconha. Disse:
-- Ei boqueteiro, que experimentar? – Esqueça a história de fofo ele é mesmo um filho da puta!
-- Quando você vai parar de me chamar assim?! E afasta essa porcaria daqui.
-- Ah, desculpa madre superiora. Não sabia que você tinha preconceito.
-- Não é isso... é que você pode ficar viciado e.... – Antes de concluir minha frase ele riu alto.
-- Viciado? – Indagou – Mano isso é papo de careta, maconha não vicia ninguém, apenas relaxa o cara, olha fuma um pouco.
-- Não, para! Eu não quero. Olha está ficando tarde e acho melhor eu ir para casa.
-- Espera. Não vá agora. Eu quero dizer algo a você primeiro.
-- Então diga!
-- Espera. Eu esqueci o que era mesmo...
-- Então pronto, eu vou indo.
-- Não mano! Espera. Fica aqui comigo, você não tem medo de voltar sozinho para casa? Espera, eu vou me lembrar o que quero lhe contar.
-- Para falar a verdade eu sinto um pouco sim, já está de noite. Mas não posso demorar, meu pai vai ficar preocupado.
-- Relaxa, já vamos sair, espera só a “onda” passar. – Disse jogando o toco do cigarro fora.
-- E demora muito essa “onda” passar?
-- Passa logo... aí, me lembrei...
-- Então me diz. – Falei.
-- O Marcelo é veado? Ele deixou você chupar ele, então ele é veado e está enganando a Carol?
-- Olha, seu irmão é tão filha da puta quanto você, mas não acho que ele seja gay. Acho que ele só estava seco, e por isso me usou..., mas para falar a verdade, eu meio que me ofereci também. – Merda de consciência.
Demorou alguns segundos e ele perguntou:
-- Você também não gosta de mim, não é?
-- Olha... não.
-- Então por que veio comigo?
-- ...Eu não sei. Acho que por curiosidade. – Ele estava um pouco mais lento. Suspeitei que fosse a tal “onda”.
-- Curiosidade. Curiosidade de que? – Ele perguntou.
-- Olha, eu não sei explicar. Eu estou aqui, e pronto.
-- Incrível como ninguém gosta de mim, ninguém.
-- Também Lucas, você só faz palhaçada, como alguém pode gostar de você desse jeito?
Eu estava para ir embora, porém ele me deixou mudo quando abriu a boca outra vez. Até aquele momento eu achava que ele iria dar encima de mim ou fazer algo parecido, então ele me contou sua história (que irei me aprofundar em um próximo conto), e quando ele me disse aquilo tudo mudou sobre minha visão. Era claro que aquela coisinha só podia ser assim por algum motivo, mas como alguém poderia suspeitar disso? Ele terminou dizendo:Então por isso eu comecei a gostar de meninos, mas não conte para ninguém... o que foi? Vai ficar me olhando com pena agora, é?
-- O que você me contou foi muito forte...
-- É. Deve ser, mas eu não ligo. Posso lhe pedir um favor?
-- Sim. Peça.
-- Ah, eu tenho vergonha.
-- Pode pedir – Ah, ah leitor. Sabe quando a pessoa olha para seu pinto e depois olha para sua boca e mostra a língua. Não dá para aguentar não dá... – Eu acho que já sei o que você quer. Mas não é bom demorarmos muito.
Me levantei, andei até ele por detrás, me sentei pondo as pernas bem abertas para que ele coubesse entre elas, ele colocou as pernas sobre as minhas e esticou a cabeça para trás batendo de leve no meu queiro, abracei ele com muito carinho. Amigo leitor, embora até algumas horas atrás eu odiasse ele, naquele momento parecia que na realidade eu amava-o perdidamente a anos, senti o cheiro do cabelo dele: cheiro de suor de pré-adolescente. Ele ficou mais erguido e olhou para mim sorrindo. Fulgurante sorriso de dentes brancos e todos bem certinhos. Me beijou no rosto. Eu senti uma energia tomar conta de todo o meu corpo, aquele beijo... eu fui cortado por um raio, porque nada explicava a reação que tive ao receber aquele beijo. Apertei ele ainda mais nos meus braços, senti os músculos do abdome dele com as mãos, estava quente. Ficamos ali, por muito tempo. Beijei a nuca dele e mordi as orelhinhas macias e levemente salgadas, e foi apenas isso que aconteceu. Você sabe sobre nossa proposta. Nada de mentiras. Então vou contar só o que aconteceu de verdade. Não me atrevi a pegar no pinto dele e nem ele fez nada de desrespeitoso. Éramos dois jovens que estávamos famintos por carinho, e ali, na pedra as sete da noite, tínhamos o carinho um do outro e mais nada.
-- Sabe Geberson. Eu confio em você.
-- É, e por quê?
-- Porque quando o Marcelo saiu do seu quarto ontem eu vi você chorando, e seus olhos... eles são parecidos com os meus. desculpa ter rido de você. Eu estava com ciúmes do Marcelo, eu acho. Eu queria que você tivesse feito aquilo em mim e não nele. Mas não sabia como dizer isso a você.
-- E você quis me maltratar para se sentir melhor?
-- Oque ?
-- Nada... -- ficamos calados por alguns segundos -- Você me ama?
-- Não sei. – Ele disse isso olhando para mim e deitando a cabeça sobre meu peito pondo os braços enrolados na minha cintura. – E você?
-- Eu quero você moleque, eu quero você.