Ver minha mãe, ali em casa, depois de tanto tempo foi como um baque para mim. Durante muito tempo eu imaginava onde ela estava, o que ela estava fazendo, com quem ela estava...
É claro, eu nunca obtive respostas para essas perguntas. Exceto por uma vez que eu encontrara ela na rua, nunca mais a havia visto.
Mas, depois do nosso último encontro, eu nem quis mais ver ela. É claro que eu sentia saudade. Mas sentia saudade dela antes de se tornar a mulher preconceituosa e fria que ela se tornara para mim.
Mas não adianta chorar pelo antes, o problema é que ela estava ali, na minha frente, naquele momento, na minha casa...
- Mãe? O que você ta fazendo aqui? – Ela sorriu para mim.
- Oi, filho – Ela falou.
- Filho? Pelo que eu me lembre, da ultima vez que você me viu falou que não tinha filho gay – Ela sorriu amarelo e não respondeu.
- Desembucha mulher! O que você veio fazer aqui? – Ela me encarou.
- Eu estava passando pela cidade e resolvi ver se você tinha tomado rumo na vida – Ela falou. Tentei manter a calma. Tava complicado fazer isso...
- E por tomar rumo você diz começar a namorar mulheres? – Falei num tom provocativo – Por que se for, pode ir embora. Eu ainda namoro rapazes. Quer dizer, eu namoro um rapaz. Eu namoro O rapaz. E ele é o amor da minha vida. Aceite isso.
- As vezes eu só fico pensando onde foi que eu errei – Minha mãe falou em tom de desprezo – Eu fiz de tudo para parecer calmo e tranquilo, mas na verdade eu estava me segurando para não voar no pescoço daquela mulher.
- Sabe mãe, na verdade você não errou. Você acertou em cheio. Olhe para mim. Estou muito bem de vida. A herança que papai me deixou hoje é quase o dobro. Fiz uns investimentos, soube ampliar a renda e controlar o que eu gasto. Tenho um estágio numa empresa boa. Estudo engenharia e sou um dos melhores alunos. Se o fato de eu gostar de homens é um erro para você, sugiro que revise seus conceitos.
- De que adianta? Você nunca vai ter uma família!
- Adianta que eu estou feliz e isso basta! Agora, se quer ficar na sua arrogância, vá embora! – Ela me olhou e saiu. Fiz questão de bater o portão nas costas dela. Assim que fechei o portão, sentei chorando.
Théo sentou do meu lado me abraçando.
- Calma meu bem. Tudo vai ficar bem. Calma. Não chore por ela – Eu não conseguia organizar uma linha de raciocínio para falar, de tão baqueado.
- Só... me... promete... que... não... vai... me... abandonar... nunca... – Eu falava entre soluços.
- Eu prometo meu amor, eu prometo – Théo falava.
Não preciso nem dizer que isso acabou comigo né. Durante uma semana quase eu me senti mal por conta desse rola com minha mãe. Durante essa semana, Théo dormiu comigo todos os dias.
Mas as surpresas da minha vida estavam apenas começando.
A primeira delas foi uma ligação inesperada da Nat. Lembram dela? Minha melhor amiga em Itajubá...
Conversamos muito mesmo. Um bom tempo. Eu estava na faculdade quando ela me ligou. Em dado momento a conversa convergiu para o Nick. Não preciso nem dizer que Théo ficou uma abelha quando ele me escutou dizendo:
- Fico feliz que Nick esteja bem! Estou com saudade de vocês. Eu vou ver se dar para eu ir... Um beijo! – Assim que eu desliguei, Théo já falou bravo:
- Saudade do Nick? – Ele ficava fofo quando ficava com ciúmes.
- Calma amor. Era a Nat me ligando para ir numa festa lá. Vamos? – Ele fechou a cara.
- Para você ver o Nick?
- Théo, é sério? A Nat me liga e você fica com esse ciuminho bobo. Quantas vezes eu já te falei que te amo? Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu nunca vou te abandonar? Um milhão é suficiente? Posso começar agora – Théo cedeu, mas ficou emburrado o resto da noite.
Nesse dia Théo não foi para minha casa.
No outro dia acordei cedo e fui correr. Cheguei em casa, tomei um banho, fui para o trabalho. Olha que coincidência, assim que eu cheguei no serviço, meu chefe me falou que eu deveria ir até a UNIFEI, falar com um professor que era parceiro da empresa. Como eu já havia estudado lá, conhecia o professor, eu fui o escolhido...
Na hora eu liguei para o Théo.
- Amor, você não vai gostar da notícia mas... EU vou ter que ir para Itajubá amanhã. Coisas de trabalho...
- O que? Itajubá? Fazer o que lá? – Ele perguntou. Expliquei toda a delicada situação. Ele ficou quieto. Ele não havia gostado nem um pouco disso... Mas fazer o que? Era meu emprego.
- Théo, fica calmo cara. Eu te amo. É coisa de trabalho que eu to indo!
- Pode ir. Faça boa viagem – E desligou o telefone. Avisei meu chefe que eu estava saindo. Como eu fui pego de surpresa, haviam algumas coisas que eu deveria arrumar para a “viagem”. Ele concordou.
Fui correndo para o serviço do Théo. Na hora que ele me viu, levou um susto.
- O que você ta fazendo aqui? Não deveria estar trabalhando? – Ele perguntou.
- Deveria. Mas estou aqui.
- E por que?
- Para eu falar que eu te amo cara. Não é uma viagem de trabalho que vai fazer eu te largar! Eu te amo muito. Se me mandassem para a China, eu ainda sim te amaria. É só um dia. No máximo dois. Não fique bravo comigo, por favor – Uma amiga do Théo que estava perto e eescutando falou:
- Théo, se esse bofe saiu do trabalho pra vir aqui falar isso, não fique bravo, pois ele realmente te ama – Eu ri.
- Viu! Até ela concorda comigo!
- Tudo bem amor... É que eu tenho medo... – Ele falou, sem graça...
- Medo do que cara? – Eu perguntei.
- Medo de que você lembre de como sua vida era legal lá e não queira mais voltar... – Ele falou tímido.
- Minha vida lá não era 1% o que é hoje. Sabe por que? Por que lá não tem você para me alegrar e me dar motivo de viver todos os dias. Lá não tem a peça fundamental da minha vida. Lá não tem o motivo de eu acordar todos os dias... – Théo sorriu.
- Como não te amar? – Ele riu e me abraçou.
- Théo, agora eu vou deixar você trabalhar, mas eu passo aqui para almoçarmos. Pode ser? – Ele assentiu e eu saí.
Aproveitei e passei na facul para avisar das minhas faltas nos próximos dias. O que foi bem tranquilo, já que eu era um aluno queridinho dos professores.
No almoço, levei Théo no melhor restaurante da cidade. Era simples, mas servia um contra-filé divino que Théo adorava. Depois tomamos sorvete. Deixei ele no serviço e voltei para o meu.
No trabalho arrumei minhas coisas para a viagem. Nesse dia eu não fui na aula. Nem Théo. Fomos para minha casa e ficamos lá, e vocês sabem muito bem o que ficamos fazendo.
No outro dia cedo, deixei o Théo no trabalho, peguei minhas coisas na empresa e fui para Itajubá. Cheguei lá e logo fui para a Unifei resolver o que tinha que resolver. Me deu muita saudade estar ali...
Cheguei na sala do professor, adivinha quem estava lá, perto da sala do professor?