Opa, galera. Tudo bem? Espero que sim. Olha gente, não vou poder responder vocês hoje pelo o mesmo motivo que estou demorando a postar: Falta de tempo. Mas li todos, um a um, e quero agradecer a todos vocês pelo carinho. Queria mandar um grande abraço também para os que somente leem os contos na surdina. Se eu pudesse daria um abraço em cada um de vocês, seus lindos.
VAMOS AO QUE REALMENTE IMPORTA.
2012, ano do fim. Previam os Maias que o mundo acabaria naquele ano. Só que para mim aquele estava sendo o mais fantástico de todos, pois eu estava vivendo uma das fases mais fodas da minha vida; minha mãe, no feriado de Páscoa, viajara para o sul com minha tia e ela estava bem, realmente bem e passaria um tempo lá. Disse a Caio para cuidar de mim na sua ausência e ele prometeu de joelhos que faria o possível para não me matar até ela voltar; meu pai estava indo de mal a pior. Certo dia eu tinha topado ele, antes do feriado - uma quinta feira, depois que saí do trabalho -, pensei que ele não olharia na minha cara como sempre fazia, mas me chamou num "hey" indiferente e eu me arrepiei. Ele falou rápido sobre minha moto, a qual ganhei de Caio e a qual eu nunca usara, e que estava criando teias de aranha na garagem da minha ex-casa. Ele falou se eu pretendia usar ela ainda, caso contrário a venderia naquele mesmo dia, porque já tinha um rapaz de olho nela. Falei, tímido, que iria buscar e que ele não deveria se preocupar.
Ele engoliu saliva, pigarregou e falou: Que bom, hum... tu tá meio magro.
Eu olhei pra ele surpreso e ele me encarou de modo frio de novo: A comida da mamãe faz falta - me permiti um sorriso que logo desapareceu quando vi que ele me olhava sério. - Bom, deixa eu ir.
Mas era tarde, eu tinha visto nos olhos dele. Preocupação. Afeição. E saudades. No fundo daquele mar de intolerância eu vira meu pai que eu sempre amara, que era meu pai. Talvez fosse imaginação ou o fato de eu estar desesperado por ele me aceitar e deixar tudo para lá que estava me levando a ver coisas onde não tinham. Peguei um moto-táxi e o mesmo me levou até minha antiga casa. Quando cheguei tive que segurar o choro que se formava no meu peito devido à saudade do lugar. Minha casinha de dois andares, com o muro nunca rebocado, o beco do lado onde eu beijara Caio pela primeira vez, o jardim pequeno de minha mãe onde agora só se via mato e não mais flores, a janela do meu quarto na parte de cima, e o fato de que não era mais meu lar e que estava mudado, me fez sentir um aperto no peito. Desviei os olhos e vi que a ruela estava mudada também, sabe quando você sai pra viajar e volta pra sua casa e ver que bastante coisas mudaram pela vizinhança? Pois é, era assim que eu me sentia. Árvores tinham sido derrubadas, casas erguidas, outras pintadas e assim por diante. Vi umas duas pessoas conhecidas e elas vieram me cumprimentar. Caloroso, eu perguntei sobre as novas e ditas cujas disseram sentir falta da família Sousa, da minha mãe com suas reuniões sobre o bem estar das mulheres, meu pai com os comprades dele falando de política, e de mim, danado e maroto, o terror da vizinhança. Uma vizinha disse que meu pai tinha mudado e não era o que costumava ser antes. Depois de conversar com meus antigos vizinhos, eu entrei pelo portãozinho de ferro e fui até a garagem. A moto se encontrava coberta por um plástico preto. Mas ae percebi o problema, como eu iria levar ela até meu apê? Caio naquele momento estava ocupado no seu treino e eu não queria incomodar meu namorado. Então ouvi um "Cabeçudo?", me virei e vi que era André.
Eu: Ah, que susto, caralho!
Ele riu: Ui, desculpa, donzela.
Eu olhei pra ele e disse indiferente: É impressão ou o quartel te encorpou mais?
Fazia uns dois meses que André entrara para o quartel. Ele era 6 meses mais velho que eu e por isso se alistara ano passado e já estava servindo. O quartel de fato estava lhe fazendo bem realmente, com a cabeça raspada, bem tipo militar mesmo, ele tava com as feições mais másculas, sua pele mais queimada do sol, os braços mais avantajados e a barriga (mesmo sob a camisa) era notavelmente trincada. André era aquele cara com rosto não muito bonito, mas que tem a virilidade que toda mulher desejava. Não curte muito perfumes e usa somente os desodorante em spray o que tornava seu cheiro bem característico, coisa de macho mesmo, onde deixava sempre as cocotinhas e os viadinhos loucos por ele.
André ri: To sarado heim? - ele faz pressão com o braço para mostrar seu bícep volumoso.
Eu puxei a maldita lona e olhei pra ele ainda indiferente: Não sabia que no quartel eles enchiam o cu dos recrutas de anabolizantes.
André dá uma gargalhada alta e fala: Quanta inveja heim, Nadinho. Aliás, o quê tu faz aqui? Se teu pai pega, capaz de te queimar vivo.
Eu tirei e comecei a dobrar a maldita lona que não cooperava, para então depois guardá-la: Vim buscar minha moto se não o pai queima eu e ela juntos. Quer fazer o favor de me ajudar e não ficar só olhando, soldado-cabeça-de-papel?
Ele ajudou a dobrar a lona e colocamos ela num cantinho: Hum, cadê o fortão?
Caio tá no treino dele, e eu queria levar a moto antes de topar com o pai de novo. Já tive sorte de ter encontrado ele ainda há pouco e de ter saído com todos os membros ilesos, falei rindo triste. Eu brincava com aquilo, mas a verdade era que me dilacerava ver meu pai olhando para mim com tanto desprezo.
André riu sem graça e falou: Foi engraçado o dia que ele contou que você estava meio gay - ele soltou uma risada e eu dei uma cotovelada nas costelas dele. André sabia sobre meu lance gay e mesmo assim levava numa boa. - Ele disse assim quando vim perguntar de ti aqui na tua casa (ele imitou meu pai) "aquele moleque achou de virar gay, acredita? Ofender a sua família e de ser ingrato com os pais que sempre amaram ele!" aí eu disse "mas qual o problema em ser gay?", ele me olhou como se eu tivesse falado que Deus era a Xuxa e terminou "ser gay já é problema mais do que suficiente. Ou você não ver problema nenhum por já ser um?" Eu olhei pra ele e caí na gargalhada. Desde aquele dia ele não fala mais comigo. Capaz de queimar nós dois se chegar agora, mona.
André desmunhecou a mão e me soprou beijos. Caí na risada e disse: Até que em fim você voltou a ser o que era. Tava mó viadinho, cheio de segredos há um tempo atrás.
Nos abraçamos como amigos e ele disse: Tava passando por uma barra. Superei "grazadeus", e hoje estou de vibe nova. Vamos levar a moto?
Eu mordi os lábios: Não sei pilotar esse treco.
André, como os outros, disseram que eu era de fato mariquinha por ter medo de andar de moto. Mandei ele se fuder quando este pegou a moto e empurrou até a rua.
Ele: Tá com as chaves aí pelo menos?
Eu: Ah, é mesmo. Mas sei onde deixei - depois que Caio me dera a moto na noite do meu aniversário, eu tinha guardado a chave na garagem, numa gaveta. Achei ela e corri pra André. Fechei o portão da minha casa e dei um xau silencioso. André empurrou a moto para a frente da sua casa. Olhou ela e elogiou por ser uma bela moto. Eu nunca entendia muito bem sobre essas máquinas automobilísticas, tais como motos e carros, entendia o mínimo do básico e nunca tinha interesse em obter mais conhecimento. André ficou meio que estudando ela, apertando aqui, apalpando alí e depois a ligou. Segurou a embreagem e girou o punho direito e a bicha rugiu furiosa.
André: Quer que eu te ensine a pilotar? É mó fácil.
Eu: Pode ser, mas não agora. Tenho que ir por curso daqui há pouco.
Ele: Hum, faz assim então. Para tu ser o primeiro a pilotar tua moto, tu deixa ela aqui em casa e quando tiver tempo eu te ensino. Beleza?
Eu: Cê não vai vender as peças originais não né? Pra bancar tuas raparigas? - perguntei falsamente acusador.
Ele deu uma gargalhada espalhafatosa. A verdade era que André tinha uma voz tão grave e aguda que quando ele ria, parecia estar arrotando: Ai, Fernando. É por isso que geral sente tua falta aqui. E eu não vou vender nada, seu mariquinha.
Eu: Tenho um namorado que sabe uns paranauê das luta, se eu descobrir que tu andou na minha moto com tuas vadias eu mando ele lhe aleijar.
Ele empurrou a moto mais para a frente da casa dele: Vai te fuder, Nando. Vou até colocar ela na lona, ok? Ninguém vai mexer.
Eu: De boa. Guarda ae e me dá uma carona na tua moto até meu apê?
Guardamos minha moto na garagem da sua casa e logo em seguida subi na garupa da moto dele, uma fan vermelha. No caminho até minha toca Hobbit, André empinava a moto e fazia graça soltando as mãos do guidom. Eu tremia na base e ficava horrorizado com aquilo e André ria feito um babaca do meu medo. Ele empinou a moto mais uma vez e aí eu tive que segurar na sua cintura forte. Meus braços se fecharam em torno dela e senti que a barriga dele de fato estava malhada, com os gominhos duros. Ele pareceu gostar de me ver apreensivo e empinou mais e eu quase me caguei. Quando chegamos, eu desci e comecei a bater nele e o desgraçado ria mais. Eu não sabia qual era o problema, mas as pessoas que eu conhecia parecia ter mais força que eu, até mesmo Lise. Ele riu mais e disse que deveríamos fazer mais disso. Eu enjoado mandei ele se ferrar. Disse que convidaria ele para entrar, mas eu já ia sair de novo, pois esperaria Caio passar alí pra me levar pro curso. Então o Cross Fox de Caio chega e ele desce do carro ainda com o kimono azul aberto exibindo seu peito, vem até mim e me dá um selinho rápido e comprimenta André de forma cordial, porém mecânica de mais. Eles não se cheiravam muito... pareciam que um não ia com a cara do outro e logo André se foi. Dei o capacete dele e me despedi dizendo que depois pagaria sua gasolina gasta. Ele riu e foi embora empinando o pneu da moto. Eu ri e Caio veio até mim.
Eu: Por que conheço só gente louca?
Caio me abraçou por trás e colou o queixo na minha cabeça: Teu amigo é um louco mesmo.
Eu: Tenho um namorado louco, amigos dele que conheço que são loucos, amigos meus que também são e um pai louco. Todo mundo loucos!
Ele riu rouco e disse: Bora, tu tem que ir pro curso, sr sanidade.
No final não teve aula naquele dia. Então fomos até uma praça de Belém chamada Batista Campos a qual eu amava. Era lindo o lugar e todo mundo que vinha em Belém, dizia que alí era o lugar mais belo da capital. Também, com seu ajardinamento sem grades, plantas ornamentais, córregos, pontes, bancos, caramanchões, chafariz e coretos de ferro, o local conquistava qualquer pessoa. Ainda de kimono, Caio me comprou sovertes e conversamos umas coisinhas sobre defesa pessoal e ele disse que eu deveria me interessar por algo relacionado com luta para aproveitamento meu, na minha alto defesa contra os outros. Disse que aquilo era desnecessário, pois eu não me interessava naquele tipo de coisa.
Caio: Vem cá, joga essa droga de sorvete - arrancou ele das minhas mãos e jogou numa lixeira. Depois pegou meu braço e me conduziu até o gramado que se podia pisar. - Vou te ensinar umas defesas ok?
Eu bati o pé: Pra quê, amor?
Caio: Tive um sonho estranho contigo, mano. Vai Fêr, só como se defender. Eu te ensino e aproveito tiro uma casquinha dô cê.
Eu ri e me interessei pela instrução básica dele. Se defender de um soco. Bloquear um direito, imobilizar um gancho, socar sem deixar o polegar dentro do punho e tantas outras coisas. Quem passava via nossa aula e algumas pessoas olhavam aquilo com avidez. Outras perguntaram se éramos irmãos por que tínhamos uma sintonia bacana. Um cara perguntou a Caio se ele não pensara em algum dia abrir uma academia voltada às artes marciais de todos as modalidades, pois como ele tinha visto, Caio me ensinou o básico de cada tipo de luta como um professor nato. Ele deu um cartão para Caio e eu disse que essa podia ser a chance dele abrir seu próprio negócio. Ele riu e disse que ia pensar. Naquela mesma noite, tentamos transar no carro, mas não deu porque começou a chover e a rua onde estávamos se alagou em segundos. Era incrível o nosso fogo que sempre se acendia em labaredas descontroladas. Eu era tarado pelo corpo dele, e ele era pelo meu.
Como eu disse no começo, 2012 estava sendo o ano mais incrível para mim. O feriado de Páscoa passou e depois dele veio o dia que eu tinha que me alistar para o quartel. Eu estava decidido a não servir, queria cursar minha facudade e ser soldado atrapalharia bastante coisas que eu vinha planejando. Caio não serviu, e eu seguiria o mesmo rumo. Me apresentaria em Maio para avaliação. No dia 26 de abril, dia do nosso terceiro mês juntos, Caio me presenteou com um relógio lindo e eu dei a ele uma pulseira Jamaicana, aquelas de pano bem baratinhas. Fomos pro nosso motel favorito e lá trepamos até eu me ver acabado. Maio então chegou, minha mãe ligou dizendo que voltaria em agosto e que estava adorando o sul. Minha moto ainda estava na casa de André e ele ficou ocupado devido ao quartel, sendo assim nunca me ensinou a andar nela por falta de tempo. Não pedi a Caio porque André se prontificou primeiro. Então, em um fim se semana, eis que me surge uma msg de Ricardo. O leke tinha sumido e me mandava poucos sms. Me ligou e disse que precisava de uma ajuda.
Eu no meu apê: Ajuda de quê, mano?
Ele do outro lado da linha: Meu primo, cara. Ele quer conversar comigo e sério, acho que de tanto eu insistir ele acabou me vendo como eu vejo ele. Queria falar com ele, mas queria tu do meu lado. Como amigo.
Eu: Claro, cara. Pra quando isso?
Ricardo do outro lado da linha parecia nervoso e falou atrapalhado: Hoje... Não!, amanhã. De tarde. Vem na casa do meu pai porque lá na minha casa o pai... digo, a mãe embaça.
Eu achei estranho o modo dele falar e disse para passar o endereço da casa do seu pai. Era num bairro um pouco perigoso, mas como Ricardo me dissera uma vez, o pai tinha perdido tudo no divórcio e hoje vivia em condições ruins. Me despedi dele do celular e voltei minha atenção pro filme que eu assistia dele ligar. Caio estava na casa dele, uma vez que sua mãe estava planejando dar uma festa em comemoração aos dias das mães para todas as peruas do condomínio onde eles moravam, logo ela precisaria do filho fortão, jovem e galanteador para ajudar nos preparativos. Sobre a mãe de Caio, ele não fazia questão em contar a ela sobre nós dois, pois dizia ser desnecessário, porque a minha sogra se importava mais com ela mesmo do que com os demais. Mas ele deixava escapar uma ou duas vezes que ela era paranóica para com ele e insista em querer casar Caio com uma menina que ela sinpatizara há anos chamada Roberta.
- Coisa da cabeça da minha mãe. Querer me casar a força com uma menina que eu comi uma vez. A mina nem lembra de mim eu acho, mas minha mãe tem ela como amiga e sempre que dá me empurra pra nina - ele falou um dia quando disse que a mãe dele era quase nada na nossa vida.
Eu: Caio, faz bem uns sete seis anos que nos conhecemos e você nunca falou dela. Nem o nome da minha sogra eu sei.
Caio riu: Helena. E nunca a chame de "Dona" Helena. No mínimo ela te mataria.
Eu ri e disse: Ela parece uma coadjuvante na nossa vida.
E de fato era. Até mesmo seu Cá não falava dela quando eu o encontrava. Então conheci mais sobre ela, num dia em que passei com Caio no consultório do meu sogro para lhe dar um "oi". Ele, simpático como sempre comigo, nos levou até sua sala chique e requintada que todo Dr. tem. Caio foi logo bisbilhotando o lugar atrás de comida e eu sentei numa cadeira em frente ao seu Cá, onde sua mesa nos separava. Caio sentou do lado meu lado e conversamos umas coisas bestas com o pai dele. Então vi uma foto num porta retrato que estava na mesa dele e o peguei. Olhei a foto e vi minha sogra mais jovem, com seu Caique do seu lado. Na foto ela parecia gentil, linda e com cara de mãe. Seu Cá era mais jovem e igualmente bonito. Vi Caio bem no meio dos dois, e levei um susto. Ele devia ter uns 6 anos e era gordinho, mas bem gordinho mesmo, com um sorriso maroto de orelha a orelha. A coisa mais linda que eu tinha visto na vida, bem cut cut. E então vi um garotinho igual ao Caio do seu lado, pelo menos de rosto, pois o menininho era menor, magrinho e seu sorriso era meio cansado. Quase como se estivesse abatido. Virei o rosto para Caio, ele viu meu olhar de dúvida e baixou a cabeça. Seu Cá falava sobre umas coisas que eu não lembro e eu perguntei cortando ele.
Eu: Seu Cá, essa é minha sogra? - perguntei apontando o dedo para a foto.
Seu Cá parou se falar e disse rindo: Aé, Helena quando era boa de se namorar. Naquele tempo ela era uma mulher incrível, simpática e humilde. Hoje está tão artificial que nem reconheço a mulher com quem casei - ele suspirou e então apontou para a foto. - O gordinho alí, aquele de casaco, é Caio. Né, garoto (ele levantou e contornou a mesa ficando do lado de Caio, deu uma palmada no ombro dele). Já era sapeca e comia que era uma beleza.
Caio reclamou: Pensei que cê não tinha essa foto mais, coroa.
Seu Cá riu: Pois é, você vem tão pouco aqui. Mas salvei essa das garras da sua mãe e trouxe para cá para olhar minha família. Esse aqui, Nando, cê deve saber que é Helson, nosso caçula. Caio deve ter falado dele
Eu sabia que seu Caique pensava que Caio me falara do seu irmão, o qual eu nunca soubera da existência. Olhei pra Caio acusador e esse me olhou triste: Um hum, fala sempre.
Seu Cá ficou triste e falou: Era um menino de ouro. Nasceu doentinho já, com problemas nos pulmões. Um amor de criança, não dava trabalho e morria de amor por Caio e isso era mútuo - percebi que ele estava lagrimando e então ele balançou a cabeça e riu. - Ele está num lugar melhor né. Caio, diga o que você queria.
Ele foi conversar com o filho e eu fiquei olhando mais a foto. Todos pareciam felizes e o gordinho e maroto estava de mãos dadas com o irmão menor, que parecia tão frágil. Os dois garotos tinham os mesmos rostos, não tinha o que tirar nem pôr, pareciam até gêmeos. Seu Cá presumiu que eu sabia da história, por meio do meu namorado, então não contou ela. Mas pelo jeito havia algo de trágico.
Caio e eu saímos da clínica calados. No carro ele dirigiu e não falou nada até chegarmos no meu apê. Então como sempre eu quebrei o silêncio: Por que tu não me contou sobre teu irmão?
Caio não olhou para mim e falou: Não vi necessidade.
Eu incrédulo: Tu tem um irmão o qual nunca falou pra mim e diz que não tem necessidade falar dele?
Ele: "Tinha" um irmão.
Fiquei calado e senti a atmosfera pesar. Coloquei a mão no ombro dele e perguntei: O que aconteceu, amor?
Caio ainda não me encarava e falou mecânico: Ele morreu.
Isso era óbvio, mas como eu não sabia. Eu: Como foi? - ele ficou impaciente e tirou o cinto de segurança e ia sair do carro, mas segurei ele e pressionei. - Hey, Caio. Grandão, hey (com todo esforço eu virei a cabeça dele para mim e colei a testa na sua) hey... amor. Calma. Só quero saber já que você é minha família agora.
Ele me olhou nos olhos e disse: Nando, eu matei meu irmão - e nisso caiu num choro desolado. Sua cabeça se apoiou no meu peito e eu agarrei ela e tentei reconfortar ele. - Eu matei ele, Fêr. Matei meu irmão. Matei. Mesmo meu pai dizendo que não, eu matei ele.
Aí veio os soluços. Era cada um mais forte que o outro que fazia aquele corpão inteiro tremer. Me afastei dele, abri a porta do carro e o contornei. Abri sua porta e puxei Caio para fora. Era assim, gente, sempre quando ele ficava transtornado ou caía numa crise de choro, eu sempre assumia o controle sobre ele. Tipo, quando acontecia alguma tragédia envolvendo um amigo dele e Caio desmoronava em lágrimas, ele entrava num transe molhado e eu mantia a calma e o foco e lidava com a situação de forma calma. Naquele momento, eu levei ele até meu apê, ele chorava ainda e limpava o rosto com o braço. Tirei a camisa dele, sua bermuda e o guiei até o banheiro. Um bom banho o acalmaria. Tirei minha roupa, ficando somente de cueca, e ensaboei ele com carinho. Sem malícia nem nada do tipo, e Caio deixava eu cuidar dele sem questionar ou tirar sarro. Enxuguei ele, peguei um short e o vesti. Mandei ele deitar na cama e fiz um leite com nescal que ele amava. Caio ainda soluçava, mas com pouca intensidade e quando sentei de frente pra ele na cama, vestindo uma camisa enorme dele e de cueca, o mesmo parecia mais calmo. Bebeu o leite e eu perguntei: Ta mais calmo?
Ele riu com o rosto vermelho e disse: Tô. Acho que virei marica mesmo por chorar tão fácil.
Eu afaguei o rosto dele: Qualquer um chora, ué.
Ele falou rindo torto: Você chora menos que eu. Te vi chorar acho que uma vez só.
Eu: E no filme do Toy Story 3, mano, cê não viu eu em cacos?
Ele soltou uma risada rouca e triste: Foi mesmo. Achei que você iria morrer depois. Tive que te encher de esperança e dizer que haveria uma continuação do filme para você sair da depressão pós-filme.
Rimos, e eu ainda afagando o rosto dele, que estava lisinho devido ao seu barbear, perguntei: Fala, parça, abre o verbo. O que aconteceu com seu irmão?
Então ele abriu o verbo. Me contou que o irmão nascera com algo chamado Distress respiratória, que era uma anomalia localizada no pulmão que o impedia de respirar naturalmente. Do primeiro ao segundo ano de vida, ele respirava com ajuda de um cilindro de ar. Depois foi ficando mais fortinho e já não precisava tanto assim. Mas se cansava rápido, não subia escadas porque não tinha fôlego. Andar muito lhe era torturante, mas ele não gostava de ficar de cadeira de rodas nem moletas. Caio amava o irmão, assim como os pais. Mas sua mãe era obcecada pelo menino. Sempre brigava com Caio quando este estava dentro do quarto e dizia que o mesmo estava cansado o irmão caçula. Com seis anos, Caio se viu rejeitado pela mãe, contudo nunca culpou seu irmão que ele dorava fazer rir com suas molecagens. Seu Cá dizia que a mulher exagerava quanto aos cuidados paranóicos com Helson e isso chegou a uma brigar feia quando ela disse que proibiria Caio de chegar perto do irmão.
Caio me contava aquilo meio que para si mesmo, e eu ouvia ele calado. O irmão tinha feito 5 anos e Caio estava próximo dos seus sete. Num dia bonito de sol, eles dois estava na beira da piscina, Caio brincando nela, nadando e fazendo graça pra Helson, que estava na cadeira olhando e rindo das loucuras do outro. Caio atirou uma bola e esse a segurou. Helson estava muito debilitado e até andar lhe causava um cansaço atroz. Caio foi até a cozinha e deixou o irmão sentado com a bola entre os braços sozinho. Quando voltou, viu irmão meio que afundando na piscina e correu desesperado para ajudar ele. Tirou-o de lá e Helson não tinha passado nem meio minuto na piscina, mas engoliu água e não conseguia expelir ela por falta de fôlego. Caio não sabia o que fazer, criança de mais para entender primeiros socorros. Gritou pelo pai que estava conversando com um vizinho e esse veio até eles desesperado. Helson foi pro hospital e teve complicações. Vocês devem imaginar que a mãe de Caio o culpou por tudo aquilo, coisa de gente rica. Caio disse que ela deu um tapa nele no meio do corredor do hospital. Houve briga entre a avó de Caio e ela, o pai se meteu e disse que ninguém tinha culpa de nada. Minha sogra não saiu do lado de Helson durante dois dias e esse teve várias paradas cardiorrespiratórias e não resistiu. Morrei num mês de setembro. Foi um baque para todos eles, mas o pai sempre manteve a calma e cuidou da família com paciência e amor. A mãe ficou louca e entrou em depressão, passou a dizer que Caio era Helson sempre que o via e depois percebia que não era e caía em prantos. Passou um tempo numa clínica de repouso e quando saiu, chegou na casa deles mudada, robótica, e fútil. Caio desde os 10 anos passou a usar bonés para esconder o rosto e sempre que dava raspava a cabeça para que a mãe não o olhesse com tristeza e lembrasse do irmão.
Caio: Hoje estamos de boa, a mãe me vê como filho. Antes sempre me brigava e dizia que se Helson estivesse vivo a vida seria melhor.
Eu: Por isso você sempre rapasva a cabeça e grilava com os bonés?
Ele: É.
Eu: Você não matou teu irmão, pow. Ta louco? Você amava ele e ele te amava.
Ele: Mas se eu não tivesse...
O cortei: Porra nenhuma, mano. Pára com isso. Ele foi atrás da bola e caiu na piscina. Ei... Porra, Caio. Olha pra mim! Ei, pára com isso, meu amor. Pára. Mas você podia ter me contado muito antes né.
Ele: Desculpa, mano. Mas pensei que você iria me achar um idiota.
Eu: Mais do que já é? (ele riu e eu abracei aquele babacão). Era isso que você não queria me contar na casa de praia aquela vez, sobre tua mãe?
Caio esfregou as mãos lentamente pelas minhas costas: Era. Por isso que nem falo muito nela.
Eu: Mas ainda sim ela é sua mãe. Vamos contar sobre nós à ela.
Ele: Tudo bem. Desde que você esteja comigo.
Eu beijei seu ombro e disse: Sempre vou estar. E outra, Helson era um lindo menino. Tenho certeza que seria meu cunhado mais incrível da terra. Assim como o irmão é para mim.
Ele me olhou nos olhos e me beijou carinhoso e senti ele irradiar sua felicidade triste, como se tivesse superando o fato de que não era culpado afinal. Depois desse dia, ele passou a falar mais do irmão, do que lembrava dele, pois era novinho na época e recordava alguns eventos. Me mostrou fotos deles dois, das marotagens de Caio, da alegria de Helson sempre que ouvia o irmão contar sobre seu dia na escola e tudo mais. Helson estava enterrado em BH e Caio me prometeu de irmos lá visitar seu túmulo. Com isso ele meio que começou a falar da mãe também, perua e que não sabia viver sem luxos hoje em dia.
Em meio aos meus devaneios, lembrando disso tudo, eu acabei não mais prestando atenção ao filme. Era sábado e eu só trabalhava até as 13 e depois ficava livre, então tinha resolvido assistir uma porrada de filmes. Estava quase escurecendo e então resolvi dormir. Caio me acordou do jeito que eu amava, com sua boca mordiscando minha orelha e sua barbinha rala esfrengando no meu rosto. Abri os olhos rindo e fui logo beijando ele.
Eu: Voltou cedo. Como foi lá com a minha sogra?
Caio falou: Terminei os preparativos rápido. E comprei seu sorvete de açaí que cê ama.
Eu abracei ele e disse: Oba, mas quero você, meu açaízão.
Ele se soltou em cima de mim e ficamos num amasso gostoso. Depois fomos comer nosso sorvete e assistir mais filmes, com ele encostado no batente da cama e seuvbraço direito em volta de mim. No outro dia seria o dia das mães e eu sentia uma falta atroz da minha. Então falei: Amor, amanhã vou me encontrar com o Ricardo. Ele ta precisando de ajuda.
Caio continuou a olhar pra tv, mas senti ele pressionar os músculos: Hum, o que aconteceu?
Contei sobre o primo de Ricardo e expliquei que possivelmente os dois iriam conversar no outro dia, para por logo um fim na situação de ambos, uma vez que o primo se mostrava um preconceituoso machista: É isso. Ricardo quer que eu esteja do lado dele.
Caio: Certo. Te deixo lá e depois vou na casa do Mário, ok?
Eu: Pode ser.
Caio: Lembra dos golpes que te ensinei né?
Eu ri: KKK, lembro sim. Qual é? Acha que ele vai me agarrar junto com o primo?
Caio riu tentando descontrair e falou: Se acontecer, espero que meus ensinamentos não tenham sido em vão - ele falou dando um beijo na minha testa.
No outro dia, domingo, ficamos no meu apê mesmo e de tarde Caio me levou até onde Ricardo falou, era bem distante e a casa de madeira que eu supus ser do pai dele, estava em estado quase crítico. Não havia vizinhos próximo e o terreno estava com mato na altura dos joelhos. Caio parou numa distância razoável, não dava de ir de carro até a frente da casa porque a rua era toda cheia de modrongos mato e estreita.
Caio: Eita que o pai do frango ae ta na merda mesmo heim - ele falou olhando o local.
Eu: Coitado do pai dele, em depressão e ainda por cima na miséria. Se não fosse Ricardo ajudar ele, acho que o velho já teria se matado. Vou lá. O primo dele chega já já - dei um selinho em Caio. Ele tava todo gato, arrumado com bermuda Jeans, uma camisa pólo colada ao corpo, o boné de sempre, uma sandália Cartago e um relógio que valeria um rim meu. E o perfume, Deus, era um perfume másculo e pra lá de gostoso.
Ele: Vai lá, defensor dos gays babacas. Ajuda a florzinha lá.
Eu ia saindo e ele deu um tapa na minha bunda: Seu otário. Para de graça. Te ligo assim que terminar aqui, ok?
Fechei a porta e dei um tchau pra Caio que acenou enquanto ligava pra alguém. Até a casa do pai de Ricardo era uns 50 metros, andei e ouvi o carro do meu grandão ser ligado. A casinha era grande afinal, tinha uma parte acima, não igual a um sobrado, mas parecido. Bati palmas e esperei. Ricardo apareceu na porta e vi algo estranho nos olhos dele. Nervosismo.
Eu: E ae, mano. Ele já chegou? Como cê ta?
Ricardo veio até mim e apertou minha mão: Oi, Nando. Chegou não, brother. E eu to meio legal. Vamos entrar?
Fiz que sim e fui subindo uns degraus da casa, entrei e estranhei ainda mais quando vi que a casa estava com cara de abandonada por dentro, porque o acúmulo de poeira era visível em todos os cantos. Ele fechou a porta e algo me disse que tudo alí estava errado. Virei pra Ricardo e vi um sorriso no rosto dele.
Eu levantei uma sobrancelha e perguntei: Oshe, que foi mano?
Então ouvi uma voz vinda da parte de cima da casa e veio descendo a escada um cara moreno e bombando que eu não reconhecia: O que foi, é que hoje eu termino o que começou naquela praia.
Mais um cara saiu da cozinha e com Ricardo eram três. Ainda não estava entendendo nada e perguntei: Que merda é essa?
O bombado: O viadinho não lembra de nós (ele fez pressão com os bíceps dos braços) aqui? Vai lembrar agora.
Então lembrei, ele era o cara bombando da praia, o moreno que jogou a garrafa na cabeça de Caio. Então olhei para Ricardo e esse só deu de ombros como se zombasse de mim. Casinha, ele tinha feito casinha para mim. Fazer "Casinha" pra quem não sabe é quando alguém faz uma armadilha para alguém. Meu coração batia forte... o medo me invadiu e eu pensei em Caio me dizendo que Ricardo queria terminar o que tinha começado na praia.
O bombado: Vamo ensinar pra viadinho como tu, o real lugar que eles tem que está. O que tu acha, mané? - ele perguntou pra mim.
A única coisa que pensei foi nas palavras ditas pelo meu pai, para que eu sofresse o mesmo que o meu vizinho que fora morto pelo homofóbicos lá, e então eu disse pra mim mesmo; "caralho, praga de pai pega mesmo. To fudido."
Continua...
Oi, galera. Belê com o cês? Bom, dia 3 eu pretendia postar o capítulo, mas deu um bug enorme no meu app do Dropbox e tudo tinha sido apagado. Com as provas e semana corrida eu só fui adiando. Mas por quê postar no dia 3? Porque foi nesse dia que parça Pablo Rick faria niver. Quero dedicar esse capítulo a ele e lhe desejar muitos anos de vida e muitos boes. PARABÉNS ♥ ♥ ♥ ♥ Queria um pedaço de bolo, mas pela minha demora, acredito que não vou ganhar nada kk ): Aos demais, abraços a cada um de vocês e espero que o mês, que está começando, seja fantástico. Novembro me lembra de November rain *-* Quem manja dos clássicos me entenderá. Beijus.
Ps: Não notem os erros ortográficos e me desculpem por eles, eu nasci com duas mãos esquerdas e por isso escrevo tudo errado. Mentira, é porque eu sou um jumento mesmo.