Em um mundo em que nas redes sociais todos são felizes, comem comidas maravilhosas, viajam pelo mundo, são politicamente corretos e ambientalistas natos, ter um dia ruim até parece um crime. É quase impossível se sentir triste, sem que alguém venha lhe dizer para parar com aquilo e se sentir grato por tudo ao redor. Qual é o problema das pessoas com a tristeza? Ela existe assim como todos os outros sentimentos que estamos acostumados a sentir. As vezes tudo que queremos é chutar alguma coisa e gritar um palavrão bem alto, e se for pra alguém falar alguma coisa, que seja para nos darreais e mandar melhorar o humor em Paris. Seria ótimo. Seria perfeito. Seria, como tudo que não é. Então, o dia que estiver triste, se dê o direito de viver essa sensação, como você se permite viver as outras. Chorar faz bem, lava a alma. A tristeza muitas vezes nos faz avaliar o que está errado, onde não acertamos. É quando tropeçamos que aprendemos a olhar pro chão e não cair novamente. Até os dias cinzas tem a sua beleza. Tudo está na maneira que você enxerga as coisas. Grite, xingue, chore. Depois enxugue as lágrimas e deixa passar, porque até a noite mais escura não dura mais que algumas horas até o sol voltar a nascer.
Mais uma semana estava acabando, mas essa em específica era atípica e muito especial: o aniversário da Letícia. Ela sempre foi o tipo de pessoa que conhece Deus e o mundo, se dá bem com todos (ou quase), tem uma espécie de fã clube e é adorada por todos. Isso faz com que seu aniversário se transformasse numa espécie de acontecimento do ano, do qual nem se eu quisesse, eu iria escapar.
A data de nascimento, ela sempre reservou para a família e para os amigos mais íntimos. A gente a leva para jantar e a mima bastante, fazendo com que ela se sinta uma princesa. No fim de semana, ela dá a tradicional festa que bomba até de manhã e que muitos quase se matam para ser convidados.
Me arrumei sem me preocupar muito com a roupa, visto que eu nunca liguei pra isso. Coloquei uma blusa de botão preta, uma calça jeans surrada, tênis, cordão de prata. Ajeitei o cabelo com as mãos e passei um pouco de perfume. Já estava de bom tamanho. Passei na casa do Erick para pegá-lo e como sempre, ele estava muito estiloso. Calça xadrez num bege claro, uma camiseta preta com gola em v e uma touca caída para trás. No pulso trazia uma munhequeira de couro preta que combinava com o visual. Entrou no carro e logo pude perceber que estava cheiroso.
Chegamos ao salão de festas e esse já estava cheio. Eu tenho um péssimo hábito de chegar atrasado sempre, então já era de se esperar que quase todo mundo já houvesse chegado. Muitos rostos conhecidos, outros nem tanto, mas nenhum desconhecido. Quando ela nos viu, abriu um imenso sorriso e veio até nosso encontro, pulando em meus braços e me abraçando apertado.
- Nossa, como você demorou! Mas valeu a pena, ta lindo, como sempre, meu grandão. – Ela disse olhando pra mim - Ah, oi Erick, tudo bem com você?
Ela me largou para cumprimenta-lo com um abraço.
- Obrigado por ter me convidado. Ta tudo muito bonito.
Ele disse, retribuindo o abraço.
- Ah, imagina. Eu gostei de você desde aquele dia em que nos conhecemos. Não rolou entre a gente, mas você se deu melhor ainda, né?
Ela disse a ele, dando uma piscadela de olho pra mim, me deixando vermelho instantaneamente.
Depois pediu para que ficássemos a vontade e foi atender dos outros convidados. Ela era a grande estrela da noite e todo mundo queria sua atenção ou tirar fotos com ela.
- Ela é demais. E ta linda.
Ele falou.
- É sim. Bora pegar alguma coisa pra beber?
Eu perguntei.
Nos direcionamos para o open bar e enquanto esperávamos as bebidas que pedimos, olhei ao redor reconhecendo as pessoas. Muitos eu só acenava com a cabeça e outros eu fazia um gesto com a mão, indicando que iria até lá depois. Meus olhos então encontraram alguém que eu não gostaria de ver ali.
O Bernardo sorriu assim que eu o vi, se aproximando para vir falar comigo. Eu olhei para o Erick, que também o viu, mas não se manifestou.
- Oi Biel. Tudo bem?
- Oi Bernardo. Tudo bem e você?
- Tudo bem. A Lê me convidou e eu não podia deixar de vir dar um abraço nela. Eu a amo e ela merece tudo de melhor.
- Ah sim... Esse é o Erick. Ta lembrado dele?
- Daquele dia do parque, né? Hey cara, tudo beleza?
O Bernardo cumprimentou o Erick, que respondeu:
- Tudo beleza, sim.
Finalmente as bebidas ficaram prontas e as pegamos, nos direcionando para uma das mesas.
- Bernardo, a gente vai sentar... você....tudo bem pra você?
- Ah, se eu puder sentar com vocês, eu agradeço. Minha noiva não pode vir e eu to meio deslocado, fiquei tanto tempo fora da cidade que nem sei se conheço mais as pessoas.
- Noiva?!
Eu perguntei, sem me controlar.
- É. Não é oficial ainda, mas a gente pretende noivar em breve. Claro que eu vou te convidar quando acontecer e gostaria muito que você fosse.... meu padrinho.
Ele disse, se sentando a mesa com a gente.
Me limitei a revirar os olhos e nem o respondi, prestando atenção na movimentação da festa. Ele puxou assunto com o Erick e o mesmo começou a conversar amigavelmente com ele, enquanto eu bebericava, fingindo que estava interagindo, só que não.
Num determinado momento, o Erick foi ao banheiro, nos deixando a sós na mesa.
- Vocês dois estão juntos?
- Não é da sua conta.
Eu respondi, seco, olhando para o outro lado.
- Ei, desarma. Tranquilo, ué. Só acho que você deixou cair o nível. Você começou com um gato como eu e agora ta com ele, que tem estilo, mas beleza...
- Bernardo, qual é a parte do “não é da sua conta” que você não entendeu? Que caralho! Nem amigo a gente é mais, vai cuidar da sua vida!
- Nossa, calma. Você fica nervoso à toa. Continua o mesmo pavilzinho curto de sempre. Ta, parei. Nem falo mais nada. E somos amigos sim, só estamos afastados.
- Obrigado.
Eu agradeci ironicamente, bebendo mais um gole do meu copo.
- Biel, aquele ali não era aquele vizinho nosso de tempos atrás, que sempre andava com um viadinho a tira colo e pagava uns boquetes na sede?
- Quem?
- Ali, ó. Aquele de que tá com uma camisa xadrez azul.
Ele disse, me fazendo olhar para onde ele estava olhando.
Para a minha surpresa, era o Allan. Nunca que eu imaginava que ele iria naquela festa, visto que não é algo indicado para quem acabou de passar por um tratamento de desintoxicação. Ele estava acompanhado do Guto e parecia tímido diante da movimentação de pessoas. Eles não tinham nos visto ali ainda.
- É ou não é?
O Bernardo voltou a perguntar.
- É ele sim.
- Ah, sabia! Não mudou muita coisa desde daquela época. Só ficou ainda mais bonito. Será que hoje ainda paga uns boquetinho ou virou bixinha. Porque ele já tinha tendências, né?
- Cala a boca, Bernardo!
- Calma, é só uma brincadeira. Por que se doeu tanto? É amiguinho dele por acaso?
- Sim, sou. Por que? Ele é amigo do meu irmão e praticamente cresceu lá na rua. Eu não sei o que te dá pra falar essas coisas. Chama o cara de viado, mas você já cansou de dar esse seu cú. Só que você faz tanta questão de esconder isso, que tá até noivo. Esquecer, já é outra coisa, né?
- Ei, pera lá. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu realmente estou apaixonado por ela e estamos juntos, felizes. Eu não me arrependo de nada do que eu vivi com você e eu lamento que tenha terminado daquela maneira. Eu segui a minha vida e você com a sua. Só tava brincando.
- Então me faz um favor, vai brincar em outro lugar. Já cansei de você por hoje.
Eu disse, levantando em seguida.
Fui novamente no balcão de open bar, para pegar outra bebida. Vi a Leticia passar e a chamei.
- O que te deu na cabeça pra chamar o Bernardo?
- Ele é meu amigo, oras.
- Mas porra, Lê. Tudo sabe que fica o maior climão chato e ele... me tira do sério.
- Desculpa, meu bem. Ele é meu amigo de infância, que nem você. A gente se afastou por causa do que rolou entre vocês, mas não podia deixar de convidá-lo.
- E por que o Allan?
- Eu amo o Allan. Você sabe disso. Não podia deixar ele de fora. Por que você ta tão preocupado?
- Porque eu acho que é cedo ainda para ele ir em festas, com bebida e essas coisas.
- Relaxa, meu bem. Tem que dá um voto de confiança. Ele não queria vir, mas eu insisti. Ta na hora dele começar a viver de novo, conviver com pessoas e ver que é capaz de seguir sem cair novamente. E ele tá com o Guto, não se preocupa.
- Ta bom.
Eu concordei. Não havia nada que eu pudesse fazer mesmo.
Eu vi o Kadu se aproximar com aquele amigo dele que era modelo e que eu não ia com a cara. Fingi que não vi e resolvi circular pelo salão. Falei com algumas pessoas, com várias amigas, sem parar por muito tempo na mesma rodinha. Estava andando por entre as pessoas, até que vi o Allan conversando com o tal amigo do Kadu, na área externa.
Parei instintivamente e fiquei observando. O cara parecia falar animadamente, enquanto o Allan as vezes sorria tímido e abaixava a cabeça, interagindo de forma contida. Na mão carregava um copo de refrigerante, contrastando com o copo de whisky que o outro bebia. Sem sentir, fui me aproximando mais, até que que ouvi uma voz me chamando.
- Ei, Biel!
O Kadu me chamou.
Ele o Guto estavam sentado em um longe, bem próximo dali.
Caminhei até eles e sentei num puff, olhando rapidamente para o Allan e tal cara, para depois voltar minha atenção a eles.
- Tava perdido por aí? Não tinha te visto na festa ainda. Veio sozinho?
O Kadu perguntou.
Só então e lembrei do Erick.
- Não, eu vim com o Erick, mas a gente se desencontrou quando ele foi no banheiro.
- Ah, entendi. Daqui a pouco ele te acha. Ta curtindo a festa?
- Sim. – Eu respondi ao Kadu e logo me direcionei ao outro - Guto, você não acha meio cedo pro Allan participar de festas assim?
Eu perguntei para o Guto, ignorando o Kadu.
- Ah, Biel. Ele ta se saindo muito bem. A gente ta aqui de olho, mas ele ta super comportado.
- E o seu amigo não perde tempo, hein Kadu? Por que você trouxe esse cara?
- Por que ele ta na cidade e a Lê deixou. Eles só estão conversando. Fazem um par bonito.
Ele disse sorrindo, para me provocar.
Eu olhei novamente para eles e vi que o Allan já havia me visto ali, olhando-me com aqueles imensos olhos azuis, enquanto o outro acendia um cigarro e continuava a falar.
- Eu não quero ele fumando do lado do Allan!
Eu esbravejei, perdendo o controle.
- Calma, Biel. Eu vou falar com ele.
O Kadu disse, estranhando a minha reação.
Eu percebi que eu tinha exagerado e levantei irritado, saindo dali. Andei pisando fundo e antes mesmo de entrar novamente no salão, encontrei com o Erick.
- Porra, onde você tava? Voltei pra mesa e não te encontrei e fiquei um tempão te procurando.
- Ah, o Bernardo me irritou. Não dava pra ficar ali na mesa com ele e fui dar uma volta. Ele só fala merda! E acho que essa festa ta uma bosta! Eu quero ir embora!
- Nossa, ele te deixou irritado mesmo, hein? Ta assim por ele ou mais aconteceu mais alguma coisa?
- Ah... eu não curto muito festas assim. Eu só venho mesmo por causa da Lê, para deixa-la feliz.
- Eu sei, gatão. Já vão cantar os parabéns e aí a gente vai embora. Ta?
Nisso, o DJ anunciou novamente que iria tocar os parabéns e todos se aproximaram da enorme mesa do bolo. Ela chamou eu, o Kadu e mais dois amigos para ficar mais próximos a ela, fazendo eu ficar envergonhado. Todo o ano era a mesma coisa, mas eu não me acostumava nunca. Linda, ela soprou as velinhas e bateu palmas animada, distribuindo beijos e abraços em todos. A mim, ela se pendurou em meu pescoço e no seu ouvido eu disse que desejava todas as coisas boas desse mundo a ela e que sempre estaria ao seu lado, fazendo-a me beijar com ternura. Me deu um selinho e foi cumprimentar as outras pessoas.
Aproveitei e me juntei novamente ao Erick, para finalmente irmos embora. Quando já estávamos chegando a saída, o Allan apareceu.
- Biel, você pode me deixar em casa?
- Ué... e o Guto e o Kadu?
- Ah, eles querem aproveitar mais a festa, mas eu não to afim. E aquele amigo dele até se ofereceu pra me levar, mas eu não quero aceitar.... se você não puder, eu entendo. Aí eu volto com o cara lá. Ele ta bem afim de me levar em casa...
Ele falou, olhando para mim e depois para o Erick.
- Não. Eu te levo.
Eu disse, sem pensar muito.
No carro, fomos os três em silêncio. Liguei o rádio e pus numa música amistosa, para espantar o clima pesado que pairava no ar. Alguém lá em cima atendeu minhas preces, porque ninguém falou absolutamente nada e seguimos em paz até a casa dele. Estacionei na frente da casa dele e sai para que ele pudesse descer.
Ele parou na minha frente e sorriu.
- A gente nem se falou hoje, né?
- É... não deu.
- Eu vi aquela hora que você se sentou com os meninos e eu até ia lá falar com você, mas aquele cara não me largava. Ele até pediu eu telefone...
- E você deu?
- Dei.... o número errado. Hehehe
Ele respondeu, marotamente.
- Bom, eu tenho que ir.
- Obrigado pela carona.
Ele respondeu, me dando um beijo no rosto e entrando em casa em seguida.
Voltei ao carro e assim que sai, senti o Erick olhando para mim, sério.
- Agora eu entendi porque você tava tão irritado na festa. Pára esse carro que agora nós vamos ter uma conversa séria.
Ele disse.
Continua....
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Opa Galera,
Espero que tenham gostado desse capitulo. A continuação dessa parte, já está disponível lá no blog: www.bielsabatini.wordpress.com . Quero agradecer a todos. Essa semana batemos por diversas vezes mais de 5.000 acessos no blog e eu to muito feliz. Espero por todos vocês lá, já que é onde eu respondo individualmente.
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