Nós já estávamos há algum tempo em Paris, eu ainda não tinha encontrado com o Thi, mas eu teria que me encontrar com ele na reunião que teríamos com a agência responsável por nosso estágio. E essa reunião seria no dia seguinte.
O Bruno já estava indo para a universidade, ele estava tendo muita dificuldade em compreender as aulas, então eu sempre estudava com ele. Ao mesmo tempo que ele sentia dificuldades, ele estava apaixonado pelo curso, pela universidade. Ele estava amando tudo, tanto é que ele estava se dedicando quase 100%.
Pode até parecer estranho, mas eu não estava tão feliz assim. Eu sempre fui de analisar muito bem cada situação que eu vivo, mas naquele momento eu não conseguia entender o motivo de tanto desanimo.
- E aí? Tá animado? Amanhã tu começas, né? – Ele me perguntou enquanto estávamos deitados no sofá da sala.
- Isso... – eu disse sem nenhum animo, Bruno só podia ler pensamentos.
- Tu não estás muito feliz, né? O que está acontecendo? – Ele acariciava meu rosto e fazia cafuné em mim.
- Não sei, amor! Eu sinto muita falta do Dudu, da Loh, da Jujuba.
- Mas tu falas todos os dias com eles...
- Mas não é a mesma coisa!
- Amor, são poucos meses, passa rapidinho.
- Hum...
- Olha só, eu terei que sair daqui a pouco, vou ter que ir à universidade resolver um problema.
- À noite?
- Pois é... Meu professor pediu para eu participar de uma pesquisa com ele. Ele quer aproveitar minha experiência, quer conhecer a nossa realidade brasileira. Ele disse que gostou muito do meu currículo. Lembra aquela viagem que eu fiz para apresentar um trabalho? Ele estava na plateia. Agora, ele encucou comigo e o único momento que ele encontrou para conversar comigo é agora a noite, mas eu não vou demorar muito, não.
- E tu vais acertar chegar lá?
- Claro que sim!
- Hum, então tá, né? Qualquer coisa me liga.
- Tudo bem. – Ele me beijou e se levantou para ir ao quarto se arrumar.
Eu fiquei na sala, deitado no sofá, 100% entediado. Nem percebi o tempo passar.
Despois de um tempinho ele voltou.
- Já tô indo, amor. – Ele disse se abaixando e me dando um beijo.
- Tudo bem! Volta logo!
- Voltarei! – Ele me deu mais um beijo
Bruno saiu e eu fiquei na mesma posição. A televisão estava ligada, mas eu não estava prestando atenção. Eu só poderia ser louco, eu estava em Paris, revendo minha família, meu primo que eu tanto amava e mesmo assim eu queria estar em Macapá com meus amigos, meus pais, meus irmãos, na minha casa nova que eu nem tive a oportunidade de aproveitar. Eu, na verdade, nunca quis fazer aquela viagem, e só estando lá eu percebi o porquê.
Fiquei ali no sofá pensando e acabei adormecendo. No outro dia eu já acordei na cama, como eu cheguei lá era um mistério.
- Bom dia! – Bruno me acordou com um beijo.
- Bom dia, mozão.
- Já tô saindo, tá? Deixei o café da manhã prontinho.
- Como assim já tá saindo? – Eu falei tentando me levantar
- É que agora eu estou na pesquisa do meu professor, e eu tenho que chegar mais cedo para ele ir me passando aos poucos o que ele está fazendo.
- Hum...
- Beijo, tô indo! – Ele me beijou e saiu correndo.
Eu ainda queria entender como que nas primeiras semanas de aula ele já entra para um grupo de pesquisa. Tá certo que ele é um médico muito competente, mas caramba, nas primeiras semanas? Eu, não tendo escolha, me levantei, tomei meu banho e sai para o meu primeiro dia de trabalho.
Quando eu cheguei na empresa, Thithi já estava lá junto com a turma de estagiários. Ele estava parado num canto, eu cheguei e fui até ele, já que nós tínhamos nos falado pelo telefone e que ele era a única pessoa que eu conhecia ali.
- Oi! Bom dia!
- Bom dia! – Ele me abraçou
Confesso que fiquei feliz e surpreso com aquele abraço, pelo visto ele tinha superado e estava tentando reconstruir nossa amizade, pelo menos era o que seu esperava.
- Tu estás diferente! – eu disse
- Pois é, mudei um pouco.
Ele tinha mudado o corte de cabelo e o corpo estava mais definido. Resumindo: ele estava mais lindo do que nunca.
- Como tá sendo aqui em Paris pra ti? – Eu perguntei.
- Tá sendo muito bom, tô conhecendo pessoas novas, tendo novas experiências.
- Que legal!
- E contigo?
- Tá tudo indo bem, também!
- Tu não me pareces muito animado.
- Que nada! Eu tô animado, sim! Hoje é nosso primeiro dia de trabalho, como não estaria animado? – Falei fingindo estar muito animado.
- Pra que escola será que a gente vai?
- Também estou curioso para saber...
- Olha, estão chamando a gente.
Nós fomos para um salão onde todos os professores assistentes se reuniram. Tinha gente de todas as partes do mundo, havia professores russos, suecos, belgas, alemães, italianos, paraguaios, mexicanos. Geralmente era uma dupla de cada país, mas havia alguns países que vieram até cinco professores. O Brasil era um desses.
A reunião começou e nós acabamos conhecendo os outros três professores de Língua Portuguesa. Nós tínhamos ido para lá para dar aula de Língua Portuguesa para estrangeiros, então nós cinco ficaríamos em uma única escola. A nossa escola era, na verdade, um Instituto de ensino de línguas estrangeiras, então, ficaram conosco os russos, os italianos e os mexicanos. Os outros professores foram distribuídos em outras escolas, todas em Paris.
A reunião demorou uma vida para acabar. Nós saímos de lá quase 13h da tarde, eu já estava pra ter um troço de tanta fome. Eu já não estava mais acostumado a ficar tanto tempo sem comer alguma coisa, com a dieta que eu fazia no Brasil eu sempre comia de 3 em 3 horas.
- Legal, né? A gente acabou ficando juntos.
- Pois é..
- Ah, desculpa, isso não é bom, né?
- Imagina, é claro que é, né Thi? Acho que já estava mais do que na hora de voltarmos a sermos amigos.
- Verdade!
- A reunião de amanhã vai ser que horas mesmo?
- Às 8h.
- Quantas turmas a gente vai pegar?
- Eu ouvi falar lá na reunião que cada professor vai pegar quatro turmas, é o número limite da escola.
- Ainda bem, já pensou se fosse no Brasil? A gente ia pegar no mínimo 13 turmas.
- Deus é mais! – Ele riu – Tá com fome?
- Tô e muita!
- Vamos almoçar!
- Tá, mas deixa só eu ligar para o Bruno, não sei se ele vai almoçar em casa.
- Tudo bem!
Eu me afastei um pouco dele e liguei para o Bruno.
- Oi, amor! – ele disse atendendo
- Oi!
- Tudo bem?
- Tudo ótimo!
- Já estás em casa?
- Não, eu tô saindo da empresa, agora. Eu te liguei pra saber se tu vais almoçar em casa.
- Ooo, amor, desculpa, eu não vou conseguir sair daqui agora. Tem muito trabalho, aqui.
- Hum... tudo bem, só liguei pra saber. Beijo, te vejo a noite.
- Tu não estás chateado, não né?
- Não, não estou, não.
- Tá! Bom, até a noite. Beijo! Eu te amo!
- Beijo! Te amo também!
- E aí? Vamos almoçar? – Thi perguntou quando eu retornei para perto dele.
- Vamos!
- Legal!
- Onde vamos?
- Que tal se a gente fosse lá no restaurante do Pierre?
- Boa ideia! Quero ver aquele sacana trabalhando.
Nós fomos andando e pegamos o metrô. Como nós conhecíamos uma boa parte de Paris, não foi nada difícil nos situarmos na cidade.
- Como foi aquela noite? – Eu perguntei.
- Que noite?
- Aquela que eu falei contigo no telefone, que tu tinhas comprado vinho pra ti e para o Pierre.
- Aaah, foi muito boa. Muito divertida, teu primo é uma piada. Ele ta diferente, né? Ele não era assim, não.
- Pois é, ele mudou bastante. Eu também estranhei assim que eu cheguei aqui.
- Eu gostei desse “novo” Pierre, tá menos tímido, ele fala mais, brinca mais.
- Comigo ele nunca foi tímido!
- Sabe, eu cheguei a pensar que eu nunca mais falaria contigo.
- É, eu também pensava isso.
- Eu vivi mom0entos bem difíceis e te fiz viver momentos mais difíceis ainda, eu te peço desculpas por isso.
- Isso é passado, Thi. Agora eu tô casado, tu estás bem, todos estamos bem.
- Foi muito difícil aceitar que eu te perdi, foi difícil demais entender que fui eu quem te fez deixar de me amar.
- Thi, eu acho melhor nós não entrarmos nesse assunto. Não é o momento para isso, não estraga tudo...
- Não, espera... – Ele me olhou nos olhos e continuou a falar calmamente – Eu ainda te amo, Antoine. Te amo demais e acredito que nunca vou deixar de te amar, posso estar com outra pessoa, posso casar, ter família, mas eu nunca, nunca vou conseguir deixar de te amar. O que eu sinto por ti é mais forte do que qualquer outra coisa. Eu sei que tu estás casado, eu sei que tu amas teu marido e que tu não me amas mais, mas isso não faz eu deixar de te amar. Eu só estou te falando isso pra que tu entendas que eu não vou dar em cima de ti, eu não vou mais causar confusão, não vou criar situações constrangedoras, eu prefiro te ter como amigo a não te ter na minha vida. Tu és importante demais para mim, tu sabes disso. Eu quero que nós voltemos a ser amigos como antes, quero saber da tua vida, quero estar na tua vida. Esses últimos meses eu fui ao fundo do poço e voltei, eu aprendi muita coisa, amadureci, evolui.
Eu fiquei olhando para ele e não consegui falar uma palavra sequer, ele sempre soube me deixar sem palavras.
- Vamos, essa é a nossa estação! – Ele disse se levantando.
Eu me levantei e sai do trem junto com ele.
- Thi... – Eu disse subindo as escadas rolantes.
- Não precisa falar nada, eu não falei aquilo pedindo respostas nem nada, eu só queria que tu soubesses que eu mudei, mas que eu continuo te amando, só isso.
- Obrigado! – Eu disse olhando para ele.
Nós fomos em silêncio até o restaurante.
- Boa tarde! Vocês tem reserva?
- Desculpe-nos, senhor, mas não. Nós somos convidados do chef Pierre Lamoureux – Thi disse
- Ah, ok! Venham comigo!
O maître nos levou até uma mesa. Nós nos sentamos e ele nos entregou o menu.
- Nossa, aqui é lindo! – Eu disse em português.
- Muito lindo mesmo!
Nós fizemos o pedido e tomamos um vinho enquanto aguardávamos.
- O Pierre trabalha em um dos melhores restaurantes da cidade! Que safado!
- Verdade! – Eu falei rindo – Imagina quantas pessoas famosas não veem aqui?
- Senhores... - O garçom falou nos servindo.
- Nossa, que cara boa! – Eu disse ao ver os pratos.
- Isso deve estar delicioso!
- Verdade! Então, vamos confirmar!
Nós comemos em silêncio, até porque aquilo estava divino. Não é à toa que aquele restaurante é um dos melhores de Paris. Nós pedimos a sobremesa e conversamos bastante.
- Quer dizer que vocês resolveram vir fazer uma visitinha?
- Pois é, chef Lamoureux, viemos conhecer seu humilde restaurante.
- Bom, ele não é nem humilde e nem meu. – Ele disse rindo.
- Primo, tu ficas um gato com essa roupa de chef, sabias?
- Eu sou um gato, não importa a roupa, priminho.
- Modesto, né?
- Bom, só vim aqui dar um oi para vocês, não posso me ausentar da cozinha.
- Te vejo à noite! – Eu disse sorrindo para ele.
- Até! – Ele se abaixou para me abraçar -Ah, e precisamos conversar! – Ele disse no meu ouvidoMeus amores, passando correndo para publicar, não deu para comentar, mas eu prometi não falhar mais com a publicação, então aí esta. Amanhã eu comento, tá? Beijo em todos! Até amanhã.