Folhas Secas.
Capítulo 7 – Atrás do Arbusto.
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Igor totalmente estático, vê aquela figura, Cristóvão novamente, inesperado para ele que não teve como ver Robson no hospital e teve que voltar, e encontrar o que sua mente o perturbava-o, logo com Hilda, sua interna mais querida, no qual pretendia contar todo o ocorrido naquele dia. Pois então, tornou-se um silêncio tenso e arrebatador entre os presentes, principalmente com os olhares cruzados e nervosos de Cristóvão e Igor, com certeza seria o momento, mas Hilda já começara estranhar a situação e corta o silêncio perturbador.
“O que há aqui com vocês?”, Hilda perguntava desconfiada e confusa com os dois. “Vocês...”, dizia ela até ser interrompida por Cristóvão que se desligava do transe.
“Vovó...”, falava ele indiferentemente. “Poderia ficar alguns minutos aqui sozinha? Quero falar com Igor.”, de repente ao citar seu nome, Igor lhe lançou um olhar fulminante.
“Como assim?”, Igor saiu de silêncio e começou a se expressar. “Hilda!”, chamou ele.
“Tudo bem, posso ficar aqui.”, disse Hilda voltando-se para sua cama.
“Mas Hilda...”, Igor tentava se impor na situação até ser interrompido.
“Obrigado vovó.”, agradeceu Cristóvão indo até ela e beijando sua testa.
Totalmente passível a situação desconcertante, Igor não conseguia se expressar diante de tudo, apenas deixava se levar pelos planos escusos de Cristóvão, este sabia aparentemente saber tudo que fazia e controlar. Então Cristóvão se dirigia à porta, perto de Igor, no qual o lançou um olhar mortífero para ele, e sussurrou algo no seu ouvido:
“Vamos!”
Em uma ordem, puxando-o pela manga de seu uniforme, Igor sem titubear, aceitou ser levado por Cristóvão.
“Voltamos logo, Hilda”, disse Igor tentando acalmá-la, que ainda estranhava os dois.
Então Igor fechou a porta do quarto de Hilda, deixando-o apenas ele e Cristóvão em um corredor silencioso e aparentemente vazio. Um diante do outro, tentando conceber cada dúvida e diferença que mantinham, ainda que não se conhecessem realmente, só as breves informações que cada um conseguiu com Hilda.
“Pode começar!”, mandou Igor quebrando o silêncio.
“Não tem um lugar mais discreto para conversamos?”, perguntou Cristóvão olhando para os lados e para trás.
“Pra quê? Diga o que a quer me falar aqui!”, Igor se exasperava com Cristóvão.
“Tem ou não tem?”, disse Cristóvão inflexivo olhando-o avassaladoramente.
“Tem!”, disse Igor se rendendo à condição. “Vem comigo!”, mandou ele em seguida virando-se e caminhando.
Igor levara Cristóvão cuidadosamente para fora da Casa, Cristóvão o seguia logo atrás, Igor não se preocupava em olhá-lo para saber se ele estava, já Cristóvão o analisava-o com seu uniforme branco. Chegaram a um lugar do grande campo da instalação, nos fundos da casa, atrás de um grande arbusto, onde caía algumas folhas pelo gramado, algumas já secas e se decompondo, outras ainda em estágios anteriores de sua vida. Logo cada um se posicionava de frente ao outro, um pouco afastados, e voltavam a se entreolharem.
“Vamos! Quem é você? Por que estava no funeral de Sebastião? Por que quer falar comigo?”, ordenava Igor ríspido fazendo um interrogatório de braços cruzados.
“Prazer, Sou Cristóvão Sousa Campos, sou neto de Hilda, sua interna. “, dizia Cristóvão cinicamente dando a mão para um cumprimento.
Igor não gostava da atitude e jeito de Cristóvão, exasperava-o, então apenas deu um tabefe em sua mão, negando qualquer cumprimento.
“Seu nome já sei! Quero saber quem você é e o que quer!”, falava Igor rispidamente.
“Ai, não precisa ser mal educado também. “, falou Cristóvão se vitimizando.
“Vamos, eu não tenho tempo para joguinhos de moleque”, disse Igor irritadiço.
“Tá, tá, tá bom”, disse Cristóvão aceitando e colocando as mãos para o alto. “Eu sou mesmo o cara que você viu naquele funeral “, confessou Cristóvão sem nenhuma hesitação.
“Eu já sabia, então fale todo resto, por quê?”, Igor interrogava impassível.
“Eu fui porque queria, ué. Tenho um costume de ir em funerais “, era o que Cristóvão se limitava a dizer.
Igor ficará confuso com a resposta de Cristóvão, era totalmente incompreensível, já que um não sabia da dor do outro, Cristóvão parecia apenas querer saber sobre Igor, despertou um grande interesse nele.
“Eu não entendo. Que espécie de abutre tu é?”, falava Igor indignado. “Cadáveres não são uma diversão, ou algum hobbie, seja lá o que você queira com eles.”, comentou por fim.
“Agora isso não é da sua conta.”, replicou Cristóvão se perdendo na situação. “Eu vou e pronto. Não faço mal a ninguém. “, defendeu-se sabiamente.
“Qualquer família de algum morto pode se sentir mal com isso, cara!”, esbravejava Igor atônito. “Pode ser errado de algum jeito!”
Cristóvão ri. Parecia ser o momento conveniente para ele mostrar suas garras, seu riso causa estranheza e irritava mais Igor, que dava um sermão moralmente.
“Mais errado que sair mentindo e enganando minha pobre vó?”, indagou Cristóvão levianamente. “humpf”, em um riso sarcástico. “Eu realmente não esperava com aqui e encontrar algo tão interessante assim.”
“Como assim?”, expressou Igor perplexo.
“Fala sério, né. Hilda me contou tudo, o que você disse a ela sobre minha mãe e eu. Da santa que você deu a ela...”, contava Igor analisando a expressão preocupada que formara na face de Igor, deixando-o um tanto prazeroso. “Isso se não for a única aqui, né. Imagina a Lourdes ou minha mãe terem ciência de seus intermédios. “, falava propositalmente ameaçando-o.
“E-e-eu...”, gaguejava Igor trêmulo e suando frio.
“Sério que você quer medir qual é o pior?”, proferia Cristóvão arrasando mais Igor que se encontrava desconcertado.
Todas as coisas proferidas maldosamente por Cristóvão deixavam Igor perdido em si, ele sabia que a ele estava certo, e não sabia suas reais intenções com ele, o que o amedrontava mais, se ele espalhasse tudo o que fizera, seria o fim de sua carreira ali. Quando a Cristóvão, este queria julgá-lo, desafiá-lo, ver seu limite em seu interesse súbito pelo enfermeiro mentiroso. Coisa que poderia estranhar posteriormente, mas fazia isso em um aspecto frio e malévolo.
“Sim.”, suspirou Igor largando seu estado. “O que eu fiz pode não ser certo, mas não fiz por motivos mesquinhos e egoístas que nem você, afim de nada apenas em bel prazer”, falava Igor achando uma argumentação em sua confusão. “Acha mesmo certo você e sua mãe abandonarem uma pessoa, a sua vó, a mãe de sua mãe, largada aqui até a morte mesmo? Sem nenhum afeto ou notícia? Você acha, hein?”, indagava Igor apontando para residência em seu furor.
No fundo, Cristóvão sabia que as palavras de Igor eram verdadeiras, foi quando ele percebeu que ele era realmente uma boa pessoa de um grande coração, por um momento não quis tratá-lo como estava tratando, mas se perdesse o fio da meada, seria sua ruína. Mas Cristóvão sabia também, dentro de si, que ele não largou a vó por querer, mal se lembrava das coisas, pois só pensava na sua deprimente vida e como acabá-la.
“Certo.”, Cristóvão ri forçadamente. “Pode fazer quantas suposições e acusações sobre mim, no fim eu vim vê-la, não?”, inferia ele tentando contornar.
“Eu posso não te conhecer, mas sei que tem algo por trás da sua visita.”, respondeu Igor irascível. “E eu vou descobrir”, disse por fim.
“Certo, cada um com seus pecados, não é, Igor?”, comentou Cristóvão ironicamente. “Então cuida bem da minha vózinha, porque você vai me ver muito por aqui ainda.”, sussurrou Cristóvão indo até ele em seu ouvido e tocando em seu ombro e saindo do local sem Premeditar.
Por um instante de segundos, Igor sentiu um calafrio seguindo de uma corrente elétrica com o conjunto de sussurro e toque de Cristóvão, de tão cínico, deixou-o mais raivoso e intrigado com o garoto, sentia algo por ele, assim como Cristóvão sentiu algo com Igor, era além de rivalidade e de suas diferenças.
“Quando Hilda me falava do neto dela, raramente, me fez der a imagem de um garoto tímido e perdido, que poderia ser doce por dentro.”, murmurou Igor de costas para Cristóvão. “Agora só vejo um abutre nojento “, cochichou para o espanto de Cristóvão, que o deixou abalado, mas não fazia questão de respondê-lo, talvez até ele mesmo pensasse ser assim.
Cristóvão saiu da Casa de Repouso sem aviso prévio, apenas se foi. Igor ficou ali atrás do arbusto parado por uns minutos tentando processar tudo, temia e não parava de pensar em Cristóvão. Até que teve que sair andando vagarosamente pisando nas folhas pelo chão, tinha que explicar sua saída para Nazaré, algo bem aceito. E voltou para o quarto de Hilda, um pouco transtornado ainda.
“Como foi?”, questionou Hilda a Igor ao vê-lo.
“Foi normal.”, respondeu Igor lacônico. “Seu neto só queria me conhecer melhor.”, disse por fim evitando um interrogatório.
“Meu neto é um amor de pessoa, mas às vezes pode ser uma fera.”, cimentou Hilda se sentando na cama.
“É.”, suspirou Igor desatento.
“Vejo que vocês vão se dar muito bem.”, disse Hilda entusiasmada.
Igor nada disse após isso, não queria mentir ou falar algo à respeito. Apenas voltou a seu trabalho no resto das horas que tinha, os dias que se seguiram seriam realmente decisivos em muitas vidas.
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PS.: acabou que ficou muito maior que imaginava, então virou um capítulo pra mim.