Para algumas pessoas, a vida que eu levava era maravilhosa. Tinha casa, carro, uma família, comida na mesa, um ótimo emprego. Viajava anualmente de férias. Enfim, vivia uma ótima vida. Ou melhor, sobrevivia. Já que eu vivia uma completa farsa.
"- Você vai se casar sim, não tem querer nenhum !
- Mas eu não gosto dela papai !
- Não importa ,ela já é prometida a você e você vai casar com ela"
Ela, minha esposa Daniela, está em pé de guerra comigo a uns 3 meses. A verdade é que eu nunca gostei, nem do casamento e nem dela. Não era esse o meu gosto. Pena que eu nunca tive coragem de sair do armário, e permanecia sofrendo, quase que eternamente. Além disso, era infeliz no trabalho. A vida era muito corrida dentro daquele escritório, minhas folgas eram escassas, eu quase não tinha tempo para o meu filho.
"- André, o Gabriel está perguntando se você vai leva-lo ao piquenique- André sou eu, e Gabriel é o meu filho.
- Não posso Marina, estou ocupado !"
A qualquer momento eu iria suicidar-me pois já não via mais muito motivo para viver. Não podia ser eu mesmo, não conseguia curtir. Que merda ainda estou fazendo nesse mundo. Certo dia, o Sol caiu, a Lua apareceu. Peguei meu carro, coloquei meu material dentro e então sai da garagem. Caminhei pela rua, até que vou me aproximando de um canto mais escuro, em que ficavam muitos garotos de programa. Decidi fazer uma loucura. Fui bem devagar, olhei um a um, até que parei quando vi um garoto lindo, branco, olhos castanhos, cabelos lisos. Não parecia ser garoto de programa. Era bonito, bem vestido, era difícil acreditar que ele estava ali tentando conseguir dinheiro desta forma. De longe, manifestava uma cara triste, parecia que estava sendo obrigado a estar ali, sua cara era terrível, nao no sentido de feiura, mas na de sentimento, já cansado de um monte de humilhações. Mas apesar disso, podíamos notar uma beleza inumana. Sua pele branca parecia brilhar de tão intensa naquele luz. Ele tinha um ar inocente, parecia ser tão jovem. Definitivamente, seu perfil não combinava com um garoto de programa. Imediatamente senti uma imensa atração pelo garoto. Não algo excitante, mas sei lá, alvo atraente. Parei o carro ao seu lado e abri o vidro.
- EI Garoto ? - ao ouvir a minha voz, ele olhou pra mim. Arregalou os olhos ao me ver. Pareceu ficar nervoso.
- Você falou comigo ?
- Sim. Entra aí... - ele olhou para um lado, olhou pro outro, se encolheu, parecia não saber o que fazer - está com medo de mim ? - desci do carro e então caminhei até ele - definitivamente você não parece um garoto como esses ai - falei, fazendo ele olhar para mim e então para os garotos que estavam ao nosso lado, alguns travestidos, outros que de longe se percebia a má energia - vamos, vai ser legal - ele ergueu a cabeça, parecia assustado. Mas fez o que eu pedi. Entrou no carro e fechou a porta. Entrei no lado do motorista e também Fechei a porta. Durante alguns minutos, refleti o que eu tinha acabado de fazer. Era um homem casado. Apesar de detestar a minha vida e o meu casamento, eu ainda era casado. Será se é certo eu tentar desafogar a minha alma com um garoto de programa ?
- Aonde você vai me levar ? - que estranho ele perguntar isso . Geralmente os garotos sempre tinham na mente que iriam para o motel. Este garoto não deve ter muita experiência.
- Não sei. Gostaria de ir na praia ?
- Mas... - ele não entendeu. Então ele tinha alguma noção do que devia acontecer - você vai me pagar pra ir com você até a praia ?
- Claro né, se não eu não teria te tirado do seu lugar - falei, começando a andar pelas ruas da minha cidade
- Qual o seu nome ?
- Adryan.
- É daqui ?
- Sim, sou.
- Você não fica a muito tempo neste lugar não, não é ? Eu nunca havia te visto quando passei.
- Não, não fico - falou, olhando pela janela. Ele parecia nervoso. Não parava de se mexer, entrelaçava e soltava as Mãos a todo momento.
- Está nervoso ?
- Um pouco.
- Porquê ?
- Não... Não sei - falou, olhando para as Mãos. Não precisamos andar muito, a praia fica bem perto do local aonde ele ficava. Aquele horário, apesar de tarde, era movimentado, pois era fim de semana e as famílias costumam ir para a praia. Consequência, o perigo era bem pequeno. Entrei com o carro por uma entrada na areia, num canto mais afastado, tranquei as portas e fiquei olhando o movimento das águas. Ele tremeu ao ver eu trancar a porta - porquê me trouxe aqui ? E não... Bem... Você sabe ! - sorri.
- Não sei. Talvez eu queira paz. Apenas isso - falei, virando para ele - você é lindo ein ? - vi ele ficar extremamente vermelho ao ouvir aquilo. Definitivamente a experiência dele era muito curta. Parei, e fiquei reparando o seu look. Um moletom, uma calça jeans apertada, um tenis, um gorro. Um típico adolescente. Talvez por isso fosse tão difícil de acreditar que ele vivia naquela vida - faz quanto tempo que você faz isso da sua vida ? - ele ficou calado, não me respondeu nada. Porém, em alguns segundos alguma resposta veio. Em forma de lágrimas - EI, tá chorando ? Porquê ? - ele limpou os olhos com a borda do moletom, e então começou a contar-me sua saga.
- Eu nunca fiz isto antes moço... Nunca... Você é o primeiro homem que parou ali pra mim. Hoje é meu primeiro dia naquele ponto.
- Mas... O que houve ? Porquê você foi parar ali ? - perguntei.
- Eu tenho 17 anos - arregalei os olhos ao ouvir aquilo.
- Você é de menor ?
- Sou.
- E como deixaram você ficar ali ?
- Menti minha idade...
- Mas porque ? Porquê tudo isso ? Você é lindo, não deve precisar daquilo.
- Você é quem pensa... Bem... A minha história apesar de curta, é muito triste. Minha mãe era uma médica famosa. Contribuiu muito para a mediclina mundial. Conseguiu ganhar um bom dinheiro, ficar estável, casar-se, e ter um filho. No caso, eu... Nossa vida foi boa, até uma noite. Ela saiu para uma festa com as amigas, me deixou na casa da minha avó. Naquela festa ela conheceu o pior problema da sua vida, o crack. Sim, ela sabia os riscos que estaria se metendo, pois era médica. Mas estava bêbada, não sei. Acabou usando. Desde então sua vida só decaiu. Aos poucos passou a faltar o trabalho por causa do vício. Foi demitida. Não conseguia emprego novamente pois não conseguia mais impressionar com a sua aparência. Gastou o dinheiro que tinha guardado para manter seu vício. Aos poucos fomos empobrecendo, até que... Ela morreu a um mês atrás. Não deixou quase nada pra mim, ou melhor, um monte de dívidas foi o que ela deixou pra mim. Estou prestes a perder o meu apartamento, pois ainda está sendo financiado e não tenho como continuar a pagar o financiado. Procurei emprego, para com apenas o Ensino Médio ficou difícil. Foi a única alternativa que eu Achei, me tornar um garoto de programa, mesmo sem nenhuma intimidade. Era ao menos uma forma para que eu não morresse de fome. Eu... Eu não faço a mínima idéia do que devo fazer, eu nunca transei com alguém. Mas Achei que a minha beleza ajudaria, e com a prática acabaria pegando o jeito. Eu só quero sobreviver, só isso. Não tenho mais ninguém no mundo, e apesar de não ver mais nenhum motivo para viver, eu... Eu ainda sou muito jovem e posso ter uma vida. É isso que me dá força de vontade para aguentar essa situação - eu não sabia se ele estava mentindo ou falando a verdade. Mas que me comoveu... Comoveu muito. Quase me leva ao pranto. Foi só então que eu percebi que existiam pessoas com problemas bem piores que os meus. Os meus problemas eram de fácil resolução. Já os dele... Meu Deus, porquê ? Esse garoto lindo devia passar por algo tão duro.
- Você está morando aonde ?
- Ainda no apartamento. Mas logo eles tomarão ele de mim, e eu preciso ter um bom dinheiro até lá.
- Vamos lá, eu quero ver de perto.
- Mas...
- Vamos ! - falei, de forma meio que autoritária.
TEMPO DEPOIS
Obviamente que o garoto estava meio atordoado e sem entender.
- Porquê ?
- Porquê o que ?
- Porquê está fazendo isso ? Você não queria apenas ir pra cama ?
- Não né. Se eu quisesse apenas ir pra cama não teria ido pra praia com você. Teria te levado no primeiro motel que eu visse.
- Mas então... O que minha vida interessa pra você ?
- Eu quero ajudar você ! Eu não posso ?
- Ajudar como ?
- Eu... Eu não sei... Mas quero te ajudar. Você precisa de ajuda ! - falei, colocando minha mão sobre a dele, como uma forma de tentar lhe dar forças para continuar vivendo - eu... Eu não gosto muito da minha vida também - falei, fazendo a curva.
- Porquê ?
- Não consigo me assumir. Sou casado, tenho um filho. Vivo uma vida de mentiras. Mas... Vejo que meus problemas são fracos perto dos seus. Tenho que repensar um pouco mais sobre o que eu reclamo - falei, vendo ele se encolher no banco e agarrar suas pernas.
MINUTOS DEPOIS
O prédio era razoável. Ele abriu a porta do apartamento, e então eu pude conferir que ele não mentia. A casa estava quase vazia, pois a maioria das coisas ele havia vendido. Algumas coisas estavam em estado precário. Percebi que realmente a situação era séria.
- Você vive aqui ? - perguntei.
- Sobrevivo - falou, parando no meio do caminho
- Você aceitaria uma ajuda minha ?
- Que ajuda ? - tirei uns mil reias da carteira, e entreguei a ele - mil reais ? Pra que isso.
- Pra que você possa sustentar-se por alguns dias, sem precisar ir para aquele antro. Eu irei te ajudar. Eu prometo - falei, dando um abraço nele.
Continua
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