Cap.15
- O que ? - falamos nós dois.
- Eu ouvi no rádio ! A Guerra Acabou. A Alemanha assinou o armistício ! Vocês devem voltar.
- Mas... Porquê ?
- Porquê sim. Com certeza a mãe do Maurice vai querer se comunicar com ele, e ele estando aqui fica difícil.
- Mas...
- Façam Isso. Voltem para Juiz de Fora, vai ser melhor - nos olhamos.
TEMPO DEPOIS
Obviamente não imaginavamos que a guerra terminaria no meio do nosso passeio. Mas minha tia tinha razão, não era bom que continuassemos aquele passeio agora.
- Sabe qual é o meu maior medo ? - perguntei, sentindo o forte vento que soprava por todos os lados na janela do trem bater em meu rosto.
- Qual ?
- Que você tenha que voltar e... Esqueça de mim...
- Como eu esqueceria de você ? Se você é a maior paixão que eu já tive até hoje. Eu nunca irei esquecer você, não importa a circunstância que seja - falou, pegando levemente na minha mão.
Mas este realmente era meu maior medo. Depois de meses tendo a sua companhia, e dele estar ocupando o meu coração, a última coisa que eu queria que acontecesse era eu não poder mais te-lo por perto. E isso passou a me assombrar, já que se o motivo dele ter vindo ao Brasil por causa da Guerra, nada mais o segurava aqui. Ele teria que voltar para a França. E se isso acontecesse, eu não sei o que seria de mim.
HORAS DEPOIS
Poucos dias depois de termos partido dali, tivemos que voltar para o sítio antecipadamente. A Guerra havia acabado, e ele precisava entrar em contato com a sua mãe. Só Deus sabia o que aconteceria com ele, com nós, dali pra frente.
- Meninos, que bom que já voltaram - falou minha mãe , vendo Nós dois subirmos as escadas, com uma parte das bagagens nas mãos - Maurice, você precisa escrever a sua mãe.
- Eu sei Dona Cristina.
- Ela com certeza já deve ter mandado um telegrama, mas vai demorar até chegar. Escreva o quanto antes.
- Claro - falou. Eu fiquei muito triste, pois dentro da minha mente só se formava aquele cenário. Ele teria que ir embora. E eu não queria de forma alguma que ele fosse.
TEMPO DEPOIS
Apenas deixei minha bagagem no quarto, e corri para a beira do riacho, em busca do alívio.
- Porquê ? Logo agora... - logo no melhor momento ! No melhor momento da minha vida ! No melhor momento de nós como casal. A Guerra teve que acabar. "Ah Antônio, mas você está sendo egoísta, afinal uma guerra sempre é ruim" . Mas ela me tiraria ele. Eu não queria que ele fosse. Ele estava me fazendo tão feliz, ele não devia ir embora.
- EI ? - me virei e vi ele se aproximando - porquê está aqui ?
- Você vai ter que ir embora, não vai ?
- Não sei... Mas eu não quero ir embora.
- Mas e se sua mãe te obrigar ? - ele ficou calado. O abraçei - poxa, eu não quero que você vá. Não agora. Sei que no primeiro momento que você botar os pés lá, perderemos contato. Eu simplesmente não quero ser esquecido e nem esquecer você.
- Haja o que houver - falou, ainda agarrado ao meu corpo - aconteça o que acontecer eu não vou me esquecer de você. Não importa se nós passarmos anos sem se falar, eu ainda irei lembrar de você.
- Ainda irá gostar de mim ?
- Claro - falou, beijando o meu rosto.
DIAS DEPOIS
Não deu outra...
- Garotos ! - invadiu o meu quarto, enquanto eu e ele estudavamos Álgebra - Maurice, sua mãe mandou um telegrama - falou. Ele mais que rapidamente se levantou, abriu o envelope e tirou o papel. Leu algumas linhas, e eu aflito, com o coração na mão.
- E então ?
- Eu terei que voltar para Paris - meu coração quase parou naquele momento.
DIAS DEPOIS
Não teve como esconder, a última coisa que eu queria era que ele voltasse. Depois de toda uma história de amizade e companheirismo. Depois de uma paixão inesquecível, e dele ter me introduzido nessa coisa linda que é o amor, ele teria que me deixar. Ele não podia simplesmente enfrentar a mãe, ele dependia dela, e eu não o deixaria fazer algo assim. Era melhor que ele voltasse. Mas iria doer. Doer muito. Eu já havia me acostumado com ele, e principalmente, ele habitava totalmente o meu coração. Mas não houve o que eu pudesse fazer. Eu não podia simplesmente me matar, pedindo que ele ficasse. Ele teria que ir, e eu teria que ter maturidade para aguentar isso. Mesmo que doesse demais dentro de mim.
- EI ? - ele entrava dentro do meu quarto, num momento em que eu chorava, vendo cair uma forte chuva pela janela do meu quarto de manhã.
- O que foi Maurice ?
- Porquê está assim ?
- Porquê eu não queria deixar você - falei, sentindo logo em seguida o calor do seu abraço.
- Eu também não. Mas você sabe que eu não posso enfrentar a minha mãe, eu preciso dela pra viver.
- Eu sei. E nem eu quero que faça isso. Eu só.. Não queria te deixar... Eu não queria perder contato... Eu não quero perder os seus abraços e... O seu amor... Eu gosto muito de você
- Eu também... Mas eu prometo que vou continuar mantendo contato, mandando telegramas, eu não vou esquecer de você.
- Promete ? - perguntei, limpando os olhos.
- Prometo !
DIAS DEPOIS
Havia chegado o dia. A charrete já estava na porta, o navio ancorado no Rio, ele iria voltar para a França, e sair de perto de mim. Iria doer. Eu iria chorar e sentir sua falta, mas era o melhor a se fazer.
- Bem, eu já estou indo - falou, olhando para eu e minha mãe, ao meu olhar - Agradeço por toda a paciência e hospitalidade que demonstraram para mim. E por todas as alegrias que esses meses me proporcionaram.
- Eu que Agradeço Maurice. Foi uma honra recebe-lo - falou minha mãe - e se precisar, diga a ela que pode contar comigo.
- Pode deixar - e então ele olhou pra mim.
- Eu ajudo você - falei, pegando a outra bagagem, enquanto desciamos junto. Meus olhos marejaram. Estava doendo mais do que eu esperava - vou sentir muito a sua falta !
- Eu também - falou, enquanto eu limpava uma lágrima que já queria cair. Colocamos as bagagens na charrete, e então nos olhamos de frente. Ele me abraçou - eu te amo... - falou, me fazendo arregalar os olhos e aumentar a tristeza.
- Eu também ! - o soltei. Subi as escadas, de volta para perto da minha mãe, enquanto ele entrava na charrete. As lágrimas caíam ainda mais. Como eu estava triste com aquela dolorosa partida ! Ainda da janela, singelamente ele me mandou um beijo com as Mãos. Sorri. Durante os segundos em que a charrete partiu, todas as nossas lembranças voltaram a minha mente. As ruins, como quando ele falou algumas coisas ruins pra mim. As boas, como quando ele me salvou da morte, quando me roubou um beijo. Os felizes eram muito maiores. E agora ?
Continua
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