Existe uma hora certa? Quantas vezes ouvimos isso e até mesmo repassamos essa ilusão que um dia vamos estar preparados pra algo, sem saber se de fato estaremos? Ficamos naquela espera por um sinal ou um alento que nos mostre o que devemos fazer, deixando o tempo passar até que nos traga uma certeza, que quase sempre não vem. É comum aguardarmos estar preparados e seguros de algo para tomarmos uma decisão, mas aquele mesmo relógio na parede, que marca os segundos tão exatamente, nos dá o tempo que precisamos na medida que também nos faz perder o momento ideal. Porque assim como os minutos, a vida não pára pra gente decidir. É preciso saber a hora de esperar e a hora de agir. E não existe um despertador que irá te avisar quando é hora de arriscar ou quando é melhor aguardar. Faz parte nosso livre arbítrio, mesmo que isso nos cause algumas quedas e perdas, é só errando que se aprende. Só dando passos que se percorre o caminho. Só arriscando que iremos saber se fizemos certo ou não. Enquanto isso as horas correm, a vida voa e aquele momento que tanto se espera, já passou ou nunca chegará. E um dia se perceberá que ele sempre esteve dentro de nós e não onde se busca. O mais importante, é valer a pena.
Todo ano é a mesma coisa: aqueles feriados que emendam com outros dias e fazem a alegria da galera. Eu pra variar queria ficar em casa, assistindo uns filmes, quieto na minha. Missão quase impossível quando se tem uma amiga como a Letícia. Estávamos no apê no final de semana que antecedia o feriado e é claro que esse assunto caiu em pauta de discussão.
Eu, Leticia, Guto, Kadu e o Erick estávamos sentados no chão, devorando uma pizza grande, já na segunda garrafa de vinho, quando ela se manifestou:
- E aí gente, o que vamos fazer de bom nesse feriado?
- Essa época do ano nem é bom pra ir pra praia. Ta a maior friaca e a gente nem iria aproveitar.
O Kadu complementou, comendo mais uma fatia de pizza.
- É verdade. Praia com frio não tem nada a ver. E era o único lugar que eu tinha em mente.
A Letícia falou.
- Olha, a minha cidade não é tão longe daqui e no interior também tem coisas legais pra se fazer. A casa fica numa colina, com bastante verde e tem um riacho que corta a propriedade. No friozinho costuma ser aconchegante porque tem lareira, fogão a lenha.
O Guto falou.
- Mas e seus pais?
- Ah, eles sempre vão pra chácara dos meus avós nos feriados. É só avisar que vou lá com uns amigos e ta tranquilo. Só tem que arrumar a bagunça antes de ir embora.
Ele falou.
- Ah, eu acho uma ótima ideia.
A Letícia falou, já toda empolgada
- Eu também acho que pode ser bem legal. E assim eu conheço a sua cidade, né moreco?
O Kadu falou, dando um selinho rápido no Guto.
- Eu acho que vocês estão se esquecendo de um detalhe. E o Allan?
Eu perguntei.
- É, realmente ele iria junto. Porque eu me responsabilizei junto aos meus tios de fazer uma vigilância em cima. Ele ta se comportando super bem e tals, mas não me sentiria bem em deixar ele aqui o feriado todo sozinho.
O Guto falou.
- Eu acho super válido o Allan ir. Afinal, nessa fase de readaptação, ele tem estar com pessoas de bem do lado dele e todos nós nos dispusemos a ajudar. Se o Erick não se importar...
A Letícia falou.
- Vocês vão então. Eu e o Erick ficamos por aqui mesmo. Eu curto ficar de boa em casa e pra mim tanto faz.
- Não, Biel. A gente vai. Eu não me importo do Allan ir, não. Somos adultos, né?
O Erick falou.
- Bom, então vou avisar meus pais que a gente vai pra eles liberarem a casa. Levem roupa de frio, porque lá é gelado. Hahaha.
O Guto falou, estendendo a taça para que pudéssemos brindar com todos.
Quando a noite terminou, fui levar o Erick em casa e quando estacionei na frente do seu prédio, perguntei.
- Você tem certeza que é uma boa ideia?
- Ah, Biel. Não vou deixar de me divertir com você e com o resto por causa do seu ex namorado. Ele tem que entender que acabou e sei lá, mesmo sem a gente ter compromisso, não vou ficar evitando o cara. Ele que se acostume.
- Não sei por que, mas tenho a impressão que isso não vai dar certo. Concordo que ninguém deva fugir de situação alguma, mas evitar outras é diferente. Por mim, a gente fica aqui.
- Não, a gente vai. Ta certo, já.
Ele disse, me beijando em seguida.
Nos despedimos com um beijo que durou alguns minutos, mas que eu interrompi antes que virasse outra coisa e voltei pra casa.
Na quinta feira, estávamos todos prontos para pegar a estrada rumo ao interior. Nos dividimos em dois carros, três em cada e partimos. Depois de quase 4 horas de viagem, chegamos ao nosso destino. A casa ficava numa colina, bem próximo a uma montanha arborizada e fria. Havia uma serração que compunha o ambiente serrano e fiquei grato ao entrar na residência. A lareira estava acesa e o clima mais quente e acolhedor.
A casa tinha três quartos e obviamente, o Guto e o Kadu ficaram com a suíte principal. A Letícia se ofereceu para ficar com o Allan em um dos quartos, enquanto eu e o Erick ficávamos em outro. Desde que chegamos, havíamos trocado poucas palavras como um: “Oi, tudo bem?” e só. Até aquele momento, tudo estava estranhamente tranquilo.
Eu e a Letícia fomos providenciar o jantar, enquanto os outros ficaram na sala. O Guto, o Kadu e o Allan começaram a jogar um jogo de tabuleiro e o Erick ficou mexendo no celular. Jantamos todos e fomos deitar, pois todos estavam cansados da estrada. Tomei um banho e quando entrei no quarto, encontrei o Erick nu, deitado na cama.
- Que isso?
- Isso sou eu louco de tesão. Vem.
Ele falou, com a voz rouca de desejo.
- Ah não, Erick. Não dá pra fazer com esse monte de gente aqui. A gente ta justo no quarto do meio, vão acabar ouvindo e eu vou morrer de vergonha.
- Ninguém vai ouvir. Eu não vou gemer, prometo. Agora vem, que eu to morrendo de frio.
- Então veste uma roupa. Não vai rolar, Erick. Não vou conseguir assim. Não tem clima.
Eu disse, vestindo uma calça de moletom e deitando.
Ele veio pra cima e começou a me beijar, se esfregando no meu corpo, mas eu o afastei todas as vezes. Por fim, ele se irritou, se vestiu, virou pro lado e dormiu.
No dia seguinte, acordei e fui tomar uma ducha pra despertar. Estava frio e eu pus um casaco de moletom com gorro e fui fazer o café. Todos na casa ainda dormiam, exceto o Allan que estava deitado no sofá lendo um livro. Usava óculos de grau que eu nunca havia visto antes e parecia concentrado na leitura.
- Desde quando você usa óculos?
- Desde que eu tomei juízo. Eu tinha que usar desde sempre, mas eu acho que eu fico horrível de óculos, então não usava.
- Não fica horrível não.
Eu disse, sem sentir, fazendo ele abrir um sorriso.
Me arrependi em seguida e fui pra cozinha preparar o desjejum. Aos poucos todos foram acordando e depois que todos se alimentaram, fomos para a mata fazer uma trilha. O dia estava frio, mas ensolarado e depois de vários minutos de caminhada, chegamos até um pequeno riacho. O lugar era lindo, mas a agua era muito fria para entrar.
Estávamos andando entre as pedras, quando o Erick escorregou e torceu o pé. Praticamente o carreguei no colo de volta para casa, mas constatei que não tinha sido nada sério. Fui com o Guto até a cidade comprar uma tala e um anti-inflamatório e quando voltamos, imobilizei o tornozelo dele e dei a medicação.
Depois do almoço, todos ficaram entediados e resolveram ir para cidade passear, mas eu fiquei por causa do Erick. Acabei tirando um cochilo com ele a tarde e quando acordei, fui a cozinha tomar um copo de agua e encontrei o Allan, cheio de farinha, amassando uma massa numa bacia.
- O que você ta fazendo?
- Era pra ser surpresa.... mas, eu to tentando fazer um pão. Só que não ta dando certo.
- O que você colocou?
Eu perguntei.
Ele foi falando os ingredientes e vi que estava faltando os ovos. Acrescentamos e ele voltou a mexer na massa, misturando tudo.
- Você tem que sovar com mais força. Assim.
Eu disse, ficando atrás dele.
Estendi as minhas mãos e peguei as dele, apertando a massa e ensinando como fazia. Nossos dedos se entrelaçavam junto a massa, enquanto sentia o perfume do seu cabelo. Continuamos a sovar o pão juntos, até que ele pegou um pouco de farinha com o dedo e passou no meu nariz. Começamos uma guerra de farinha, entre gargalhadas e provocações, até que:
- Biel?
O Erick chamou, parado na sala e olhando para nós.
- Ah, oi. A gente te acordou?
- Não...
- O Allan inventou de fazer um pão, mas não tinha colocado os ovos e eu resolvi ajudar. O Pé ta melhor?
Eu perguntei.
Ele olhou para mim e depois para o Allan, que estava coberto de farinha e por fim sentou-se, sério, no sofá, colocando o pé pra cima.
- Ta um pouco dolorido, mas não é nada.
Ele disse.
Sentei-me ao lado dele e sorri, colocando a perna dele sob as minhas e verificando o inchaço do tornozelo. O resto do pessoal chegou e mais tarde comemos o pão, que ficou gostoso apesar da bagunça. Antes de dormir, tomei um banho e deitei, sentindo o Erick se aconchegar em mim. Quando estava quase pegando no sono, comecei a ouvir uns gemidos abafados e uns sons peculiares.
- Ta ouvindo?
O Erick perguntou.
- To. O Kadu e o Guto... São uns sem noção mesmo.
- São nada. Eles tão fazendo o que a gente deveria estar fazendo. Em falar nisso, olha como eu to.
Ele disse, esfregando o quadril no meu, fazendo com que eu sentisse seu pau duro roçando em mim.
- Erick, não...
- Não, por que? Eles tão transando do nosso lado e a gente não pode? Para de ser tão certinho, Biel. To com um tesão do caralho. Já é o segundo dia que não rola nada e você nunca foi de negar.
- Então por que eles estão transando, a gente tem que transar também? Transformar essa casa num motel, com a Leticia dormindo no quarto do lado? É isso?
- O problema não é a Leticia, né? Sabemos muito bem disso. Não quer me comer, não coma.
Ele disse, virando pro lado.
Fiquei deitado, olhando pro teto, pensativo e ainda tendo que escutar a sinfonia do Kadu e do Guto, que ainda durou alguns minutos. Quando a casa finalmente voltou a ficar no silêncio, peguei no sono.
No dia seguinte, levantei mais cedo como de praxe e fui fazer o café. Tomei um banho e quando voltei já estavam todos na mesa, menos a Leticia e o Allan. Fui até o quarto deles e bati de leve na porta, entrando em seguida. Ela estava sentada na cama, ao lado dele, afagando-lhe os cabelos.
- Vocês não vão vir tomar café?
- O Allan não ta legal.
- O que ele tem?
- Febre. Não passou bem durante a noite e acordou pior.
- Eu to bem.
Ele falou.
- Deixa eu ver.
Eu disse, me aproximando e colocando a mão na testa dele.
Realmente estava quente.
- Lê, vai lá e toma café junto com os outros. Depois traz alguma coisa pra ele comer. Eu fico aqui enquanto isso.
Eu disse.
Ela assentiu e foi. Me sentei na cama dela, mantendo uma distância dele.
- Não precisa ficar aqui, Biel. Eu to bem. É só minha garganta que ta doendo. Deve ser porque ta muito frio. Vai tomar café também.
- Eu já comi alguma coisa.
Eu disse.
Ficou um silêncio incomodo, até que percebi que ele estava tremendo.
- Por que você ta tremendo?
- To com frio.
Ele disse.
Me aproximei e joguei mais uma coberta por cima dele, sentando-me na beirada da cama. Ele deitou a cabeça no meu colo e se encolheu, fechando os olhos. Aos poucos foi parando de tremer, enquanto instintivamente meus dedos passeavam pelo seu cabelo. Ele não falava nada, nem eu. A Leticia voltou pro quarto com uma bandeja, mas ele havia adormecido. Ela colocou o café em cima da cama dela e sentou-se, olhando pra mim.
- Como ele ta?
- A garganta deve ta inflamada. Melhor ir na farmácia comprar uns remédios antes que piore.
- Verdade. Vamos antes do almoço.
Ela disse, abrindo um sorriso olhando pra mim.
- O que foi?
- Acho fofo vocês dois juntos, mesmo que seja assim.
- Nada a ver, Lê. Não viaja.
- É tão claro o seu carinho por ele, o jeito que você se preocupa, que você cuida dele o tempo todo. E ele olha pra você de uma forma tão apaixonada que chega a doer no peito. Eu acho que...
- Você não acha nada. Que mania de se meter na minha vida. Eu tenho um carinho enorme por ele sim e quero o bem dele, mas o que tínhamos acabou. Daqui a pouco ele encontra outra pessoa e eu to com o Erick.
- Simples, né? Você acha que pensando assim se resolve tudo.
- Sim e para com esse papo. Eu vou na farmácia. Você fica com ele, ta?
Eu disse, saindo da cama com cuidado para que ele não acordasse.
Aproveitei que o Guto e o Kadu iam na cidade, fui junto. O Erick estava com o tornozelo dolorido e preferiu ficar na casa. Voltamos rapidamente e eu dei a medicação a ele, forçando-o a comer um pouco do café, o qual ele não havia nem tocado. Durante a tarde, a febre cedeu, mas a noite, voltou com força total.
Estávamos na sala jogando o jogo de tabuleiro, quando a Leticia apareceu.
- Biel, a febre dele ta muito alta. Pus o termômetro agora e ta perto dos 40 graus. Acho melhor ele tomar um banho gelado. Pra abaixar rapidamente e aí dar mais remédio.
- Eu ajudo ele a tomar um banho.
O Guto se ofereceu.
Fomos até o quarto, mas quando propusemos o banho, ele negou veementemente.
- Não. Pelo amor de Deus, eu to morrendo de frio. Não vou aguentar ficar debaixo de um chuveiro gelado, ainda mais nessa friaca que é aqui.
- É pro seu bem, Allan.
- Não. Por favor!
- Eu entro com você. Você vai se sentir melhor.
O Guto falou.
Ele abaixou a cabeça e pensou por alguns minutos.
- Ta bom. Se não tem jeito... Mas eu prefiro que o Biel entre comigo. Eu já to mais acostumado com ele.
Ele disse, fazendo com que ficasse um silêncio no quarto.
Olhei para o Guto e para Leticia, que fizeram um gesto com a cabeça para eu aceitar.
- Tudo bem. Eu te ajudo no banho.
Eu respondi.
...Continua
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Opa Galera,
Espero que tenham gostado desse capitulo. A continuação dessa parte, já está disponível lá no blog: www.bielsabatini.wordpress.com . Quero agradecer a participação de todos no blog e eu to muito feliz. Espero por todos vocês lá, já que é onde eu respondo individualmente.
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