SEXO E CARNIFICINA - Parte FINAL
Israella cansou de estar vendo, apreensiva, os telejornais. Em todos eles, só se falava do trágico final da invasão do condomínio de luxo, por bandos de marginais. Mais de sessenta mortes de pessoas inocentes. Quase o mesmo tanto de mortes de bandidos fichados pela polícia. Entre eles, vários chefes de gangues. Mas não se falava se Virgulino e seus amigos estavam entre os sobreviventes. O coração da moça estava em frangalhos. Torcia para que o amado estivesse vivo. Resolveu fazer uma faxina no modesto, mas bem arrumado, apartamento. Isso serviria para distraí-la um pouco.
Começou pela estante da sala. Retirou todos os papéis de dentro para em seguida classificá-los. Ia lendo tudo que encontrava, até que deparou-se com um envelope de tamanho médio, sem nenhuma anotação. Curiosa, abriu-o. E soltou um grito de terror e surpresa, ao ver o seu conteúdo.
- Ai, meu Deus. Foi ele. FOI ELE, JESUS CRISTO. Todo esse tempo eu amei o assassino do meu padrasto. Agora sei porque ele sempre me ajudou: para amenizar o sentimento de culpa por ter assassinado o homem que sempre cuidou de mim!
Israella caiu num pranto incontido. Chorou de pena de si mesma. Depois, chorou de ódio por ter amado o assassino de um ente querido. Então, enxugou as lágrimas e jurou vingança. Procurou pela casa e encontrou uma arma artesanal. Tratava-se de uma pequena besta de fabricação caseira. Fácil de armar. Fácil de atirar. Então, percebeu que a seta era embebida de um líquido escuro e fedorento. Veneno. Era tudo o que precisava para acertar as contas com o homem que a enganara aquele tempo todo. Por isso ele evitava demonstrar carinho para com ela - pensou resoluta. Ela estava morrendo. A AIDS a destruía por dentro. Mas não morreria em vão. Levaria junto consigo o homem que matou o seu padrasto.
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Mariana já não se aguentava mais de tanto gozar. Quando a japonesa não estava chupando-lhe o grelo de forma magistral, levando-a facilmente ao gozo, Virgulino alimentava sua boceta encharcada de tesão ou seu cu ávido por rola. Ansiava a peia dele, enorme e inchada. Pediu uma pausa, quase desmaiando de tanto prazer. Agarrou-se ao jovem, beijando-o freneticamente nos lábios. Estava toda se tremendo. O ferimento no flanco voltou a sangrar.
- Vejam o que fizeram comigo, seus tarados.
Akito levantou-se languidamente, espreguiçando-se como uma gata e desapareceu em um dos cômodos da casa. Voltou com gazes limpas e um kit de primeiros socorros. Cuidou do ferimento, enquanto o rapaz acarinhava a jornalista e policial.
- Onde estamos? Esta não é a casa da sua amiga nipônica que eu localizei depois de escapar ferida do condomínio...
- Ela tem vários apartamentos espalhados pelo Recife.
- Na verdade, tenho vários esconderijos espalhados por todo o Brasil - falou a japonesa.
- Você chupa maravilhosamente bem. Quem é você?
- Seu amigo irá dizer, no devido tempo. Basta saber que não sou sua inimiga.
- Agora me lembro. Você é uma espiã. A Polícia Federal tem acompanhado teus passos, mas ainda não havíamos recebido a ordem de interceptá-la. Eu mesma, tenho tua ficha incompleta em meu computador.
Akito não disse nada. Terminou de colocar as ataduras no ferimento da policial e entregou-lhe um quimono limpo. Virgulino puxou suavemente a amiga pela mão, levando-a para a varanda, longe dos ouvidos do soldado Araújo e do nissei. Então, começou a falar como tinha conhecido a japonesa. Mariana escutou-o, atenta.
Enquanto isso, a japonesa retirou a mordaça do nissei. Este cuspiu em seu rosto. Ela limpou o cuspe sem se alterar. Depois, disse a ele:
- Tudo que lhe contei sobre o seu suposto pai e sobre sua mãe é verdade. Gostaria de entender por que você traiu seus amigos, mas não vou contrariar a decisão de Virgulino. Ele me disse que não lhe guarda rancor e pediu-me para libertá-lo. No entanto, só o farei depois que estivermos longe daqui.
- Tem como provar que está me dizendo a verdade, piranha?
- Sim. Eu tenho várias fotografias de tua mãe com contigo, ainda bebê. Tenho os documentos que serviram para tua mãe adotiva te registrar. Tenho os documentos originais usados para te matricular na escola. Tenho fotos do teu verdadeiro pai estando ao lado tua mãe. Na verdade, tenho tudo que diz respeito a ti, pois venho te monitorando a vida toda à distância. A pedido de tua mãe.
- Ela, realmente, ainda é viva?
- É, sim. E espera por você no Japão.
O soldado Araújo se esforçou para ser ouvido. João pediu que ela lhe tirasse a mordaça, mesmo a contragosto da japonesa.
- Mate essa mulher e nós te pagamos o dobro do que foi prometido - disse o militar para o nissei.
- Você não está em condições de negociar. Tua vida não vale um centavo furado. Não depois do que fez com à jornalista e aos moradores do condomínio.
- Meus superiores vão me libertar, vaca amarela. Nem que tenham que pagar resgate por mim...
A japonesa levantou-se e caminhou até um aparelho de TV. Ligou-o, sem pronunciar uma só palavra. Imediatamente, apareceu a imagem do coronel do Exército, sendo acusado, entre outras coisas, de tráfico de armas e envolvimento com as gangues que invadiram o condomínio de luxo. O tenente também fora preso por contrabando e assassinato. Estava sendo acusado por sua própria irmã, que sobrevivera à chacina. O dossiê deixado pela japonesa no outro apartamento elucidava todo tipo de crime praticados pelos militares corruptos. A polícia dizia estar à procura do soldado, acusado de vários homicídios, inclusive da chacina acontecida no condomínio fechado. Araújo gelou, quando viu as notícias.
- Vamos fazer um acordo - disse Mariana ao voltar para a sala, dirigindo-se a Akito.
- E qual seria?
- Deixo você ir, levando quem quiser. Menos esse desgraçado que me estuprou e matou vários inocentes. Mas terá de me dar uma lista completa de todos os esconderijos que tem usado no Brasil.
- Não posso fazer isso. Seria morta pela máfia japonesa, para não por em risco a identidade de outros mafiosos que agem neste país.
- Então, não haverá acordo - disse Mariana, depois de olhar fixamente para a nipônica.
A japonesa baixou a cabeça tristemente. Pediu que ela reconsiderasse, mas a jornalista-policial estava irredutível. Então, a japonesa fez um gesto, como se batesse palmas. Não se sabe de onde, apareceram três nipônicos carrancudos, armados de pistolas e metralhadoras. Mariana arregalou os olhos, surpresa. Tentou escapulir da sala, mas Virgulino a impediu. Lutou contra ele, em vão.
- Pare. Eu não vou deixar que lhe façam nenhum mal - disse o jovem.
Mariana, finalmente, aquiesceu. Os nipônicos saíram da posição de defesa. Akito entregou uma espada a ela.
- Os prisioneiros são seus. Faça deles o que quiser. Esses senhores darão sumiço aos corpos.
- Não. Eu não quero morrer - aperreou-se João, ainda amarrado.
- Virgulino. Perdoe-me. Eu não queria trair vocês. Mas estou desempregado, cheio de dívidas e precisando de grana.
- Pare de choramingar, seu frouxo. Morra como homem - resmungou o soldado Araújo.
- Não, eu não quero morrer. E eu tinha motivos para trair você, Virgulino...
- Tinha? - espantou-se o jovem - pois me diga quais?
- Eu... odiava você. Mas você não tinha como saber disso. Você conquistou, primeiro, a mulher que eu amava: a irmã do tenente. Aquela que me chupava todos os dias, até conhecer você.
- E por que não mo disse? Eu a teria deixado com você.
- E depois, teve Israella. Eu sei que foi você quem matou o padrasto dela!
Os três nipônicos se entreolharam, muito sérios. Depois, olharam para Akito. Interrogaram-na com o olhar.
- Do quê você está falando? Eu não matei o padrasto dela.
- Todos comentavam isso, apesar de não o dizerem a você. Que motivo você teria para ajudar uma moribunda aidética, senão a consciência pesada?
Os japoneses continuavam olhando desconfiados e de maneira interrogativa para Akito. Essa assentiu com a cabeça.
- Façam-no.
Um dos japoneses jogou uma espada para Virgulino. Este a apanhou em pleno ar, num ato reflexo.
- Ei, que merda está acontecendo? Para que esta espada?
- Defenda-se - disse secamente um dos nipônicos.
Virgulino olhou para Akito, ainda tentando entender o porquê de tudo aquilo, mas ela continuou impassível. O nipônico ergueu a espada acima da cabeça e soltou um grito terrível, partindo para o ataque. Virgulino aperreou-se. Nunca manejara uma lâmina como aquela. Mas esquivou-se do primeiro ataque do japonês. Preparava-se para reprimir a próxima investida do sujeito, quando o inesperado aconteceu: com três golpes rápidos, ao ponto de não poderem ser acompanhados pelo olho humano, Akito interviu no combate. O sujeito que atacava Virgulino foi rasgado ao meio. O que estava armado de metralhadora teve o pescoço decepado por um golpe. O outro, que estava mais distante do grupo, foi o último a cair. Tinha os olhos esbugalhados quando finalmente descobriu:
- Você, cadela. Procuramos o tempo todo por alguém que estava bem na nossa frente - o corte que recebera na testa começou a verter sangue - Você matou nosso companheiro da Yakuza.
O homem revirou os olhos e finalmente caiu. A cabeça abriu em duas partes, depois do talho finíssimo da lâmina. Mariana estava embasbacada com o que vira: quase não percebeu a japonesa tomar-lhe a espada das mãos e atacar os próprios companheiros. Só saiu do seu assombro quando sentiu sangue espirrar-lhe o rosto. Virgulino também estava estupefato. Aliás, todos no recinto não tinham palavras para explicar a velocidade e precisão dos golpes desferidos pela nipônica.
- Que porra foi isso? - perguntou finalmente Virgulino.
- Desculpe, amor. Eu precisava distraí-los - disse a mulher.
- Puta que pariu! Eu nunca me senti tão perto da morte, caralho!
- Por que você fez isso? Por que matou seus próprios companheiros?
- É uma longa história. Eles não podiam sobreviver depois de saberem a verdade - falou a japonesa.
- Foi você quem matou o padrasto de Israella, e não Virgulino! - quase gritou João.
- Também deve ter sido você que matou meu pai, sua puta desgraçada! - vociferou o soldado Araújo.
Akito devolveu a espada ensanguentada para Mariana. Abraçou-se a Virgulino, se tremendo toda.
- Temi que não sobrevivesse ao primeiro golpe dele, amor - beijou-o com paixão.
- Para que esta espada? - perguntou Mariana.
- Eu sei que você está querendo muito usá-la. Faça como quiser. Depois, deixe as coisas de um jeito que incrimine o soldado pelas mortes dos meus homens.
- E... E quanto a mim? - perguntou o nissei.
- Decida se vai conosco ou se fica.
- Eu vou. Eu vou com vocês.
- Mas, se colocar novamente a vida do meu homem em risco, juro que eu mesma mato você! - prometeu a nipônica - Agora, vamos embora.
Virgulino libertou o amigo, se despediu de Mariana com um leve beijo nos lábios e se prepararam para ir embora.
- Não tenho medo de você, puta, nem vou implorar por minha vida - Virgulino ouviu o soldado enfrentando a policial-jornalista.
Pouco depois, quando desciam a escada, ouviu-se um grito medonho e demorado. Virgulino e seus companheiros pararam, arrepiados. Um vizinho também gritou alto, exigindo silêncio, já que se tratava de altas horas da madrugada. O grito arrastado foi morrendo na goela do soldado, até silenciar totalmente. Virgulino perguntou à nipônica:
- O que acha que aconteceu lá?
Akito deu um sorriso safado. Depois, divertiu-se numa gargalhada gostosa. Só então respondeu:
- Tua amiga não é como eu. Pelo visto, detesta cu de macho.
- Não entendi - Virgulino e o nissei disseram ao mesmo tempo.
- Pois vou desenhar: o soldado acaba de ter uma espada todinha enterrada cu adentro. Uma morte de causar-me arrepio. De prazer, claro. Adoraria foder um macho desse jeito, com minha espada. Espetar-lhe o cu até vê-la saindo-lhe pela goela!
Virgulino e o nissei engoliram em seco. Que mulher perigosa - pensaram.
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Cerca de meia hora depois, Virgulino descia do carro da nipônica. Disse para ela e pro amigo:
- Não vou me demorar. Deixo as chaves do apartamento para Israella, despeço-me dela e seguimos para o aeroporto.
- Volte logo, amor. Não podemos perder nosso voo.
Israella estava cochilando, sentada no sofá da sala, de besta na mão. Assustou-se, quando ouviu a chave girar no trinco. Empertigou-se imediatamente, apontando a arma para a porta. Quando Virgulino acendeu a luz, espantou-se com a expressão de ódio estampado no rosto da bela morena.
- Oi, sou eu. Pode relaxar - disse o jovem, sorrindo.
Aí, ouviu-se um ruído seco e Virgulino sentiu o metal penetrar-lhe o peito. Reconheceu a besta. Era a que usava tingida de curare, um veneno poderosíssimo.
- Eu descobri. Descobri toda a verdade. Você me enganou por todos esses anos. FOI VOCÊ QUEM MATOU MEU PADRASTO, SEU CACHORRO. E eu o amava. Amava-o mais do que minha mãe o amava. Por isso, quis morrer com ele. Por isso, deixei que me infectasse. Eu menti. Ele não me estuprou. Eu cedi a ele porque o amava. Quase o obriguei a transar comigo. Eu odiava minha mãe por se aproveitar dele, sem amá-lo. Aquela puta nunca gostou de homem. Nem mesmo do meu pai verdadeiro.
Virgulino viu as fotografias do padrasto de Israella espalhadas pelo chão. Percebeu que seu pranto era sincero. Maldisse o dia em que teve pena dela, passando a ajudá-la financeiramente. Nunca a amara, é bem verdade. Mas nutria um carinho especial por ela. Aí, começou a sentir os espasmos de dor. Sentia também um enjoo terrível. Era o veneno fazendo efeito. A voz de Israella, agora já quase inaudível, ainda descarregava ódio. Mas, aos poucos, a dor no peito foi passando e os sons foram ficando cada vez mais distantes.
- Maldita prostituta burra. Nem deu tempo para que eu lhe explicasse. Porra, eu odeio mesmo putas, de todo coração - foi o último pensamento de Virgulino, antes de tudo escurecer em sua volta.
E P Í L O G O
Nem bem Virgulino havia descido do carro, Akito teve uma sensação estranha, como se fosse um pressentimento. Pediu que João permanecesse no veículo e seguiu atrás do amado, de pistola em punho. Ouviu os gritos raivosos de Israella e apressou os passos. Quando viu o rapaz caído no chão, não teve dúvidas: atirou várias vezes contra a mulher, acertando em cheio sua cabeça. A bela morena aidética morreu sem saber o que a tinha atingido. Mais que depressa, a japonesa pôs o ouvido no peito do amado. Seu coração ainda batia. A flecha não havia atingido o órgão vital. Mas algo estava errado. Ele, apesar de imóvel, espumava pela boca. Então, ela entendeu que o petardo continha veneno. Correu de volta ao carro e voltou com uma pequena valise negra. Retirou dela uma seringa e três ampolas. Misturou os conteúdos e injetou tudo no peito do jovem. Depois, sentou-se ao seu lado e esperou pacientemente que o composto fizesse efeito. Sabia que tinha chegado a tempo de salvá-lo. Perderia o voo, mas não a vida de Virgulino. Ficou imaginando como seria viver com o amado, quando fossem morar no Japão...
FIM DA SÉRIE