Cap.4
Meus olhos arregalaram no mesmo momento que vi aquilo.
- EI ?
- Hum - ele remexeu o olhar, porém logo fechou os olhos de novo
- Você está bem ?
- Tô sonolento... E com fome...
- Você não comeu ? - ele mexeu a cabeça, negando - então vamos até a sua casa. Eu faço alguma coisa para você comer e aí você pode dormir...
- Não... - ele abriu os olhos - você não pode entrar na minha casa !
- Porquê não ? Eu não irei fazer nada demais, apenas irei te ajudar...
- Mas... Eu posso ir sozinho ! - falou, tentando se levantar. Porém, em seguida ele perdeu o equilíbrio. Só não caiu porquê como sempre eu estava atento e o segurei - não precisa me segurar... Eu posso ir !
- Deixe de ser teimoso garoto ! Eu estou te oferecendo ajuda e você está recusando. Tanto você quanto eu sabemos que você não está bem ! - falei, fazendo ele voltar e sentar-se novamente no ponto.
- Desculpa... - mais uma vez o ônibus passou, porém dessa vez nós não o pegamos - mas é que eu não gosto de estranhos andando pela minha casa...
- Por favor não é ? O que eu poderia fazer ? Somos vizinhos, acho que já deu pra você perceber que eu não sou um maníaco. Além do mais, eu não sou um estranho. Você sabe o meu nome, onde eu moro, e estuda no meu colégio que eu... - ele parou, pareceu pensar e então falou.
- Tens razão. Obrigado por ajudar, mais uma vez... - o ajudei a levantar, e viemos caminhando até a casa dele. Eu não sabia porquê ele estava mal esses dias ? Será se ele estava doente de alguma coisa mais séria ? Chegamos na porta, ele abriu, e nós entramos. Trancou novamente a porta. O ajudei a caminhar até o sofá. Chegamos, ele sentou lá. Mal ele chegou, se escorou no sofá. Ele parecia realmente cansado.
- Posso usar sua cozinha ?
- Hai ! - me levantei, e então olhei aquela casa. Era tão sem vida. A decoração era triste, não via muitas fotos, fora que estava um pouco bagunçada.
- Porquê está tão bagunçado aqui ?
- Eu não tenho paciência para arrumar, e a empregada só vem aqui uma vez por semana.
- Mas tem que arrumar. Ou você prefere viver na bagunça ? - assim que lembrei, vi um livro jogado no chão. O ajuntei, era um drama - porquê está lendo esse tipo de livro ?
- Para me deixar melancólico, talvez - realmente ele era um pouco estranho. Coloquei o livro sobre a mesa de centro, e então caminhei até a cozinha. Uma das coisas que mais estranhei era que não havia nada que remetesse a uma família. Não haviam retratos de família. Não havia nada que remetesse aos seus pais naquela casa. Fui até a cozinha, e durante este tempo, procurava criar uma teoria sobre o que se passava com ele, e porquê ele estava Mal daquela forma. Olhei os armários, e a geladeira, e decidi fazer um sanduíche. Peguei o pão, cortei, coloquei o recheio, Fechei. Vi que tinha suco na geladeira. Coloquei num copo e levei para ele. Quando cheguei lá, percebi que ele estava pálido.
- EI ? - mexi nele, e então ele se remexeu - come um pouco - falei. Ele pegou o sanduíche e o suco, e começou a comer.
- Arigato, Gustavo-San ! - parei para observar a sua feição por alguns segundos, e percebi que algumas olheiras circulavam os seus olhos.
- O que está acontecendo com você ?
- Como assim ?
- Você... Bem... Está morto de sono... Parece estar emagrecendo... Está pálido ? É anoréxico por acaso ? - ele sorriu.
- Não... É só que eu fui dormir tarde ontem e aí acordei com sono. E... Bem... Eu não sinto vontade de comer quando estou em casa, então não como...
- Mas... Isso tem um motivo ? - ele não respondeu - Olha... Pelo que vejo você não tem muitos amigos... Nem na sua turma...
- Anda me espionando é ?
- Óbvio que não... Eu só... Te observo... - ele ficou me olhando por alguns segundos sem falar nada, e então voltou a comer - eu posso ser seu amigo... Eu quero ser seu amigo ! - falei, agora olhando em seus olhos.
- Porquê você quer ser meu amigo ? Ser amigo de um garoto anti-social, sem amigos ?
- Bem... Somos vizinhos e... Eu acho que você tem algum motivo para ser assim... Fechado para as pessoas - ele parou e então me olhou por alguns segundos - que foi ?
- Você é a primeira pessoa que diz isso... - falou, em seguida olhando para o chão - a maioria das pessoas apenas diz que eu me acho e sou estranho.
- Uma coisa fofa como você não tem nada de estranho - arregalei os olhos em seguida, pois essa frase involuntária não devia ter saído. Porém ele não falou nada. Apenas esboçou um sorriso de canto enquanto terminava de comer. Colocou o copo e o prato sobre a mesa, e então respirou fundo.
- Obrigado, Gustavo-San... Por me ajudar e... Fazer eu me sentir melhor... - ri.
- Não... Não foi nada - olhei em seus olhos, e ele olhava nos meus.
- Suponho eu que você não pode voltar para casa...
- Não. Meus avós iriam me perguntar o porquê de ter voltado, e iriam averiguar para saber se é verdade...
- Então... Você pode ficar comigo no quarto por um tempo ? - se ele soubesse o duplo sentido que essa frase tem no português... - tem vídeo game, TV a cabo e internet no quarto.
- Tá bem... Vamos
MINUTOS DEPOIS
Ele realmente precisava de um bom sono, já que logo estava conseguindo andar novamente. Acho que consegui quebrar uma barreira dentro do seu coração, já que ele deixou eu entrar dentro do quarto dele. A dias atrás ele nem falava comigo.
- Como eu estou com sono - falou, se jogando na cama.
- Eu posso dormir também ? - perguntei, colocando a mochila num canto.
- Pode... Mas se não quiser tem um monte de coisas para você mexer. Mas não tire nada do lugar, por favor... - o quarto dele era amplo, parecia ser o maior da casa. Tinha uma enorme cama de casal. Três pessoas dormiam tranquilamente ali. Me deitei ao lado dele, ainda acanhado pois estava tão perto dele... Ele se virou, pude olhar o seu rosto. Como alguém pode continuar lindo mesmo com sono ? Eu não entendia isso... Mas ele continuava. Com sono mesmo, ele continuava lindo. Fiquei apenas o observando por alguns minutos. Será se eu tenho alguma chance ?
Continua
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