Oi galera! To muito feliz pelo apoio de vocês, de verdade. Aos leitores novos, espero que vocês gostem da trama, vai ter muuuitas emoções. E aos antigos, obrigado por me acompanharem até aqui, isso é incrível. Eu venho do site romance gay e agradeço as boas vindas. Segue abaixo o segundo capitulo do conto.
____________________
- Eduardo? Você atrasado? Que milagre é esse, filho?
- é, eu sei. Desculpa, diretor.
- aproveite então e leve o Felipe até a sala de vocês. E cuidado com os atrasos, crianças.
Eu ainda estou surpreso por vê-lo, e percebo que ele também. Seu olho está num roxo gritante, e eu sinto muito por ele. Assino o caderno de atrasos logo abaixo de onde ele também escreveu. Ele tem a letra muito bonita.
- como tá o olho? – pergunto de modo tranquilo, tentando puxar algum assunto.
- tá uma merda. – ele responde divertido, sorrindo e me fazendo sorrir.
- sinto muito. – eu digo ainda com uma pontada de culpa.
- não sinta. Aquilo foi o máximo.
- é, eu queria ter ajudado, mas eu meio que travei.
- isso não é o tipo de coisa que acontece aqui, ne?
- mais ou menos. Comigo nunca tinha acontecido.
- lá na minha cidade, é normal. Por isso eu sempre ando com alguma coisa pra me defender.
- qual é a sua cidade?
- Porto Alegre. Conhece? – seu tom sarcástico era ao mesmo tempo brincalhão.
- já ouvi falar. – tento soar igualmente cômico, mas sem sucesso. – quero me mudar pra la no ano que vem. O que fez você se mudar de uma cidade como aquela, pra vir pra uma como essa? – o ênfase na última palavra deixou bem claro o quão diferente as duas são, em tudo.
- não por minha opção. Eu vim pra cá com a minha família. Meu pai recebeu uma promoção no emprego e teve que vir pra cá.
- você chegou quando?
- ontem.
- E já foi recebido com um olho roxo. Seja bem vindo.
Ambos de nós rimos, enquanto paramos na porta da sala. Ao abri-la, todos imediatamente param o que estavam fazendo. Felipe certamente chamou o dobro de atenção: por ser novo, e por ter um olho roxo bastante chamativo. Sinto por ele de novo. Vamos até a professora Gilda, de matemática, para entregarmos a segunda via do papel de atraso, e me sento em minha carteira. Havia uma carteira vazia ao meu lado, onde Felipe se senta, claramente com vergonha por roubar a atenção.
A aula prosseguiu normalmente até o segundo período, onde apresentei meu trabalho para o professor Guedes. No terceiro período, educação física. Eu torcia para essa aula acontecer só na sexta feira, e ainda se possível que o professor faltasse. Mas não se pode evitar o inevitável. André, nosso professor, logo nos coordena em um círculo para nos aquecermos. Fazemos alguns exercícios, e então ele joga a bola de vôlei para uma de nossas colegas.
- vôlei misto. Façam times.
Depois de fazermos o que foi pedido, ele prossegue.
- as interséries são daqui a um mês. Vamos praticar desde agora. Quero que cada um dê seu máximo, e mesmo que não gostem ou não levem jeito pra coisa – e ele olha diretamente pra mim – eu quero que pelo menos tentem.
Realmente vou tentar. Tentar não acertar a bola em ninguém. Sou péssimo em esportes. Assim que André apita para o início de jogo percebo que Felipe está no mesmo time que o meu. Ao dar o saque, me espanto. Ele realmente sabe jogar. Com um movimento aparentemente sem esforço e certeiro, a bola atravessou a quadra. E então, o jogo começa. Tento me manter o mais distante possível da bola. O pior é quando precisei ficar na rede. Minha defesa e nada eram a mesma coisa. Mas pelo menos estava tentando. De vez em quando eu olhava para Felipe, e percebia que ele via meu desespero. Eu sinalizava bandeira branca, e ele ria.
No fim da aula, enquanto arrumava minhas coisas, ele toca meu braço, me chamando.
- ei.
- oi.
- você ta com pressa de ir pra casa?
- não, por que?
- quero te mostrar uma coisa.
Então ele me guia até onde me parece ser o ginásio. Quando chego, afirmo meu palpite.
- o que estamos fazendo no ginásio?
- quero te mostrar algo.
Ao entrarmos, os matérias de educação física ainda estão lá. A rede ainda está armada. Ele pega a bola, se aproxima de mim e me alcança-a.
- toma.
- pra que?
- vamos treinar seu reflexo. Mas sem ninguém por perto.
Eu continuo confuso. Pra que isso? Como se ele lesse meus pensamentos, responde:
- as interséries estão chegando, e eu percebi, com todo o respeito, que você é péssimo nos esportes. – ele parece mesmo estar se divertindo com isso. – então, pra te ajudar e poupar a mim ou a qualquer pessoa de se machucar seriamente nesse jogo, quero te ensinar a jogar.
Solto um riso bobo em resposta, não sabendo o que dizer.
- e então? – ele estica a mão novamente, para me dar a bola.
- tudo bem. – acho que estou um pouco envergonhado. Passar vergonha em público não é minha atividade favorita. Justamente por isso que tento me manter o mais longe possível de atividades que eu possa me sair mal.
Ando pela quadra até a ponta, no lugar do saque, e arrisco minha primeira tentativa. Como era de se esperar, isso sair ridículo. Felipe sufoca um riso.
- acho que já deu, Felipe. Eu não sei nada dessa merda. E tá tudo bem. Eu nem quero saber.
- ei, ei. Calma. Não precisa ter vergonha. Vem aqui.
Ele se aproxima de mim e pega a bola, parando do meu lado.
- é só fazer um movimento certeiro. Não precisa dar um tapa com muita força, é só ter pontaria.
E então, ele saca. Ele sabe como se faz.
- tenta de novo.
- não sei não...
- anda, deixa de ser mole.
Tomo isso como um desafio, e tento de novo, mas me afobo e acabo errando novamente.
- tem que ter firmeza, Edu. Vem cá.
Então, ele me passa a bola, e me posiciona da maneira certa. Ele está parado um pouco atrás de mim, do meu lado, me instruindo e me mostrando com o toque de suas mãos. Meu coração bate mais forte. “O que?” Penso pra mim mesmo.
- acho que se você sacar por baixo, vai ser mais fácil.
Então ele me mostra como. Ao invés de dar o tapa na bola no ar, você da um soco nela por baixo. Tento reproduzir e vejo resultado. Eu sorrio, vibrando de alegria. Ele também fica feliz por meu progresso.
- muito bem. É só praticar, e você vai estar pronto pro jogo.
- valeu. – eu agradeço e sorrio um pouco sem jeito.
Enquanto estamos saindo pela porta da escola, ele me pergunta.
- Edu. Você trabalha lá no restaurante só durante a noite?
- isso.
- inclusive nos sábados?
- sim. Porque?
Então ele parece um pouco sem jeito. Demora um pouco pra responder.
- eu não conheço a cidade ainda, e então eu pensei se você poderia me mostrar.
As palavras saem quase como um sussurro, e eu reprimo um riso.
- claro. Pode ser no sábado? Eu teria mais tempo de te mostrar tudo.
- perfeito.
Fica um silêncio um pouco desconfortável por uns segundos, mas que pareceram bem mais que isso. Então, nos despedimos e seguimos nossos caminhos. Sigo para casa absorto em meus pensamentos. Estou sentindo algo diferente. Um frio na barriga, mas no bom sentido. Nunca senti isso antes. Um sorriso bobo aparece em meu rosto, e eu me sinto uma criança.
Finais de semana para mim são o ápice do luxo. Poder dormir sem despertador é divino. Mas hoje era diferente. Não podia me atrasar. Marquei com Felipe de encontrá-lo as 10h em frente a escola. Me levanto animado, paro em frente ao guarda roupa e fico alguns minutos tentando escolher uma roupa que não parecesse nem exagero, nem desleixo. Enfim opto por uma camisa em gola V de mangas compridas cinza claro e uma calça jeans escura. Vou para o banho e de repente, sinto vontade de cantar. Eu estou realmente animado. Saio do banho e visto minha roupa. Arremango a camisa de forma que a deixa mais despojada, e arrumo meu cabelo. Desço as escadas e, aproveitando que não havia ninguém em casa, ligo o rádio enquanto preparo meu café. Coincidentemente as musicas que tocam no meu pen drive coincidem com meu humor. Preparo um sanduíche de atum e tomate picado e um copo de suco de laranja. Envio uma mensagem para Felipe.
“Ei olho roxo, já estou saindo de casa.”
Logo depois ele responde.
“Ei, não zombe da minha condição. E aliás, ele está melhorando. Estou saindo de casa agora também. Te encontro lá.”
Desligo o rádio e sigo para o ponto de ônibus.
Ao chegar no centro, apresso meus passos para a escola. Ao chegar, ele já estava sentado na calçada, me esperando. Ao me ver, solta um sorriso que ilumina seu rosto. Ele vestia uma camiseta de mangas curtas preta e uma calça jeans claro.
- ei.
- ei. Tudo bem?
- ansioso pra conhecer a cidade.
Decido levá-lo ao Parque da Lagoa. Não ficava muito longe dali, uns 8 quarteirões talvez. Ao chegarmos, posso notar que ele se encanta. O parque é realmente lindo. Um gramado verde vivo, que mais parecia grama artificial, se espalhava por toda sua extensão, apenas dando espaço para a lagoa relativamente pequena de água límpida, que era rodeada de ipês amarelos. Na beira do lago havia também uma fileira de bancos de madeira e alguns postes rústicos de iluminação que os intercalava, deixando tudo ainda mais bonito. Quando dou por mim, estamos ambos contemplando o lugar.
- é lindo, né? – interrompo seus pensamentos.
- muito. Digo, eu tinha visto que a cidade era linda, pelo pouco que vi, mas isso é... Uau.
- de nada. – respondo fingindo imodéstia.
Então, ele me olha, revirando os olhos, e me da um soco teatral no braço.
Caminhamos por mais um tempo pelo lugar até que decidimos sentar na beira do lago. Havia um movimento moderado de pessoas, em sua maioria praticando exercícios na pista de corrida, do outro lado da água.
- você sempre morou aqui? – desta vez, ele quem me tira de meus devaneios
- sim, eu nasci aqui. Na verdade, nunca sai da cidade.
Percebo então que ele reprime um riso.
- o que foi?
- nada não.
- fala, Felipe.
- é só meio engraçado você nunca ter saído daqui, e querer se mudar pra uma cidade dez vezes maior do que a que você vive. Na verdade, isso é insano.
- é, eu sei. Meus pais já cansaram de me dizer isso também. Mas eu quero muito isso. Pelo menos, quero tentar.
- você quer se mudar pra lá pra fazer faculdade?
- sim. Quer dizer, esse é meu principal motivo, mas quero estar em uma cidade com mais oportunidades. Não me vejo crescendo de maneira alguma aqui.
- qual curso?
- gastronomia.
- uau. Temos um chef aqui então?
Solto um riso de vergonha.
- posso dizer que sim. Pelo menos eu tento.
Um pequeno silêncio se estabelece entre nós. Felipe me analisa por alguns segundos e então observa a água enquanto o sol bate em seu rosto, refletindo seu olho um pouco mais claro. Eu tento não olhar tanto, mas não consigo. Decido olhar o horizonte um pouco também.
Engraçado, estando com ele me livrando de um assalto ou simplesmente não fazendo absolutamente nada, como estamos agora, parece tão... certo.
- ei olho roxo. Tem mais lugares pra te mostrar. Vamos?
- demorou.
Então, seguimos para a velha estação de trem. Estava ficando um pouco frio, e eu não trouxe casaco, mas a caminhada me aquecera um pouco. Ao chegarmos, logo avisto uma das vistas mais lindas da cidade. A estação fica em um ponto alto da cidade, onde se tem uma vista privilegiada dos morros no horizonte, bem atrás dos prédios em sua maioria antigos, porém preservados. Consigo ver o restaurante daqui. O prédio da estação estava em ruínas, mas havia crescido alguma vegetação por cima, fazendo um misto espetacular.
- que lugar incrível, Edu.
Felipe gira em seu calcanhar, olhando em sua volta, maravilhado. Estava começando a me sentir um ótimo guia.
- tenho medo de demolirem esse lugar. Estão começando a construir prédios novos, e acho que a localização aqui é ótima. Eles não perderiam tempo, nem dinheiro.
- é uma pena. O charme da cidade são os prédios antigos.
A essa altura, ventava forte, me fazendo ter calafrios. Estamos sentados na beira da estação, com as pernas pendendo pra baixo, em direção aos trilhos.
- você não me contou quase nada sobre você. Como é a sua família?
- hum, minha família? Bom, meu pai acabou de ser promovido a gerente geral do banco aqui da cidade. Lá em Porto Alegre ele era apenas gerente empresarial. Minha mãe é advogada, e tá preparando as coisas pra montar seu escritório aqui.
- você é filho único?
- não. Tenho dois irmãos. O mais novo, Pedro, tem 10 anos. E a mais velha, Lívia, tem 23. Ela mora em São Paulo.
- e como é Porto Alegre? Digo, eu já vi por fotos e tudo, mas como é lá de verdade?
Ele da um sorriso de canto, e levanta a cabeça pra cima tentando formar uma linha de raciocínio.
- Porto Alegre é uma cidade ótima pra viver. Eu amo lá. Confesso que vou sentir saudades. Lá tem tudo o que você precisa. Mas é bem cinzento também, e como toda metrópole, existe caos, perigo e tudo mais. Mas pra mim, as coisas boas superam as ruins.
- você pode visitar sempre lá. Creio que você tenha amigos lá. É uma boa desculpa pra ir matar a saudade da cidade.
- é eu sei, mas eu acho que não são amigos que eu visitaria.
- por que não?
- existem vários tipos de amizade, Edu. E são poucas as do tipo que você procura depois que vai embora.
Sinto uma certa melancolia em suas palavras. Será que ele era como eu, sem muito contato social? Bem, ele não parecia ser assim.
- então, o tipo de amigos que você tinha era só de curtição. – isso nem soa como uma insinuação, e sim como uma afirmação.
- mais ou menos isso. A gente acha que tem amigos, mas na hora que precisa, eles não estão disponíveis pra você.
Decido afastar a nuvem de melancolia que havia firmado em cima de sua cabeça.
- ainda tem um lugar que eu preciso que você veja. É um pouco longe, mas vale a pena. Vamos?
- claro.
Realmente, o lugar era longe. Pegamos um ônibus que ia até a parte rural da cidade, e caminhamos mais quinze minutos. Era uma trilha meio densa, mas já podíamos ouvir o barulho dela. Ao chegarmos, lá estava. Uma suntuosa cachoeira de mais ou menos 10 metros, descendo uma grande quantidade de água constante, que fazia seu percurso em um caminho sinuoso de perder de vista. O verde das árvores davam o toque final, somado ao som da água misturado com os pássaros em uma sinfonia perfeita. A sensação de paz era incrível.
- aqui é meu lugar preferido da cidade. Meu ponto de paz.
Felipe não fala nada, apenas admirando a vista. Ele chega até a borda da água, coloca sua mão dentro, e faz uma careta.
- tá muito fria.
- é sempre assim. Mas como tá frio, acho que piora.
Então, ele me olha como alguém está pedindo pra ler sua mente.
- o que foi?
Ele aponta pra água.
- ah não.
- sim.
- nem pensar.
- vamos Edu!
- nem fodendo. Olha o frio que tá.
- deixa de ser mole!
Essa palavra me deixava fora do sério. Eu não era mole.
- isso é um desafio?
- pode apostar que sim.
Isso acabou de ficar pessoal. Tiro minha camiseta, e logo meus mamilos endurecem. Em seguida, tiro minha calça e minhas meias. Fico com a mão na frente da cueca, pois sinto uma pontada de vergonha. Vendo que eu estava realmente falado sério, ele da um sorriso incrédulo, enquanto começa a tirar sua camiseta. Seu corpo é perfeito. A pele branca com pelos escuros na linha do umbigo que desaparecem através da cueca levemente a mostra. Uma leve onda de calor percorre meu corpo. Acho que começo a me arrepender de entrar nessa ideia. Então, ele tira a calça, revelando uma cueca boxer azul escuro. Ele gesticula para eu fazer as honras, e eu nego com a cabeça.
- ao mesmo tempo.
- Ok, no
No 3, eu finjo que pulo mas recuo, e ele cai na água em um movimento épico, fazendo um barulho na água e logo depois soltando um urro de frio.
- filho da puta!
Começo a rir sem parar.
- que frio! – continua seu protesto.
- e então? Qual a sensação de tomar banho de cachoeira pra você?
- maravilhosa. – diz ele batendo o queixo. – me ajuda aqui, deixa eu sair logo antes que eu pegue um resfriado.
Seu tom era sério, então vou até a borda pixar-lhe pelo braço. Quando encosto em seu braço, ele faz um movimento brusco, me puxando pra dentro da água. O frio chega a doer. Quando volto a superfície, vejo ele rindo ainda mais de mim do que eu fiz antes.
- isso não tem graça. – tento fingir aborrecimento, mas estou louco pra rir.
- deixa disso, Eduardo. Curte a água. Lava a alma.
E por incrível que pareça, não estava mais tão frio. Começo a nadar, mergulhar e boiar na água. A sensação é ótima.
Fiquei lá pelo que me pareceram horas. Meus dedos já estavam enrugados.
- Felipe?
- oi?
- acho que eu preciso ir. Daqui a pouco já anoitece, e eu tenho que ir pro trabalho.
Percebo que sua expressão se entristece.
- vamos lá então.
Nos secamos no sol, enquanto colocamos nossa roupa de volta.
- então, gostou?
- tá brincando? Foi ótimo. Obrigado.
Acho que coro um pouco.
- por nada.
Estamos na cidade de volta. Os cabelos ainda um pouco molhados do banho de cachoeira. Já havia anoitecido, mas ainda tinha um tempinho. Felipe me conta suas aventuras em Porto Alegre enquanto andamos pela rua de paralelepípedos perto da escola. Um barulho de briga me chama a atenção, me fazendo tentar ver de onde vinha.
- merda, é meu pai.
- o que? Onde?
- no bar, ali na frente.