O CRIME DOS VIEIRA DE MELO - Parte 05
Quando Ana de Faria chegou de volta à casa grande, ainda era madrugada. Mas logo começaria o clarear do dia. As escravas que trabalhavam na moenda já estavam dormindo, algumas em catres improvisados de madeira e palha de coqueiro, outras acomodadas no chão de barro batido. Ana amarrou as rédeas da égua num lugar qualquer, onde ficavam presos os bois de tração, e dirigiu-se sorrateiramente para a residência. Encontrou a porta da frente trancada, coisa que nunca costumava estar. Estranhou, mas não deu muita importância ao fato. Arrodeou a casa e tentou entrar pela porta de trás. Também fechada. Então, ela apavorou-se. Como iria explicar aos pais a sua chegada àquela hora, ou mesmo que estava fora de casa? Aí, ouviu alguém chamá-la baixinho, de uma das janelas do primeiro andar da enorme construção.
Era uma das empregadas que flagrara espiando seus pais fodendo. Esta pôs o dedo na boca, pedindo que Ana não fizesse barulho. Depois, afastou-se da janela. Quando voltou, jogou uma corda improvisada feita de lençóis, uns amarrados aos outros. A outra escrava juntou-se a ela e ambas içaram Ana de Faria, que alcançou a janela dependurada nos panos. Agradeceu às duas em voz baixa e perguntou o que estava acontecendo. Chamaram-na para o seu próprio quarto. Só então, explicaram à sinhazinha:
- A minha senhora e sua mãe a viu sair no meio da noite, puxando a égua. Ainda estávamos brechando os dois no quarto, quando ela alertou o nosso sinhô. Estão bravos com a sinhazinha. Ainda esperaram um tempo para ver se vosmecê voltava, mas depois se recolheram ao dormitório - disse uma das escravas.
- É melhor que a sinhazinha tenha uma boa desculpa - reiterou a outra - pois a senhora sua mãe pediu-nos que fechássemos todas as portas, de modo a sinhazinha não poder entrar. Por sorte, para fecharmos as portas, tínhamos que estar dentro da casa. Não podíamos ir para a senzala. Então, ela pediu que a gente dormisse no quarto da sinhazinha.
Ana de Faria gelou. Havia sido descoberta. Tinha que inventar uma ótima desculpa, senão seu pai a colocaria de castigo e não poderia voltar a ver o moço por quem se julgava apaixonada.
- Que a sinhazinha me perdoe, mas estou curiosa para saber o que fazia lá fora tão tarde da noite. Eu e minha irmã ficamos preocupadas. Quase descemos pela corda de pano e fomos à procura de vosmecê - disse a mais velha das duas escravas, que aparentava mais idade do que seus doze anos.
Depois de pensar um pouco, Ana de Faria resolveu-se a se abrir com elas. Achou que podia contar com ambas para amenizar sua situação junto aos pais. Então, contou que havia conhecido um moço bonito e que havia ido se encontrar com ele. Ele falava bonito e ela ficara tão encantada com suas palavras que perdera a hora de voltar. As meninas olhavam para a sinhazinha com aquele jeitinho de sonhadoras, como se elas é quem estivessem apaixonadas. Mas Ana de Faria não deu mais detalhes do encontro. Só quando uma delas sentiu seu cheiro de flores e ervas e perguntou com o que ela tinha se banhado. Aí, a moça tomou novo susto. Esquecera que havia se banhado depois do coito, e que ele lhe passara novamente aquela pasta perfumada.
- Olhem, eu quero que vocês façam um favor para mim - disse Ana, tendo uma ideia - mas tem que ser rápidas no ir e vir.
As duas balançaram a cabeça afirmativamente, antes da moça continuar:
- Vão até a beira do rio e falem com o moço. Digam que eu estarei de castigo e não poderei voltar lá por uns dias, até meu pai ir de novo para a comarca de Olinda. Mas não esqueçam de pedir a ele o pote dessa pasta perfumada com a qual eu me banhei. Porém, vão num pé e voltem no outro! Não podem chegar depois que meus pais acordarem.
- E qual desculpa a sinhazinha vai dar a eles? - perguntou a mais nova.
- Vocês dirão que, depois que meus pais dormiram, me viram voltar. Digam a eles que acham que eu faço coisas dormindo. Pensarão que eu tenho aquela doença chamada... sonambulismo.
- Sonamboquê, sinhazinha? - espantaram-se ambas.
- Não importa - respondeu rapidamente a moça, falando baixinho, para que ninguém fora do quarto a ouvisse - basta dizer que me viram dormindo sentada na sela. Que a égua é que me trouxe de volta para casa. Mas vão depressa que o tempo urge! E saiam pela frente, mesmo. Preciso que façam barulho ao abrir a pesada porta.
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Pouco depois que as duas saíram da casa grande e correram a pé pela estrada de barro em direção ao rio, Ana ouviu sua mãe chamá-la, após bater com os nós dos dedos na porta. A moça não respondeu. Quando a matrona entrou no quarto, encontrou-a de olhos bem abertos, sentada na cama. A senhora quase gritava, quando perguntou:
- O que a senhorita estava fazendo até essa hora, fora de casa?
Ana de Faria não respondeu. Ficou lá, sentada, olhando para o nada, como uma alienista. Continuou impassível, quando a mãe repetiu a pergunta. Então, seu pai invadiu o quarto com sua temível chibata na mão. Costumava bater com ela em escravas rebeldes e Ana já apanhara dele algumas vezes, por conta de desobediências. Ele pegou-a pelos ombros e balançou-a rudemente.
- Diga o que foi fazer ao sereno, tarde da noite! - rugiu o homem.
Só então, Ana tirou do rosto aquela expressão vazia, que conseguira fingir muito bem. Agiu como se tivesse acordado de um pesadelo naquele instante. Começou a chorar. Temia, realmente, que seu pai fosse espancá-la com o pequeno chicote. Ele e sua mãe se entreolharam, espantado. A moça chorava convulsivamente e até soluçava. A robusta senhora abraçou-se a ela, condoída. Estava convencida que a filha estava doente da cabeça. Acalentou-a, dizendo que ela havia tido um passamento, mas que logo estaria bem. O homem, sem entender o que estava se passando, olhava intrigado para as duas. A esposa pediu-lhe um copo de água. Ele gritou por uma das escravas. Como ninguém respondeu, perguntou para a mulher:
- Onde estão as duas escravas que deixamos aqui no quarto? Não deviam estar dentro da casa?
Devem ter voltado para a senzala - respondeu-lhe a senhora - acordei com o barulho da pesada porta de entrada sendo aberta.
O homem bufou, mas saiu do quarto a procura de água. Voltou com uma cabaça cheia, que a esposa deu para Ana tomar em goles parcos. A moça bebeu demoradamente e, finalmente, falou:
- Eu fui buscar um pote com a seiva perfumada, que ganhei de um mascate, como disse ontem. Havia-o deixado perto do rio, onde me banhei, antes da égua fugir de mim. Lembro que cochilei na sela a caminho de lá. Depois não me recordo mais de nada...
- E por que sair altas horas da noite? Me explique - ralhou o pai, sem acreditar na história que a filha contava.
- Eu não conseguia dormir com o barulho de vosmecês, vindo do outro quarto.
Os pais de Ana se entreolharam. Depois baixaram a cabeça, envergonhados. Perceberam que a filha ouvia todo o alarde do casal fodendo. O homem pareceu abrandar sua fúria. Sentou-se na cama e beijou a filha na testa, pedindo desculpas. Esteve um tempo com ela, depois chamou a esposa para saírem do quarto e deixá-la descansar. Pouco depois, na sala enorme da casa, conversava com a robusta senhora:
- Eu sempre desconfiei que nossa filha nos ouvia, e que Deus nos perdoe. Acha que ela está doente por nossa causa? - perguntou preocupado.
- Não tenho nem ideia, meu senhor e marido. Precisamos chamar um médico para examiná-la. Porém, não podemos fazer alarde disso, já que ela está prometida ao filho do nosso arrendador, o senhor Bernardo Vieira.
- Tem razão - concordou o homem - vai que ele desista de casar nossa filha como o prometido e não poderemos pagar a dívida que temos com ele.
- Nem quero pensar nisso. Estaríamos na miséria - disse a esposa - acho melhor nem procurarmos um médico por ora. Sabe como é esse povo. Vai que o doutor dê com a língua nos dentes...
Francisco de Souza concordou com um resmungo. Depois sentou-se numa cadeira da sala e ficou pensativo. A mulher pediu para que voltassem ao quarto. Ele nem ouviu. Estava preocupado com o estado mental da filha, mas muito mais apreensivo pela possibilidade de não poder pagar sua dívida com os Vieira. Conversava com a esposa só o bastante sobre finanças e negócios. Nunca dissera que estavam mais falidos do que ela imaginava. Não devia só aos Vieira de Melo. Uma meia dúzia de comerciantes o tinham na mão.
- Malditos mascates* - disse entredentes, sem se importar que a mulher o ouvisse.
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As duas escravas estavam esbaforidas, da longa corrida a pé, quando avistaram a fogueira quase se apagando, à beira do rio. Entreolharam-se, mostrando os dentes num sorriso malicioso. É que haviam decidido, a caminho dali, que iriam tirar proveito da situação. Também haviam ficado excitadas ao espiarem o casal de senhores copulando. Costumavam, depois de brechá-los, fazer sexo oral entre as duas. No entanto, nenhuma delas havia tido um amante masculino. Na verdade, não davam corja para os escravos da senzala, achando que trabalhar na casa grande lhes dava maior status. Ambas pensavam um dia seduzir o dono do engenho, até gerando um filho dele. Isso facilitaria a vida delas como escravas. Teriam regalias que as outras escravas não tinham. Mas Francisco de Souza nunca lhes dera a devida atenção. Não que fossem feias. Tinham certeza de que tinham corpos carnudos, embora tivessem tão pouca idade que os seios ainda nem estavam crescidos. Se engravidassem do moço, seriam recompensadas por dar mais um escravinho para o senhor seu dono.
Foi pensando nisso que ambas se aproximaram pé ante pé do jovem adormecido, cansado dos momentos de sexo que tivera até há pouco. João Paes Barreto ainda estava nu pois aprendera, desde garoto, a acostumar o corpo às temperaturas adversas. Fazia-o como os escravos, que muitas vezes nem tinham agasalhos para dormir. Despertou com uma boca quente lhe chupando- o pau. Levantou-se de um pulo, assustado por ter duas negras, ao mesmo tempo, lambendo seu cacete. Uma estava beijando-lhe toda a extensão da vara, enquanto a outra sugava a glande. Ele sentira as bocas delas, ainda em madorna, mas acreditava estar sonhando. Quase berrou:
- Que diabos é isso? De onde vocês saíram, assombrações? Valei-me meu Senhor e bom Deus!
As duas escravas riram. Tinham desejo nos olhos. Estavam ajoelhadas frente ao jovem, tendo seu caralho a menos de trinta centímetros de suas faces. A mais velha das duas falou maliciosamente:
- Somos espíritos da mata e viemos lhe dar um recado. Mas vosmecê terá de pagar o favor com sexo. Meta esse pau enorme em nossas bocetas e ficará sabendo de sua amada - falou com voz soturna, imitando uma suposta entidade do além.
- Cruz, credo. Jesus, Maria e José. Afastem-se de mim, criaturas do Inferno! - Ainda estava apavorado, o jovem.
João Paes ainda não acordara de todo. Acreditava que estava tendo um pesadelo. Mas logo caiu em si.
- Deixe de se fazer de besta e diga a que veio, escrava.
A mocinha sorriu. Mudou o tom de voz, mas sem perder o sorriso sacana. Explicou que a sinhazinha estava em apuros, mas mudou drasticamente o recado de sua ama:
- A sinhazinha que esteve com o moço está de castigo e não vai poder vê-lo tão cedo. Ficará trancada na casa até que o meu senhor e dono viaje de novo para a comarca de Olinda - disse a escrava em bom português, pois viera de uma colônia lusa na África.
- Mas pediu por tudo que há de mais sagrado que o sinhozinho nos emprenhasse, pois só assim teremos as graças do seu pai e nosso sinhô e dono - completou a outra, também rindo maliciosamente.
- Como assim? - não entendeu o jovem - o que isso tem haver?
- Nós duas estava de olho na sinhazinha, a pedido da nossa senhora, mas deixamos ela sair às escondidas. Vamos para o tronco, por causa disso. Porém, se provarmos que o sinhozinho copulou com nós, haverá jeito de ter bucho. Isso dará mais escravos para posses do nosso senhor - mentiu descaradamente a outra, que não falava tão bem a língua.
O jovem esteve olhando para as duas, desconfiado. Não acreditava em uma só palavra do que estavam dizendo. Não era preconceituoso com escravos e já havia fodido algumas de sua propriedade. Olhou melhor para a mais velha, pois a outra não lhe despertava tesão. Era gordinha, e ele preferia donzelas formosas, como a sinhazinha Ana. E foi justamente a de corpo mais atraente, percebendo o olhar dele lhe percorrendo o busto, que falou:
- Temos, também, que levar o pote com a seiva cheirosa que o sinhozinho deu para a sinhazinha, pois será a prova de que o encontramos.
O jovem espantou-se. Até então, não punha fé no que as escravas falavam, mas não era possível que soubessem da seiva e do local onde encontrá-lo, se a sinhazinha não tivesse dito.
- E se eu não fizer o que me pedem?
As duas se entreolharam indecisas. Não esperavam por essa atitude dele. Baixaram os olhos, tristes. A gorducha se ajoelhou perante ele, de mãos postas.
- Por favor, sinhô. Não queremos levar chibatadas. Nem, também, perder nosso lugar na casa grande. Faremos de tudo pro modo dá ao sinhozinho o mior prazê.
- Está bem. Vão se banhar. Vou fazer o que me pedem. Mas, se eu descobrir que estão me enganando, juro pela alma da minha mãe que eu mesmo dou uma surra de chicote nas duas.
Elas nem deixaram ele terminar a frase. Correram rindo alto para dentro do rio, tirando as roupas simples que vestiam. Quando voltaram para perto do jovem, seus corpos brilhavam à luz da fogueira. A água respingando delas faziam esse efeito. Aí, o moço percebeu uma coisa peculiar: ambas não tinham quase vestígios de pelos púbicos. Eram raspadinhas como crianças. O cacete de João Paes deu um pulo. Claro que elas perceberam. Correram para ele e beijaram seu corpo desnudo, uma de cada lado. O rapaz fechou os olhos, ao sentir o arrepio. Desceram com a boca, ao mesmo tempo, até tocar-lhe o pênis. Mamaram com gosto, uma de cada lado da vara, quase fazendo o jovem gozar. Mas, aí, lembraram-se de que deviam voltar logo para a casa grande. Então, viraram-se ao mesmo tempo, de costas para ele, ambas de quatro.
- O sinhozinho deve escolher em quem quer meter primeiro - disse a mais velha.
- Eu me contento que me coma a bunda - falou a gordinha - não faço questão de dar um bruguelo pro meu sinhô e dono.
O moço decidiu-se logo. A gordinha tinha a bunda grande e seu buraquinho minúsculo lhe dava mais tesão. Lubrificou a pica com cuspe e apontou para o cu dela. No entanto, teve dificuldades em penetrá-la. Pediu que ela relaxasse e permitisse a invasão, mas não houve jeito. Ela choramingava a cada investida dele. A outra pediu que ele tentasse o seu buraquinho, mas o jovem também não conseguiu penetrá-la.
- Vocês duas são virgens?
- Sim, meu sinhozinho. Nossos corpos nunca conheceram homem - respondeu a mais nova.
Ele pareceu frustrado. Mas depois ergueu-se de trás das duas e caminhou até seu alforje. Retirou de lá um pequeno recipiente de barro, tampado, e despejou um pouco no pênis. Depois voltou e postou-se ajoelhado, de novo, por trás delas.
- O que foi isso que o sinhô foi buscá? Vosmecê me dá o direito de saber?
Ele se ajeitou melhor rente à bunda da escrava e respondeu:
- Azeite de dendê, que busquei lá pros lados da Bahia.
- E pra que serve esse azeite? - quis saber a mais formosa.
- Para preparar comida, como ensina os pretos baianos. Dá um sabor especial.
- E vai gastar essa preciosidade no meu cu, sinhozinho?
- E cu não é comida? - respondeu ele, untando o buraquinho de cada uma delas com o que sobrou nas mãos do líquido escorregadio.
João Paes Barreto não disse mais nada. Pegou a gordinha pelas ancas e empurrou firmemente o cacete. Ela gemeu, mas o mastro entrou facilmente no ânus dela. Macio, como faca na manteiga. Mas retirou-o quase que imediatamente, apontando-o agora para o cu da outra. Ela ajeitou-se melhor para recebê-lo. Sorriu maravilhada, ao não sentir quase a dor da penetração. Ele ficou revezando as investidas. Ora penetrava uma, ora a outra, que gemiam admiradas com a gostosa sensação da pica escorregadia. O jovem não tinha pressa. Sabia que logo teriam gozado e ele procuraria chegar ao orgasmo ao mesmo tempo que elas.
FIM DA QUINTA PARTE
* MASCATES foi o nome dado no Brasil aos mercadores ambulantes e vendedores de "porta a porta", também chamados de “turcos da prestação”. A origem do termo "mascate" vem do árabe El-Matrac , o vocábulo usado para designar os portugueses que, auxiliados pelos libaneses cristãos, tomaram a cidade de Mascate (no atual Omã) em 1507, levando mercadorias.