CAPÍTULO 6 – E MAIS BRIGAS
Eu pensei que Sabrina tinha sido idiota apenas por estar bêbada ou algo do tipo, e pensei que as vinte e cinco ligações perdidas depois no outro dia quase à tarde, quando acordei com o Miguelzinho ainda agarrado ao meu peito eram por algum pedido de desculpas. Tentei não me mexer muito ao acordar, e também não me levantei pois sabia que Miguel acabaria acordando, mas não deu muito certo e minutos depois ele estava acordado e surpreso por estar na cama comigo.
— Que cara é essa? — Perguntei rindo.
— Nada, é que.... Eu dormi mesmo com você? Tipo sério? — Ele perguntou confuso. Vai ver tinha pensado ser um sonho.
Concordei com a cabeça rindo e beijei sua testa, me levantei e fui em direção ao banheiro e fui seguido até a porta por um Miguel meio estupefato atrás de mim.
— Achei que ou eu estaria sonhando ou que você se arrependeria e me deixaria sozinho. — Ele disse na porta.
— Mesmo se eu quisesse, acho que você me agarrou forte o suficiente para inviabilizar isso. — Gritei lá de dentro sorridente e tentando conter a vontade de sair saltitando como um menino com um novo brinquedo. Não que eu visse Miguel como um brinquedo qualquer...
— Mas de toda forma eu estou com medo sabe.... Acho que erramos em fazer aquilo! E a Sabrina? — Ele disse meio preocupado enquanto eu saia do banheiro após ter feito minha higiene matinal e dando lugar a ele. Então peguei o telefone do bolso, mostrei a ele e disse:
— Vamos resolver isso agora!
Busquei o número de Sabrina na agenda, acho engraçado que nas épocas atuais não decoramos mais o número de ninguém, acho que nos acostumamos a ter tudo gerenciado pelo telefone. Dos poucos números que sei são os da família, como o da minha mãe e meu pai, o do meu irmão mais velho e o de Miguel! Ele manteve o mesmo número desde o primeiro celular, então tive um bom tempo para decorá-lo (na verdade eu decorei no primeiro dia que ele me passou mesmo). Mas de Sabrina, bem, estávamos juntos não fazia nem mesmo um ano...
Ela demorou atender mas parecia irritada quando o fez.
— Hey Sabrina. Como vai? — Não encontrei jeito melhor de iniciar a conversa dessa vez.
— Nem começa Maurício! Não depois de praticamente me expulsar de casa...
— Para Sa, você estava alterada e... — Tentei dizer.
— E nada Maurício! O Miguel é quem deve ter gostado, não é? Aquele falso! — Ela disse com ódio escrachado.
— NÃO FALA ASSIM DO MIGUELZINHO. — Esbravejei! E porque eu começara a chamar ele de Miguelzinho de novo? Lembrei de como o chamava às vezes na infância quando queria que ele fizesse algo por mim, como buscar o lanche na cozinha.
— MIGUELZINHO!!? Porra Maurício, agora fica difícil não achar que você está virando veado! — Gritou uma Sabrina irreconhecível do outro lado da linha. Eu queria morrer por ter ouvido aquilo.
— É Sabrina, acho que você está certa mesmo. Talvez eu tenha “virado” veado mesmo — fiz ênfase pois não acredito que alguém vire gay — e também acho que você deveria ter terminado comigo. Mas como não o fez, eu faço o serviço por nós dois. Acabou! Não vou deixar você insultar meu amigo de infância assim não!
Ela ficou muda no telefone por um bom tempo, e não tendo resposta desliguei o telefone. Ele toca imediatamente após eu desligar. É ela novamente.
— Fala Sabrina! — Disse seco.
— Desculpa Maurício, eu não devia ter feito aquilo. Acho que estamos nos precipitando. — Ela disse, mas para mim não fora convincente.
— Eu não acho, acho que ia me sentir mal por ter terminado, mas... bem dá para perceber que estou aliviado. — Desliguei novamente e coloquei o celular no silencioso.
Fiquei sentado na sala, realmente estava na hora de terminar com Sabrina! Não por causa de Miguel, mas porque ela era fútil e sem graça, eu estava cansado das discussões sem noção, dos assuntos desinteressantes, da falta de vontade em fazer qualquer coisa que eu gostasse...
— Aí mulher, tenho tanta série para ver hoje nem sei por qual começar. — Miguel já começara a fingir que nada entre nós tivera acontecido na noite anterior e aparentemente seria difícil fazer com que ele se sentisse confiante.
— Nada disso! Temos muito o que fazer. — Eu disse o puxando para o sofá.
Não sei o que aconteceu, mas a máscara de “nada aconteceu” desmoronou assim como um pouco da confiança, e então quando ele se sentou não olhou diretamente nos meus olhos. Mas eu estava disposto a mostrar que não estava de brincadeira. Deitei com a cabeça no seu colo, entrelacei meus dedos nos seus, levei sua mão até minha boca e a beijei. Sorri para Miguel, ele continuou um pouco desconcertado.
— Quero passar o dia junto com você! — Sorri enquanto dizia — E bem, eu terminei com a Sabrina!
Ela meio que ficou desconfortável e tentou se levantar, saí de seu colo e fiquei sem entender até que ele explicasse.
— Cara você não entende? Depois disso você vai ver a burrada que está fazendo e eu vou ficar como o destruidor de relacionamento. — Ele disse paranoico.
— Já chega Miguel. — Eu disse calmo enquanto puxava ele para o meu quarto, acariciei seu rosto quando entramos porta adentro e continuei. — Eu já queria largar. E é sério, eu não sei direito muita coisa sobre como é ser... Você sabe! Mas eu sei que gosto de você e percebo que fui um idiota de não ter visto isso antes e de ter te beijado muito antes...
Eu sabia que o jeito com Miguel seria provar com atitudes, ele de toda forma, acostumado com a rejeição iria pensar que de um momento para outro eu iria larga-lo e voltar a “ser hétero”. Então o puxei mais para perto e beijei seu pescoço, senti seu perfume enquanto levava minhas mãos para sua cintura, percebi que ele estremecia quando eu passava a barba por fazer em seu pescoço e sorri sem que ele percebesse.
Tirei minha camisa, fui para cima novamente, no entanto Miguel deu alguns passos para trás, mas ainda me admirava, o que me deixou envergonhado. Ele então tocou meu peito como um menino inocente que nunca tivera feito aquilo antes, e não tivera mesmo pelo que soube depois. Toquei seus dedos o encorajando a me tocar, olhei com ternura e sorri para mostrar que não tinha problema em ele querer conhecer meu corpo embora com certeza soubesse onde ficava cada cicatriz minha, afinal me viu cair tantas vezes.
Fui em direção e ele para tirar sua camisa também mas percebi um certo desconforto. Miguel tinha vergonha do próprio corpo! Mas eu sabia que eu ia amar cada detalhe, eu queria poder tocar, conhecer e sentir cada milímetro.
— Não sinta vergonha! Sou seu melhor amigo, lembra? — Sussurrei sorrindo em seu ouvido. Era estranho e interessante ao mesmo tempo que eu tivesse tocando assim o corpo do meu melhor amigo. Era estranho pelo motivo óbvio de sermos amigos, porém interessante por termos confiança e cumplicidade real. Eu nunca sentira isso antes! Mesmo no meu caso, nunca tinha feito sexo com alguém sem medo de não agradar! Com Miguel eu iria agradar, mesmo que tivéssemos que repetir mil vezes até que eu fizesse o certo.
Então tentei novamente tirar sua camisa, ele deixou mas ficou acanhado observando seu corpo. Ele era magro e embora fosse bastante masculino em alguns aspectos, como a trilha de poucos pelos que compunham o “caminho da felicidade” (não sei como você chamam isso), todavia também feminino como no desenho da sua cintura. Toquei cada parte ali, senti o caminho de pelos, deslizei minhas mãos até seu peito e brinquei sorrindo com os seus mamilos.
Percebi que eu estava excitado quando o espaço na minha bermuda ficou apertado. Miguel estava parado como se tivesse que ficar assim, por um momento me senti mal pois me lembrei que ele era acostumado a ser objeto, talvez nunca tocara assim em alguém, para conhecer o corpo, sabendo que era dele também.... Fui em direção ao seu ouvido, nisso acabei prensando meu corpo no dele e deixando ele sentir minha ereção e envergonhado comecei a sussurrar novamente em seu ouvido.
— Ei Miguelzinho, não seja tímido. Eu sou todo seu! Aproveita.... Toca meu corpo, conheça ele pois se você quiser a partir de hoje ele pode ser apenas seu.
Eu poderia me chamar de louco, e talvez seria o que meu pai diria quando ficasse sabendo que eu larguei Sabrina e que agora estava me envolvendo com o Miguelzinho. Mas sorte que era com Miguel, não há alguém em casa que não goste dele e vai ser fácil enfrentar tudo.
Eu pensava em tantas coisas enquanto passava minha barba por seu rosto, até que encontrei sua boca e beijei, de forma urgente e calorosa. Miguel encontrou minhas mãos e isso pareceu que o fez se soltar mais. Nos deitamos na cama, as mãos de Miguel percorriam meu corpo agora que nos beijávamos e ele mantinha os olhos fechados.
Percebo que talvez estivesse indo rápido demais quando minhas mãos chegavam a sua bunda, meu membro estava latejando de tão rígido e estávamos fazendo isso tudo no primeiro dia quem que considerávamos um possível relacionamento entre nós dois. Mas eu não podia me culpar por isso, era difícil não perder o controle.
— Não quero perder o controle! — Sussurrei rindo. — E também estou com fome!
— É, acho que estamos indo rápido demais, não quero que se arrependa. — Ele disse, agora mais calmo.
— Eu não vou! Só não quero que me veja como um safado. Estou fingindo ser cavalheiro no começo. — Eu disse rindo e levantando Miguel.
Cozinhamos juntos, com alguns beijos, olhares ternos, sorrisos e juro que tentei não me aproveitar muito da cozinha apertada para pegá-lo por trás, esfregar minha barba no seu pescoço e sentir ele se estremecer. Mas só tentei mesmo, e tentei bem pouco pois eu fazia isso o tempo todo.
O pessoal da república acordou tarde, mas acabaram por flagrarem eu e Miguel deitados abraçados vendo filmes na sala. Agimos com naturalidade perante os olhares confusos e as brincadeiras.
E passei a tarde toda agarrado a ele, sussurrando que queria que ele não tivesse medo de expressar suas vontades comigo, o fazendo ficar envergonhado, dizendo que ele era lindo, passando a barba nele.... Eu queria viver aquela loucura para sempre.
Como tudo que é bom dura pouco, logo a tarde Sabrina nos flagrou na sala. Me lembrei que ela tinha conseguido uma chave para o aniversário supressa e quando vi ela já agarrava Miguel pelo pescoço. Ele se desvencilhou do ataque.
— Seu veado imundo! — Disse ela odiosa. — Falso, traidor...
Puxei Miguel para perto num ato de proteção.
— Sua Louca! O que está fazendo? Eu terminei com você... — Eu esbravejei de volta, irritado pelo que ela tinha dito para Miguel.
— E já está com esse Veado no mesmo dia! Certeza que estava me traindo. — Veio para cima novamente depois de dizer, eu então a empurrei.
Miguel perdeu a paciência e respondeu Sabrina.
— Olha aqui Sabrina! Ninguém traiu ninguém aqui viu? Você está solteira agora porque é sem sal e chata. E para você meu amor, é SENHOR VIADO! — Disse com o tom de deboche que costumava usar nos seus momentos de força. — Dona bicha para os mais íntimos. E vai ralando daqui de casa... E deixa essa chave que está contigo para evitar qualquer constrangimento.
Sabrina me olhava ultrajada como se esperasse que eu a protegesse. Só consegui rir da ‘dona bicha para os mais íntimos’. Ela então jogou a chave no chão e saiu irada da casa. No mais tardar, segunda-feira a faculdade toda estaria comentando sobre minha sexualidade!
— Era isso que eu precisava! Segunda todos saberão de tudo.. — Disse irônico.
— Qualquer coisa eu invento algo para pensarem que ela está inventando... — Miguel interveio preocupado, com certeza com algumas ideias para fazê-la parecer só uma ex-namorada irritada.
— Quer saber! Deixa comentarem. Não é mentira mesmo. Vou esquentar a cabeça não.
Me deitei de novo no colchão que colocamos na sala, voltei o filme onde tinha parado e fiz sinal para Miguelzinho se sentar ao meu lado. No fim dormimos juntos mais uma vez. Ah, e dessa vez não deu para controlar a ereção! Juro que tentei, mas não é muito fácil quando se dorme de conchinha.