Cap.21
Estranhei o fato de ela ter me procurado. Estranhei mais ainda o fato de eu não ter me lembrado dela, já que já a conhecia. Nossa, como ela Havia mudado. Estava mais magra... De cabelos loiros. Definitivamente não tinha como eu a reconhecer.
- Ah... Nossa, como a senhora está diferente.
- Todos dizem isso - falou, enquanto eu parava o que estava fazendo.
- E então, a que devo a sua visita ?
- Eu... Soube que havia se mudado para a França e estava perto de se formar. Vim lhe dizer que se precisar de ajuda com alguma coisa, pode me procurar.
- Pode deixar - falei, a observando. Ela olhou ao redor, parecia querer conhecer o local que eu estava vivendo, parecia querer descobrir sinais de alguma coisa.
- Você sabe que meu filho vai se casar ? - assim que ela falou aquilo, minha feição se fechou.
- Sim... Eu soube.
- Então... Se você quiser ir a cerimônia, está convidado - juro a vocês que a minha vontade foi fazer uma grosseria com a mãe dele. Algo como "Está louca ?" . Mas eu não podia, afinal ela não tinha culpa nenhuma.
- Vou pensar - falei, baixando a cabeça - mas tenho quase certeza que não poderei ir - falei, fechando os olhos, buscando brecar as lágrimas que já insistiam em sair - estarei ocupado com o meu trabalho de conclusão.
- Ah, é uma pena, vai ser uma festa linda, a coroação da vida feliz que meu filho terá ao lado de uma mulher. Afinal, só se pode ser feliz assim, ao lado de uma mulher - a forma que ela falava... O jeito debochado... A falta de sorrisos... Parecia que ela estava querendo me provocar... Como se soubesse de algo e quisesse me ver enraivecido.
- Que sejam muito felizes ! - falei, me virando e a encarando firmemente. Logo ela se foi, me deixando sozinho com as minhas lágrimas.
TEMPO DEPOIS
Os dias iam passando, e a cada dia que passava eu me sentia mais triste. Sentia como se a cada dia, uma parte de mim estivesse mais longe, e eu não tenho chance nenhuma de traze-la novamente para perto de mim. Com o meu consentimento, eu estava me livrando do amor da minha vida. Quantas vezes depois daquele acontecido eu pensei em uma forma de evitar que aquilo aconteça. Pensei em fugir com ele pelo mundo. Pensei em fazer uma loucura. Mas não tinha como... Ninguém vive de amor... Infelizmente o amor não é suficiente para que a sociedade respeite o nosso sentimento. A mãe dele deixou uma mostra do convite do casamento, que logo eu vi que não havia sido assinada por ele, já que aquela letra não era a dele. Por um momento passou pela minha cabeça que ele estivesse sendo obrigado a se casar... Que tudo aquilo não passasse de uma chantagem. Mas eu não dei bola. Ele não me esconderia algo assim. Havia uma data ali. E a cada dia eu olhava para aquela data. E via a minha chance de ler feliz ter as horas diminuídas a cada dia que passava.
DIAS DEPOIS
Entreguei o meu trabalho de conclusão, que com a ajuda divina havia tido a nota máxima. Eu passei com uma ótima nota, digna de um Einstein. Faltava apenas uma coisa. O diploma. Era isso que faltava para a minha carreira estar consolidada. Algumas agências astrônomas, as mais famosas do mundo na época já haviam me feito convite para visitar as suas instalações, e possivelmente iria ser o que eu faria depois de terminar a graduação. Ir a outro país, e passar a estudar o Universo, como havia me preparado. Esquecer que amei alguém um dia, e prosseguir a vida, já que meu amor proibido dificilmente seria concretizado agora. Ele estava na porta do altar. Eu não tinha mais o que fazer. Faltando uma semana para o casamento dele, havia chegado o dia da minha colação. Foi um momento incrível de superação. Enfim eu havia alcançada o status que eu mais queria, o de Astrônomo. Quantas pessoas eu vi ficarem pelo caminho... Porém eu, com meu amor descomunal pelo universo consegui terminar o curso e agora subiria, junto com vários outros alunos para sentir a enorme felicidade que é se formar. Pra minha tristeza, minha mãe não poderia estar no evento. Acontece que ela acabou perdendo o documento, e não conseguiu tirar um a tempo. Eu iria formar-me apenas na companhia dos meus amigos. As pessoas que eu mais queria que estivessem ali, não estariam.
NARRADO POR MAURICE
Faltava uma semana para aquele acontecimento definitivo. Eu iria ter que me casar. Abdicar do meu amor em prol de uma felicidade maior. Me casar com uma mulher, jura-la amor pela eternidade, quando na verdade eu queria fazer isso com um homem brasileiro. Por algum motivo, aquele dia eu estive inquieto por completo. A noite, não consegui dormir direito. De dia, tudo me extressava. Parecia que tudo remetia a ele, parecia que eu apenas lembrava da existência dele. Andei pela padaria, e parecia ter ouvido a sua voz. No mercado, parecia que eu havia visto o seu corpo andando. Faltando uma semana para o casamento, quando eu menos devia pensar nele, mais eu pensava nele. Mais ele grudava na minha mente.
- Vem aqui Maurice, precisamos definir o buffet da festa - dizia minha mãe, me chamando.
- Hoje não. Eu não estou no clima - dizia, indo em direção a porta da saída.
- Mas... A festa é daqui a uma semana !
- Escolha o que quiser mamãe - falei, saindo.
Aquele dia eu estava atordoado. Parecia que havia uma força dentro de mim que me levava a uma tristeza extrema, e a um pensamento recorrente na pessoa dele. Eu não tirava o Antônio da minha cabeça um minuto que seja. Aquele rosto angelical não parava de vagar na minha mente. De repente uma enorme vontade de ve-lo tomou conta de mim. Será se havia algo acontecido com ele, e o meu sub consciente queria avisar-me. Eu tinha que ve-lo. Eu precisava ve-lo, ou não iria acalmar-me. Contrariando o meu próprio plano, o meu próprio eu e aquilo que parecia ser o certo, eu o procurei. Já não aguentava mais estar longe do meu amor.
Continua
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