O CRIME DOS VIEIRA DE MELO - Parte 16
Três dias após o incidente com Manoel, que foi devidamente tratado do ferimento à bala na perna, assim como os capitães-do-mato tiveram os olhos emplastrados de modo a ferida não infeccionar, finalmente, a família Faria e Souza seguiu viagem para Olinda. Lá, a moça seria preparada para o casamento com André, o filho do fidalgo Bernardo Vieira de Melo. O cortejo era formado por Ana de Faria e sua mãe, que viajava na caleça puxada a cavalo, emprestada pelo futuro sogro. Seis escravos negros carregavam malas cheias de fazendas da sinhazinha. O grupo era antecedido pelo imponente Francisco de Souza, montado no melhor cavalo e puxando a fila em direção à capital Olinda. Partiram às primeiras horas da manhã e deveriam estar chegando ao destino só ao final da tarde, depois de seguir por léguas sob um sol escaldante. A marcha seria mais lenta por conta dos escravos que carregavam pesados fardos contendo todo o vestuário de Ana de Faria. A moça seguia inconsolável, mas seus pais não estavam dispostos a aceder às suas lamúrias. O patriarca estava doido para se livrar logo da filha, antes que ela perdesse a virgindade e os Vieira de Melo não mais a aceitasse para esposa do filho.
O fidalgo Francisco não descuidava os olhos da mata que ladeava a estrada de barro, pois temia salteadores que pudessem roubar os pertences da filha e os dotes da família destinados aos Vieira. Levavam também algumas joias para serem ofertadas à matriarca. Quando um dos negros carregadores se atreveu a resmungar algo a respeito da dura caminhada, levou uma chicotada nas costas dada por um feitor que acompanhava o cortejo montado na mula que pertencia ao patrão. Não se permitia conversas entre escravos e o feitor os tratava a ferro e fogo. O senhor do engenho não intervinha pois achava que assim os escravos o respeitariam mais. E isso evitaria possíveis motins. Seguiam em fila, todos calados. De vez em quando a matrona dizia algo à filha, reclamando de que ela era a culpada por aquela partida às pressas. Ana de Faria não se atrevia a contrariá-la. Até porque preferia guardar silêncio pelo caminho, para poder ir pensando no moço para quem entregou seu coração. Mal sabia que estava prestes a se apaixonar por outro homem.
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Quem primeiro avistou a comitiva entrar na então capital de Pernambuco foi o padre José Sipriano. Não era novidade que a noiva viria à Olinda para o casório, o que deveria acontecer em breve. Iria ser uma grande festa para os habitantes dali, pois os Vieira de Melo eram muito conhecidos na comarca. Dizer que eram benquistos, no entanto, eram outros quinhentos. Apesar de ter fama de guerreiro valente, o fidalgo Bernardo não gozava de muito prestígio entre os homens da aristocracia da cidade pois era considerado um covarde matador de índios e negros. Adquirira sua fortuna e prestígio perante a coroa portuguesa às custas de perseguir e matar Tapuias que lutavam contra os colonos que invadiam suas aldeias e os infectaram com doenças trazidas das terras além-mar. Era pago, também, para caçar negros fugidos. Seu último grande feito havia sido destruir o famoso Quilombo dos Palmares, reduto de negros que haviam escapado de engenhos e que formaram essas comunidades onde viviam com mulher e filhos, livres da escravidão.
Bernardo Viera de Melo ordenara a matança de centenas de negros que já havia feito prisioneiros. Recebeu grandes somas de dinheiro pelo ato de matar mulheres e crianças negras indefesas, e índios que defendiam suas terras e que por isso eram considerados ferozes e ignorantes. Esse dinheiro comprou-lhe títulos de nobreza, construiu engenhos e até o fez governador do Rio Grande do Norte. Sua mulher, Catarina Leitão, era mais temida do que o senhor de engenho. Era ela quem tomava as providências da casa grande, na ausência do patriarca, e administrava as propriedades com braço de ferro. Estava sempre metida em discussões banais com os moradores da redondeza, principalmente com aqueles que ousavam discordar dela.
O padre Sipriano foi o primeiro a dar as boas-vindas aos Faria e Souza, mas deteve-se em conversar mais tempo com a sinhazinha. Achou-a simpática e inteligente, a despeito da fama de mocinha rebelde. Ana de Faria também parecia ser uma católica devota e isso muito contribuiu para tornar o velho padre seu aliado nas dificuldades que haveriam de vir. O padre ajudou a comitiva a achar o caminho mais curto que levava às propriedades dos Vieira de Melo, além de pedir a um dos seminaristas anunciar a chegada da família aos anfitriões. Logo, toda a cidade estaria sabendo da vinda da sinhazinha que iria casar-se em breve. O padre Sipriano anunciou que iria vê-la dois dias depois, para conversarem sobre medidas a serem tomadas para o casório. Ana e sua mãe agradeceram a simpatia e atenção do religioso e a comitiva seguiu caminho.
Catarina de Leitão esperava a comitiva na frente de sua enorme residência, sentada em uma cadeira de madeira e palha que mais parecia um trono. Bernardo Vieira, seu marido, estava de pé bem próximo a ela, por trás do imponente móvel. Foi ela quem deu as boas-vindas em nome da família. Mas não convenceu. Olhava para Ana de Faria e seus pais com um certo asco, como se os achasse uns pobretões querendo se aproveitar da fortuna dos Vieira. Ana fingiu não perceber a hipocrisia contida no cumprimento e sua mãe foi muito educada cumprimentando a família. Seu pai abraçou o companheiro de lutas como velhos amigos que eram. André Vieira, o noivo, não estava no momento. Chegou quase uma hora mais tarde, quando todos já haviam entrado na enorme residência e conversavam na sala.
Ana ficou impressionada pela beleza e porte altivo do rapaz, quando ele adentrou o recinto, vindo da rua, metido em seu uniforme de Alferes do Exército. O jovem pediu a bênção aos pais, antes de cumprimentar a noiva e seus futuros sogros. Foi galante quando beijou a mão da futura esposa e elogiou sua beleza. Ana estava usando o vestido comprado dia antes ao negro mascate que estava em companhia do seu amado que se fingia de escravo branco. Estava, realmente, belíssima. E não conseguia disfarçar a impressão que a presença do rapaz lhe tinha causado.
Ficara até ruborizada, como se achasse que ele podia ler-lhe os pensamentos. É que visualizara o tamanho do falo do jovem através da calça colada ao corpo que resultava em uma enorme protuberância. Imaginou seu pênis maior do que o do amado. A sua futura sogra, Catarina Leitão, não tirava os olhos dela. Analisava, de olhos apertados, cada reação da moça. Percebeu que ela mirava o pau do filho e fez cara de desaprovação do interesse da sinhazinha. Cochichou ao ouvido do marido, que estava sentado ao seu lado, num enorme e caro sofá vindo da França:
- Viu os olhares sem-vergonhas dela para o nosso filho?
- E não é bem o que queremos, uma mulher que nos dê um neto cedo? - Resmungou baixinho o fidalgo, sem dar muita atenção à observação da esposa.
Catarina Leitão amarrou a cara. Sabia que o marido tinha razão. O filho André já ganhava fama de afeminado, no povoado, pois nunca demonstrara interesse por mulheres. Também era poupado, pelo próprio pai, das batalhas, demonstrando que também era um covarde. Tornava-se urgente, então, que ele desse logo um neto homem aos Vieira de Melo. Era preciso que ele provasse sua masculinidade e depois partir para lutar ao lado do pai, já que fizera herdeiro. Desde cedo, o pequeno André não demonstrava a mesma índole guerreira do patriarca, demonstrando até um certo gosto pela poesia e coisas de meninas, o que fez com que o casal se apressasse em arranjar-lhe um casamento. Ficara acertado que Ana de Faria seria sua esposa assim que completasse o seu primeiro ciclo menstrual. A menina tinha escondido da mãe, por meses, o fato de já haver menstruado, fingindo não ter se tornado uma mocinha ainda. Não queria casar com um homem que não conhecia. Além de muito religiosa, sonhava com o Amor, como as sinhazinhas da sua idade.
Foi ela que, sem esperar pela iniciativa do noivo, chamou-o para que lhe mostrasse as dependências da residência. Ele adorou sair da presença dos pais e dos futuros sogros. Era tímido, apesar de se sentir à vontade com a noiva. Pediu licença aos presentes e saíram de braços dados. Por isso, não presenciaram a discussão que logo aconteceria entre os anfitriões e e casal visitante:
- Vejo que sua filha é bem adiantada para a nossa época. Não tem os modos de uma dama. Quem me garante, portanto, que ainda é virgem? - Perguntou de chofre a matriarca dos Vieira.
A mãe de Ana de Faria olhou primeiro espantada para a mulher magra, feia e nariguda à sua frente. Não esperava que a megera fosse ousada ao ponto de duvidar publicamente da castidade de sua filha. Disse-lhe uns desaforos e cobrou-lhe educação para com os visitantes. Bernardo intercedeu, criticando a falta de tato da esposa, mas não conseguiu demovê-la da ideia de que Ana de Faria tinha de provar sua virgindade. Senão, não haveria casório. Querendo amenizar a discussão, o senhor Francisco perguntou como poderiam provar tal coisa. Catarina Leitão olhou-o como se ele fosse o homem mais ingênuo do mundo. Voltou-se para uma das dependências da casa e chamou, aos gritos, um nome feminino. Logo acorreu uma velha escrava negra, querendo saber se estava sendo solicitada.
-Traga um cordão, que eu quero que ateste a virgindade da noiva! - disse a megera.
A negra gaguejou. Ficara envergonhada de fazer esse tipo de teste na frente dos pais da moça. Como, no entanto, já havia feito este teste lá no Engenho Pindobas e a filha tinha passado na prova, a mãe de Ana de Faria se prontificou a aceitar a ofensa, contanto que não se tivesse mais dúvidas da virgindade da jovem. Francisco de Souza é que não aceitava tamanho desaforo. Mandou que os escravos chamassem a filha e se preparassem para partirem de volta. Um dos escravos foi dar o recado a Ana, acrescentando que havia acontecido uma discussão entre os senhores. André perguntou o motivo. O negro não teve coragem de repetir o que ouvira. Ana, no entanto, insistiu. Então ele cochichou ao ouvido dela:
- A megera quer fazer o teste do rosário com a sinhazinha. Desconfia da sua castidade.
Mas não disse essas palavras baixo o bastante. O alferes André Vieira ouviu a frase. Frangiu o cenho. Pegou a mulher gentilmente pelos dois braços e perguntou, olhando-a bem dentro dos olhos:
- A sinhazinha me garante ser virgem?
Ana demorou um pouco a responder. Havia um turbilhão de perguntas em sua mente. Tudo o que fez com o sinhozinho João Paes havia tirado a sua castidade? Decerto que não, já que havia passado no teste do rosário feito por sua mãe. Por isso, afirmou com toda certeza:
- Eu continuo igual a quando nasci, com a virgindade intacta. Inclusive, minha mãe fez questão de fazer o teste do rosário em mim, antes de sair de casa.
- E por que a senhora sua mãe faria tal teste? - desconfiou o alferes.
- Porque sempre fui considerada uma filha rebelde e meus pais nunca confiaram em mim. Eu não viria até aqui se temesse por provar minha castidade.
André Vieira continuava olhando bem nos fundos dos olhos da prometida, como se a analisar se ela dizia a verdade. Depois, segurou-a firmemente no braço e disse, resoluto:
- Se você está dizendo que é virgem, eu acredito. Vamos resolver isso de uma vez por todas. Não vou permitir que meus pais insultem minha futura esposa.
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Pela segunda vez em menos de uma semana, Ana de Faria teve sua virgindade posta a prova à moda antiga. A velha escrava dobrou um cordão de rosário no meio, fez com que a dobra se encontrasse com a ponta na parte dianteira do pescoço da moça e fixou a medida. Depois entornou o laço pela cabeça da jovem. O diâmetro da sua cabeça era maior que a folga do cordão de contas, atestando assim, perante os Vieira de Melo, sua castidade. Mas Catarina Leitão ainda não estava satisfeita. Insistiu que a velha escrava investigasse a sinhazinha por baixo. Pediu que os homens saíssem da sala para preservar o pudor da jovem. O próprio Bernardo Vieira, o senhor Francisco e o noivo foram contra a infame atitude da megera. Mas Ana de Faria estava disposta a deixar-se humilhar, contanto que não restasse mais dúvidas sobre sua virgindade.
Quando só restavam as quatro mulheres na ampla sala, ela despiu-se das peças de baixo e abriu bem as pernas, mostrando uma vulva raspadinha para a surpresa das outras. A escrava sorriu conivente por saber que só as negras costumavam raspar os pentelhos da boceta. Simpatizou logo com a jovem. Separou os lábios vaginais da moça e mostrou o hímen intacto para D. Catarina Leitão. Esta resmungou algo e pediu que a negra continuasse com o novo teste. A escrava anunciou:
- Vou ter que excitar um pouco a sinhazinha, pra ver se o cabaço relaxa. Se isso acontecer, significa que a sinhazinha tem o selo frouxo, capaz de receber pica sem rasgá-lo.
- A palavra certa é hímen complacente, negra burra. Mas quem já viu negro ter inteligência, mesmo? É admitir que um cachorro ou uma mula seja inteligente também - rosnou a megera - E continue o que estava fazendo!
A negra, um tanto acanhada, molhou os dedos com alguma seiva e lambuzou toda a vulva da moça. Depois ficou friccionando o clitóris de Ana de Faria com uma prática tal que a moça logo ficou excitada. Foi-lhe subindo uma sensação gostosa pelo ventre, depois sentiu os peitos ficarem tão duros que o roçar dos biquinhos contra o tecido grosso do vestido passou a incomodá-la. Pegando todas de surpresa, a velha escrava botou um palmo de língua para fora e lambeu a xoxota da sinhazinha, que deu um urro de prazer. Era visível nos rostos das matronas o desejo que aquele ato despertava nelas. A mãe de Ana de Faria apertou uma coxa contra a outra, lambendo os lábios, com os olhos fixos naquela cena. A megera levou instintivamente as duas mãos à vulva, por cima do vestido, demonstrando também toda a sua excitação.
Ana de Faria soltou seu segundo urro de prazer, segurando a cabeça da negra e forçando-a contra seu sexo. Estava claro que logo teria um orgasmo.
FIM DA DÉCIMA SEXTA PARTE