O CRIME DOS VIEIRA DE MELO – Final
Na manhã seguinte, André Vieira foi escoltado por cinco homens à Vila de Olinda, onde gritou pelas ruas, para todo mundo ouvir, que tinha matado o homem com quem sua esposa o havia traído. Ele estava muito bem vestido, como se estivesse ali para uma festa. Caminhou por várias ruas da Vila propagando que logo mataria Ana de Faria, que estava esperando um filho do amante. Poucos o ovacionaram. Outros, que não acreditavam naquela história da traição da moça, pois a conheciam o bastante para saber que aquela jovem religiosa, simpática e prestativa não seria capaz de tal façanha, o olhavam com cara feia ou desdém.
Muitos não gostavam da família Vieira, principalmente do patriarca e da megera. A maioria das mulheres da Vila odiava Catarina por ela se meter na vida alheia. O jovem André era tido como afeminado, portanto merecedor de levar chifres, se não satisfazia a esposa na cama. Mas o estrago já estava feito. Ana de Faria estava publicamente condenada à uma morte anunciada.
Enquanto o moço destilava seu veneno nas ruas e vielas da Vila de Olinda, Cristóvão Paes Barreto, pai do jovem assassinado, embarcava numa nau no porto do Recife. Era conhecido e benquisto por todos, lá, e não teve dificuldades em encontrar uma embarcação que o levasse a Lisboa. Ia acompanhado de Henriqueta, que fez questão de ir consigo logo que soube dos planos dele: contar ao rei de Portugal o que estava acontecendo na Capitania, chamada pelos lusos de Nova Lisboa por causa da riqueza oriunda da cana de açúcar. O pai do finado também contava trazer tropas do reino para acabar com a guerra, incitada por Bernardo Vieira, contra os comerciantes do Recife. Cristóvão levava também a informação de que o nobre tramava um complô para tornar a Colônia independente de Portugal, mesmo se para isso tivesse que se aliar aos franceses, inimigos do reino. Essa grave denúncia, com testemunhos por escrito de vários comerciantes idôneos de Pernambuco, iria convencer seu rei. Levava, também, uma carta do bispo Dom Manoel Álvares da Costa, que fora escrita depois que a autoridade eclesiástica soube, pelo padre José Sipriano, da história contada pelo jovem assassinado acusando D. Catarina.
Na ausência de Cristóvão Paes, Mtumba ficou responsável pelos engenhos de propriedade dos Barreto. O negro não sabia nada de administração, mas foi ajudado por Violeta e pelos pretos que viviam no Engenho Novo, e conseguiu tocar os trabalhos de plantio e comercialização da cana. As mulheres que vieram com Henriqueta, que permanecia em Lisboa com o pai de João Paes, assumiram a guarda do Engenho Velho e, junto com os escravos livres, o fizeram prosperar. Criavam galinhas, furavam bloqueios inimigos e vendiam suas mercadorias aos comerciantes e nobres olindenses em guerra e transavam. Transavam muito.
Principalmente Violeta. Ela passava o dia ajudando seu amado na administração do Engenho Novo, mas não parava de pensar numa forma diferente de foder. Naquele momento, olhava para o corpo suado de Mtumba, que arrumava umas touceiras de cana num enorme galpão dentro da senzala. É que o pai de João Paes nunca libertara seus escravos, mas esses eram bem tratados pelo proprietário e pouquíssimos já haviam pensado em fugir. A maioria casara-se com negras de lá mesmo e viviam felizes. Largavam cedo da lavoura e não tinham feitores que os chicoteasse, obrigando-os a trabalhar.
Quando Violeta viu o corpo suado de Mtumba, ficou logo excitada. Ele trabalhava nu da cintura para cima, e estava tão entretido no trabalho que não a viu tirar a roupa. A negra abraçou-o por trás, lambendo o suor das suas costas. Foi descendo com a língua até tocar com ela acima da regada da bunda do seu amor. Baixou-lhe as calças, deixando ver as nádegas de carnes duras do guerreiro. Lambeu bem ali, sentindo o gosto ativo do suor e o cheiro característico do ânus dele. Mtumba abriu mais as pernas, ainda de costas para ela. Violeta enfiou a língua em seu buraquinho e ficou tremulando-a ali. O guerreiro virou-se de frente, tocando com o caralho duríssimo no nariz dela. Ela abocanhou-o e brincou com suas bolas, dizendo que queria engolir muita porra. Nem foi preciso umedecer o pênis dele, pois este pingava suor. Mais uma vez o gosto de sal misturado ao sabor da peia enorme do negro deixou-a mais tesuda. Ele pegou o mastro com uma das mãos e bateu no rosto dela com a glande várias vezes. Depois correu, nu, em direção ao rio Ipojuca, que passava bem perto da casa grande. Ela correu em seu encalço, já adivinhando o que ele queria.
Mtumba atirou-se nu, no rio, e nadou até ficar com água ao nível do peito. Violeta fez o mesmo e postou-se frente a ele. Depois se acocorou dentro da água, ficando com a cabeça submersa. Procurou o caralho do negro e colocou-o na boca, prendendo a respiração. Depois, ficou punhetando com movimentos rápidos, sem tirar o mastro da boca. Quando sufocava, emergia e tomava fôlego, para logo voltar a mamá-lo novamente.
Certa vez, ele tinha dito que queria saber o quanto ela era boa de fôlego. Mas, naquela tarde, essa não era a intenção do negro. Forçou-a para que se virasse de costas para ele e lhe mergulhou a cabeça na água, retendo um pouco dela na boca. Abriu com as duas mãos as nádegas da preta e depositou o líquido morno dentro do seu ânus. Ela vibrou, pois nunca alguém lhe fizera aquilo. O negro repetiu o gesto várias vezes, até que ela ficou com o rabo cheio de água. Então, apontou a glande para o cuzinho dela e meteu o pau até a metade. Ficou socando devagar, sem enfiar totalmente, deliciando-se com o borbulhar da água nas entranhas dela. Violeta foi ficando com vontade de expelir aquele líquido de dentro de si, mas o cacete dele, lhe tapando toda a saída do reto, não deixava escapar nada.
Aí ele pegou entre dois dedos o proeminente pinguelo de Violeta e ficou masturbando-o lentamente. Ela sentiu a água dentro de si cada vez mais morna. De repente, ele a forçou a submergir a cabeça. Como a pegou de surpresa, Violeta não reteve bem o fôlego. Foi quando Mtumba socou em seu cuzinho e masturbou seu grelo com mais vigor. O gozo veio rápido. Ela abriu demais a boca no primeiro demorado orgasmo e quase se afoga. Mas prendeu rápido o fôlego e explodiu em gozo. Ele misturou seu jato potente à água contida no rabo dela, depois retirou a peia de vez, totalmente, das entranhas da negra. Só então ela conseguiu expelir tudo de dentro do reto, de pernas trêmulas, sem decidir-se a terminar de gozar ou emergir para tomar fôlego. Ele puxou sua cabeça para fora d'água quando ela ainda se tremia toda daquela sensação maravilhosa.
EPÍLOGO
Sentada no centro da sala, a jovem Ana de Faria é obrigada a tomar uma dose de veneno, misturada a um copo de caldo de galinha. Passam-se cinco, dez, vinte minutos e ela permanece viva, como se nada lhe tivesse acontecido. A mistura que vinha tomando há tempos, preparada por Violeta antes de ir embora com Malaquias, cortava o efeito do veneno. Os assassinos ficam assustados e providenciam um outro tipo de veneno, agora de poder devastador. Mas a segunda dose também não faz efeito e os criminosos começam a se apavorar.
Eles decidem, então, mandar buscar um barbeiro para fazer uma sangria, ou seja, cortar com uma navalha as veias do pescoço da vítima. Mas o sangue que escorre dessa sinistra intervenção é pouco e a mulher continua viva. A tensão aumenta. Como estava desde o início, a mulher não pronuncia uma única palavra. Por fim, e ali mesmo na sala, os criminosos lançam mão de uma toalha e asfixiam a vítima. Pronto: estava, assim, consumada a vingança.
A história resumida acima não é invenção de novela barata nem aconteceu numa pequena comunidade interiorana, onde os crimes por vingança são marcados por requintes de crueldade. O episódio teve como local a luxuosa casa grande do Engenho Pindobas, em Ipojuca, de propriedade de Bernardo Vieira de Melo, capitão-mor de Igarassu, cavalheiro Fidalgo da Casa Real, governador da capitania do Rio Grande do Norte, herói das lutas contra Zumbi e da Guerra dos Mascates.
A vítima foi a jovem Ana de Faria Souza, que era esposa de André Vieira de Melo, filho de Bernardo Vieira. A data: 1710, época em que os mascates, como eram chamados os comerciantes recifenses, lutavam contra os nobres de Olinda que era a capital de Pernambuco. Embora decadente, a burguesia olindense não queria que os comerciantes fundassem a Vila do Recife.
E os autores do monstruoso crime? Também nunca constituiu nenhum segredo: foram o próprio marido de Ana, André, e a mãe dele, Dona Catarina Leitão, a temida mulher do nosso herói Bernardo Vieira de Melo que costumava chamar os mascates de malcriados e ingratíssimos.
Na época, o crime teve grande repercussão, mas nada aconteceu aos seus autores que eram poderosos. Apenas o povo e alguns padres ficaram indignados. Não só pelos requintes de perversidade dos assassinos, como também pelo motivo da execução: uma vaga suspeita, jamais comprovada, de que Ana de Faria andava de amores com João Paes Barreto, proprietário do Engenho Velho, localizado no município do Cabo. A suspeita já era o suficiente para "manchar a honra" dos Vieira de Melo e ficou decidido, em família, que o casal de supostos amantes deveria ser eliminado.
O primeiro a morrer foi João Paes Barreto. Aconteceu no dia 23 de maio de 1710, quando ele chegava ao seu engenho, no Cabo, e, antes de entrar em casa, caiu alvejado por três tiros. O autor dos disparos foi André Vieira de Melo, o marido suspostamente traído que, no dia seguinte, vestido impecavelmente, vai a Olinda anunciar de público parte da sua vingança.
André disse mais: comunicou que o seu próximo passo seria eliminar a propria esposa para, desta forma, completar a tarefa de reparar a honra ofendida da família. Mas, como a esposa de André estava grávida, os Vieira de Melo decidiram que ela só deveria ser assassinada após o nascimento da criança.
E foi essa espera pela morte anunciada de Ana de Faria que causou indignação entre o povo de Olinda e Recife que acreditava na sua inocência mas não tinha poderes para mudar o rumo dos acontecimentos.
Uma das raras intervenções em favor de Ana partiu do padre José Sipriano. Ele apelou ao bispo Dom Manoel Álvares da Costa para que intercedesse junto a Bernardo Vieira de Melo em favor da jovem mulher. Mas o pedido do padre foi em vão. Até porque o bispo parecia interessado, mesmo, era no desfecho da batalha entre olindenses e recifenses. Tanto que, depois que o governador Sebastião de Castro e Caldas sofreu atentado à bala e fugiu para a Bahia, o bispo assumiu o governo de Pernambuco, tomando posse dia 15 de novembro de 1710.
A briga entre as duas cidades envolvia muita riqueza e poder, pois o Recife, apesar de simples povoação, já era considerada a mais importante praça de comércio do Norte do Brasil e não queria mais ficar dependendo de Olinda. No meio de uma confusão desse porte, dizia o povo na época, o bispo não teve tempo nem de rezar pela alma da assassinada.
Ana de Faria Souza foi enterrada no Convento de São Francisco, em Ipojuca, e sua história ficou na boca do povo, foi tema de inúmeros versos populares. Espalhou-se até a crença de que ela era santa e de que quem tocasse a pedra do seu túmulo seria curado: os cegos passavam a enxergar, os paralíticos andavam etc.
Correu, inclusive, o boato de que, em duas ocasiões a sepultura foi aberta e o corpo da jovem mulher assassinada estava intacto, a morta parecia dormir. No plano real, os defensores de Ana só lavariam o peito em 1712: por conta de sua atuação na Guerra dos Mascates (da qual a vila do Recife saiu vitoriosa), Bernardo Vieira de Melo foi condenado e enviado, junto com o filho André, para uma prisão em Portugal, onde os dois morreriam. Já a temida Dona Catarina Leitão, dizem, morreu aqui mesmo em Pernambuco, berrando asfixiada de asma.
Para o historiador Viriato Correia, toda essa história patrocinada pelos Vieira de Melo representou "um dos crimes mais arrepiantes a que o Norte do Brasil assistiu na fase setecentista".
Para nós que, com razão, nos indignamos com a violência atual das grandes cidades, crimes como este mostram que os atos de selvageria não são particularidades dos dias de hoje nem estão restritos a ambientes miseravelmente pobres da periferia. Eles também estão presentes nas rodas mais elegantes do poder e fazem parte da nossa História.
Neste último caso, infelizmente, muitas vezes acompanhados da impunidade. O trágico fim de Ana de Faria Souza mostra, ainda, um fato incontestável: o de que a violência contra a mulher começa, mesmo, em casa.
FIM