Estrela guia de minha nau errante | 01

Um conto erótico de Lipe.Bourbon
Categoria: Homossexual
Contém 681 palavras
Data: 25/12/2015 23:39:31
Última revisão: 25/12/2015 23:57:39

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Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

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2009, dezembro.

Ali sentado, à beira mar, foi o barulho da barra da saia dela que me chamou atenção. Olhei em direção de onde vinha o som e a avistei. Uma cigana.

Aquela mulher, de longos cabelos adornados com uma flor amarela, de blusa branca e comprida saia vermelha, e de rosas à mão, vinha ao meu encontro. Agachou-se próxima a mim e, sustentando aquele olhar marcante no meu, sentenciou:

- ¡Su amor, el hombre de su vida! ¡Llegará pronto!

Sorri e, mirando aquele par de olhos castanhos escuros, respondi:

- Eu sei. E há certo tempo. Também sei que será fatal.

Primeiramente, existiu surpresa no olhar dela. Após, como que compreendendo a situação, houve apoio.

Foi a vez de a cigana sorrir. Ao depois, ela depositou uma rosa branca na areia entre nós e partiu. Ainda segui, com o olhar, a caminhada dela pela praia, acompanhando o farfalhar da saia na areia. Sempre achei hipnótico o flanar feminino, ainda mais com a luminosidade que vinha dos raios de sol misturados com o prateado da espuma da água. Uma bela imagem se fazia ali.

Voltei meu olhar para o mar e sorri novamente. Apanhei a rosa, levantei-me e me pus no trajeto de onde estava hospedado com minha família.

Quem me visualizasse naquele instante, veria um jovem, recém-formado. Mais: poderia pensar que, propositadamente, eu segurava uma rosa para combinar com aquela que estampava o verso de minha camiseta, numa espécie de charme ao estilo. Ledo engano. O propósito não era meu, mas do destino, que vinha sinalizando que, naquele próximo ano que se aproximava, minha vida mudaria e meu caminho seria distinto.

Cheguei aquela casa, nossa pela temporada, e minha mãe, vendo-me, questionou:

- Outra rosa, Felipe?

- Sim, mamãe.

Limitei-me a uma breve resposta. A pergunta de minha mãe não era descabida, pois ela sabia que eu tinha uma predileção por rosa branca, e há tempos inclusive. Todavia, daquela vez, não fui eu quem comprou a rosa.

Peguei um vaso, enchi com um pouco d’água, coloquei a rosa e deixei-o ali, sobre uma escrivaninha do meu quarto. Afinal, tinha que me aprontar. Dia 31 de dezembro, a festa começaria em breve, pois o sol já se despedia na linha do horizonte.

Enquanto selecionava a roupa da noite, bateu-me aquela ansiedade conhecida. Eu a tinha quando coisas grandes estavam por vir. E, de fato, tudo indicava que seria assim.

Há uns meses comecei a pensar no que queria para o meu ano de 2010. Já havia me formado e, no meu local de trabalho, havia crescido muito. Talvez, atingido o topo naquele cenário. Já havia me sedimentado, pois iam anos que trabalhava lá, comecei na condição de estagiário. Meu chefe era também meu amigo e, em faltas ou férias dele, eu o substituía. Além disso, em breve publicaríamos um artigo científico.

Assim, era a vida sentimental que necessitava ser complementada. Quando parei para pensar nisso, a situação foi me posta de forma clara. Apesar de libriano, romântico por natureza, eu nunca havia tido um grande amor. Conduzia minha vida de uma maneira muito racional e minha mãe chegou a cogitar de um coração frio de minha parte. Se nos campos profissional e acadêmico, eu agia com determinação, no campo sentimental seguia como uma nau sem rumo. Porém, eu sempre quis viver uma bela história de amor, só havia deixado a parte emocional de lado, porque estava concentrado na faculdade e no trabalho.

Agora, porém, esses obstáculos não mais existiam. Minha mente chegou a uma conclusão, que era evidente: para 2010 eu teria um amor. Eu queria esse amor. A conclusão foi confirmada pelo meu coração. E, ambos, também concluíram: esse amor seria arrebatante, pois era assim que sempre sonhei, que sempre quis. Ademais, ninguém passa impune negligenciando os sentimentos por tanto tempo.

Cheirei a rosa branca. Um leve perfume dela exalava. Corri para o banho. 2010 tinha tudo para modificar minha vida e abalar qualquer das minhas convicções.

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Comentários

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Já tô com o coração palpitando de emoção por essa história!!!!👏👏💓😍

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amor dele morre ou trai ele, legal descreve ele. formado em que?

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Parece-me que será uma história muito boa. Já gostei do início.

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