Cap.1
Ser um adolescente não é fácil. Aquele monte de dúvidas, aquela fase de descobertas, você não sabe o que mais vem por aí, não sabe se o que vem por aí é bom ou ruim, ter que aguentar diariamente "Arruma esse teu quarto menino, tá pensando que tem empregada !" ou então " Lava essas louças que estão aí na pia !", sem saber que tudo aquilo vai ser super útil depois de alguns anos. Ser um adolescente gay é ainda mais complicado. Ter que se guardar de tudo e de todos. Não poder contar a verdade nem para a própria família. Fingir um sorriso quando as tias perguntam sobre as namoradinhas no Natal. Ser um adolescente, gay, classe média no meio de vários ricaços é quase impossível. Não que minha família fosse pobre de marré. Ao contrário, comparada a algumas famílias brasileiras, minha família era classe alta. O problema, é quando você está no meio de pessoas ainda mais ricas que você, fúteis, que só pensam em dinheiro, que não pensam no próximo, que não convivem com problema nenhum... Estar no meio dessas pessoas é ruim. Assim sou, nesses dias. Me chamo Marcos. Tenho 16 anos. Sou Moreno, alto, tenho um corpo bonito, voz grossa, cabelos pretos, olhos castanhos, um índio no meio de Cabo Frio, cidade aonde nasci. Nunca Sai daqui para morar em outro lugar. Nasci, cresci, e ainda hoje moro aqui, no mesmo bairro, na mesma rua. Sou filho único, graças ao bom Deus, então não tenho muito problema com briga de irmãos, apesar de as vezes me sentir meio que solitário. Meus pais, são incríveis. Eu não podia ter pais melhores. Eles trabalham sim, mas estão sempre dispostos a me dar tudo o que eu quero e preciso, incluindo amor e carinho, apesar de puxarem bastante a minha orelha pelo fato de eu ser bagunceiro. Mas eu não me importo, sei que isso é para o meu completo bem estar no futuro. Não sou um garoto complexado. Nem tímido. Pelo contrário, gosto de conversar e de ter amigos e não me sinto bem sem os amigos. Amigos esses que infelizmente eu teria que abandonar neste último dia, pois no meu antigo colégio não existia o 3° Ano do Ensino Médio. Precisei me transferir para conseguir terminar os estudos.
- Poxa, tá difícil encontrar vagas, na maioria dos colégios os terceiros anos já estão lotados - dizia eu, olhando para a minha amiga Karina, que estudou comigo até o 9° Ano.
- Porquê você não tenta no meu colégio ? - ela perguntava, alegre.
- Eu, no meio daquele monte de gente fútil ? Mas nem morto !
- Porquê não ? Você anda muito desinformado meu amigo, uma boa parte das pessoas que ali estudam não são fúteis. Inclusive eu...
- Eu sei Kakau, mas... Sei lá...
- A sua família não iria conseguir bancar os seus estudos lá ?
- Não, o problema não é financeiro, o colégio também não é o olho da cara. É que, sei lá, eu não queria me misturar com aquele monte de pessoas que não veem nada além do seu IPhone 6 e do seu carro conversível.
- Amigo, vai por mim, depois de um tempo você passa a gostar de estudar ali. E além disso, você pode conseguir boas amizades, lembre-se disso - ela me deixou pensativo.
- É, você pode ter razão...
TEMPO DEPOIS
- Mas o que ? Você não disse que não queria estudar naquele lugar ? Que era cheio de gente fútil, sem um plano na vida.
- E é. Mas está difícil encontrar vagas e a minha amiga Karina estuda lá. E segundo ela não é tão ruim quanto eu imagino. Pode ser uma boa estudar lá...
- Você tem certeza ? Depois para trocar vai ser difícil, você sabe melhor do que eu que vagas aqui em Cabo Frio é complicado...
- Eu sei pai, mas eu tenho quase certeza que vai ser isso mesmo...
TEMPO DEPOIS
E acabou sendo, eu fui matriculado no Colégio Rio de Janeiro. O melhor colégio de Cabo Frio, por onde todos os riquinhos andam. No primeiro momento fiquei bem animado, por tudo que a minha amiga me disse.
- Tem uma ótima biblioteca, livros antigos, que mesmo em bibliotecas públicas eu nunca havia achado. Amo a Biblioteca, é possível ficar na santa paz durante um tempo e esquecer que existem pessoas que nem merecem respirar lá fora.
- Espero que seja uma ótima experiência estudar aqui - dizia, vendo meu pai encostar o carro. Logo descemos. O prédio, ao menos era bem bonito. Fomos entrando, eu e Karina lado a lado no colégio.
- Existe um laboratório ali, que a gente costuma frequentar sempre que tem aula - dizia ela apontando - e ali fica a Sala do Grêmio. Sempre no início do ano acontecem as eleições. Isso aqui fica um campo de batalha. Milhões de panfletos caindo do céu e... - parei de prestar atenção nela e passei a prestar atenção no lugar. Como imagina, cheio de pessoas ricas, ostentando coisas caras, meninas com maquiagens caras, rapazes com os sapatos mais caros possíveis, e ainda era possível ve-los reclamar. Como eu tinha raiva disso ! Mesmo com o pescoço virado, eu não parei de andar. E não vi quando de repente esbarrei em alguém !
- Aí, desculpa, eu não vi - quando vi em quem tinha esbarrado, parei. Como era bonito o garoto ! Branco como um leite, de cabelos loiros, olhos verdes, corpo bem atletico, olhar penetrante, extremamente lindo. Porém...
- Como assim ? Desculpa ? Você acha que é só quase me derrubar e fica assim ? Quem é você para esbarrar em mim ?!
Continua
E aí ??? Gostaram ??? Só uma dica, a história não vai ser mais um romance adolescente. Beijos :)