Cap.23
Ele olhou para mim, e eu para ele. A verdade é que aquela altura, vendo a felicidade escapar pelas nossas mãos, nem ele e nem eu tínhamos forças para deixar escapar a nossa felicidade.
- Que outra chance a gente tem ?
- Não sei... A gente pode pensar... Eu não quero ficar longe de você. Não quero que você case - falei, me escorando na porta da varanda, deixando as lágrimas rolarem pelo meu rosto.
- Eu também não quero casar - falou ele, me abraçando por trás. O clima era de despedida e revolta. Será se ainda havia uma forma de continuarmos juntos ? Será se havia uma forma de escapar da solidão iminente ?
MINUTOS DEPOIS
Ele me soltou e foi para a cozinha. Durante alguns minutos eu fiquei pensando e buscando uma alternativa para tudo aquilo. Será se nós nos mudassemos para uma região afastada poderíamos continuar bem ? As agências de Astronomias não ficam em grandes cidades. Será se essa seria uma alternativa de escapar da separação ?
- O que está fazendo aí ? - perguntei, vendo ele mexer no fogão.
- Vou cozinhar para você hoje.
- E você sabe cozinhar alguma coisa Maurice ?
- Óbvio que sei - falou, olhando nos meus olhos - só nunca demonstrei isso no Brasil porquê a casa tinha cozinheiras e eu não iria fazer o trabalho delas. Mas eu sei cozinhar, e modéstia parte cozinho bem.
- OK. Se você está dizendo... - ele tirou o paletó, ficou apenas com a camisa de baixo a beira do fogão.
- O que você vai fazer ?
- Deixa comigo :) - fiquei apenas olhando. Ele realmente não mentia. Mas logo percebi que ele não iria se arriscar. Iria preparar algo bem comum - vai fazer Ratatouille ?
- Como adivinhou ?
- Você pegou todos os legumes que estavam na dispensa - ele riu.
- Eu acho tão gostoso...
- Eu também...
- E junto com o Ratatouille farei um Rolê de Vitela - ri.
- Tinha que ser francês.
- Vai dizer que não gosta ?
- Claro que gosto. Não tem um prato que eu comi aqui que não tenha gostado. Mas é que lá no Brasil as pessoas não comem Vitela normalmente.
- Pois é. Mas deveriam, é tão bom... - como imaginava, ficar ao lado dele durante algum tempo curto que seja ainda era ótimo. Eu realmente já não tinha mais certeza se era o melhor deixa-lo. Algo dizia que eu devia tentar outra forma para que nós dois nos mantivéssemos unidos.
MINUTOS DEPOIS
Sentei-me na varanda, fiquei vendo as estrelas, bebendo um vinho que tinha guardado para esta ocasião. Era para eu estar desfrutando com a minha mãe... Mas...
- Falta pouco para o nosso jantar ficar pronto.
- Que ótimo, já estou com fome - falei, vendo ele sentar numa cadeira ao lado da minha na varanda. Ficamos os dois olhando o céu - no final das contas, o eclipse mudou a minha vida.
- Como assim ?
- Me deu um empurrãozinho no amor e na faculdade kkkk Eu Não teria escolhido Astronomia se não fosse aquela noite no Brasil.
- Quer dizer Que você escolheu o seu curso por causa do eclipse ?
- É. Por causa da magia que ele carrega, e que fez eu me apaixonar por ele.
- Que interessante saber disso.
- Hoje a noite teremos maisSério ?
- Sim. As agências disseram que pela forma com que o Sol e a Lua estão colocadas hoje, vai haver um eclipse. E com certeza vai ser tão lindo quanto o outro. Só não sei se... Vai mudar a minha vida - falei, baixando a cabeça. Durante alguns segundos o silêncio perdurou. E logo ele foi para a cozinha novamente. Fiquei com a minha tristeza, olhando para o céu, buscando saber se ele tinha uma fórmula milagrosa para curar este problema quase incurável.
MINUTOS DEPOIS
Sentamos os dois a mesa, para comermos o jantar.
- Bem, parece que você entende mesmo de cozinha ein ?
- Você ainda duvidava ? - liguei o rádio como sempre fazia aquela altura da noite. Numa época em que a TV ainda estava sendo projetada, o rádio era a única opção de entretenimento nas noites.
- Você não tem cara de ser cozinheiro... - ele riu.
- E cozinheiro precisa ter cara ?
- Você tem cara de político, não de cozinheiro - ele riu.
- Só se for um bom político, porquê os que estão governando o Brasil são uma negação...
- Dizem que as coisas melhoraram com o novo presidente.
- Espero que melhore ainda mais. O Brasil merece muito ser um país de primeiro mundo... - comecei a comer o que ele havia feito.
- Nossa, parece que você cozinha bem mesmo ! Está ótimo.
- Obrigado pelo elogio.
- Mas está bom mesmo - falei, continuando a comer.
- O que você pretende fazer ?
- Como assim ?
- Da vida...
- Ah... Bem... Eu recebi algumas propostas de agências pelo mundo. Dos EUA, da Alemanha, até do Japão eu recebi. Farei isso mesmo. Aceitarei a proposta de uma agência e viverei a minha vida sozinho - o silêncio perdurou entre nós dois durante alguns segundos. Continuei comendo, quando de repente ele se levantou da cadeira.
- Eu não aguento mais. Desisto. Não consigo ficar longe de você !
Continua
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