[GLUE] 05
[4 anos antes]
Eu não aguento mais ficar casado com você, dizia meu pai andando de um lado para o outro. Minha mãe estava em estática apenas chorava, eu ouvia e via tudo pela fresta da porta da cozinha. Naquela época eu tinha 14 anos, não tinha contato com o Luan apesar de nos sermos da mesma sala de aula.
- Como você pode fazer isso comigo, foi minha mãe dizendo se levantando da poltrona. – Eu não aguento ficar mais casado com você Lilian, não aguento mais. A cada palavra minha mãe ia se afastando. – Tem outra mulher não tem Roberto? Perguntava ela. Ele ficou em silencio.
- Eu sabia, eu sabia dizia ela aumentado o tom de voz cada vez mais, você sempre foi um covarde, um imprestável. Meu pai a encarava de uma maneira sub-humana. – Júlio venha aqui foi dizendo minha mãe. Eu sai de trás da porta caminhei ate os dois. – Não precisa disso Lilian, foi dizendo meu pai olhando para ela.
Ela segurou nas minhas bochechas e olhou diretamente nos meus olhos, e disse – Sabe por que seu pai esta nos deixando, pelo fato de que ele arrumo uma qualquer melhor do que sua mãe, pelo menos ele acha que ela é. Ela chorava, mas não era de tristeza aquilo tudo transpirava ódio.
- Para Lilian foi dizendo meu pai, puxando ela pelo braço. Eu não sabia oque fazer só ficava assistindo a cena. – Quem é ela minha mãe perguntou. Ele novamente se cobriu com o silencio. – Me fala Roberto quem é ela, quem é essa vagabunda que você arrumou, é melhor você falar que mais cedo ou mais tarde vou ficar sabendo continuou ela. Meu pai a encarava e ao mesmo tempo a mim. – É a Tânia respondeu ele. – Tânia? Minha mãe respondeu num tom de surpresa. – Meu Deus, você vai se separar de mim por causa daquela ordinária, mãe daquele marginalzinho? Disse ela aos gritos. Eu sabia, continuou ela. Ela esta se separando do marido, mas nunca pensei que ela ou você seria capaz. Minha mãe chorava. – Na verdade disse ela, vocês se merecem você a merece e ela merece o marido que bate nela toda vez que bebe, e agora ela vai merecer você que é um canalha. Com isso minha mãe o acertou com um tapa. Ele ficou a encarando em alguns momentos e saiu. Ela sentou no sofá e ficou aos prantos. Apesar da minha idade eu sabia exatamente o que estava acontecendo, e não culpava o meu pai, sei que minha mãe é uma pessoa muito difícil, e não o culpo por não mais suportar.
Minha cabeça estava meio bagunçada apesar de entender toda situação. Não conseguia prestar atenção na aula, olhava para os lados, todos os alunos prestando atenção na explicação do professor. Dei uma olhada para trás a Ana balançou a cabeça num sinal de que ia ficar tudo bem. Mais tarde ouvi o som do alarme do intervalo, todos os alunos saíram incluindo Ana quando eu disse a ela que queria ficar sozinho. Estava só com meus pensamentos. – Então seu pai esta para ir morar com minha mãe? Disse uma voz. Quando olhei ao lado lá estava ele, naquela época ele era menor, mais inofensivo. Seus cabelos loiros chegavam ao encontro dos olhos num estilo corte redondo. Eu nunca tinha conversado com ele ate aquele dia e nunca pensei que ia chegar ate aonde chegamos. Ele ficou de frente, apesar da idade ele tinha uma atitude que poucos têm. – Então você vai ser meu irmão, o perguntou. Eu apenas o encarava. – Você é mudo, perguntou ele. – Não, respondi. – Não esta feliz que nos vamos ser irmãos o disse. – Não. Respondi novamente, minha família podia esta tranquila continuei dizendo, mas ai sua mãe resolve se separar e meu pai se enche da minha mãe, então felicidade é a ultima coisa que sinto.
Ele ficou em silencio por alguns momentos. – Olha disse ele levantando o braço, havia uma mancha roxa sobre ou seu bíceps. – Isto aqui nunca mais vai acontecer foi ele dizendo, ele nunca mais vai bater na minha mãe e nem em mim, desculpa se essa historia do seu pai te causa problema, mas eu não consigo me sentir infeliz por isso. Com isso ele virou as costas e saiu. As semanas se passaram e por assim meses, mas nesse tempo nunca dei a mínima de atenção ao Luan apesar de seus esforços de tentar se aproximar. Meu pai já havia saído de casa e alugado outra para morar com a mãe do Luan, mas antes disso ela ainda precisava resolver a vida dela pelo que eu soube o marido dela estava se recusando a deixa-la e assinar os papeis do divorcio.
Em uma tarde meu pai veio me buscar para passar o dia com ele, cheguei em sua casa todo alegre e feliz por escapar da minha mãe que por todo esse tempo só ficava lançando pragas sobre a mãe do Luan e sobre meu pai. Eu estava sentado jogando vídeo game enquanto ele lia o jornal sentando sobre um sofá escuro, e ao lado seu cigarro queimava. – Escuta filho disse ele, você tem que dar uma chance ao Luan, ele gosta de você. – Eu pausei o jogo olhei para meu pai que sorria; Eu sei pai só não sei como lidar com tudo isso agora. – Vai saber meu filho, dizia ele se levantando e beijando minha cabeça – Vou a cozinha arrumar algo para nos continuou ele. Voltei ao jogo enquanto meu pai se dirigia a cozinha, passado alguns momentos ouvi um barulho enorme, me levantei e quando cheguei ao corredor que interligava a sala e a cozinha lá estava meu pai caído, os estilhaços dos pratos o rodeavam. Entrei em estado de choque, com uma mistura de desespero. Depois de algum tempo estamos no hospital, minha mãe conversava com o medico e sua feição mudava a cada palavra. A mãe do Luan estava alguns metros, minha mãe a olhava como um inseto que devia ser esmagado. Eu continuava sentado sobre o banco de concreto que ficava no corredor. Luan se sentou ao meu lado e segurou minha mão. – Você não pode gostar de mim, mas eu vou ficar aqui com você. Eu comecei a chorar, coloquei minha cabeça no seu ombro.
Naquele momento ele não derramou uma lagrima, estava sendo forte por mim e por ele. Depois de mais ou menos quatro horas meu pai veio a falecer por infarto. Poderia ficar aqui falando sobre como meu mundo caiu, e como o Luan ajudou a levantar, como depois disso a mãe dele voltou para o marido. E como minha mãe por incrível que parece sofreu. Mas o que quero ressaltar é que ele sempre ficou do meu lado.