No outro dia eu me levantei correndo o Dani não estava na cama, era umas oito e meia da manhã, procurei minhas roupas e por correria mesmo as vesti de qualquer jeito.
Fui ao banheiro, lavei meu rosto, fiz um gargarejo com creme dental, arrumei meu cabelo e nem percebi que havia colocado minha camiseta do avesso, desci correndo as escadas ouvindo um assovio vindo da cozinha, a musica era "patience" do Guns.
Não prestei atenção nos dois últimos degraus e levei um belo e dolorido capote na escada, o barulho alto do tombo chamou a atenção do Ricardo que cantarolava na cozinha e veio verificar o que estava acontecendo.
Me levantei rapidamente, antes mesmo que ele me visse no chão.
Veio correndo em minha direção;
O que houve?
Caiu aí garoto?
Está tudo bem?
Ele ria da minha cara de bobo segurando no corrimão da escada.
Eu apenas tropecei Ricardo rs.
Esta sim tudo bem, "bom dia"!
Cadê o Danilo?
O Dani foi até a padaria buscar algumas coisas para o desejum, meu filhote acordou cheio de fome, pelo visto a noite foi muito boa.
Ele falava rindo, numa naturalidade, como se soubesse das coisas que havíamos feito.
Olha Fábio, o Dani não é de se entregar, não é de brincadeiras e não é de desrespeitar ninguém e por isso eu gostaria muito que você fosse sincero com ele e que o levasse a sério ok?
Tudo bem Ricardo, eu vou ser o mais transparente possível, prometo não decepcionar vocês.
Fabio porque dessa camiseta ao avesso?
Ele me perguntou, já erguendo a para cima.
Nossa nem prestei atenção quando a coloquei rs.
Ergui meus braços, ele ajudando a me vestir corretamente, depois fomos até a cozinha para o café.
Logo o Dani chega com várias sacolinhas e muita comida, acho que pra um time de futebol rs.
Ele se mostrou um ser humano compreensivo, amoroso e muito atencioso para comigo.
Seu pai me adotou como um segundo filho, estávamos bem sintonizados, o Ricardo me dando aulas de auto defesa enquanto o filho me dava aulas de muito sexo rs.
Eu não havia dito nada em casa, mas todos já desconfiavam, pois eu passava a maior parte do meu tempo com o Dani em sua casa.
Apesar de ainda não ter me revelado aos meus pais, decidi que não ia desaparecer, e eu precisava começar a aceitar que era quem eu era, antes mesmo de dizer a eles.
Tive realmente deprimido, medo de ser recusado por meus familiares, fiquei com raiva de mim mesmo por não ter aberto o jogo antes, o medo de ficar sozinho já não existia mais.
Percebi que o Dani estava me colocando nos objetivos e sonhos dele, que eu precisava fazer alguma , precisava sair do meu casulo, precisava coloca lo entre minhas prioridades também. Lembro que um dia, folheando as páginas de seu caderno, me peguei numa pagina com uma foto dele com um outro rapaz, não dei importância, poderia ser um primo ou amigo, ex namorado.
Em todo caso, ele me falaria sobre.
Estava entediado e olhei atrás da foto, com um número de telefone numa rubrica e o nome "João Vitor".
A principio eu não dei importância, eu estava conhecendo o Dani e certo dia seu pai me exigiu transparência, não teria o porque de eu duvidar da sua índole não é mesmo?
O tempo foi passando, uma, duas, três semanas, um mês, dois meses e eu não tinha aberto o jogo para meus pais ainda.
Eu precisava de ajuda, eu precisava me abrir e falar com alguém, não amigos ou família... Eu precisava falar com alguém que não sabia da minha vida e meus medos, então procurei alguém que pudesse me ajudar.
Liguei para um psicólogo, marquei um hora e fui para a consulta.
Era um senhor muito formal, não sorria e não demonstrava sentimentos, mas me jogou um monte de perguntas do tipo bate bola.
Eu não tinha nada a perder, não precisava da opinião dos outros, o primeiro a me aceitar tinha que ser eu mesmo e o restante seriam consequências, sendo elas boas ou ruins.
Eu não sabia o que ia acontecer, não sabia se eu poderia falar com um estranho sobre minha vida, meus pensamentos e meus desejos.
Nas dez sessões que fui fazendo com Sr. Arnaldo, ele foi me encorajando me orientando e dando opções que eu poderia seguir ou não, o certo ou o errado, o sim que eu precisava e o não que já fazia parte da minha vida por toda a minha juventude e adolescência.
E por fim criei coragem para expor minha vida, abrir meu coração aos que já tinham lá suas dúvidas sobre a minha sexualidade.
Chamei meus pais para a sala pois eu precisava conversar com os dois.
As expressões nos rostos já indicavam um medo, receio sobre oque teriam que ouvir do filho.
Acho que foi o momento mais sofrido de toda a minha existência! O meu mundo foi destruído, meus sonhos, dilacerados.
Minha mãe não parecia mais minha mãe.
Era o fim de tudo!
Pensei que enlouqueceria, que não resistiria a tanto sofrimento.
Chorei com o primeiro tapa na face que recebera do meu pai enquanto me ofendia com palavrões.
"Deus não aceita isso, é pecado dois do mesmo sexo deitarem juntos, você está doente Fábio, precisa de tratamento! Onde foi que errei com você?
E a primeira lagrima caiu quando ouvi da boca deles que não tinham mais filho, que eu havia morrido para ambos e que a partir daquele momento que eu arrumasse as minhas coisas e sumisse da vida deles, que desviasse deles se por acaso os encontrasse na rua e que eu poderia morrer de Aids que eles não fariam absolutamente nada.
Minha mãe me deus alguns tapas no rosto, costas e quadril, logo após o meu pai me bota para fora a base de socos e pontapés.
Jogaram minhas roupas no quintal sob os olhares dos vizinhos.
Juntei tudo e fui embora, levando comigo as recordações que um dia me fizeram sorrir, mas que naquele momento só me faziam chorar mais e mais".
Meu único pensamento era esse: não aceitaram que o filho, querido e amado, inteligente, íntegro, honesto,não passava de uma “bicha”?
Era isso que era, que eu pensava, me condenava por não ser o filho que ele projetaram para a vida.
Eu estava desolado, os olhos vermelhos e inchados.
Bati na porta da casa do Danilo e seu pai vem me socorrer, as minhas roupas dentro de sacos de lixo e sacolinhas.
O que houve Fábio?
Venha, sente se, vou te trazer água.
Contei a ele sobre a reação dos meus pais e ele me segurou pelo braço e com um abraço apertado me disse aos prantos:
Fábio a partir de hoje essa também é sua casa.
Seus pais deveriam por instinto saber o quão generoso e amável é o filho que eles tem.
Se isso não significa nada para ambos, então que está perdendo nisso tudo são eles.
Vem! Você precisa tomar um banho, colocar uma roupa limpa e descansar.
Depois a gente volta para buscar o restante de suas coisas.
Ele fez exatamente o que eu gostaria que meus pais fizessem, minha mãe pelo menos, sabia que meu pai demoraria para aceitar, mas ouvir aquelas palavras da minha mãe, foi cair num buraco sem fim.
Eu morri naquele momento!
Danilo ficou extremamente chocado com tudo e ficou comigo até que eu pegasse no sono.
Ambos foram até minha casa:
Meu pai não quis recebelos mas o Ricardo ameaçou chamar a polícia e denunciar além de processar os dois por violência doméstica e preconceito.
Depois de retirarem todas as minhas coisas o Ricardo anotou o endereço de sua casa num papel.
O Fábio a partir de hoje está neste endereço, ele é muito bem vindo a ficar em minha casa o tempo que ele achar e for necessário.
São bem vindos a visitá lo quando quiserem, mas se quiserem continuar com esses pensamentos pequenos é melhor que não toquem minha campainha.
Os dois pegaram minhas coisas e levaram para minha nova residência.
Demorei a aceitar, a entender, aliás, não havia nada para se entender.
Eles não me aceitaram e eu tinha que colocar aquilo na minha cabeça.
O meu maior medo havia acontecido, ser alvo de preconceito por ser gay.
E um preconceito dentro da minha própria família, vindo daqueles que eu morreria para vê los felizes.
Não sei como seria, mas creio que não deixaria de amar minha mãe ou meu pai por nada nesse mundo, mas ao mesmo passo não viveria me lamentando porque eles demostrem não me amar por minha sexualidade, isso porque eu não contei nada sobre meu relacionamento com o garoto que frequentava nossa casa.
Agora já estava mais do que claro para os dois, que eu e o Danilo não éramos apenas amigos, mas isso já não tinha mais importância alguma para mim.
Com todo respeito, amo minha mãe, amo meu pai, mais se esse sentimento não for recíproco vou seguir meu caminho, erguer minha cabeça e procuraria o caminho de minha felicidade e seria feliz a todo custo.
Creio que minha felicidade dependesse mais de mim que da aceitação de quem quer que seja.
Mas aquilo era um efeito dominó, e as emoções estavam apenas começando.
Apesar da relação legal que eu tinha com o Dani, eu precisava abrir o jogo com ele sobre o Duda, era hora de contar tudo.
Senti que era a oportunidade ideal para ser honesto e contar para ele sobre minhas noitadas com o Duda, apesar de não ter muita importância para ele aquele assunto, eu me vi na obrigação de colocar os pingos nos "is".