Cap.24
A atitude dele foi tão inesperada e rápida que me assustou. Mas logo em seguida meu coração acelerou, ouvindo ele falar aquilo.
- O que você quer dizer com isso ? - perguntei, me pondo em pé também.
- Nós temos que dar um jeito... Eu... Eu não vou conseguir dizer sim no dia daquele casamento ! - falou, para logo em seguida me abraçar - eu não vou conseguir simplesmente deixar você escapar e ir para longe de mim. Eu não conseguiria viver sabendo que o meu amor nao está perto. Nós temos que dar um jeito !
- Mas... Não foi você que...
- É, eu sei que fui eu que tentei impor esse plano para nós. Mas... Ele não vai dar certo ! Eu não conseguirei consuma-lo. Eu não tenho coragem para isso ! - agora era ele quem estava chorando no meu ombro - só não vai embora para longe de mim... Eu já não consigo viver sem você. Me dói diariamente não ter você do lado. Me dói saber que estou de casamento marcado com a pessoa errada. Eu não conseguirei me casar.
- Então o que sugere que nós devemos fazer ?
- Eu... Eu não sei... Mas acho que nós devemos pensar... E... Impedir que essa separação aconteça - era tudo o que eu queria ouvir. Eu não tinha nenhum rancor dele, ou do plano dele. Fazia sentido. Fazia muito sentido. Mas nós dois não conseguiamos viver sem o outro. O amor falava ainda mais alto que a razão.
MINUTOS DEPOIS
Escorados na varanda, nós dois olhavamos o eclipse que já havia se formado nas nossas cabeças, com grande ansiedade por respostas.
- Ainda estou incrédulo...
- Porquê ?
- Não esperava que você fosse tomar uma atitude. Não a essa altura do campeonato. Esperava que você ia manter a sua palavra e casar-se. E eu ia viver sem amor. Viveria sofrendo.
- Nem pense nisso... Amanhã, quando eu chegar em casa, irei cancelar tudo. O casamento, a festa, os convites, as reservas. E que se dane o falatório. Eu tenho que pensar em mim !
- Mas... Como nós faremos ?
- Eu... Eu não sei... Mas temos a noite toda para pensar ?
- A noite ?
- Posso dormir aqui ? - ri.
- Pode. Só acho que não tem lençol para você.
- Não importa, a gente se espreme e dorme juntinhos um do outro - ele me fez rir naquela hora. Puxou a minha mão - vem ! - me arrastou para dentro do quarto novamente. Vi então ele fechar a porta da varanda
- EI ? Porquê fechou ?
- Para que não haja risco de sermos flagrados - falou, se aproximando de mim - você me ama ? - peguei sua mão e levei até o meu peito.
- Essa batida justifica alguma coisa ? - ele sorriu.
- E essa ? - e então ele pegou a minha mão e levou ao seu peito - é a batida do coração do homem mais feliz do mundo.
- Porquê ?
- Porquê enfim ele está perto do seu amor ! - agora ele me fez sorrir e... Ruborizar. Ele foi chegando mais perto, até o momento em que o seu cheiro era a única coisa que adentrava o meu nariz. Em poucos segundos as nossas bocas se reencontravam, num momento que queríamos repetir todos os dias a partir dali. Que desta vez, porém era num momento feliz. Enquanto nosso beijo ficava mais gostoso, eu pensava em mais alguma coisa. Como mais uma vez o eclipse havia mudado a minha vida. E me trazido uma felicidade descomunal.
MINUTOS DEPOIS
Fomos parar na cama. Não que tivéssemos feito alguma coisa. Quero dizer que, depois do beijo, tomamos um banho e fomos para a cama. Nem eu e nem ele tínhamos coragem para fazer sexo. Nem sabíamos se queríamos isso. Por enquanto, abraços e beijos eram as melhores coisas do mundo.
- Temos que pensar num plano... - falou, deixando eu deitar a minha cabeça no seu peito.
- O que nós podemos fazer ? Ir embora para um país desconhecido tentar a sorte ?
- Um Japão, uma Tailândia da vida ?
- Ou talvez uma Suécia, ou uma Polônia.
- Suécia talvez... Polônia não, dizem que está devastada por causa da Guerra.
- Porquê nós precisamos fazer tudo isso ein ?
- Como assim ?
- Ir para um país desconhecido. Ficar se escondendo. Ficar longe da família... Tudo isso por causa de amor. Amor... Uma coisa tão comum e normal na sociedade... Pode também causar muitos problemas.
- Você sabe que a nossa sociedade não aceita nada de anormal. Eu mesmo não aceitava, você sabe o quanto eu já pedi perdão por ter te feito sofrer quando nos conhecemos. Mas... Acabei entendendo que não é uma escolha. Que um amor dessa natureza é tão natural quanto qualquer outro. E que nós merecemos desfrutar dele - dizia, enquanto massageava o meu cabelo.
- Então aceitarei a proposta de algum país desconhecido. E nos mudaremos para lá. Iremos morar num local isolado, para que tenhamos privacidade. É assim que conseguiremos ser felizes ? Longe de tudo e de todos ?
- É...
Continua
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