Eu estava na minha antiga casa, mais especificamente no corredor onde dormia. Eu prestei maior atenção e percebi que estava sonhando mas por mais que tentasse não conseguia acordar e meu desespero começou a aumentar, pois sabia que quando tinha esse sonho ele destruía meu espírito e ficava em estado de pânico e por mais que eu leve minha vida pela racionalidade o meu passado me tira do eixo.
É incrível como dentre todas as coisas e de todas as pessoas, nossa família é a única que consegue ultrapassar todas as barreiras emocionais... Eles podem te fazer tão felizes e te fazer tão seguro, as palavras podem te dar conforto e paz mas se você não for aquilo que eles esperam você pode pegar tudo isso e levar pro outro extremo. E foi isso que aconteceu com minha família quando se tratou de mim.
Dentro do sonho parecia que eu estava no centro de um furacão de lembranças, cenas e sentimentos. Se alguém passasse uma eternidade procurando encontraria uma ou até duas lembranças boas, veja lá... Boas, não felizes.
As lembranças passavam e com elas os sentimentos. Eu criança, com menos de cinco anos ouvindo minha mãe conversando com a amiga sobre mim. "Se eu soubesse que o Felipe vinha jamais teria aceitado ficar com ele" dizia minha mãe olhando da amiga pra mim com nojo. "Ele só dá trabalho, chora demais, come demais, caga demais... eu tô ficando louca. Ele é estranho e pra acabar com tudo é feio. Olha pra ele e olha pro Felipe. Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei adotar isso."
Na época eu não entendia as palavras mas sentia o desprezo e no futuro viria compreender as palavras.
A amiga tinha pena mas jamais faria nada. As lembranças passavam. Meu irmão ganhando abraços e sorrisos, um eu te amo; Eu sendo importunado por ele e quando ia reclamar apanhava por estar fofocando; Ele ganhando brinquedos e os quebrando logo em seguida e eu descobrindo com os bonecos mutilados que me eram passados depois que ele se cansava que não gostava de brincar de boneco e nem de carrinho; Eu não conseguindo brincar com as outras crianças com medo de apanhar mais quando chegasse em casa, pois eu sabia que não importasse o quão comportado eu ficasse teria algum erro e com ele viria a punição; Meu irmão brincando enquanto eu entrava em uma rotina de trabalhos de casa; Eu apanhando caso errasse a tabuada; Eu apanhando por não conseguir comer charque e vomitando. Eram tantas lembranças ruins que me quebrava por completo. Algumas pessoas podem achar ser frescura afinal quem não sofreu na infância? Mas ser uma criança que nunca conheceu amor paterno e fraterno é horrível. É como não ter sentido pra viver. As únicas pessoas que gostavam de mim eram as professoras e isso só porque eu me esforçava pra chamar atenção dos meus pais. Mas elas sempre falavam que eu não interagia e quando chegava em casa apanhava por ser estranho. Apanhava porque não havia varrido direito a casa. Apanhava porque era o único escape de frustração dela. Apanhava porque na hierarquia eu era o último e ela jamais bateria no "anjinho" dos olhos claros e fios de ouro. Apanhava porque ela apanhava dele. Eu odiava meu pai. E por mais que minha mãe fosse daquele jeito comigo o meu amor pra ela era incondicional. Sabia que ela fazia aquilo comigo pra aliviar a frustração. No fim eu estava ajudando ela, não é? Eu só tinha oito anos e só queria ser notados, sempre meus pedidos eram atendidos e lá estava eu apanhando e escutando palavras que criança nenhuma devia escutar.
"Você não é meu irmão. Foi pego do lixo. Por isso é feio desse jeito. Ninguém te quis." Esses eram um dos bordões de meu irmão. Meu pai via tudo e ficava calado. Ele odiava os gritos e choros por isso falava que era pra fazer isso quando ele estivesse trabalhando.
Na escola ouvia palavras de ódio dos coleguinhas por ser estranho... Se eles soubessem que aquelas palavras comparadas as que escutava todo dia não eram nada. Depois vieram as agressões e quando chegava em casa apanhava ainda mais por ser fraco.
Minha infância foi meu calvário. Aos dez anos cheguei a conclusão de que se eu não existisse minha mãe seria feliz. Ora, todas as alterações de humor dela lá estava eu no meio. Sofria por minha mãe não ser feliz. E decidi que devia não existir. No outro dia após a descoberta perguntei da minha professora sobre morte. Ela me explicou que era errado matar e se matar. Tentei fazer com que ela não desconfiasse de nada. Quando cheguei em casa não tive a oportunidade de seguir com o plano. Pois fui recebido por gritos e tapas com a desculpa de que eu tinha quebrado algo e eu sabia que não tinha sido eu, pois com os anos eu aprendi a não tocar em nada que não fosse extremamente necessário. Acho que estava entrando na puberdade mais cedo. Meu corpo estava estressado e tive uma convulsão naquela tarde. Acordei no hospital tomando soro e minha mãe me olhou nos olhos e disse:
-Eu te odeio. Tudo que deu errado na minha vida é culpa tua. Eu devia ter deixado você morrer no buraco de onde você veio.
Depois desse dia eu desisti de me matar. Todo o amor que sentia pela minha mãe sumiu. Todos naquela casa me odiavam. E eu comecei a estudar mais, pois quando estudava esquecia e esquecer era o único remédio. Minha professora de artes se apegou a mim e começou a me ensinar violino. E isso foi minha salvação. Professora Cláudia dizia que eu era um prodígio e que fazia o violino chorar... na visão dela isso era um problema, pois ela dizia que ninguém faria um violino chorar daquela forma se não soubesse verdadeiramente o que é sofrer.
Aos doze anos descobri que nasci amaldiçoado. Pois eu comecei a sentir desejo pelos rapazes da academia de luta na rua de casa, que era onde meu irmão treinava. Eu estava condenado, eles não saiam da minha cabeça e até dos estudos me desfocavam, aqueles peitorais amostra pela fenda do vagui e a pele suada. Aos quatorze um dos garotos me fez pegar no pênis dele enquanto dizia ao pé do meu ouvido que me amava, eu quase morri de felicidade. No outro dia descobri que ele espalhou pra todo mundo. Após a aula eles estavam me esperando... meu pai com os olhos injetados e minha mãe com o olhar habitual. Eles não esperaram eu me defender e meu pai desceu o braço no meu rosto. Minha mãe a colher de pau. Minutos a fio e eu já estava anestesiado pela dor. Mas se alguém achava que isso era ruim estaria enganado, pois o pior eram as palavras durante o processo. E em algum momento daquele espetáculo eu decidi que merecia mais, que por mais que não tivesse o amor deles eu poderia comprar o de outros. Se eu tivesse dinheiro ela gostaria de mim mas ela já não merecia minha atenção. E se eu sobrevivesse aos açoites eu iria embora e ser por mim mesmo. Tudo isso era pensado enquanto havia os gritos e dor.
As lembranças eram tão ruins que eu estava paralisado e não conseguia sair do furacão até uma voz me chamar, era a voz da professora Cláudia. Quando eu acordo estava abraçado e confortado pelas três pessoas das quatro únicas pessoas que me amaram. E eu só conseguia pensar que a professora Cláudia não estava mais aqui e havia me deixado só mais uma vez. Talvez ela ficasse feliz por eu ter encontrado não só um amor verdadeiro mas sim, Três.
Eu vi que tem algumas pessoas querendo saber sobre o Orgulho e promessas, eu vou terminar o problema é que descobri que escrever com alguém como inspiração não é uma boa idéia, se é que vocês me entendem. Sou só um aspirante a escritor e tenho muito o que aprender. Se vocês soubessem quantos rascunhos e idéias eu tenho no meu celular. O problema é tempo e inspiração. Eu sempre digo pra mim mesmo vou fazer só um capítulo mas aí os personagens criam vida na minha mente e eu descubro personalidades incríveis e é difícil abandonar e ao mesmo tempo continuar. Devagar e se arrastando eu termino. Essa históriassó vão ter 10 capítulos. Não terminei mas acho que é o ideal. Espero que tenham gostado. Não foi um capítulo excitante mas faz parte da história. Como já havia citado, todos os quatro são jovens quebrados e estão juntos pra tentar juntar as partes em uma nova forma... Quem sabe mais bonita e refinada do que a anterior?