Cap.3 de 4
Sabe quando alguém te conta aquele segredo bombástico, e seu queixo vai no chão ? Foi assim que eu me senti naquele momento. Boquiaberto. Praticamente tudo o que envolvia acidente e o meu corpo sumiram da minha mente ao ouvir aquilo. Eu só conseguia pensar naquele enfermeiro que em poucos minutos fez tudo o que é de ruim sumir da minha mente.
- Espero que eu não tenha me iludido... - falou, virando - mas fiz tudo pelo que sinto por você. Sabe quando nós ficamos dias pensando na mesma pessoa, querendo saber como ela se sente, e se podemos ajudar ? Querendo dizer Oi, e participar da vida dela, mas não tendo coragem, tendo vergonha... É assim que eu me senti durante todo esse tempo - falou, se aproximando de mim.
- Poxa... Eu... Eu... Eu não sei o que dizer !
- Só me diz alguma coisa ? Existe alguma chance, a mínima que seja, de eu conseguir te conquistar ? - perguntava ele. Podia ver o seu nervosismo, no seu corpo, nos seus olhos e na sua respiração.
- Eu não sei... Eu... Eu... Acabei de acordar de um coma e você já me faz uma pergunta dessas ? - foi nesse momento que ele revirou os olhos.
- É verdade, desculpa. É que eu realmente estava muito ansioso para ver os seus olhos abertos, e não consegui me controlar. Mas isso não voltará a se repetir - ele já ia sair andando, mas eu segurei o seu braço.
- Ninguém nunca fez isso.
- O Que ?
- Me impressionar dessa forma. Me deixar sem voz, sem palavras, sem pensamentos. Com certeza, você tem chances de me conquistar Gustavo - ele sorriu de orelha a orelha ao ouvir isso - agora, me ajude. Eu não posso ir ao banheiro da forma convencional agora ? - ele arregalou os olhos e olhou para os lados.
- Eu não queria ter que te dar essa notícia.
- Que notícia ?
- Gustavo... - ele fez silencio, durante alguns segundos.
- Não me diga que...
- Você está paraplégico - ouvir aquilo foi como se eu levasse um tiro pelas costas.
- O que ? Quer dizer que eu perdi o movimento das pernas ? Nunca mais vou andar, é isso ? - ele tentou me acalmar.
- Não, calma ! Você está paraplégico, você não é um paraplégico. A fratura da coluna fez com que a sua medula se comprimisse, por isso você está sem o movimento das pernas. Mas isso é reversível. Você só vai precisar fazer fisioterapia para recuperar os músculos e... Se adaptar a cadeira de rodas durante algum tempo. As suas chances de recuperação são grandes, não é necessário chorar - aquilo me acalmou. Ouvir que aquilo não era permanente era incrível. Ouvir que estava paraplégico era doloroso.
- Eu não posso acreditar... - disse, deixando as lágrimas caírem do meu rosto.
- Anime-se ! Existem pessoas que perdem o movimento de todos os membros, para sempre. Você irá conseguir os seus de volta. Isso é motivo de muita alegria, para você - ele realmente tinha razão.
- É verdade. Mas... Dói sabe, saber que vou ter que ficar nessa situação, dependendo de pessoas para muitas coisas durante um bom tempo - lentamente então senti uma mão vindo de encontro com a minha.
- Se você precisar de ajuda, lembre-se, eu estarei aqui - em apenas alguns minutos, Gustavo já havia me impressionado como nenhum outro homem até aquele dia. Será se ele era uma boa pessoa ? Um bom partido ?
TEMPO DEPOIS
Os dias foram passando, e eu tive que continuar permanecendo no hospital. Os médicos queriam me observar, para ver se não haveria nenhuma complicação, ou sequela do acidente além daquelas que já foram descobertas. E ele continuava a me impressionar. Todos os dias ele vinha até o meu quarto, e quando estava de folga, passava um bom tempo ali, chegando a dormir as vezes.
"Assistia o Jornal que passa de manhã na TV quando ouço a porta ser aberta lentamente. Ele entra, fecha, e se vira.
- Oh meu Deus, eu acordei você ?
- Não, eu já estou acordado a algum tempo.
- Ah, ainda bem ! - sempre trazia flores, e as colocava num vaso ao lado da minha cama.
- Porquê você trás flores todo dia ?
- Isso é um quarto de hospital, merece um pouco mais de alegria, não acha ? - sorri.
- É... Eu acho..."
Me ajudava em tudo o que eu precisava. Me ajudava a ir ao banheiro, a tomar banho, e principalmente, a comer.
"- Está com fome Marcelo ? - dizia ele, entrando com uma bandeja no quarto.
- Mesmo que eu não esteja, você vai me fazer comer isso tudo mesmo - ele ria.
- Ainda bem que você sabe ! - e lá ia eu tomar o café, com ele ao meu lado, tagarelando mil coisas "
Aos poucos eu aprendi a confiar naquele homem. Poxa, alguém que a seis meses me ajudava, perdia sono por minha causa, sustentava a minha estada num hospital particular mesmo sem eu ter nenhuma intimidade com ele, no mínimo merecia a minha confiança. E além disso, ele foi se mostrando um amor. Um típico cavalheiro, inexistente nos dias atuais.
" E mais uma vez ele entrava no meu quarto. Dessa vez trajava uma capa de chuva, e seu cabelo estava todo molhado.
- Oh meu Deus, que chuva ! Achei que ia morrer afogado - acabei rindo.
- Porquê você veio então Gustavo ? Devia ter ficado em casa.
- Se eu ficasse em casa, não conseguiria ficar sossegado, pensando no seu bem estar o tempo todo - e mais uma vem ele fazia eu ficar sem palavra. Tirou a capa, colocou num canto.
- Vem cá - falei, chamando a atenção dele. Ele veio na minha direção e parou ao meu lado - abaixa ! - ele abaixou. Peguei a minha toalha e começei a enxugar os seus cabelos - Você devia ter vindo com um guarda chuvas.
- Eu não encontrei na minha casa - quando Achei que estava bom, parei. O cabelo dele estava super bagunçado - está lindo ! - dizia, agora arrumando novamente aquele cabelo. Enquanto mexia nas suas madeixas, aproveitei para observar aquele rosto, que cada vez mais ocupava meus pensamentos. O seu olhar estava desnorteado, sem direção.
- Se estou bonito, vamos tirar uma foto - arregalei os olhos.
- O que ? Não ! Estou feio, todo amassado.
- Você é lindo de qualquer jeito - logo ele pegou o seu telefone, me puxou e tirou o selfie. Aqueles braços no meu corpo me arrepiavam. O homem mais lindo que eu já havia visto cheirava muito bem. O perfume era perceptível de longe - e ai, o que achou ?
- Acho que ficou meio des... - ele me interrompeu. Com um beijo.
Continua
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