Dessa vez quem bugou fui eu. Fiquei sem palavras, sem argumentos, sem marra alguma, hehehe. Eu não consegui negar pra mim mesmo que havia curtido a pegada dele, quanto mais negar pra ele, ali me fitando. Não sei quanto tempo passou, mas tudo parecia ter diminuído de velocidade. Lembro ainda hoje do olhar que ele me lançava enquanto se aproximava de mim. Meu corpo estava imóvel e os meus olhos o percorriam por inteiro, como se tentasse capturar o momento, acho que podemos concordar que deu certo, né?
Haha. Acho que apenas dois passos nos separavam. O jeans evidenciou sua mala quando o primeiro passo foi dado. O tecido preto da sua camisa, hora evidenciava o contorno do seu peitoral, hora formava ondas à medida que o seu tronco girava para contrabalancear o movimento das pernas. Os seus olhos fixos e um pouco avermelhados pelo álcool me fitavam, me devoravam. Ele sabia o que queria. Eu estava de cueca, mas ele me olhava de forma tão intensa que só tive certeza que ainda estava vestido porque sentia o tecido contra o meu corpo. Assim como um predador ele me tomou em um beijo. O beijo foi muito intenso, o engraçado é que ele não me pegou de forma bruta ou me apertou ou segurou meus braços, ele simplesmente me beijou. Indefeso, simplesmente me entreguei. Ainda hoje não sei explicar o que aconteceu ali. Só depois de ver a minha entrega, que foi em segundos, hehehe, foi que ele me envolveu nos seus braços e passou a explorar cada parte do meu corpo. A sua língua invadia e explorava toda a minha boca, ainda era possível sentir um leve gosto amargo do malte. Só quando me faltou o oxigênio foi que parei o beijo. Sorrateiro, André já passou a maltratar o meu pescoço.
G: Nossa! – Falei quase gemendo e ao mesmo tempo arfando, puxando todo ar que conseguia – Calma aê André – Falei dando um leve empurrão contra o seu peitoral, que não se moveu nem um milímetro. Ele apenas parou e me fitou, mas ainda me prendia em seus braços.
A: O que foi? – Perguntou confuso – Você não quer?
G: Não é isso. Não quero assim, desse jeito. Você ainda tá bêbado e...
A: Olha aqui como é que eu tô! – Falou colocando minha mão pra sentir seu volume.
Claro que aproveitei e apalpei mesmo, hahaha. Mas, logo voltei à terra.
G: Calma André. – Falei tranquilo dando um leve passo para trás.
Ele ficou alguns instantes com a cara de bobo tentando entender. Acho que pra ele com aquele tipo de atitude eu já estaria na rede, hahahaha, não esse peixe aqui. Gente, sinceramente eu não sei qual o meu problema, aliás, até sei sim, sou muito cabeça dura, truculento e marrento também, mas fazer o quê né? Mas depois de me ter nas mãos eu faço valer a pena.
G: Vamo fazer assim. – Falei tentando ganhar alguns minutos, hahaha, eu não fazia ideia do que a gente ia fazer, se bem que eu sabia muito bem o que eu queria fazer, hehe.
Ele me encarava e ficou aquele clima constrangedor no ar. Que droga! Pensa em algo Gabriel!
G: Então, tá tudo certo, já esqueci esse seu papelão. Mas me deixa dormir, certo? Amanhã a gente conversa, tudo bem? – Falei até um pouco entusiasmado, foi péssimo, hahaha. Isso não por estar mandando ele embora, mas sim por ter conseguido pensar em alguma coisa.
Ele me olhou confuso mais uma vez. Eu me virei e fui caminhando em direção a porta. Quando me virei pra ele novamente, já com a mão sobre o trinco, vejo que ele estava sentado no sofá, pernas abertas, cotovelos sobre os joelho e cabeça baixa.
G: André?! Você tá bem? – Falei já um pouco preocupado.
A: Você tinha toda razão. – Ele falava de cabeça baixa. – Eu bebi muito hoje, na-na na verdade eu nem sei como consegui chegar até aqui!
G: Tá tudo bem André, esquece isso. Você tá se sentindo bem? Quer ir até um hospital?
A: Não, quer dizer tô me sentindo bem, só acho que ainda tô meio tonto.
G: Tem certeza que não quer ir no hospital?
A: Não, achei que você podia cuidar de mim.
G: HAHAHAHAHAHAHAHAHA!
Cara, não me aguentei eu gargalhei alto mesmo, quase chorei de rir. Só quando vi que ele continuava sério foi que me toquei.
G: Desculpa André, não sei o que me deu, eu achei que...
A: Mas eu falei sério. – Ele falou me interrompendo. – Eu não gosto de hospital nem médico, quer dizer só de você.
G: Besta, sou um estudante seu bobão. – Falei meio sem graça. – Deixa eu ver se tenho alguma coisa aqui pra te ajudar.
Fui até a cozinha, dei uma revirada nos remédios, encontrei um antiemético e voltei pra sala. Ele já tinha tirado os sapatos e as meias e estava lá, todo esparramado no sofá. Caralho, que tesão da porra. Calma Gabriel, juízo, o cara ta mal.
G: Toma isso aqui. – Falei dando o blister e um copo com água.
A: Isso vai me dar sono? – Ele falou ainda deitado.
G: Vai te ajudar a dormir sim.
A: Então não quero. – Falou sério com o antebraço direito sobre os olhos.
G: André, você não falou que tá tonto? Toma logo pow, para de graça. – Falei já me irritando e colocando o copo de água em cima do rack, que fica ao lado do sofá.
A: Vem cá vem – Falou me puxando – Fica aqui do lado que melhoro rapidão.
Cai na risada e acabei cedendo, meio a contragosto. Quem já leu o outro conto sabe que não curto muita baboseira e tudo mais. Acabou que a gente ficou ali de casalzinho no sofá fazendo carinho um no outro e conversando besteira. Eu de certa forma até que estava confortável, mas notei que ele tentava ajeitar o braço dele que estava embaixo da minha cabeça; Fora que o meu sofá é minúsculo, apesar de ser confortável (ah, não sei se vocês lembram, mas antes eu só tinha um colchão que ficava solto pela sala que servia pra ver tv, então, um amigo se mudou e me vendeu o sofá que ele tinha bem baratinho). No mais, Eu + André + Sofá = Duas sardinha numa lata.
G: Tá incomodando? – Falei me tentando me equilibrar pra me levantar.
A: Na-não tá ótimo, fi-fica quietinho ai. – Falou apressado gaguejando e me segurando.
G: Para André, minha cabeça tá te machucando. Deixa eu me levantar. – Falei tentando me desvencilhar.
A: Nossa, você é chato assim sempre? – Falou meio bravo.
Inspirei e soltei o ar rapidamente pelo nariz. Fiz negativo com a cabeça;
G: Não, só com você seu troxa – Falei já de pé.
A: Que foi agora – Falou já sentado – Vai me mandar embora é? Você é um babaca mesmo Gabriel. Não sei porque que eu fui voltar aqui, vim aqui me redimir conversar contigo e você só me trata mal...- Falava já de pé andando de um lado para o outro. O idiota não parava de tagarelar, ainda bem que sem a gagueira, hehehe.
G: Quer calar a boca caraio? – Falei em um tom mais alto.
André parou cruzou os braços e ficou me encarando.
G: Só ia te chamar pra deitar na cama seu babaca, mas quer saber, se tu quer ir a porta tá aberta pra ti e outra, você veio por quê quis então não vem com mimimi não blz? – Falei caminhando pisando firme em direção ao quarto.
A: Ô, calminha aí. – Falou com a mão no meu ombro e aproximando o corpo do meu. – Quer dizer que posso ir lá deitar contigo?
G: Além de gago e burro é surdo também? – Minha paciência já tinha ido pro espaço, hehehe.
André então me deu um apertão com a mão que estava no meu ombro, que doeu pra caralho, e imobilizou o outro braço colocando pra trás.
A: Me respeita Gabriel, que eu acabo com essa tua marra em dois tempos.
G: Vai me bater é filho da puta? Se tu encostar um dedo que seja em mim eu juro que... – Falei puto entre os dentes.
A: Relaxa, não vou te bater não, mas quando esse cuzinho for meu – Falava ao pé do meu ouvido – vou te mostrar o que é um macho, vou acabar com essa tua marra moleque.
Involuntariamente, o pau deu sinal de vida na cueca, ainda bem que eu tava de costas pra ele, hehehe.
G: Para de graça André, me solta, tô falando sério – Falei firme.
A: Foi mal, mas tu me faz perder a paciência. – Falou me soltando – Te machuquei?
G: Vai se fuder! – Falei normal e entrei no quarto, não queria mostrar pra ele que tava com a barraca armada, hehehe.
A: Blz, tô indo embora - Falou em tom normal.
G: André? – Falei em tom mais alto
A: Quê? – Ele ainda estava no mesmo lugar, deu pra ver pela sombra.
G: Vem aqui logo seu babaca!
[continua]