Cap.27
Ao ler aquilo, meu coração acelerou. Minhas mãos estremeceram, e eu fiquei em dúvida se devia continuar a ler ou não aquela carta. Mas Não teve jeito, a minha curiosidade fez eu continuar a ler.
"... Eu começei a desconfiar ainda quando ele estava aqui em casa, já que a cumplicidade de vocês dois não é comum a dois homens. Tive certeza, quando sua tia viu vocês aos beijos no Rio de Janeiro, dentro do quarto..."
Parei e tentei me lembrar dessa cena.
"...- Estou tão apaixonado por você. Acho que é o melhor momento da minha vida.
- Da minha também - falei, o beijando novamente. Quando ele se separou, por algum motivo a primeira coisa que eu olhei foi a porta. E ela se mexia, para o lado da fechadura - alguém entrou aqui ?
- Porquê ?
- Vi a porta mexer...
- Eu não ouvi nada. Deve ser o vento..."
Será se foi a minha tia que abriu a porta aquele dia e viu ? Continuei lendo a carta.
"...No início eu não soube direito o que fazer. Fiquei com raiva. Busquei entender tudo aquilo. Para mim, aquilo era estranho e errado. Mas eu não conseguia ver maldade nenhuma em você. Por isso fiquei tão confusa. E... Quando você voltou eu passei a fingir que nada havia acontecido. Principalmente porquê já sabia que ele ia embora. Essa relação de vocês só podia ser algo do momento, alguma curiosidade, sei lá o que... Porém me surpreendi, quando vi o quanto você ficou triste. Parecia que havia perdido um filho, ficado viúvo, enfim... Quando ele começou a escrever para você, minha primeira vontade foi não deixar essa relação ir adiante. Mas algo dentro de mim dizia que isso era errado, então eu deixei você ler tudo o que ele escreveu. Até que de repente ele parou. Passei a imaginar que para ele era realmente algo de momento, que ele não levou aquela relação a Sério. Exatamente por isso mantive a minha ideia de que você fosse para a Europa estudar, e deixei ir quando escolheu a França. Fiquei meio preocupada com o que poderia ocorrer, mas já que ele não havia ligado para a relação, aquilo não corria o risco de continuar. Nos últimos tempos, minha saúde piorou bastante. Falta de ar, dores, enfim... Mas eu decidi não dizer nada, para que você continuasse a se concentrar apenas nos estudos. Menti quando disse que estava apenas com um mal estar no dia da sua formatura. Na verdade estava com tanta dor que não conseguia sair da cama. Não sei o que houve. Nenhum médico conseguiu me explicar o porquê eu comecei a sentir várias dores e sintomas estranhos. Fiquei muito feliz quando vi as fotografias da sua formatura e... Ligeiramente triste quando soube que você se mudaria para a Suécia. Mas feliz, pois sentia que não me recuperaria dessa doença inintendivel. E não queria que você me visse morrer. E manteria tudo em segredo, inclusive depois da morte. Porém, quando soube que você e Maurice haviam se reencontrando e estavam morando juntos, pela dona dos apartamentos e depois pela mãe dele, tudo piorou. Não que eu tivesse raiva ou nojo da relação de vocês. Eu só, tenho tanto medo de vocês sofrerem. Eu quero que você seja feliz, da forma que achar melhor. Eu não sei se é certo, ou errado. Mas o futuro de vocês me preocupa muito. Eu sinto que a minha hora chegou, que a minha vida acabou. E a última coisa que eu quero dizer a você, é que viva no sítio com o Maurice, e se sustente com as minhas empresas, que serão suas. E não se sinta culpado, ninguém tem culpa de amar alguém. Eu... Na medida do possível, compreendo vocês, e quero que sejam felizes. Te amo, meu filho"
Ao fim dessa última palavra, a tinta deslizava até a beira da folha. Com certeza nesse momento ela havia falecido. Meus olhos não paravam mais de chorar. Então ela sabia, sempre soube. Desde quando ele morou aqui, ela já sabia. Mas fez vista grossa durante quase uma década. O que uma mãe não Faz por um filho ? E essa doença ? Porquê ela não me contou !? Poderia ter levado-a para a Europa, se consultar com os melhores médicos do mundo. Mas não, ela infelizmente faleceu sem nem ter a chance de se curar, me deixando um enorme vazio. E para piorar, agora eu sabia que não era apenas ela que sabia do nosso amor. A mãe dele também sabia...
- Antoine, aonde você colocou aquela regat... - ele parou de falar quando me viu aos prantos com aquela carta na mão, sentado na beira da cama - EI, o que houve ?
- Ela sabia de tudo... - ele veio e sentou-se ao meu lado, me abraçando e beijando o meu rosto.
- Ela quem ?
- A minha mãe... - ele arregalou os olhos.
- O que ? Como ela sabia ?
- Olha essa carta... - durante alguns minutos o silêncio perdurou entre nós, enquanto ele lia todo aquele texto.
- Então a minha mãe também já sabe... E nos dedurou para ela.
- Sim... Eu só espero que não tenha sido esse o motivo do infarto. Eu não quero, de jeito nenhum ter sido indiretamente o culpado pela morte da minha mãe.
- Que culpa nós podemos ter ? - ele perguntou - não fizemos mal a ninguém - disse, passando a mão nos meus cabelos - apenas amamos. E ainda em segredo... Não temos culpa dela ter adoecido, e ainda mais da minha mãe ter bancado a linguaruda. Mas deixa, quando eu voltar a Paris irei tirar satisfações com ela - apenas ouvi ele falar, enquanto o abraçava e recostava a minha cabeça no seu ombro.
- Não brigue com a sua mãe. Apesar de tudo, eu tenho certeza que ela quer apenas o seu bem... Tenho certeza que ela não fez por maldade, fez porque achava que era o melhor a se fazer. Além disso, o que isso vai mudar ? Ela já se foi mesmo, o que resta é aprendermos a conviver com a perda.
NARRADO POR MAURICE
Era em momentos como esse que eu via o ótimo coração que tem o meu amor. Qualquer um em seu lugar iria preferir brigar com a pessoa que indiretamente pode ter ajudado a matar a sua mãe. Mas ele não... Ele tem um bom coração !
TEMPO DEPOIS
Os dias foram passando, e aos poucos eu tentava recuperar a auto estima dele.
" Estávamos dormindo juntos, no mesmo quarto, já acostumados de ter o corpo esquentado o do outro. Acordei um pouco mais cedo que ele. Adorava quando isso acontecia, pois eu podia ficar o observando. Ele é tão lindo dormindo... Fazia meu coração acelerar logo cedo. Eu sabia que ele estava cansado, já que estava tendo pesadelos a noite, e tendo alguma dificuldade para dormir. Eu pensava ainda na cama, formas de alegra-lo. Tomei um banho, fui até a cozinha e pedi a cozinheira para fazer aquele Bolo de Milho que eu sei que ele ama. Fui até o jardim, apanhei diversas flores e fiz um buquê caseiro . Lentamente levei até o quarto, e coloquei ao lado da cama. Peguei o papel, e escrevi algumas poucas palavras.
(Lembre-se, eu te amo mais que tudo. Que o seu dia seja incrível !)
Esperava ele acordar. Não demorava muito e eu via aquele rosto fofo e amassado aparecer pelo corredor, segurando o papel que eu havia escrito para ele.
- Maurice ! - e então ele vinha na minha direção, no sofá e se aninhava nos meus braços, ainda manhoso.
- Dormiu bem ?
- Melhor que nos outros dias. Acho que enfim eu estou conseguindo assimilar isso tudo, que aconteceu.
- Eu fico feliz. Quero te ver bem de novo, animado como sempre - como uma criança, ficava brincando com os meus dedos.
- Se não fosse você, eu acho que não teria aguentado tudo isso... Você e Muito importante para mim Maurice, eu não viveria sem você ! - só me restava lhe dar carinho, e tentar de todas as formas recuperar o seu bom humor.
TEMPO DEPOIS
Tomávamos o café juntos, como sempre. Eu estava mais alegre, pois podia ver que ele estava a cada dia melhor e mais animado. Estava conseguindo superar tudo o que havia acontecido. Isso era ótimo.
- Já terminou ?
- Já... O bolo estava ótimo, como sempre - me levantei, fui até o seu lado da mesa e começei a puxa-lo.
- Bem que a gente podia ir tomar banho no riacho...
- Mas agora ?
- Agora é que é bom, a água deve estar geladinha.
- Mas... Eu nem arrumei a minha mala ainda...
- A gente tem tempo, só voltaremos para Paris no fim da semana... Vamos, por favor ?! - ele riu com a minha cara de cachorro pedinte.
- Tá, vamos ! - e então fiz ele correr comigo.
MINUTOS DEPOIS
- Espera, nós nem vestinos uma sunga !
- Não importa, podemos tomar banho de short mesmo - a minha pressa era uma tentativa de diverti-lo, já que ele ainda estava meio que caído. Só fizemos tirar a camisa e logo os dois estavam mergulhados na água.
- Meu Deus, tá muito gelado ! - ri.
- Mas tá ótimo pra mergulhar - ele riu.
- É mesmo... - ficamos nadando naquela água gostosa, para lá e para cá em busca do relaxamento. Não demorou muito e estavamos fazendo guerra de água. Era bom ver que ele estava se animando de novo. Eu estava feliz.
MINUTOS DEPOIS
Agora mais contidos, sentia ele me abraçar por trás e fazer uma massagem nas minhas costas.
- Nós temos que pensar numa coisa.
- No que ?
- No que faremos a partir de agora...
- Como assim ? Você não quer manter o plano de ir para a Suécia.
- Talvez não. Pense bem, aqui nesse sítio , que agora é só meu nós teremos tranquilidade para viver bem, e do jeito que nós quisermos. Quando vierem visitas, a gente finge. As únicas pessoas que realmente importavam já sabem, e uma delas nem neste mundo mais está. E não se esqueça que a minha mãe me deixou várias empresas. Se eu deixar tudo nas costas de terceiros, é capaz de eles tirarem a titularidade de mim sem eu saber...
- Você realmente tem razão. Nós temos que pensar muito no que vamos fazer a partir de agora... - continuei sentindo aquela deliciosa massagem, quando escutei aquela voz que imaginei que nunca ouviria ali.
- Já decidiram o que farão da vida ?
Continua
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