Eu estaria no lugar de cada um de vocês e faria o mesmo, mas as coisas não funcionam no ritmo ou da maneira que gostaríamos que funcionassem!
Por 3 meses o Dimas morou comigo, se tornou meu amigo, minha família, me ajudava nos afazeres domésticos, com as compras, praticamente em tudo.
Você estar sentado a uma mesa com seu amigo, rindo, bebendo e jogando conversa fora, numa noite que era para ter sido de comemoração.
Algumas horas depois, aqueles mesmos olhos castanhos e brilhantes, agora sem vida, voltados para uma direção reta, como se clamassem por sua vida.
Tive muitas perdas e toda vez que eu me sentia num estado de alegria, algo ruim vinha com mais força e tirava essa felicidade de mim.
Talvez fosse eu! Talvez o dedo podre fosse o meu ou sei lá, minhas questões internas já estavam gritando dentro de mim.
Liguei para a Michelle e pedi que acompanhasse tudo, ela ficou abalada, mas não me abandonou.
Naquela madrugada eu fui até a delegacia e mais uma vez dei o depoimento do que vi, mas não tinha muitas informações.
O Delegado me fez uma pergunta em tom de arrogância e dúvida quanto a minha índole.
Disse: então Sr. Fábio, ele estava morando a quanto tempo com o Sr.?
Eu: mais ou menos uns 3 meses.
Delegado: gozado, tanto tempo assim e o Sr. não sabia nada sobre a vida dele? Ele tinha um histórico irregularidades bem grande aqui conosco, e se eu me lembro bem, nós mostramos ao Sr., não?
O Sr. tem certeza absoluta de que não sabia das práticas do Dimas?
Eu: eu sei da vida ruim que ele teve, mas ele queria sair disso tudo, ele mataram o Dimas porque ele não queria mais fazer essa vida.
Por acaso o Senhor Delegado está duvidando da minha palavra?
Eu sabia desse histórico dele sim, mas como já lhes contei! O Dimas não queria mais isso pra ele.
Delegado: hum, eles tem dois caminhos, ou morrem ou prisão, e eles que escolhem esses caminhos.
Minha vontade era dar um tiro na cabeça dele, mas de fato havia verdade nas palavras do policial.
Saindo da delegacia eu fui com a Michelle até a casa da mãe dele.
Ela abriu a porta, mas não nos convidou a entrar.
O que querem?
O Dimas aprontou novamente?
Ele não mora mais aqui e espero que ele suma da face da terra.
Aquela mulher veio com 4 pedras na mão sem antes ouvir o que fomos lhe dizer.
Eu a interrompi dizendo que o filho estava morto e que não daria mais trabalho.
Ela parou por alguns segundo e respondeu como se no lugar do coração, tivesse uma pedra de gelo.
Aquele moleque não deveria ter nascido, só me deu dor de cabeça e morreu tarde, se era isso que queriam me contar, podem ir embora, não faço questão de ir lá.
Ela bateu a porta em nossas faces.
Eu insisti e tornei a bater na porta e pedi que fosse velar o corpo do filho.
Ela gritou que os filhos dela estavam todos alí com ela, que o Dimas era um erro do passado, por ela poderiam enterrá lo como indigente.
Fábio essa mulher não quer saber do filho, não insista e vamos embora porque o pessoal dessa vila me dá medo, vamos embora daqui amigo.
Eu e Michelle voltamos para minha casa eu dormi um pouco até amanhecer, no outro dia procurei os documentos dele e os levei até IML, depois fomos para uma casa funerária, paguei tudo sem remorso, eu queria que seu enterro fosse digno, apenas eu, a Michelle e o senhorzinho com seu ajudante que fizemos o enterro dele.
Eu não tinha conversado com o Ricardo com todo aquele tumulto na minha vida.
Ele estava aparentemente feliz com a Mary e por isso eu evitava contato com ele, mudei meu horário de treinos para não ver ele.
Após 30 dias ou mais recebi uma carta de um escritório de seguros pedindo que eu comparecesse o mais rápido possível para tratar de assuntos de meu interesse.
Eu fui até o tal escritório que era conveniado a funerária que fez enterro do Dimas.
Achei estranho, mas aguardei na recepção esperando pelo atendimento.
Um rapaz novo de uns 26 anos me convidou a entrar em sua sala, Rafael era o nome na plaquinha em cima da mesa.
O Senhor é o Fábio?
Isso, eu mesmo! Recebi essa carta de vocês e vim ver sobre o que se trata.
Bom Sr.....
Só Fábio rs, podemos dispensar as formalidades rs.
Bom Fábio, a um tempo atrás fechamos um contrato de seguro de vida com o Sr. Dimas, contrato esse que consistem em: seguro é uma espécie de transferência de risco onde, conforme descreve o art. tal, o segurador se obriga, através de um contrato, a garantir interesse legítimo do segurado.
O que se dá através do pagamento de determinado valor, denominado prêmio.
Referente a determinada pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Tem por princípios norteadores, além das cláusulas legais, a sinceridade e a boa fé do contratante, que está disposta na regra geral dos contratos, nos termos do art. tal do Código Civil...
Eu interrompi toda aquela ladainha que ele falava.
Rafael, eu prefiro que me diga qual o real motivo de eu estar aqui?
Eu paguei por todas as coisas que foram utilizadas no enterro dele, não entendi porque me chamaram aqui?
Bom Fábio, o Dimas fez um seguro de vida com uma cláusula que incide em único beneficiando como sendo o Senhor.
O Dimas veio a falecer e com tudo nós em nossa obrigação devemos notifica lo sobre os valores que serão encaminhados ao Senhor, por depósito bancário.
Não entendi Rafael? Que história é essa?
Claro Fábio eu lhe explico.
O Dimas nos procurou para fazer um seguro de vida, contratou um dos nossos planos e nos informou que o único a quem ele exigia que o benefício fosse direcionado, fosse a você.
Aqui está uma carta a punho, o contrato e a cláusula, nossa carência é de 3 meses e em decorrência disso o valor não chega ao máximo, mas eu diria que é um valor até que considerável.
Temos a sua disposição um valor de R$ 150 mil, estará em conta entre 2 a 3 dias, só precisamos acertar alguns documentos e pronto.
Era impossível todo aquele valor pra mim, dizendo que era meu e eu podia fazer o que bem quisesse com aquele dinheiro.
Pensei em dar a mãe dele, mas ela não amava o filho, mas os irmãos menores não entendiam ainda e por isso e me certifiquei de garantir os estudos, vestes e alimentos a eles.
Com o dinheiro também pude devolver a parte da grana que ainda devia ao Ricardo e o restante está no banco rendendo.
Me especializei na minha área, com isso ganhei outra promoção e um salário ainda melhor.
Já pude enfim almejar a minha tão sonhada casa própria, tinham se passado alguns meses, eu quase não falava com o Ricardo, nem sequer sabia se ainda estava namorando.
Um dia convidei a Michelle para ir comigo ver algumas casas, meu sonho era uma com quartos na parte de cima, uma escada grande e uma garagem para o carro que eu compraria um dia.
Procuramos várias, mas nenhuma me agradou.
Certa manhã de sábado eu fui comprar pão para tomar café e me deparo com o Ricardo, barbudo e meio relaxado, nada daquele homem bonito que me encantava.
Ricardo? É você mesmo? O que houve?
Ele sorriu e me deu um abraço, aquele abraço que você dá quando faz muito tempo que não vê seu (sua) amigo (a).
Ele me disse que estava meio que de mau com o mundo, muitas coisas tinham acontecido naqueles meses que não nos vimos.
A Mary já tinha dado linha, não estavam juntos mais e o filho nem sequer ligava para falar com ele, nem sabia como estavam vivendo lá fora.
Passamos o dia juntos, fomos almoçar, conversamos muito, contei sobre as ocorrências em minha vida, enquanto ouvia as da vida dele.
Assistimos a um filme, compramos algumas roupas e aproveitamos para fazer a barba e cabelo dele que estavam péssimos rs.
Foi um dia muito bom e produtivo, reatamos aquela amizade que ficou esquecida naqueles quase um ano de separação.
Ele também me ajudou a encontrar a minha casa, eu me senti realizado tendo aquele contrato em mãos, uma casa simples, mas linda e do jeito que eu sonhava.
Eu dei uma entrada e o restante toda financiada, as parcelas eram meio salgadas, mas se houvesse um contratempo eu usaria o dinheiro do seguro.
Eu queria fazer uma festa, convidar amigos, meus pais, meus familiares, mas cadê?
Eu não podia contar com meus pais, os únicos amigos que eu tinha eram o Ricardo e a Michelle.
Mesmo assim fizemos uma festinha de casa nova, e naquele dia eu fui surpreendido por tantas pessoas da faculdade que eu nem lembrava mais, todos a convite da Michelle, dentre os convidados me deparo com o Duda.
Estava mais forte e bonito, rosto com barba por fazer e uma atitude mais de homem, não era mais aquele "molecote".
Veio me cumprimentar e me dar os parabéns por minha realização, também demonstrou estar feliz por me ver, não bebia mais e também estava focando no objetivo pessoal.
O Ricardo recepcionava as pessoas e fazia cara de não entender de onde brotavam tantas pessoas daquele jeito.
A Michelle bebia e conversava com algumas meninas na cozinha.
Eu subi para trocar de camiseta e não vi que o Duda me seguiu até o quarto.
Então aqui é o quarto do anfitrião? Ele falou entrando.
Esse é meu Duda, esse é vai ficar do meu jeito, respondi rindo olhando para algumas coisas ainda desmontadas ao chão.
Ele se aproximou de mim e olhando nos meus olhos perguntou: e quem vai ser o sortudo a passar as noites aqui com você?
Eu não consegui olhar nos olhos dele para responder.
Ele segurou meu queixo e me deu um beijo enquanto o Ricardo nos olhava entre a porta e o corredor.
Ele saiu e foi embora, fui atrás dele para explicar, tentar explicar sobre o beijo que ele acabará de ver.
Ele entrou no carro e foi embora, enquanto eu corria aos berros atrás.
A festa já tinha acabado pra mim e por isso pedi a Michelle que dispensasse os convidados.
O Duda estava no quarto me esperando.
Eu não briguei com ele, mas coloquei de forma objetiva que não queria nada com ele, que era passado, foi bom, mas se tinha acabado com o passar do tempo.
Ele foi embora e até hoje eu não o vi mais, nem sei como está.
Eu precisava me entender com o Ricardo, ou a gente se envolvia de vez ou acabava de vez.
Tente falar com ele, procurei, liguei e nada de ele me retornar, só que dessa vez eu iria até o final.
Naquela semana eu recebi uma ligação do Danilo.
Ele estava chorando e bastante impaciente, a voz trêmula e nervosa.
Dani, ta tudo bem?
O que está acontecendo?
Porque está nervoso desse jeito?
Fábio, e...eu....eu fiz merda!
Estou com HIV, minha vida acabou, eu destruí minha vida.
Aquela notícia me assustou muito, eu não sabia como reagir, o que dizer ou como dizer.
Fiquei em estado de choque, mas me contive.
Calma Dani, você fez exames? Está confirmado? Já falou com seu pai?
Ele respondeu que fez os exames e era fato, era o vírus mesmo, e ainda não tinha falado nada ao pai, pois estava com medo da reação dele, já que tinha um tempo que eles não se falavam.
E o João?
O João quem passou essa merda pra mim Fábio, quando ele foi pró Brasil, ele já tinha isso.
Aquele momento me deu um calafrio, um gelo percorreu minha espinha, eu tinha transado com o Danilo, e não me lembrava ao certo se tinha usado camisinha.
Agora eram dois com os nervos a flor da pele e eu tentei acalmar o Dani, logo após eu desliguei o telefone dizendo que conversaria com o Ricardo.
Eu precisava fazer o teste também para saber se não tinha esse risco também.
Fui até a casa do Ricardo para conversar com ele, e por sorte consegui encontrar ele em casa.