6.
- Olha, parece que alguém dormiu nas nuvens ontem – disse Arnaldo, observando o filho descer.
- Concordo plenamente – apoiou Teresa, montando a mesa do café. – A que se deve esse brilho no olhar?
- Bom... digamos que o papai quase acertou – Christian, sentou-se à mesa. – Não dormi nas nuvens, mas estive com o meu anjo-da-guarda.
- Hum... isso me está me cheirando a romance. – Teresa beijou o filho, antes de tomar o seu lugar, para o café da manhã.
- Isso não é justo! – protestou Suzana.
- O que não é justos, filha? – quis saber Arnaldo.
- Até o Christian que é gay, conseguiu uma pessoa, e eu, uma pessoa linda, inteligente, carismática, divertida, misteriosa, interessante...
- Pra começo de conversa – Christian a interrompeu –, ser gay não diminui as minhas chances de encontrar um pessoa bacana. Em segundo lugar, eu não disse que tenho alguém.
- E em terceiro lugar, vocês dois estão atrasados – disse Teresa. – Tomem café rápido, que o papai vai levá-los hoje.
De repente, Christian percebeu que seria capaz de esquecer Pedro Miguel. Toda aquela conversa em família, sobre um suposto alguém, referente a Érico, o fez se sentir tão bem. Ah, ter alguém! No final é o que todos querem. Busca-se satisfação e êxito profissional; fama e dinheiro, reconhecimento por algo, mas quando pensamos em felicidade, quase sempre, talvez inconscientemente, a figura de alguém está associada a isso. Com Christian não era diferente. Não havia nada a perder. Longe disso. Havia muito a ganhar. E sensibilidade à parte, não seria muito difícil se perder nos braços de Érico. Todavia, ele estava decidido quanto à algo: os erros que cometera, nutridos pela expectativa que ele gerara em relação a Pedro Miguel, não seriam cometidos com Érico.
“Topa almoçar comigo depois da aula? Não se sinta pressionado, mas seria uma ótima oportunidade de conversamos melhor. Estou disposto a responder todas as suas perguntas”, Érico havia enviado essa mensagem para Christian, assim que este chegou na escola.
“Muito tentador. Eu aceito”, respondeu Christian, pensando na quantidade de perguntas que queria fazer para o seu encapuzado.
- Cara, não tive coragem de perguntar – William chegou de uma vez.
- Ai, William! – Christian levou a mão no peito. – Você que me causar um enfarte?
- Desculpa, Christian – William estava muito afobado. – Olha, me desculpa por ter sido um idiota com você.
- É. Você foi um perfeito idiota. – concordou Christian. – Mas, o que eu posso fazer? Eu amo esse perfeito idiota.
William beijou o rosto de Christian, pulando de alegria.
- Você é um máximo, Christian! – ele exclamou.
- Vê se da próxima vez, você confia em mim, antes de dar um chilique – falou, Christian, ao mesmo tempo em que seu celular sinalizou uma nova mensagem.
Ele abriu, deixando o visor do celular apenas ao alcance de seus olhos:
“Ótimo! Passo na hora da saída pra te pegar. Beijos”.
- Algum problema? – perguntou William, observando o desconforto do amigo.
- Não! – Christian, forçou um sorriso.
- Voltando ao que interessa. O que a gente vai fazer, Christian?
- Fazer? Do que você está falando.
- Como do que eu estou falando Christian? Do Érico, e o seu segredinho sujo – William estava visivelmente revoltado. – Eu não consigo raciocinar. Nada faz sentido.
- Talvez você esteja... exagerando?
- O quê? – William deu um sorrisinho nervoso. – Exagerando? Você tem certeza que viu o conteúdo da pasta?
- É... acho que sim
- Cara, você e o Érico estavam nus, e excitados. Ele te tocava, com um olhar de quem queria mandar ver em você. Enfiar o talo, te fazer gemer, gritar, possuir você como um animal no cio, feroz, louco por sexo, e...
- William!!! – Christian estava boquiaberto com a profunda análise que amigo estava fazendo dos tais desenhos. – Eu já entendi. Não precisa ir além dos desenhos.
- Certo! – William se controlou. – Então, eu disse que ia apurar essa história, mas é que, como eu vou chegar no meu irmaozão, pegador, boceteiro e dizer: “Oi, Érico, por acaso você quer comer o Christian?”
- Você fala como a maioria das pessoas, sobre os gays – irritou-se Christian. – Não somos só sexo. Não estamos à disposição de quem queira nos “comer”, como se isso fosse algo inerente a nós. Existem gays promíscuo assim como heterossexuais. E é assim em tudo.
- Tudo bem, Christian, mas o Érico não é gay – declarou William, com convicção. – O meu irmão gosta de mulher, disso eu não tenho dúvida. Você sabe que eu não sou preconceituoso, mas o meu irmão não é gay. E é isso que está me deixando do tonto. Por que ele fez aqueles desenhos? Será que ele queria fazer uma brincadeira, com você? Ah, cara, o que eu faço?
Existe uma categoria de pessoas conhecida por “preconceituosos enrustidos”. Naquele momento, Christian percebeu que William era assim. O discurso de: “eu não tenho nada contra... desde que não seja meu filho, meu marido, meu pai, meu avô, meu amigo, meu vizinho, meu cachorro, meu papagaio, meu irmão”, é o ato diplomático dos não assumidamente preconceituosos. Isso causava grande preocupação pra Christian. Estava novamente naquela mesma situação, em relação William. Portava um segredo de Érico, e não sabia como dizer a William. O amigo, mesmo diante do óbvio, não queria pensar na possibilidade de ter um irmão gay. Uma realidade que se repete com muita frequência, com pais que se cegam diante da homossexualidade dos filhos.
- Você sempre diz que o Érico é boceteiro – começou Christian.
- Porque ele é – explicou William.
- Ele costuma trazer muita mulher para casa de vocês?
- Não – respondeu William.
- Ele já namorou alguma garota?
- Ele disse uma vez, que estava saindo com uma garota, mas depois me falou que ela não era o que ele queria – respondeu William, um pouco pensativo. – Espera! Você não está insinuando que o meu irmão é viado, está?
- Eu não estou insinuando, que o seu irmão é GAY – Christian detestava esse termo “viado”. – Estou analisando os fatos. Interprete-os como quiser!
- Ele só não traz mulher pra casa, em respeito a tia Laura – afirmou William. – Mas o Érico saí quase todas as noites pra pegar mulher.
- E ele te disse isso? – Christian perguntou com uma voz irônica.
- Ele não precisa me dizer – William já estava nervosamente enraivado. – Já olhou pro meu irmão? Ele transpira macheza. Olha, Christian, é isso que me incomoda nos gays. Só por que eles gostam de homem, acham ou querem que todos os homens sejam iguais.
- Olha, William, é isso que incomoda em héteros preconceituosos. Só por que eles nasceram gostando do sexo oposto, exigem que todos nasçam iguais a eles.
- Não dá pra conversar com você – William virou o rosto, na direção oposta à Christian. – Pelo menos não, quanto você estiver ofendendo o meu irmão.
- Ofendendo? Eu não acredito que eu ouvi isso. – Christian passou a mão no cabelo, nervoso. – Quer saber, foi uma péssima ideia voltar a falar com você.
- Concordo! – William não encarava o outro.
- Então pega o seu preconceito mal resolvido, e vê se me erra – Christian saiu em direção a sala, deixando o outro no vácuo.
Ouvir um discurso preconceituoso do melhor amigo em pleno início da manhã, não era bem o que Christian chamaria de um “bom começo do dia”.
As aulas se arrastaram modorrentas e entediantes. Christian e William não deram uma palavra naquela manhã, nem mesmo no intervalo. Outro veio incomodar Christian na pausa das aulas. Poderia ser até impressão dele, mas Pedro Miguel sempre fazia questão que Christian o visse de lero-lero com alguma garota. Seja qual era seu objetivo, Christian já não se incomodava mais com aquilo. Nem fazia questão de deixar o lugar em que estava. Ele ignorava Pedro Miguel e o seu par da vez, sempre.
“Já falei com sua mãe. Ela disse que tudo bem se você for almoçar comigo”.
“E o seu irmão? Não quero que ele nos veja”, respondeu Christian.
“Deixe suas coisas organizadas, para que assim que o sinal tocar, você saia rapidamente. Estarei te esperando do lado de fora”.
“Certo. Até mais tarde”.
“Não vejo a hora. Até. Beijos!”
Christian avisou a Suzana que não iria com ela, e que a mãe deles já sabia. Na sala, após o intervalo, ele deixou todo o seu material, que não ia mais utilizar, guardado. Ficaria pronto para correr, assim que o sinal tocasse encerrando as aulas.
Mais três aulas se arrastaram até o término da manhã, e quando finalmente o sino tocou, Christian quase atropela o professor, saindo em disparada na direção do portão, se esbarrando na multidão de alunos que já enchia o pátio.
Lá fora, parado de frente aos portões da escola, estava Érico a sua espera, de moto. O capacete estava com a viseira abaixada, mas Christian reconheceu o seu porte.
- Senhor passageiro especial, embarque imediatamente – disse Érico, levantando a viseira e deixando seu par de olhos amendoados à mostra. O contentamento de Érico era contagiante. Seus olhos riam.
- Positivo, capitão – Christian subiu na moto. – E qual será o destino? – Christian sussurrou no ouvido de Érico.
- Os seus sonhos – ele respondeu, arrancando com a moto.
Pelo retrovisor, Christian viu um Pedro Miguel contrariado. Parado, ele os encarava com maus-olhos.
- Se quiser, pode segurar na minha cintura – informou Érico, virando a cabeça de lado.
Christian apertou com força a cintura do outro, que interpretou como um estímulo para acelerar a moto. Os dois voaram até um restaurante muito simpático, na saída da cidade, em uma área de muita vegetação.
- Que lugar lindo! – Christian olhava em volta.
- Eu adoro esse restaurante – afirmou Érico. – É calmo, bonito, aconchegante e serve uma vitela deliciosa.
Os dois entraram, sendo bem recebidos por uma mulata muito simpática. Ela parecia conhecer Érico de longa data.
- Olá, Érico – a mulher o cumprimentou.
- Como vai, Amanda? – Érico lhe deu um beijo na bochecha.
- Muito bem – ela respondeu. – E essa dever ser a pessoa especial. – ela se voltou para Christian.
- Sim, é – afirmou Érico.
Christian e a mulher se cumprimentaram.
- Nossa mesa...
- Escolhi a melhor, como você me recomendou. – disse Amanda, antes que Érico completasse a frase. – Acompanhem-me.
Os quatro foram até o fim do restaurante, que estava bastante cheio, encontrando uma mesa bem discreta, ao lado de uma vidraça que dava a vista para uma serra. Era uma vista maravilhosa. Christian e Érico sentaram-se nas cadeiras estofadas, enquanto a mulher lhes entregava o cardápio.
- O que você pedir, está bom para mim – disse Christian.
- Garanto que não vai se arrepender – sorriu Érico.
O garçom veio anotar os pedidos, e depois os deixou sozinhos.
Christian tomava um suco de laranja, encarando Érico, que não desgrudava os olhos dele.
- Bom... – Christian estava nervoso, sem saber o que dizer. – Acho que não chover hoje.
Os dois riram com muita vontade, pois falar do tempo era a conversa mais batida que existia, entre duas pessoas que nãos sabiam ou não tinha coragem de falar algo mais proveitoso.
- Eu posso começar – Érico tomou a vez. – Você está muito curioso para saber sobre a minha homossexualidade, certo?
- Estou – Christian umedeceu os lábios. – É que nunca imaginei que você fosse gay.
- Você esperava que demonstrasse algum sinal?
- Não... quer dizer, o meu gaydar não me alertou – respondeu Christian.
- O seu gaydar? – Érico caiu na gargalhada. – Talvez ele esteja precisando de uma manutenção.
- Talvez – Christian riu também. – Como você se descobriu?
- Quando eu tinha quinze anos, havia um amigo que eu amava muito, mas no começo pensei que o sentimento que nutria por ele era apenas amizade. Éramos muito ligados, vivíamos sempre juntos, fazíamos tudo juntos. Um dia, ele me apresentou sua namoradinha, a garota mais linda da escola. Eu fiquei desolado. Me afundei em uma tristeza profunda, meus pais, que eram vivos na época, tentaram de tudo para entenderem o que estava acontecendo, até mesmo me levaram a um psicólogo. Foi aí que eu percebi que gostava desse meu amigo de uma forma diferente, e que eu não sentia nada por garotas e sim por garotos. Eu queria me matar diante do fato de ser gay. E teria feito, se meus pais não tivessem me apoiado. Lembro da minha mãe me dizendo que poderia ser só uma fase ou a erupção dos meus hormônios, mas se isso fosse sério, ela e meu pai estariam ali comigo, sendo pra mim o que eu precisasse que eles fossem.
- Nossa! – Christian ficou emocionado. – Quando vejo pais como os seus e como os meus, eu percebo que ainda existe esperança para a humanidade.
- William me disse que seus pais te apoiaram.
- Sim. Houve um estranhamento, no começo, mas eles estavam a dispostos a me aceitar, e isso fez toda a diferença.
- Você é tão lindo – disse Érico. – Transborda uma inocência pelos os olhos.
Christian deu uma gargalhada gostosa, inclinando a cabeça para trás.
- Eu adoro o jeito como você inclina a cabeça, quando rir – observou Érico.
Christian ficou sério por um momento. O simples comentário de Érico o flechou profundamente. Nem ele mesmo percebera que ria inclinando a cabeça para trás, mas Érico sim, pois o observava a todo momento.
- Você é um cara incrível, e eu tenho certeza que qualquer um desejaria namorá-lo – começou Christian. – Mas eu tenho que ser sincero com você.
- Estou ouvindo – Érico cruzou as mãos sobre a mesa.
- Eu passei por uma desilusão amorosa, recentemente – Christian falava com um pouco de reserva. – E junto coma ferida dessa desilusão, sinto que ainda habita um sentimento forte. O que eu quero que você entenda é que, pode ser que perca seu tempo comigo. Já te falei uma vez e vou repetir, eu gosto de muito você, o admiro, mas não é amor ou paixão o que sinto, pode ser venha a se tornar, mas não é o que eu sinto nesse momento.
Érico sorriu antes de responder:
- A sua sinceridade me comove – disse ele, segurando nas mãos de Christian. – E eu vejo nos seus olhos que outra pessoa ainda ocupa o seu coração, mas eu quero correr risco, Christian, e só vou desisti você, quando me disse para parar. Quando me disser que não há nenhuma chance para mim. Eu não importo de esperar. E eu prometo que não vou dar um passo, enquanto seus pés não se moverem em minha direção.
- Eu não sei o que eu fiz pra merecer isso tudo, mas com certeza estou muito feliz – disse Christian. – Por que eu nunca percebi você?
- Talvez estivesse olhando para outra direção. – respondeu Érico, mantendo o sorriso.
A comida foi servida, e os dois almoçaram envolvidos em um papo muito alegre. Érico não falou mais sobre o seu desejo de ter Christian, ele deixou a conversa fluir naturalmente para outros assuntos.
- Escuta, essa boa – Érico engoliu primeiro antes de falar: – Assim que eu percebi que gostava de garotos, comecei a acessar sites pornôs héteros. Estava obstinado a me interessar por mulheres, mas acaba olhando mais para os caras dos vídeos, do que para elas. Um desastre total.
- A minha melhor – Christian o interrompeu. – Eu fui mesmo pelo caminho reto, sem trocadilho. Comecei a pesquisar sobre o assunto, homossexualidade, e de vez em quando dava uma escapadinha para uns sites mais quentes. A primeira vez que eu vi um homem sendo penetrado eu disse, eu serei gay apenas na teoria.
Érico se engasgou de tanto rir. Ele não conseguia controlar os riso, por mais que tentasse abafá-los.
- É sério – disse Christian. – Eu não conseguia imaginar como eles aguentava aquilo enfiado no... Bom, só não foi pior do que o oral. Oh, meu Deus, eu não via colocando um negócio daquele na boca. Pensava que o cara podia fazer xixi, além de não achar nem um pouco convidativo o esperma, principalmente depois de uma amiga me dizer que tinha gosto de água sanitária.
- Água sanitária? – Érico sentia espasmos na barriga, de tanto rir.
- Ela disse: “Christian, tem um gostinho de água sanitária, mas eu soube que é rico em sais minerais e vitaminas”. Então eu pensei: “Ufa, ainda bem que existem muitas fontes alternativas de vitaminas e minerais.
- Nós deveríamos escrever um livro sobre nossas reflexões – Érico limpava a boca com um guardanapo. – Acho que o William não conhece esse seu lado.
- Não – Christian sentiu um pouco de remorso, ao ouvir o nome do amigo.
- O que foi? – perguntou Érico.
- William – disse Christian, depois de um longo suspiro. – Ele viu os desenhos.
- O quê? Aquele moleque bisbilhoteiro mexeu nas minhas coisas? Ah, eu mato ele.
- Não, Érico, a questão mais difícil do que você pensa – disse Christian. – William não deduziu que você fosse gay, depois de ter visto os desenhos. Ele está obcecado em encontrar uma explicação que seja diferente do óbvio. Tivemos uma discussão hoje de manhã.
- Sério? Me conta isso direito.
- Ele ficou com raiva de mim quando eu quis leva-lo a raciocinar que você é gay – explicou Christian – Desculpa, eu sei que eu não tinha o direito. Mas é o que William é desse tipo de pessoa que diz que não tem preconceito em relação aos gays, desde que não seja ninguém da sua família. Ele está convencido de que você é um hétero pegador, e eu não consegui dissuadi-lo dessa ideia.
- É. Eu sei – suspirou Érico. – A culpa é minha. Eu devia ter sentando a muito tempo com o William e ter contado tudo. Fiquei adiando demais o momento, achando que não havia necessidade.
- Eu gosto muito do seu irmão, por isso, se a gente vai continuar se conhecendo, eu acho que você deveria abrir o jogo com ele, o mais rápido possível.
- Eu vou fazer isso – afirmou Érico.
- Faça com muito cuidado – recomendou Christian.
- Pode deixar – concordou Érico. – Vamos?
- Sim, vamos – assentiu Christian.
Érico pagou a conta e os dois saíram do restaurante, deixando o assunto William, temporariamente de lado, e voltando às bobagens que conversaram durante o almoço.
- Sua boca está um pouquinho suja – disse Christian, passando o polegar no canto da boca de Érico, que não achou nem um pouco ruim. – Lábios carnudos e macios...
- Não me provoca – Érico riu.
- Só estou fazendo uma observação – Christian riu com um sorriso meio brincalhão.
Estava tão distraído, que não percebeu que Pedro Miguel vira a cena. Ele vinha chegando acompanhado de um homem alto e barrigudo, de barba malfeita, cenho severo e andar pesado. Era o seu pai. Pedro Miguel olhou para os dois com a cara mais fechada que podia fazer. Christian, fingiu que não percebeu, mas Érico não.
- Conhece? – ele perguntou.
- É... – respondeu Christian desconfortável. – ele estuda comigo.
- Pareceu não gostar de nos ver juntos – observou Érico.
- Deixa isso pra lá – Christian foi evasivo. – Vamos?
- Vamos – Érico deu a partida na moto e saiu.
Já eram duas horas da tarde quando Christian chegou em casa. Apesar do fantasma do Pedro Miguel, tudo saíra perfeitamente bem.
- O almoço foi maravilhoso. Não se faça de rogado quando quiser me convidar – disse Christian, depois que desceu da moto.
- Pode deixar – Érico parecia esperar algo.
- Então, é isso – Christian balança as mãos. – Eu vou entrar...
- Claro. Eu preciso voltar para o trabalho. Queria que o nosso almoço tivesse durado mais tempo. Vou pensar em você o dia inteiro.
Christian riu, meio sem graça.
- Bom trabalho – ele abraçou Érico, e lhe surpreendeu com um selinho rápido. – É pra te ajudar a pensar em mim.
- Depois desse beijo, não vou me concentrar no trabalho.
- Nem foi um beijo – disse Christian caminhando para casa. – Isso é um beijo – Christian o beijou um pouco mais demorado. – Boa tarde!
- Sem dúvida, será – Érico pôs o capacete e saiu.