EGEU - ÚLTIMO Episódio

Um conto erótico de Lord D.
Categoria: Homossexual
Contém 4861 palavras
Data: 21/01/2016 12:35:11
Última revisão: 21/01/2016 12:38:16
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

FINAL.

- Por favor, me deixa entrar – pediu Pedro Miguel. Ele estava só de bermuda, descalço, muito machucado e coberto de sangue.

- Pelo amor de Deus, o que houve Pedro Miguel? – Christian o puxou para dentro de casa. – Você precisa de um médico.

- Não! Eu só preciso de você – Pedro Miguel abraçou Christian, o sujando de sangue. – Me ajuda!

- Claro! Claro! – Christian retribuiu o abraço. – Vamos cuidar desses ferimentos, primeiro.

Christian imaginava que horror Pedro Miguel havia passado, e tinha certeza do autor da atrocidade. Mas, não quis forçar uma conversa. O mais importante era cuidar de Pedro Miguel, que chorava como um bebê.

- Christian, que barulho é esse – Teresa surgiu de pijama na sala. – Deus do céu! O que houve? – ela gritou ao ver o estado de Pedro Miguel.

- Mãe, ele não quer ir para o hospital, então vamos cuidar desses ferimentos – disse Christian, apoiando ele. – Não faça perguntas das quais já tem a resposta.

- Certo! – Teresa estava atônita. – Christian, leve-o para o banheiro, que eu vou pegar o kit de primeiros-socorros.

Christian obedeceu sua mãe e levou Pedro Miguel para o seu quarto. Lá ele conduziu o rapaz até o banheiro e regulou o chuveiro para água quente, a fim de desinchar o rosto de Pedro Miguel. Diante da situação, Christian ajudou o pobre rapaz a lavar seus ferimentos. Pedro Miguel estava com machucados por todo o corpo. Tinha sido uma surra violenta com socos e pontapés. A intenção do agressor era matar mesmo. Envergonhado, Pedro Miguel tomava banho, um pouco encolhido, sem olhar para o rosto de Christian.

Após o banho, Christian emprestou uma roupa para Pedro Miguel e Teresa cuidou dos ferimentos, com a atenção de uma mãe.

- Será que eu posso passar essa noite aqui? – pediu Pedro Miguel com uma humildade canina. – Eu não tenho para onde ir, mas amanhã vou dar um rumo para a minha vida.

- Não só essa noite, querido, mas pode ficar aqui o tempo que precisar – todo o ressentimento que Teresa sentia por ele, se esvaiu. Pois ela imaginou Christian numa situação parecida. Esse pensamento sombrio alertou seu extinto materno.

- Eu agradeço – Pedro Miguel estava com a aparência melhor, mas o rosto ainda estava muito inchado.

- Vou pegar um remédio para aliviar a dor dos machucados e vou preparar uma sopa bem quente para você – Teresa fez um carinho na cabeça de Pedro Miguel e saiu para a cozinha, o deixando deitado na cama de Christian.

- Não quero causar tantos incômodos – declarou Pedro Miguel, depois que ficou a sós com Christian.

- Imagina! – Christian deu sorrisinho sem graça.

- Você é muito especial, Christian – Pedro Miguel segurou na mão do rapaz. – Depois de tudo que eu fiz, ainda me acolhe em sua casa dessa forma. Eu invejo a sua família.

Christian pôs sua outra mão sobre a de Pedro, e lhe deu um sorriso caloroso, demonstrando que toda mágoa e ressentimento havia sido superado.

- Ele viu quando eu te beijei – disse Pedro Miguel abaixando a cabeça. – Ele estava escutando por trás da porta. Não sei o que eu faria se algo de ruim acontecesse a você, por causa da minha imprudência.

- O que aconteceu quando eu saí? – Christian relutou para perguntar isso.

- Ele entrou no meu quarto, quando eu já estava dormindo, e me encheu de porrada sem dizer uma única coisa – respondeu Pedro Miguel, derramando muitas lágrimas. – Eu nem sei como escapei. Meu pai estava disposto a me matar, sem sequer me dá o direito de falar alguma coisa. Mas eu reclamei esse direito, e quebrei o silêncio da minha vida. Saí gritando que era gay, que amava você. Ele correu atrás de mim, mas recuou quando viu dois policias apaisana.

- E por que você não chamou eles, os policiais? – questionou Christian.

- Eu estava sem cabeça para raciocinar. Só queria correr o suficiente para estar longe dele – Pedro Miguel enxugou o nariz. – Além do mais, ele sabe fingir muito bem. Com certeza daria um jeito de dizer que eu era perturbado que que ele era um pai preocupado. E no meu estado, qualquer um me apontaria como louco.

- Ah, Pedro, você não pode voltar para lá nunca mais.

- Eu sei... – Pedro Miguel respondeu com um suspiro. – O pior é que, não faço ideia de que rumo vou dar para a minha vida.

- E a sua mãe? – Christian lembrou. – Por que não a procura? Por que não entra em contato com ela?

- Já pensei nisso, mas... a minha tem a vida dela.

- Mas continua sendo a sua mãe – afirmou Christian. – Olha, se ela não se mobilizar ao seu favor, eu vou. Tenho certeza que os meus pais não vão te negar ajuda. Só que, eu lamento, mas você não pode deixar essa história ao prazer do esquecimento. Seu pai tem que pagar pelos crimes que ele cometeu e que pode cometer. É mais do que uma questão de família, é um caso de segurança pública.

- Estou ciente. Mas, não quero pensar nisso agora.

- Olha uma sopinha quente e deliciosa chegando – Teresa entrou no quarto com uma tigela fumegando, sobre uma bandeja de cama. Christian parou de falar subitamente.

- Obrigado! – Pedro Miguel recebeu a bandeja, colocando-a sobre suas pernas. – Não queria estar esse trabalhão todo.

- Imagina! – Teresa sacudiu a mão. – Trate apenas de descansar. Amanhã veremos que podemos fazer.

- Está certo – Pedro Miguel tomava a sopa, um pouco sem graça.

- Estarei no meu quarto, se precisarem de alguma coisa – disse Teresa. – E, Christian. Juízo – ela fez um olhar sugestivo.

- Tá, mãe! Boa noite – Christian fez uma careta para ela.

Os dois rapazes ficaram sozinhos, absortos em seus pensamentos e constrangidos pelos silêncio que se formou, pois ambos sabiam a que Teresa se referia com seu alerta para o filho.

- Ela parece se preocupar muito com o seu relacionamento com o irmão do William, não é? – observou Pedro Miguel, tomando a sopa bem devagar. – Acredito que sua saiba de tudo que aconteceu entre nós. O natural era que ela estivesse muito brava comigo, querendo me ver bem longe de você. Mas o contrário acontece: estou aqui sendo tratado como se fosse filho dela.

- Minha mãe sempre foi assim: mãe de todo mundo – explicou Christian. – Se ela anda na rua e vê uma criança ou jovem em situação difícil, se compadece imediatamente. É como se ela visse os próprios filhos na mesma situação. É verdade. Ela te odiou quando eu me abri com ela sobre o que houve a gente. Mas só foi você aparecer na aqui em casa, desesperado, querendo falar comigo, que ela ficou aflita.

- Sua a mãe é mesmo muito especial – afirmou Pedro Miguel, invejando, com tristeza, o fato de não ter a sua própria ao seu lado.

- Eu sei – Christian deu um sorrisinho de satisfação. – Eu agradeço por tê-la. Quando os meus pais me aceitaram como gay, principalmente a minha mãe, sabia que podia ser feliz.

- Sempre estamos em busca da aprovação deles, nossos pais, e por essa razão, aparamos todas as “arestas” para nos encaixarmos em suas expectativas, projeções e ideais.

- Exatamente! – Christian concordou. – É por isso que, quando temos a sorte de ter pais que não querem que sejamos os seus reflexos, e buscam nos apoiar e nos orientar, as chances das frustações e decepções são menores.

- Verdade! – Pedro Miguel terminou a sopa e ficou encarando Christian por alguns minutos antes de continuar a falar: – Era pra ser eu. Por que eu deixei você escapar de mim, Christian? Por que abri brecha para outro?

- Pedro Miguel, por favor, não vamos mas falar em “se” – Christian pegou a bandeja e repousou-a no criado-mudo. – Podia ter sido você, mas não aconteceu. Não creio que hajam culpados por não estarmos juntos. Talvez não fosse pra ser. Eu tinha dúvidas quanto ao que sentia pelo Érico. Você me causou muita indecisão. Mas estou certo da minha escolha, e como disse antes, quero que seja feliz. Desejo sinceramente que encontre alguém especial, como eu encontrei.

- Eu amo você – declarou Pedro Miguel. – Mas depois de todo o bem que me fez, o mínimo que eu posso fazer é respeitar o seu relacionamento. Eu não quero ser uma inconveniência na sua vida. Eu lutaria com todas as minhas forças se percebesse que a existência de uma chance entre a gente, mas sei que a minha vez passou e eu perdi.

- Obrigado pela sua compreensão. Percebo que realmente você amadureceu – Christian deu um beijo no rosto de Pedro Miguel. – Durma bem, meu amigo.

- Você também meu amor. – Pedro Miguel o abraçou. – Amanhã, vou dar um rumo para a minha vida.

Christian puxou um colchonete que estava debaixo da cama, o retirou da capa e preparou sua cama. Depois de dar boa noite para Pedro Miguel, Christian apagou a luz do quarto e foi dormir, ou pelo menos tentar fazer isso. Na cabeça do rapaz transitava muitas informações, mais do que ele conseguia processar. Estava triste pela situação de Pedro Miguel, assustado com o que Sandro ainda poderia fazer e preocupado com a reação de Érico quando soubesse do hóspede. Tantas escolhas, tantas decisões e muitos assuntos fora do seu alcance, mas que ameaçam impactar sua vida de forma desastrosa.

Apesar de não ser supersticioso e desacreditar em crendices populares, Christina tinha um mal pressentimento. Ele sentia alguma coisa rondando. Algo sinistro, sombrio e assustador. Podia até ouvir o rugido de um perigo se aproximando. Enquanto Pedro Miguel adormecia serenamente, o filho de Teresa estava tendo uma crise de nervos. Christian de vontade de chorar. Seu coração dizia que o perigo era iminente.

Uma noite longa e difícil se estendeu para Christian, mas, felizmente, o dia chegou. Em algum momento da madrugada, o sono e o cansaço foram mais fortes que seus pressentimentos sombrios, e ele não se deu conta de quando e quanto dormira. Seus olhos encontravam uma forte luz da manhã invadindo o quarto. O rapaz se ergueu subitamente do colchonete e olhou com urgência para a sua cama. Ela estava feita.

- Não pode ter sido um sonho – Christian esfregou os olhos, pondo-se de pé.

Não havia qualquer sinal de Pedro Miguel. A casa inteira estava silenciosa. Christian desceu para a sala e encontrou Suzana sentada na sala.

- Onde está todo mundo? – ele perguntou.

- Mamãe foi até a padaria e o papai ainda não voltou da caminhada. – respondeu Suzana.

- E o Pedro Miguel?

- Pedro Miguel? – Suzana não sabia que este estava em sua casa. – Como eu vou saber onde está o Pedro Miguel? Imagino que esteja na casa dele. E duvido muito que o Érico gostará de saber da sua preocupação com a localização de outro cara.

- Cala a boca, Suzana – Christian sentia o mesmo mal pressentimento da noite anterior.

Christian voltou para o quarto e foi se trocar às pressas. Ele temia que Pedro Miguel tivesse voltado para a casa de seu pai. Quando já estava prestes a sair do quarto, o seu celular, que estava na penteadeira, sinalizou uma mensagem. Christian praticamente voou sobre o aparelho.

“Preciso da sua ajuda. Ele vai me matar”, dizia a mensagem, mandada por Pedro Miguel. Christian sentiu uma pontada forte em seu peito, como se uma mão de ferro o esmagasse.

- O que esse idiota fez?! – Christian saiu correndo, largando o celular para trás, na pressa.

Descendo para a sala novamente, o rapaz encontrou Suzana no mesmo lugar.

- Suzana?! – Christian gritou muito nervoso.

- O que foi?! – ela se assustou com a exaltação do irmão.

- Ele vai matar o Pedro Miguel! Eu preciso fazer alguma coisa – Christian estava ofegante.

- Do que você está falando, Christian? – Suzana entrou no estado de nervosismo também. – Quem vai matar o Pedro Miguel?

- Não posso ficar de braços cruzados. – Christian correu em direção à saída.

- Aonde você vai?

- Liga pra mamãe e manda ela ir com a polícia para a casa do Pedro Miguel! Diga que o Sandro pegou ele! Anda garota – Christian saiu correndo em disparada.

Não podia ir a pé, pois demoraria uma eternidade. Para a sua sorte, logo apareceu um taxi livre. Christian pulou dentro do veículo e gritou o endereço da casa de Pedro Miguel, antes que o taxista perguntasse o destino.

- Moço, vá o mais rápido possível – Christian era uma pilha de nervos. – Uma vida depende de mim.

- Pode deixar. – o taxista acelerou com tudo.

Christian estava tão apreensivo, que sentia vontade de pular do carro e empurrar, no intento de ir mais rápido. O seu coração estava muito apertado, esmagando-se contra as costelas em batidas violentas. O caso de Felipe, o primeiro namorado de Pedro Miguel, assombrava seus pensamentos, mas não era o rapaz assassinado que Christian via, e sim Pedro Miguel. Tentava se convencer de que em algum lugar profundo, em Sandro, um senso de paternidade gritaria, o impedindo de cometer uma atrocidade. Por outro lado, era tão comum casos de violência familiar, principalmente quando em se tratando da mente doentia de um skinhead.

O taxi parou em frente à casa de Pedro Miguel. O taxista informou o preço da corrida, mas quando Christian levou a mão ao bolso, se deu conta de que não havia trazido sua carteira ou dinheiro.

- Espere aqui, já volto com o seu dinheiro – disse Christian saltando do táxi sem demora.

- Vou deixar o taxímetro ligado! – berrou o motorista, não muito feliz de ter que esperar seu pagamento.

Ignorando o berro do taxista, Christian correu para a porta da casa de Pedro Miguel, que estava entreaberta. Sem pensar, ele entrou na casa sem demora. Todas as janelas estavam fechadas e cortinadas. Christian sentia-se muito mal naquele ambiente escuro.

- Pedro Miguel? Pedro Migue? – Christian caminhava lentamente, olhando para todos os lados.

A casa estava sinistramente silenciosa. Christian percebeu que alguma coisa estava errada, mas continuou a procurar o Pedro Miguel, medindo cada passo.

- Pedro Miguel, sou eu Christian! – ele disse em um tom elevado.

- Chris, você veio. Eu sabia que viria.

Christian virou-se para a porta, abruptamente.

***

Teresa chegava em casa ao lado marido. Os dois riam de alguma coisa, que encontraram Suzana caminhando de um lado para o outro com o celular na mão.

- Ainda bem que vocês voltaram! – Suzana estava nervosa e impaciente. – Estou tentando ligar para o celular dos dois, faz um tempão.

- Ah, o meu celular descarregou quando eu cheguei na padaria. – disse Teresa.

- E o meu eu esqueci no quarto – explicou Arnaldo.

- Mas qual é a razão de toda essa agitação, Suzana? – perguntou Teresa, que trazia várias sacolas.

- O Chris surtou! – a garota exclamou.

- O que você quer dizer com isso – um semblante de Arnaldo transbordava preocupação. – Onde está o Christian?

- Ele saiu feito um louco para a casa do Pedro Miguel – respondeu Suzana.

- Como é que é? – o sangue de Teresa subiu para o rosto.

- Ele disse para que pedisse que a senhora ligasse para a polícia, pois “ele iria matar o Pedro Miguel” – continuou Suzana.

- Oh, meu Deus – Teresa levou as mãos à boca.

- É o que estou pensando? – Arnaldo ficou nervoso.

- Temo que sim – Teresa correu para o telefone e ligou para a polícia. – Pegue o carro, Arnaldo. Não quero nem imaginar no que pode acontecer.

Enquanto Teresa teclava o número do polícia, Pedro Miguel entrou na casa tranquilamente.

- Bom dia, gente – ele cumprimentou a todos. – Desculpem eu não ter avisado...

- Onde está o meu filho?! – Arnaldo agarrou Pedro Miguel pelos ombros com brutalidade. – Onde está o Christian?! Fala?!

- Eu não sei! – Pedro Miguel estava atônito. – O Christian não estava comigo. O que está acontecendo?

- Por alguma razão, o Christian foi para sua casa na tentativa de salvá-lo do seu pai – Arnaldo falava, enquanto Teresa conversava nervosamente com um policial pelo telefone. – Você tem certeza que não falo com eles?

- Tenho! – Pedro Miguel sentia uma pontada na cabeça, concluindo que aquilo era uma armadilha. Uma armadilha de seu pai. – Eu estou sem o meu celular. Esqueci em casa.

- O que isso importa?! – Arnaldo se irritou.

Pedro Miguel se soltou do pai de Christian e subiu para o quarto do rapaz. O celular de Christian estava largado na penteadeira. A mensagem ainda estava aberta. Ao lê-la e ver o remetente, Pedro Miguel não tinha mais dúvidas que seu pai havia preparado uma armadilha.

- Christian. CHRISTIAN! – Pedro Miguel viu a imagem de seu pai com as mãos cobertas de sangue. O sangue de Christian. – Não! NÃO!!!

Pedro Miguel desceu às pressas, voltando para a sala.

- Ele o pegou! O desgraçado do meu pai o pegou! – Pedro Miguel saiu feito um louco. – Vai matá-lo.

***

- Onde está o Pedro Miguel? – Christian, camuflando o seu medo, encarando a figura a sinistra de Sandro, parado em frente a porta.

- Mas esses viados são muito burros – Sandro riu. – Christian, Christian. Um garoto tão bonito, mas gosta de dar o cu. E dar o cu justamente para o meu filho. Ele fugiu para sua casa, não foi? Fugiu feito um rato para o esgoto. O Pedro Miguel te comeu a noite inteira? Hum? Me conta Chris.

- Eu não estou com o Pedro Miguel. Mas torço para que ele encontre um cara muito bacana que o faça feliz. – disse Christian, buscando coragem.

- Você é corajoso ou burro? – Sandro se aproximava lentamente de Christian. – Vamos resolver isso de uma vez. Imagino que saiba o que aconteceu com o outro viadinho que o Pedro Miguel comia, não sabe? É claro que sabe. Qual era mesmo o nome? Tava até escrito naquele colarzinho dele. Aquilo valia uma nota. A bicha nem sabe que a joiazinha de família dela, me ajudou a pagar umas dívidas.

- Você é a pessoa mais nojenta e desprezível que eu conheço. – declarou Christian. – Se o nazismo não conseguiu exterminar os gays e os outros “indesejados”, o que te faz pensar, que um velho barrigudo, ridículo, semianalfabeto, porco, imbecil e todos outros adjetivos cabíveis à sua figura insignificante, conseguirá fazer isso. Quer ouvir um vaticínio? Seu futuro é a cadeia. E acredite, talvez você goste da experiência de lá. Aposto que o seu lado gay vai aflorar rapidinho. Então...

- Cala boca! – Sandro tirou um revólver de dentro da calça. – Cala essa maldita boca!

- Vai me matar? – Christian estava tremendo por dentro, mas não deixava isso transparecer.

- Você vai implorar para que eu faça isso quando, eu te der o tratamento vip.

Christian não conseguiu mais disfarçar o seu medo. Os olhos de Sandro ferviam, sedentos em assistir o sangue de Christian se esvaindo. O rapaz tentou correr, mas foi derrubado por um soco do pai de Pedro Miguel. Ele não perdeu a consciência, mas ficou perto disso.

- Meu filho, qual é? Não posso esperar o dia inteiro... – o taxista entrou na casa. – O que é isso?

O homem viu Sandro por cima de Christian, que sangrava pela boca e pelo nariz.

- Deixa o rapaz em paz, moço – o taxista correu para ajudar Christian, mas foi abatido por um tiro de Sandro, que atingiu sua cabeça em cheio. A arma estava com um silenciador.

- Não!!! – Christian soltou um grito, diante do assassinato.

- Cala boca, bichinha – Sandro desferiu um tapa violento no rosto de Christian. – Vamos brincar um pouquinho.

Sandro ficou de joelho, deixando Christian entre suas pernas. O pai de Pedro Miguel desabotoou a calça, sorrindo asquerosamente.

- Você gosta de rola, não é? – Sandro colocou o seu membro pra fora. – Vai dar uma mamadinha antes de ir para o inferno. Se me morder, quebro os seus dentes.

Sandro puxou a cabeça de Christian pelos seus cabelos, forçando a boca do rapaz em direção ao seu pau.

- O viadinho que dava para o Pedro Miguel, me decepcionou. Espero que você não faça isso, Chris. Abre a boca!

Christian negava com a cabeça. Chorando na mesma intensidade em que sangrava. Ele estava com a boca cerrada e não cedia de forma alguma.

Sandro esfregava seu pau na boca de Christian, tentando introduzi-lo a força. Como Christian se recusavam, Sandro começou a apertar sua garganta, esganando-o

- Abre a boca – o pai de Pedro Miguel deu mais duas bofetadas violentas em Christian, jogando a arma de lado para deixar as duas mãos livres.

Uma das mãos de Sandro tentava abrir a boca de Christian e a outra apertava seu pescoço.

- Ou você chupa a minha pica, ou vou quebrar a sua cara, porra! – Sandro ergueu a mão e fechou o punho, pronto para socar.

- Larga ele seu verme. – Pedro Miguel invadiu a casa, ignorando o corpo do taxista, que jazia.

Antes que Sandro dissesse alguma coisa, Pedro Miguel já estava em cima dele, como um animal feroz.

- Deixa ele em paz desgraçado! – Pedro Miguel prendeu o pescoço do pai em uma chave de fenda. – Não vou deixar que repita o que fez com o Felipe!

- Me largue, Pedro Miguel, eu estou mandando – Sandro, que havia sido arrancado de cima de Christian, estava deitado de costas, sobre a Pedro Miguel, que prendia o tronco do seu pai com as pernas e o esganava com os braços musculosos.

- Estou avisando Pedro Miguel – Sandro já estava com a voz esganiçada.

- Uma vez, me acovardei e permiti que você arrancasse de mim o amor da minha vida, mas prometo que não vou cometer o mesmo erro! – Pedro Miguel usava de toda a sua força.

- Vou matar você e esse viadinho – Sandro começava a afrouxar os braços de Pedro Miguel. – Você é um degenerado com a vadia da sua mãe. É um verme que merece ser esmagado como todos que eu já pisei. Não o considero mais o meu filho. Para mim você não passa de uma marionete, Pedro Miguel, e eu sou a navalha que corta os cordões só pra ver você cair! – Sandro socou a barriga de Pedro Miguel e se livrou do filho, pegando o revólver imediatamente.

- Pedro Miguel... – Christian gemia, se mexendo lentamente no chão.

- Christian! – Pedro Miguel se levantou e foi em direção a ele. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.

- Confio em você – Christian apertou a mão de Pedro Miguel.

- Vamos sair dessa – Pedro Miguel sussurrou.

- Chega de conversinha, suas bichas nojentas – Sandro engatilhou a arma. – É hora de acabar com tudo.

- Tem razão, papai – Pedro Miguel ficou de pé.

- É melhor não tentar nenhuma gracinha – Sandro firmou a mão, enquanto Christian se apavorava vendo Pedro Miguel desprotegido, o protegendo.

- Se lembra do meu aniversário de 18 anos? Você encheu essa casa de putas, e preparou uma orgia sem tamanho para mim.

- Achava que essa sua doença tivesse cura – Sandro continuava firme com a arma.

- Mas o melhor, foi o meu presente. – Pedro Miguel riu. – Você lembra papai o que você me deu? Lembra o que me disse quando me entregou o meu presente?

Sandro arregalou os olhos, demonstrando nítida preocupação.

- É. Acho que lembrou – Pedro Miguel riu. – Você disse: “seja mais rápido, do que o seu inimigo”.

- Você não teria coragem...

Pedro Miguel sacou uma arma, escondida na parte de trás de sua calça e oculta pela camisa, e deu três tiros no peito de Sandro, sem chance de defesa.

- Bom garoto – Sandro caiu de joelhos e despencou de bruços.

Christian soltou um grito, como se sentisse uma dor lancinante. Rapidamente a sala foi tomada por uma poça de sangue, que desembocava do corpo de Sandro. Pedro Miguel despencou no chão e começou a chorar. Lentamente ele levou a arma em direção à sua boca e segurou o gatilho. Quando se preparava para disparar, as mãos de Christian envolveram as suas lentamente, e puxaram o revólver para o chão. Christian lhe deu um beijo na boca, suave e sereno, enquanto arrancava a arma das mãos deste e a jogava para longe.

- Acabou! – disse Christian, compartilhando do choro de Pedro Miguel.

Poucos minutos depois da tragédia, a casa é invadida pelos pais de Christian, Érico e a polícia. O cenário de horror chocou a família de Christian.

- Meu filho!!! – Teresa correu em direção a Christian, aos prantos, em face do estado do rapaz. Ela o embalou em seus braços como fazia quando ele era um bebê. – Graças a Deus você está a salvo.

- Mãe, foi legítima defesa. O Sandro ia nos matar, e Pedro Miguel disparou... Ele não é assassino – Christian chorava, enquanto levavam Pedro Miguel e o cercavam o corpo de Sandro.

- Christian, vai ficar tudo bem – Érico o abraçava. – Diz pra eles, Érico, que o Pedro Miguel é inocente.

- Uma ambulância, por favor – pediu um dos policiais. – Rapaz, sei que não está em condições, mas seria muito útil se nos contasse o que aconteceu.

- O Pedro Miguel é inocente. Inocente! – gritava Christian.

- Ele está em estado de choque! – Érico disse ao policial, que o interrogava.

- Lamento, mas o depoimento do garoto sequestrado é fundamental. – disse policial.

- Eu vou contar tudo, se prometerem que não vão prender o Pedro Miguel – Christian chorava.

- Dependendo do que nos disser, as coisas podem mudar. – informou o policial.

Christian começou a relatar tudo desde o princípio, sendo amparado pela sua família e pelo namorado. Mas de repente, todos os sons foram se emudecendo e as cores virando borrões. As luzes se apagaram em um instante, e quando voltaram queimaram nos olhos de Christian com uma alvura muito desagradável.

A casa de Sandro e o cenário policial, havia desaparecido. Christian estava deitado em uma cama de hospital, cheio de curativos por todo o corpo. Estava silencioso, ele achou que estivesse sonhando.

- Como se sente? – a voz suave de Teresa trouxe seus sentidos de volta a realidade.

- Acho que bem – ele sentia muitas dores. – Onde eu estou? Cadê o Pedro Miguel? O que fizeram com ele?

- Calma meu amor – Teresa acariciou o cabelo do filho. – Você sofreu um choque emocional muito grande. É natural que esteja confuso.

- Onde está o Pedro Miguel, mãe?

- Bom, ele teve que ser levado para a delegacia. A mãe dele foi contatada e está encarregada dessa questão com a justiça. O seu depoimento salvou a pele dele. A polícia possuía um retrato falado de Sandro, descrito por um jovem homossexual que escapou por pouco dele. Daí, não foi difícil desenterrar o histórico sujo do cara. Fervilhou de pessoas na delegacia, com depoimentos contra ele, depois que viram a foto na tv. Acho que esse pesadelo passou.

- Então o Pedro Miguel vai ficar com a mãe dele? – perguntou Christian.

- Sim! Ele precisa recomeçar. E vi que a mãe dele está disposta a dar todo apoio ao filho. – Teresa apertou a mão de Christian.

Os dois ficaram se olhando, até que foram interrompidos por Érico e William que entraram.

- Vou deixá-los a sós – Teresa saiu.

Érico se aproximou de Christian e lhe deu um beijo demorado, na frente de William.

- Eu quase morri, quando soube que você estava nas garras daquele homem – Érico chorou.

- Oh, meu amor, tudo ficou para trás. – Christian o abraçou. – Tudo que eu quero agora, é esquecer desse pesadelo e me dedicar ao nosso relacionamento.

- Você não sabe o quanto me alegra ao dizer isso – Érico o beijou mais uma vez.

- Bom... eu nem sei por onde começar – William interrompeu o beijo dos dois. – Eu fui um estúpido com você Christian. – Que tal você começar me dando um abraço cabeção – Christian puxou o irmão de Érico pelo braço e o apertou contra o seu peito.

- Me perdoa, Chris? Perdoa esse seu amigo cabeça-dura, que não te deu o valor merecido – William choramingava.

- Como eu posso dizer não, se não consigo viver sem você, seu grandessíssimo idiota – Christian apertou mais ainda William.

Érico não podia desejar ver cena mais perfeita. O seu grande amor de pazes com o seu único irmão. A imagem era digna de uma reprodução no papel.

***

ALGUNS MESES DEPOIS...

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- Pra falar a verdade, eu quase não sinto que sai de casa e estou morando aqui com você e o William em Paraíso – disse Christian, rindo. – Minha mãe me liga todos os dias, todas as horas, para saber se eu estou bem. Até me pediu os números dos professores da faculdade, como se eles fossem as “tias” do Jardim de Infância.

- Ah, dá o um desconto para ela, amor – Érico defendeu Teresa. – Ela nunca ficou longe de você. Se fosse eu, te ligaria de minuto a minuto.

- Ok, que namorado fofo – Christian apertou a mão de Érico.

Os dois caminhavam pelo shopping, comprando produtos pra cama, mesa e banho. Christian e William estavam fazendo jornalismo e Érico design gráfico. Dividiam a casa que Érico havia construído. E eram sem dúvida uma família feliz. Com brigas todos os dias. Desentendimentos todos os dias, e amor todos os dias.

Christian e Érico andavam na parte superior do shopping, quando avistaram lá embaixo, uma cena que os deixaram muito feliz. Pedro Miguel estava encostado em uma coluna, conversando de mãos dadas com um rapaz ruivo. Ele olhou para cima e viu Christian e Érico o observando. Os três acenaram com a mão, oferecendo um sorriso recíproco.

Pedro Miguel parecia muito bem. Mesmo de longe, Christian sentia a sua alegria. Quando o amor conclui nossa história, a felicidade transborda o ponto final.

FIM.

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Meus queridos, nossa história chegou ao fim. Mas antes de me despedir, queria compartilhar uma informação sobre Egeu.

Uma noite quente de verão, eu acordei molhado de suor e de outras coisas. Havia acabado de sonhar com Érico. Foi o sonho mais real que tive. Passei dias ouvindo a sua voz, pensando nele como se aguardasse sua chegada. Enquanto não escrevi sua história não tive paz, mas agora ele está bem. Aquietou-se em minha mente, mas continua vivo. E espero que em vossas mentes, também.

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Comentários

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Vc é um dos melhores autores da CDC..adoro seus contos e de alguns outros. Volta pf!! 😢🙏

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conto maravilhoso passei dias atras na cdc não parei ate achar pra ler novamente

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Muito bem!!! Sua escrita é muito boa! Gosto muito! Parabéns!

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Valeu pelo conto! Como sempre, muito bom!! !! Abraço fraterno!

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