8. OS BONS SE REVELAM NA DIFICULDADE, OS MAUS TAMBÉM
- Ah, meu Deus, vó! – Às lágrimas brotavam dos meus olhos em um fluxo contínuo. Por um breve instante fiquei inerte, segurando o corpo desfalecido da minha avó.
Ela não me respondia, por mais que eu balançasse seu corpo e a chamasse.
- O que foi, isso? Ah, meu Deus dona Elisa – Rosa entrou no quarto e acudiu a minha avó.
- Es-es-távamos conversando e ela de repente desmaiou – balbuciei essas palavras. – Ela estava triste porque o tio Hélio e a minha mãe não atenderam ao seu pedido de virem para cá... Rosa, precisamos de uma ambulância agora!
- Sim.. – Rosa saiu atropelando os móveis.
Fiquei abraçado com a minha avó, ninando ela no meu colo. Um aperto tomou conta do meu peito, tapando a minha respiração. Minha avó não podia morrer. Não desse jeito, com o coração cheio de desgosto.
Em meia-hora dois enfermeiros e um médico-socorrista entraram no quarto com uma maca. Colocaram a minha avó em cima, enquanto me faziam algumas perguntas sobre ocorrido. Expliquei da melhor e mais rápida forma. Descemos todos juntos, e ao cruzar com Rosa desesperada lá embaixo, pedi que ela pegasse os documentos de vovó Elisa o mais depressa possível, e fosse para o hospital logo em seguida, pois eu iria com a minha avó na ambulância.
- Ela vai ficar bem, não vai? – perguntei para o médico-socorrista que tentava reanimá-la, mas sem êxito.
- Você precisa estar preparado – ele me disse sério. – O quadro de câncer dela é irreversível, e ela está extremamente debilitada.
O percurso do sítio até o hospital não era tão longo, mas a estrada estava péssima por conta das chuvas, o que atrasou bastante a nossa chegada.
Levaram a minha avó para o CTI e não me deixaram entrar. Eu caminhava de um lado para o outro com as mãos postas na cabeça, completamente sem rumo. Sentia-me de mãos atadas, desejoso de fazer alguma coisa que pudesse ajudar na situação, contudo, fora a questão burocrática, coisa alguma estava ao meu alcance.
Fui para uma salinha de espera, reservada para os parentes dos internados. Não demorou muito e Rosa chegou acompanhada de Fernando, que naquele momento foi um alívio para mim. Corri para seus braços, e ele me recebeu calorosamente. Naquele momento nenhuma cafajestagem dele, cometida no passado, importava mais. O fato dele está ali, me bastava.
- Meu filho, aqui tá todos os documentos de dona Elisa, junto com os últimos exames que ela fez – Rosa me entrou uma pasta, mal conseguindo segurar. Suas mãos tremiam muito, e seus olhos, já molhados, ameaçam despencar um choro volumoso, mas ela se mantinha forte, e estava certa; aquele não era o momento para perdermos a razão.
Corri com os documentos da minha avó e cuidei de toda à burocracia, ao lado de Fernando, que ficou firme junto a mim.
- Como você soube? – perguntei para ele, com a voz um pouco presa.
- Vi o movimento de ambulância, e corri para o sítio da tia Elisa – Fernando falava segurando a minha mão suada. – Só que quando cheguei lá, você já tinha saído com sua avó. Encontrei apenas Rosa, alvoroçada. Ela me contou o que tinha acontecido, e eu disse que ia acompanha-la até aqui.
- Obrigado, Fê – eu dei um beijo carinhoso em sua bochecha.
- Na bochecha? Bem que podia ter sido na boca – ele cochichou no meu ouvido, dando um sorrisinho, mas não malicioso.
- O quê?!
- Relaxa, Benjamim – Fernando bagunçou o meu cabelo. – Só estou curtindo com sua cara. Não que eu não queira um beijo seu na boca. Mas hoje só quero amenizar o clima.
- Nem o seu humor incurável, vai conseguir hoje – deitei a minha cabeça em se ombro.
Rosa estava tão absorta no terço que ela rezava, que mesmo sentada ao nosso lado, não deu sinais que de que estava prestando atenção ao que nós falávamos.
- E o Giuliano? – Fernando perguntou. – Aonde ele está?
- Meu Deus, eu havia me esquecido dele! – eu exclamei, pegando o celular rápido no meu bolso.
O celular chamou até a ligação cair. Liguei uma segunda vez, aconteceu a mesma coisa. Tentei pela terceira vez, e o celular chamou umas quatro vezes e a ligação foi rejeitada.
- Ele desligou – disse para o Fernando.
- Acho que não, tenta mais uma vez – Fernando pediu.
Fiz. O celular chamou duas vezes e finalmente foi atendido, por alguém que berrou:
- O que você quer?!!!
Até Fernando se assustou com o tom grosseiro e irritado da voz que atendeu o celular, por isso aproximou o seu ouvido para escutar.
- Giuliano? – perguntei.
- Não é o Giuliano, é o namorado dele – Henrique disse.
- Henrique, não é o momento – eu falei com a voz vencida. – Chama o Giuliano, que é urgente.
- Sei... – Henrique desdenhou de mim. – Benjamim, cai na real, porque está ficando ridículo para você, ficar se metendo entre mim e o Giuliano. Ainda não ficou claro que ele não quer mais nada com você?
- Vai para o inferno, Henrique! – explodi, mas sem gritar. Não era o local e eu não queria abalar a Rosa.
- Eu estou com a nossa avó no hospital entre e a vida e a morte. – as lágrimas desciam pelo meu rosto, profusas.
- É sério?! – a voz de Henrique soou preocupada.
- É sim... – solucei, trocando o tom da minha a voz também. – Ela passou muito mal e...
Uma gargalhada estridente ecoou do outro lado da linha, interrompendo a minha frase. Fiquei assustado com aquela reação de Henrique.
- Lamento interromper o que seria uma historinha bem engendrada – ele me disse. – Você achou mesmo que eu ia cai nessa sua mentira. Não me subestime seu viadinho.
- Não é mentira – tentei argumentar com aflição e raiva. – A vovó pode nem passar de hoje.
- Que coisa feia, que golpe baixo, Benjamim – agora Henrique era sarcástico. – Usar a própria avó para tentar conseguir mais uma trepada com Giuliano. Desista! Você perdeu!
Fernando arrancou o celular da minha mão e falou em um tom muito alterado.
- Oh, seu escroto do caralho! O Benjamim está falando a verdade, onde está a porra do Giuliano?
- E ainda tem cúmplices – ouvi Henrique dizer, antes de desligar na cara de Fernando.
- Desgraçado! – Fernando apertou o celular com força, talvez imaginando suas mãos no pescoço de Henrique. – O Giuliano ainda te trocou por essa tranqueira. Eu sempre disse que esse Henrique não prestava. Sempre deu em cima de mim, só não passei a pica nele por que não quis.
- O que foi isso? – Rosa quis saber.
- O queridinho Henrique de vocês, mostrando quem de fato ele é – respondi. – Liguei para o Giuliano, e o “namorado” dele atendeu. Mas não quis passar para o meu primo.
- O Henrique? Não pode ser – Rosa me decepcionava com sua incredulidade.
- Até você, Rosa? – falei irritado. – Será que a minha palavra não tem valor nenhum, mesmo?
Antes que ela me dissesse mais alguma coisa, o médico da vovó Elisa veio nos procurar.
- Os familiares de Elisa Lira Cardoso? – o médico chamou.
- Sou eu – levantei-me. – Sou o neto dela.
- Você pode me acompanhar? – ele me chamou, e foi saindo da sala.
Segui-o até sua sala, junto com Fernando, que diferente de Giuliano, estava ali para me amparar no que eu precisasse. Pude ver que ele tinha uma atitude bem diferente, quando era necessário.
- Eu sou o doutor Lázaro Bernard – o médico, de meia-idade, se apresentou me estendendo a mão.
- Prazer, doutor, meu nome é Benjamim, e esse é Fernando, amigo da família – disse, recebendo o cumprimento do médico.
- Bom, Benjamim, eu sou médico que conduz o tratamento da sua vó, e acredito que você saiba em que estágio o câncer dela se encontra – doutor Lázaro falou em um tom calmo.
- Sim, eu sei... – balbuciei, enquanto as lágrimas caíam, inevitavelmente. – Eu não moro com ela, mas vim justamente por causa do seu estado.
- Imaginei – o médico coçou o queixo. – Dona Elisa estava plenamente ciente de que ficar em sua casa, sem toda assistência médica e aparatos hospitalares, era de extremo risco. Mas sua decisão foi de não permanecer internada.
- E o tratamento? – perguntei.
- Nós o interrompemos, pois ela já não mais reagia a ele – o médico afirmou. – Nessa fase, nossa preocupação em manter o paciente confortável, o máximo que pudermos dentro de suas possibilidades.
- E como ela está, douto?
- Sua avó ainda precisa fazer mais alguns exames, mas sua situação piorou muito – o médico disse sem emoção. – O corpo está entrando em colapso. Mesmo diante de um quadro irreversível, ela demonstrou uma força não esperada. Se você quiser vê-la, ela já recobrou a consciência.
- Quero muito! – eu disse
- Tudo bem – o doutor Lázaro concordou. – Mas é importante que você entenda, que o mínimo de emoção pode ser definitivo para ela. A debilitação de sua avó atingiu um estado crítico, qualquer alteração de humor terá efeitos desproporcionais.
- Eu entendo perfeitamente – assenti com a cabeça.
- Certo! Venha comigo – O médico só permitiu que eu fosse.
Fernando voltou para o junto de Rosa, mas antes me abraçou bem forte e me beijou na bochecha, gesticulando com a boca: “eu estou aqui”. Senti-me renovado com aquela frase, mas como eu queria que ela tivesse sido proferida pela a boca de Giuliano.
Entrei no leito em que a minha avó estava, e já pelo vidro, vendo-a a respirar com a ajuda de aparelhos, me deu um aperto forte no coração, uma angústia que me adoecia, mas reunir forças do impossível, me lembrando das recomendações médicas sobre o emocional esgarçado dela.
Fui até a cabeceira de sua cama, e me abaixei, fazendo um carinho em seus cabelos. Ela me olhou, esgotada, e forçou um sorriso. Não sei como aguentei controlar as minhas lágrimas.
- Queria que o Giuliano estivesse aqui com você? – ela falou com a voz em miséria.
- Xiiii – pus o dedo em sua boca, delicadamente. – Ele já está vindo – sussurrei em seu ouvido.
- Que bom... – ela disse, dando mais força ao seu sorriso. – Quero ir para casa.
- Não, vovó, é melhor a senhora ficar aqui – argumentei. – No hospital a senhora vai ter todos os cuidados.
- Vou recuperar um pouco de forças e você e Giuliano vão me levar para casa, é lá que eu quero estar quando acabar. – vovó aumentou um pouquinho o tom de voz.
Não podia contrariá-la naquele estado, então concordei com a cabeça, deixando-a a mais tranquila. Eu entendi sua exigência, apesar de ficar com o coração na mão diante dela.
- Agora descanse – pedi, ainda acariciando seus lindos cabelos brancos.
Ela, acredito que por conta dos remédios, adormeceu serenamente, segurando a minha mão sem forças. Eu queria ficar com ela daquele jeito pelo tempo que fosse necessário, mas logo o médico veio me chamar, dizendo que meu tempo já havia acabado. Atendi a sua ordem, e dei um beijo na testa da minha avó, antes de deixar o leito.
- Então, como ela está? – Rosa deu um pulo da cadeira assim que me viu entrar na sala de espera.
- Fraca, mas consciente – eu respondi. – Os médicos se surpreendem com sua força. Contudo, o quadro piorou muito. O ideal é que ela ficasse no hospital, mas minha vó se recusa a todo custo.
- Não posso vê-la? – Rosa insistiu.
- Ainda não, Rosa – eu respondi dando um abraço forte nela, que a fez chorar. – Apesar de o melhor, do ponto de vista médico, seja deixa-la aqui, eu vou atender a seu pedido de voltar para casa. Ela está resoluta nesta questão
- Eu apoio você – Fernando se juntou ao braço, formando uma coletividade.
Já a noite convenci Rosa de ir para casa, pois era melhor ter alguém para avisar Giuliano, que provavelmente já deveria estar voltando. Ela resistiu no início, mas se deu por vencida, percebendo que era o melhor a fazer mesmo. Fernando se ofereceu para leva-la de carro de volta ao sítio, mas prometeu que voltaria para ficar comigo, em seguida. Eu disse que não precisava, porém ele se recusou a agir diferente. No fundo eu queria que ele voltasse mesmo. Ficar sozinho com os meus pensamentos naquela saleta, noite adentro, não soava nem um pouco convidativo.
Prometido e cumprido. Meia hora depois que ele saíra com Rosa, meu agora querido amigo, estava de volta, trazendo um copo de café preto. Era o que me bastava naquele momento, cafeína e sua companhia.
- Minha vida está um caos – eu disse mais para mim do que para Fernando, que me observava com atenção, a tomar o café. – Tive a oportunidade de acertar, mas fiz todas as escolhas erradas.
Fernando me olhava, enquanto detinha seu copo de café preso entre as duas mãos. Parecia não ter a intenção de bebê-lo durante a minha fala. E me ouvia, sem demonstrar que dariam um parecer sobre o que eu dizia. Isso me deixava confortável, para o meu meio-monólogo.
- Nunca procurei Giuliano, depois da infame tarde em nos afastamos – continuei a me lamentar. – Ignorei a minha avó, fingi ser uma pessoa com sentimentos que não tenho, fiquei noivo de uma mulher, sendo eu gay. E o pior de tudo: deixei a minha mãe tomar as rédeas da minha vida. Abri mão da liberdade, pelo conforto de não ter que tomar minhas próprias decisões, e porventura arcar com suas consequências.
- Meu sempre me dizia que toda escolha resulta em perdas e ganhos, mas no final, o que importa é o que tivemos que abrir mão e o que alcançamos com a decisão tomada – Fernando usou de uma sabedoria que eu jamais esperaria dele. – Mas negar quem somos, nunca pode resultar em algo bom.
- Eu poderia me apaixonar por você, sabia? – eu disse apertando sua mão.
- Sei disso – ele deu seu primeiro risinho malicioso. – Não há quem resista ao meu charme, principalmente quando me comporto como um filósofo sexy.
- Gosto desse Fernando, também – eu confessei. – Mesmo tendo que vigiar suas mãos bobas o tempo todo.
Rimos juntos, quebrando o clima pesado por um instante.
- Não daria certo – ele suspirou. – Eu sou uma puta, Benjamim, e por mais que eu deseje muito você, não poderia te dar no dia seguinte um lugar para você chamar de seu. O amor é muito complicado, e eu não quero esse tipo de perturbação para minha vida.
- Entendo – disse, sentindo um misto de tristeza e respeito pelas palavras dele.
Conversamos mais sobre algumas amenidades. Ele me contou o que teve de fazer para levar alguns carinhas difíceis na queda, para cama. Era cada história escrota, que não tinha como não rir. Contudo, sempre que eu estava em meio a uma gargalhada mais descontraída, era pego de surpreso pela lembrança da situação da minha avó, e um travo de amargura tomava conta da minha boca, contraindo o meu estômago numa dor profunda. Fernando percebia, mas não falava nada, contava mais alguma coisa, as vezes fazia um carinho no meu rosto ou no cabelo. Era a forma dele de soprar a ferida, e torcer para que o ardor sumisse.
A noite se arrastava com lentidão, mas o cansaço e a exaustão emocional se apressavam em tomar posse dos meus sentidos. Em meio as conversas, eu e Fernando já repousávamos o corpo um no outro, eu mais que ele. De repete me dei conta de que estava com a cabeça deitada em seu colo, com o peito voltado para cima, de forma a poder mirar bem os seus olhos.
Meus olhos pesados e inchados me venceram. Fechei os olhos e caí em um sono profundo, mas não tranquilo. Tinhas espasmos o tempo todo, enquanto sonhava despencando em abismos, imergindo em águas profundas e escuras. Via também o tempo todo, imagens esgarçadas da minha vó, passando, emolduradas por retratos antigos, que se deformavam como fumaça.
Acordei de um susto, e me vi sozinho sem Fernando na sala de espera. Ele me deixara com a cabeça deitada em seu assento, e saíra. Natural que ele tenha ido para casa, pensei, afinal devia estar muito cansado, e por alguém que nem era de sua família. Tudo que ele já tinha feito era digno de imensa gratidão.
- Bom dia – uma voz conhecida me desejou.
- Bom dia – respondi, vendo Fernando entrar com mais dois copos de café, e lhe ofereci um sorriso caloroso. – Que horas são?
- 6 da manhã – ele respondeu entregando o copo com café – Se você tiver com fome, trago um lanche para você.
- Não, obrigado – eu bebi o café fumegante. – Eu devo estar horrível – percebi que Fernando me encarava com uma certa pena.
- Eu ainda te comeria mesmo assim – ele riu, passando a mão no queixo, como se avaliasse o meu valor.
- Bestão! – falei rindo. Ele tinha créditos o suficiente comigo, para abusar com suas piadinhas.
Fernando sentou ao meu lado, deu uma arrumadinha no meu cabelo, que estava só uma farofa de cachos, antes de dizer:
- Você chamou muito pelo nome do Giuliano, enquanto dormia.
- Inutilmente – respondi sem graça. – Quando ele souber o que aconteceu com nossa avó, ele vai arranjar um jeito de me culpar. Essa sua especialidade. Tudo de ruim que acontece no mundo, por alguma razão está ligado a mim, para ele.
- O Giuliano é marrento e cabeça dura, mas eu tenho certeza que ele ainda te ama muito – Fernando comentou. – Só é idiota demais para deixar essa mágoa toda de lado, e ser feliz contigo.
- Ele não vê as coisas com tanta praticidade – retruquei. – Não quero também mais falar dele.
Assim que me calei, o médico da vovó da Elisa entrou na sala, mas para conversar com outro familiar de paciente internado. Interceptei ele, antes que que fosse embora.
- Doutor, e a minha avó Elisa? – perguntei.
- Acabei de vir do quarto dela, e ela está estabilizada – ele disse me tranquilizando – Os exames também atestaram uma estagnação do seu quadro. A essa altura isso é uma boa notícia.
- Ah, que bom ouvir isso – comemorei – Doutor, ela não quer ficar no hospital.
- O melhor para ela, é que fique – ele recomendou.
- Vovó Elisa sabe que não vai melhorar, e ficar longe do aconchego da casa só a aborrece – eu disse. – Pode parecer irresponsabilidade da minha parte concordar com ela, mas o senhor mesmo disse que ela não pode sofrer abalos emocionais, e ter que fiar aqui esperando a... Enfim, isso vai acabar com o seu restinho de garra. Podemos preparar a casa para recebe-la da melhor forma, com enfermeiros e técnicos de enfermagem.
- Tudo bem – ele acabou concordando. – Mas qualquer alteração que ela sofrer, não pense duas vezes em trasladá-la para o hospital.
- Farei isso, sem dúvidas.
- Se ela recuperar bem suas forças, hoje à tarde poderá voltar para a casa, mas com todos os cuidados e exigências médicas.
- Perfeito – disse por fim, me despedindo dele e indo comemorar com Fernando, que nos ouvia.
Perto do meio-dia Fernando foi até o sitio pegar umas coisas para mim e para vovó Elisa, e dar notícias para Rosa. Nesse tempo, eu resolvi tentar entrar em contato com Giuliano. Como até aquela hora ele não havia aparecido no hospital, com certeza não voltara de viagem ainda.
O celular chamou duas vezes e a mesma voz indesejada atendeu.
- Vem cá, o Giuliano te deu o celular dele presente, foi? – perguntei irritado, ouvindo seu risinho. – Eu exijo que você passe para ele agora, rapaz!
- Você não exige nada – Henrique disse.
- Pelo amor de Deus, a vovó Elisa está hospitalizada, ela quer ver o Giuliano – apelei. – Ele precisa estar aqui.
- Benjamim, muda de historinha, que essa está velha, amor – Henrique estava mais insuportável, do que o habitual. – Que tal dizer que você já vai enterrar a vovó, parece mais dramático, não acha?
- O que você disse, seu maldito?!!! – perdi a noção de que eu estava em um hospital e fui repreendido por uma enfermeira.
- De qualquer forma, eu Giuliano só voltamos à noite, da nossa pequena lua-de-mel – ele disse soletrando a última palavra. – Chegamos numa cidadezinha com turismo aquático e resolvemos aproveitar para relaxar, já que Giuliano está cansado de atender tantas fazendas. Bom, é claro que não serão as cachoeiras que o farão relaxar, se é que você em entende. Agora para de incomodar! Eu vou desligar o celular dele, e tão não adianta ligar mais.
- Henrique, espera... – ele desligou o celular. Vi que não tinha jeito mesmo, eu teria que mentir para a vovó Elisa sobre Giuliano, caso ela perguntasse.
Fernando voltou, de banho tomado e roupa limpa e com a aparência bem descansada. Me deu notícias de que Giuliano ainda não havia voltado para o sítio, então contei para ele que já sabia, e como foi minha última tentativa de falar com o meu primo.
O finalzinho da tarde chegou, e a vovó Elisa recebeu alta. Pelo menos sua alegria parecia ter sido restaurada. Conforme o médico exigiu, um enfermeiro bem instruído foi escalado para voltar para casa conosco, recebendo muito bem pelos seus serviços particulares.
Em casa, Rosa e seu Inácio já nos esperavam no portão. Eu vim na ambulância com minha avó, e Fernando nos seguiu de carro. Rosa começou a chorar ao ver sua amiga sentada em uma cadeira de rodas, envolta por uma grossa manta e gorro, mas vovó Elisa fez uma cara de repreensão, para que ela contivesses as lágrimas.
- E Giuliano? Por que ele não está aqui comigo? – foi a primeira coisa que vovó Elisa perguntou, assim que cruzamos a soleira da porta.
- Ele não voltou da vacinação do gado contra a febre aftosa – comecei a falar, salivando muito. – Tentei ligar para o celular dele, mas só dá na caixa postal.
- Provavelmente ele está em um local sem sinal – Fernando completou. – É muito comum nessas pequenas fazendas mais afastadas.
Minha engoliu a desculpa com um pouco de desconfiança, mas não questionou mais. A levamos para o seu quarto e instalamos o enfermeiro em dos de hóspedes. Ele verificou a pressão e a pulsação dela e a medicou, como prescrito. Logo Rosa trouxe uma canja nutritiva e ela tomou sem reclamar.
Ficamos só eu e Fernando conversando com ela, durante um determinado momento. Então contei para ela o anjo que ele foi nas horas mais necessárias. Vovó Elisa o encheu de beijos e agradeceu muito, o que deixou o safado mais vaidoso do que ele já era.
Lá pelas oito da noite, quando o enfermeiro que se chamava Jonas, pediu para deixarmos vovó descansar, um tigre esbaforido invadiu o quarto subitamente, quase sacando a porta fora. Giuliano atravessou o quarto e se jogou de joelhos, ao lado da cama da vovó Elisa, afundando seu rosto no colo dela e caindo em um choro profuso.
- Graças a Deus, que você está bem – ele soluçava – Rosa acabou de me dizer o que havia acontecido. Eu não devia ter deixado a senhora sozinha. Eu falhei! Tinha que estar aqui.
- Calma, meu filho, vovó é dura na queda – vovó Elisa fazia um carinho nos cabelos de Giuliano, que não parava de chorar. – Benjamim me socorreu e fez tudo que devia ter sido feito.
Assim que nossa avó falou o meu nome, Giuliano lembrou que eu estava ali e olhou para mim, com um olhar de poucos amigos:
- Por que você não me ligou?
- Eu liguei para você, mas... – olhei para Henrique, que estava apavorado, vendo que eu não mentia, e perto de ser desmascarado, porém olhei para minha avó, tão frágil e debilitada. Dizer o que realmente havia acontecido faria com que uma briga se armasse, e ela não ia aguentar.
- Mas o quê? – Giuliano perguntou com grosseria.
- Só dava caixa postal o tempo todo, acho que você estava em uma área sem cobertura – só Deus sabe o quanto de esforço tive que empregar para não jogar a verdade na cara de todos.
- Mentira! Meu celular passou o tempo inteiro com área – ele disse. – Você não ligou, porque não quis. Fez de propósito. Usar uma situação como essa para me atingir, só faz eu sentir nojo de você.
Giuliano conseguiu dessa vez me triturar até o pó.
CONTINUA...
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Tudo bem,turma? (falei que nem o Luba,o youtuber). Perdoe-me os erros de digitação, mas não tenho tempo para revisar. Aliás, eu não tenho nem para escrever.
Vamos para as considerações de hoje, que são muitas:
Parece que mesmo a gente explicando com toda clareza, tem gente que ainda não entendeu. Sim, Lord D. e Senhor T. são a mesma pessoa. No caso, eu. Mudei de nick, para fugir um pouco dos haters, mas não teve jeito, então vou ficar com o meu nickname original, sendo que esse é o último conto publicado por Senhor T., depois só Lord D, mesmo.
Não! Eu não quero participar de nenhum grupo de WhatsApp com leitores da Casa dos Contos. Acho bacana a iniciativa, obrigado pelos e-mails me convidando, mas eu não vou. Para os leitores deve ser legal, mas creio que a maioria dos escritores gosta de se manter no anonimato, ou quase anonimato.
Paciência comigo, paiper trovao. Eu sou conferencista (acho que não devia ter dito isso), e isso me esgota totalmente. Estou ainda no começo, mas a coisa está bem andada. Para a minha idade, acho que vou bem, obrigado.
Gente, antes de fechar a parte de hoje eu queria falar de três pessoas especiais, duas são leitores que comentam aqui na casa. O primeiro, é o onipresente Geomateus. Se o seu conto não tiver um comentário do Geomateus, filhinho parte para outra história. O cara lê tudo e acho que um dos mais antigos frequentadores da CdC.
O segundo é o Plutão. Plutão eu já sonhei mordendo tua bunda e ela era um macia e quente, quando eu acordei era o meu travesseiro. No meu sonho você era o Josh Hutcherson. Bom, safadezas a parte, eu te admiro muito como leitor. Seus comentários sempre lúcidos e inteligentes, e para mim, indispensáveis para o meu ego. Continua comentando. Ah, e respondendo a sua pergunta, o livro do Wattpad que você viu com o mesmo título que esse conto, não é meu. Convenhamos que "Entre Primos" é um nome bem comum, mas eu não escolheria outro para o meu conto. Só aqui na casa tem uma porrada com esse título.
Terceiro, é um amigo que eu não vou dizer o nome dele aqui, mas ele é leitor e acho que não comenta, a gente interage por e-mail. Senhor Rosa, quero beber uma taça de vinho com você.
Para o Senhor Rosa, Plutão e Geomateus dedico a parte de hoje do conto.