Maman e eu ficamos conversando até a hora que a Sophie acordou. Após isso, eu cuidei da minha filha, dei a mamadeira dela e fiquei com ela lá na sala esperando o Bruno e o Papa chegarem.
- Maman, a senhora não acha que eles estão demorando muito, não?
- C’est vrai! Olha só, já são 18h.
- Aaaah, voltou a falar francês!
- Antoine, tais-toi! (Cala a boca!) – Ela sorriu
- Je préfère quand tu parles français, Maman. J’sais pas t´écouter à parler portugais. (Eu prefiro quando a senhora fala francês, Maman. Eu não sei lhe escutar falar português)
- Moi, bien sûr que je préfère parler ma propre langue, mais, j’aime le portugais aussi. (É claro que eu prefiro falar a minha língua, mas, eu amo o português também)
- Et toi ma petite ? Tu vas parler français aussi ! (E tu, minha pequenina ? Tu vais falar francês também?)
- Ah, voilà, c’est ça qu’il faut faire ! Tu vois, il faut parler comme ça avec notre petite, il faut l’apprendre à reconnaître la langue depuis toujours ! (Ah, é isso que tu precisas fazer. Tá vendo, é preciso falar assim com a nossa menina, é preciso ensiná-la a reconhecer a língua desde sempre)
- On va faire ça, Maman ! Bruno et moi, on va parler toujours en français chez nous, ça sera si bon à lui aussi. (A gente vai fazer isso, Maman ! Bruno e eu, a gente vai falar sempre em frances em casa, isso vais ser bom para ele também)
- C’est vrai !
- Maman, maman ! Est-ce qu’Antoine peux jouer aux jeux video avec moi, maintenant ? (Maman, o Antoine pode jogar video game comigo, agora ?) – Gui perguntou à Maman todo agoniado
- J’sais pas, mon p’tit ! Demande à ton frère ! (Não sei, meu filho ! Pergunta para o teu irmão!)
- Antoine, tu peux ? (Antoine, tu podes )
- Pas encore, Gui ! (Ainda não, Gui)
- Ah, tu ne veux pas jouer avec moi ! (Ah, tu não queres jogar comigo !)
- C’n’est pas ça, tu sais ! J’ai ma p’tite maintenant, il faut que je la surveille. (Não é isso, tu sabes ! Eu tenho minha filha agora, eu preciso cuidar dela)
- Aaah, toujours la tata, toujours ! (Ah, sempre a titia, sempre!) – Ele saiu do meu lado emburrado e foi sentar com a Maman
Nós ficamos na sala conversando e nada dos dois chegarem. Papa e Bruno estavam demorando demais.
- Maman, eles estão demorando muito! Será que aconteceu alguma coisa?
- J’sais pas, vamos ligar para eles, eu já estou preocupada também.
- Mas nós já ligamos e da última vez eles falaram que já estavam chegando e isso foi há uma hora e meia.
- Liga de novo!
- Eles estão aprontando alguma coisa, a senhora aposta quanto?
- Eu suspeito disso também!
Eu liguei mais uma vez. Na primeira chamada Bruno atendeu logo.
- Oi, amor!
- Oi, mozão!
- Ainda vão demorar?
- Não! Já estamos chegando!
- Bruno, tu sabes que eu não suporto esse “tô chegando” e não chega nunca.
- Não, mas nós realmente estamos chegando, em dez minutinhos nós estamos aí.
- O que vocês estão aprontando?
- Nada, meu bem! – Ele disse rindo
- Pode falar, tu não sabes mentir.
- Não é nada, amor! Teu pai que tá fazendo palhaçada no volante.
- Põe isso no viva voz!
- Pronto! – Ele disse
- PAPA SE O SENHOR MATAR MEU MARIDO VAI SE VER COMIGO!
- Como é que é? Ele já está com aquelas maluquices? - Maman disse
- Já!
- CARLOS, TÁ FICANDO MALUCO? TÁ FICANDO VELHO E DOIDO, É ISSO?
- Ai, mas vocês dois são muito chatos! – Papa disse rindo
- VENHAM LOGO PRA CÁ, TÁ PENSANDO O QUÊ? SE ESTIVEREM APRONTANDO, TU VAIS TE VER COMIGO, CARLOS! – Maman disse com raiva, mas para mim ela estava rindo
- E TU TAMBÉM, BRUNO! CHEGA AQUI COM UM ARRANHÃO PRA TI VERES...
- Acho melhor a gente ir logo, Carlos! – Bruno falou
- Bruno, tu tens que ter mais pulso com o Antoine, tens que ser que nem eu com a Ange.
- COMO É QUE É? – Maman e eu falamos juntos
- Tu queres mesmo enfrentar duas feras de uma vez só?
- O QUE É QUE TU ESTÁS FALANDO AÍ, CARLOS? – Maman continuava falando muito séria, mas para mim ela estava rindo que só
- Oi, amor! Eu estava falando que nós já estamos chegando. – Papa colocou o rabinho no meio das pernas
- Como, Carlos? – Bruno disse rindo
- Quieto, filho!
- QUANDO TU CHEGARES NÓS VAMOS CONVERSAR!
- Já já chegamos ai. – Papa disse
- Beijo, amor! – Bruno falou
- E tu também, quando tu chegares nós conversamos!
Ele encerrou a ligação.
- Agora eu entendi, Maman! – Eu disse caindo na gargalhada
- O quê, chéri?
- Quando a senhora disse que éramos parecidos.
- Aaaaraa, estás vendo, Maman sempre sabe das coisas.
- O Papa ficou morrendo de medo!
- Deixa ele chegar aqui, aí tu vais ver. Vamos encenar!
- Maman, mas a senhora é muito má!
- Que nada! Vou te ensinar uma coisinha, tu vais ver...
Nós ficamos esperando o dois e não é que em 10min eles chegaram?
- Oi, amor! – Bruno veio para o meu lado
- Oi, amor? Depois de me deixar todo esse tempo esperando, tu me vens com “oi, amor”?
Ele ficou parado me olhando, totalmente sem reação.
- E toi? O que tu tinhas na cabeça? E se tu morres e ainda mata nosso genro? Tá maluco, Carlos?
- Amor, eu não fiz nada de errado.
- Como, não?
- Eu só acelerei um pouquinho, não foi nada demais, se eu não tivesse acelerado, nós não teríamos chegado agora.
- Talvez não tivessem chegado nunca, né? E se morre? O que que faz?
- Isso mesmo, Maman! E tu, Bruno, como é que tu deixas o Papa fazer essas maluquices? Esqueceu que agora tu tens uma filha?
- Desculpa, amor, mas não foi nada demais.
- Nada demais...!!!
Maman e eu estávamos simulando muito bem.
- Desculpa...
Eu não resistia deixar meu marido daquele jeito. Quando ele começava a pedir desculpas ele não parava mais.
- O que é que vocês vão fazer para nós repensarmos a situação de vocês? – Maman começou a negociação
- Um jantar, talvez? – Papa disse
- Não, não! – Maman era dura na queda
- E se nós reuníssemos a família toda e fizéssemos uma viagem?
- No estado do Antoine? Não!
- Não precisa ser para outro estado, pode ser para algum município. A gente vai para uma pousada, que tal?
- Tudo por tua conta?
- Sim!
Amava a Maman por que ela sempre sabia dobrar o Papa direitinho.
- Viu como é que faz, Antoine? – Ela perguntou
- Vi, Maman! A senhora é o máximo! – Eu disse rindo e indo para o lado dela
- Ham? – Bruno disse – Tu entendeste alguma coisa, Carlos?
- Não acredito, Ange! Tu fizeste isso de novo?
- Claro, meu bem. Quem mandou correr feito um retardado na rua?
- Eles não estão chateados? Eu estou perdido nessa história!
- Não, amor! Não estamos! Vocês só mereciam uma lição.
- Aaaah, seu sacana! Ainda bem que eu não prometi nada! – Ele disse me abraçando
- Eu vou ter que cumprir o que eu falei, não vou? – Papa disse indo até Maman
- Vai, sim!
- Que droga, Ange! – Ele disse a beijando
- Da próxima vez que tu deres uma de moleque de 18 anos, eu faço algo pior.
- Vocês conseguiram comprar tudo? – Eu perguntei ao Bruno
- Conseguimos!
- Mas com toda essa demora, como não comprariam também!
- Vamos para casa?
- Vamos primeiro jantar, a Jojo fez uma comida deliciosa pra gente.
- Ah, ok! Mas assim que jantarmos a gente vai... Cadê minha princesa?
- Tá aqui no carrinho.
- Tá dormindo?
- Que nada! Tá brincando.
- Deixa eu pegá-la, então. – Ele disse a retirando do carrinho – Oi, meu amor! O que o Papai andou aprontando contigo, filha?
- Seria melhor perguntar o que tu andaste aprontando!
- Eu? – Ele disse rindo
Eu sabia que ele estava escondendo algo
- É, tu mesmo!
- Nada!
- Bruno, tu não sabes mentir! O que vocês fizeram a tarde toda?
- Nada, amor! Nós fomos comprar o material para a pintura do quarto da Sophie e aí ainda pouco nós paramos para lanchar. Só isso!
- Hum... sei...
- Verdade, amor! – Ele disse rindo – E o que vocês fizeram?
- Nada demais! Nós cuidamos da Sophie e Maman e eu conversamos o dia todo. O que vocês compraram?
- Tintas, pinceis, rolos, papel de parede... tudo para a pintura.
- Vamos lá ver...
- Ah, nós já deixamos em casa.
- Vocês foram em casa? Por que?
- A gente estava lá perto e resolvemos deixar logo lá.
- Mas se vocês foram para o centro, como vocês estavam perto de casa?
- Vamos jantar! – Papa se meteu na conversa
Eu fiquei olhando para aqueles dois, eu sabia que eles estavam aprontando alguma.
- O que a senhora acha de tudo isso?
- Estão aprontando!
- Eu também acho isso!
- Vamos jantar, daqui a pouco eles abrem o jogo.
- Se eu ficar só com o Bruno ele abre, ele não sabe mentir.
- Depois do jantar nós fazemos eles abrirem o bico.
- Unrum!
- Vocês não vem jantar, não? – Papa disse indo para a sala de jantar
- Já vamos! – Eu disse
- Ange, cadê o Gui e a Anne?
- Estão lá em cima.
- Chama eles para jantar.
Maman foi até lá em cima chamar meus irmãos.
- Vem, filhote!
- Por que vocês estão com tanta fome se vocês acabaram de lanchar?
- Nós não acabamos de lanchar! – Papa disse
- Mas o bruno disse que vocês lancharam ainda pouco.
- Ah, isso foi às 18h.
- E agora que são 20h.
- E eu já estou com fome... – Papa disse se sentando à mesa
- Hum... hum...
Maman desceu com os meninos e todos jantamos juntos. Foi só a gente terminar de jantar que o Bruno disse no meu ouvido:
- Vamos embora, amor?
- Mas a gente acabou de jantar, Bruno.
- Eu sei, mas eu estou cansado. Vamos?
- Tá, tudo bem, então! Deixa só eu falar com a Maman.
Eu fui até a Maman que estava sentada na sala com o Gui.
- Maman, nós já vamos, tá?
- Mas já, chéri?
- Já, Maman! O Bruno está cansado e quer descansar.
- Aaaah, eu pensava que tu irias ficar mais um pouquinho. Adoro quando tu vens pra cá!
- Eu também gosto, Maman! Bom, já vou indo! – Eu disse a abraçando
- Eu sabia que tu não ias jogar comigo! – Gui disse emburrado
- Eu preciso ir, Gui. Vamos fazer o seguinte, amanhã eu peço para o Bruno vir te buscar, aí tu levas teu vídeo game lá para casa e nós brincamos. Pode ser?
- Tu não vais fazer isso!
- Vou, sim!
- Tu só tá mentindo pra mim!
- Oooo Gui!! Eu prometo que amanhã o Bruno vem te buscar, tá? Se ele não vier, tu podes pedir para o Papa te deixar lá que eu vou estar te esperando, tá?
- Tá bom! – Ele correu e me abraçou
Eu fui me despedir de Papa e Bruno já estava pronto com a Sophie no colo. Nós fomos para casa e ao chegar lá...
- Amor, eu tenho uma surpresa pra ti.
- Eu sabia que vocês estavam aprontando!
- Vem! – Ele disse subindo as escadas com a Sophie no colo e rindo de mim