E era o Lucas mesmo. Estava de boné virado com a boina para tras, óculos escuros quadradão, nunca tinha visto ele assim. Ele veio ate meu encontro com uma sacola de presentes.
Berg – Lucas?
Lucas – já que você não foi ate a mim, mim veio ate você (rs)
Dei um sorriso seco, estiquei meu braço e o Lucas cumprimentou.
Lucas – Vontade de dar um beijo em voce.
Berg – aqui nem rola véi, tem o pessoal da rua, e tem meus pais que podem chegar a qualquer hora.
Lucas – Vamos la dentro da tua casa.
Berg – Da não, tenho que levar o carro do pai em alguma oficina.
Lucas – o que aconteceu com ele?
Berg – sofreu uma batida aqui na frente e o motor morreu, agora tenho que ir empurrando ate a oficina mais próxima.
O Lucas começou a rir.
Berg – rindo de que po?
Lucas – Vamos simplificar as coisas mo. Ligamos para um mecânico e ele vem resolver o problema aqui, fica mais caro mas compensa.
Berg - não conheço nenhum.
Lucas – aqui eu também não conheço. Liga para o seu Henrique, ele deve conhecer.
Berg – conhece nada, foi ele quem mandou levar em um mecânico e não me falou nada.
Lucas ficou um pouco pensativo.
Lucas – Liga para o Edgar, ele vai saber com certeza, mas não diz que eu estou aqui.
Berg – ele não sabe que tu ta na cidade?
Lucas – nem vai saber, vim só por voce mesmo.
Lucas sorriu e eu fiquei meio sem jeito.
Liguei para o sr Edgar e realmente ele conhecia mecânicos que atendem a domicilio, me encaminhou o contato de alguns por mensagem e em menos de uma hora já tinha um na porta da minha casa.
xX
Berg – já almoçou Lucas?
Lucas – ainda não. Deixei minhas coisas no hotel e vim direto pra ca, queria muito te ver.
Berg – almoça aqui em casa?
Lucas – tenho uma ideia melhor, enquanto o mecânico avalia o conserto do carro eu levo você para almoçar em um restaurante. O que tu acha?
Berg – e se quando ele terminar a gente não tiver chegado ainda?
Lucas – ae ele espera, ele é pago pra isso.
Berg – porra vei, você fala assim como se menosprezasse o cara.
Lucas – não é isso mo, quero dizer que quando a gente trabalha com cliente, agente deve acostumar a esperar, quem não pode esperar é o cliente.
Lucas me convenceu, eu coloquei uma outra camisa que a minha estava suja de graxa, pedi licença ao sr mecânico e fomos ao restaurante. Indiquei uma das melhores churrascaria aqui da cidade.
xXX
Lucas – o Ultimo churrasco que comi tao bom assim foi no Rio Grande do Sul.
Berg – Os donos daqui são gaúchos, você deve ter comido do churrasco deles la.
Lucas – pode ter sido. Muito bom mesmo.
O Lucas levantou o braço e chamou o garçom, pediu dois choppes sujos e voltou a se deliciar do seu prato. fiquei o observando e pude perceber o que me fez gostar tanto dele: a beleza, a postura, a firmeza, ele era um cara que dava tesão, cara de homem serio, que não dava liberdade pra qualquer um, que não fazia muitos amigos, não por ser chato, mas sim por ser celetivo.
Lucas – Puta merda mo, trouxe um presente pra ti, esqueci de te entregar e voltei com ele pra dentro do carro, trouxe presente pro cunhado também. (rs)
O shopp chegou e eu tomei logo meio copo, queria ficar bêbado pra criar coragem.
Lucas – Devagar mo.(rs)
Eu apenas sorri e dei outra golada no shopp. dessa vez fui eu quem chamei o garçom.
Berg- amigão, trás uma torre aqui pra nossa mesa por favor.
Garçom – cerveja ou chopp?
Berg – o que for menos demorado.
Garçom – É que não esta tendo torre de nenhum dos dois.
Berg – como é que o senhor pergunta cerveja ou chopp então?
Garcom – é que caso o senhor queira cerveja, temos balde.
Berg – eu aceito, trás dois baldes então. E limão com sal, bastante limão com sal.
Lucas – kkkkkkkkk, pra que isso mo?
Berg – quero beber, tou afim de ficar loucão.
Lucas – Igual no dia que eu te encontrei no ‘’café’s bar’’?
Berg – mais ou menos.
Rimos. Lucas me admirava, eu o admirava no rosto, mas por dentro eu estava me cagando. como iria dizer aquilo?
xXX
Já estava pensando em pedir o terceiro balde, quando Lucas me cortou.
Lucas – mo, já chega neh!?
Berg – Não da Lucas, não da.
Lucas – da sim, vou pedir um caldo pra você tomar e ficar zerado.
Berg – Lucas, eu preciso falar algo.
Lucas – depois Berg.
Berg – tem que ser agora, não pode ser depois.
Lucas – depois agente conversa mo, voce ta meio triscado.
Berg – Não da pra ser depois, tem que ser agora. Vamos pagar a conta e sair daqui.
Mesmo contrariado Lucas aceitou, pagamos a conta e entramos no carro pra voltar pra casa.
xXXXX
Berg – Lucas, me desculpa velho. ( eu já estava chorando )
Lucas estacionou o carro.
Lucas – ei Berg, não precisa falar agora, vou sair pra comprar uma agua pra voce.
Eu segurei no braço dele o impedindo de sair do carro.
Berg – não quero agua, preciso apenas conversar, eu tou bem.
Lucas – eu não quero ouvir Berg, seja o que for, eu te perdoo cara, vamos passar uma borracha, seja o que aconteceu eu não quero saber, o que vale é daqui pra frente.
Berg – não da pra gente ficar juntos Lucas. Eu não sinto nada por ti.
Lucas – como não Berg? Você falou que me amava.
Berg – eu achava isso, mas não era amor, eu estava vislumbrado com você. O meu objetivo era te conquistar Lucas, depois que conquistei infelizmente vi que não sentia mais nada.
Lucas – isso não pode ser verdade. Eu tava na minha Berg, voce que chegou em mim, voce que vez com que esse sentimento nascesse, não fui eu quem fui atrás de voce.
Eu chorava, chorava por que sabia que era verdade, eu tinha total culpa nisso tudo.
Lucas – Por favor, vamos tentar, eu prometo que posso te fazer feliz.
Berg – mas eu não vou poder te fazer feliz Lucas.
Lucas – Você a meu lado já vai me fazer feliz.
Berg – queria que fosse assim Lucas, bom seria se fosse tão fácil.
Lucas – eu tenho alguma chance?
Eu levantei minha cabeça e pude olhar para o Lucas que chorava muito.
Berg – não.
Lucas – é definitivo então?
Berg – Lucas você é um cara bonitão mano, você tem dinheiro, tem empresa, leva uma vida bacana, no dia em que você quiser um lance serio com alguém, pode ter certeza que vai chover na tua horta.
Lucas – eu não sou assim Berg. Eu não estou à disposição, com você aconteceu, mas não é sempre.
Berg – quando você menos esperar vai acontecer novamente.
Nos olhamos, e eu não estava aguentando fazer aquilo, Lucas me puxou para próximo do rosto dele e me deu um beijo, eu tinha certeza que aquele beijo era a nossa despedida.
Lucas – foi tudo tão rápido. Eu queria ter escrito uma historia contigo. (Lucas falava calmamente).
Berg – Nos escrevemos vei, pode ter certeza, e você contribuiu para algumas mudanças que vem acontecendo em minha vida.
Lucas – Boas?
Berg – ainda não sei, só o tempo mano, só o tempo ira dizer.
Lucas olhava pra mim, ainda como se não acreditasse.
Meu celular tocou, era o Bernardo.
Xx
Berg – fala Bernardo.
Bernardo – Mano, o cara terminou aqui, ta querendo o dinheiro.
Berg – Ta. Diz a ele que eu já tou chegando ae.
Bernardo – Beleza.
Xx
Lucas me deixou em casa, eu conversei com o mecânico e dei o endereço do escritório do papai, para que eles pudessem acertar o valor.
Lucas trouxe uns jogos para o Bernardo, que se amarrou logo de cara.
Bernardo – pra mim Lucas?
Lucas – Claro garotão, tio Lucas trouxe da capital pra você.
Bernardo – bem que você poderia ensinar o Berg a ser assim também.
Lucas – e o Berg não e assim?
Bernardo – é nada, o Berg é amarrado.
Berg – Sai dai Bernardo, minha pensão é a mesma que a tua, tu que deve comprar presentes pra mim que sou mais velho.
Lucas ria.
Ficamos um tempo ainda conversando e eu acompanhei o Lucas ate a rua onde estava estacionado seu carro.
xX
Lucas – isso é teu.
Berg – porra vei, não precisava, eu vou comprar um e mandar pra capital pra você.
Lucas – não precisa mano.
Eu abri o presente e era um relógio de marca.
Berg – claro que precisa vei, só não garanto mandar um relógio, mas mando.
Rimos.
Lucas – então, ate algum outro dia?
Berg – não quero que agente se afaste vei, só não posso te prender, você merece coisa melhor.
Lucas – O melhor pra mim é tu Berg, mas não vou te forçar a nada.
Berg – amigos? Eu estendi a mão para Lucas.
Lucas – agora eu que peço um tempo pra pensar. É muito difícil ser amigo de quem gostamos.
Berg – Claro, dou o tempo que você precisar, e mais uma vez desculpa por ter invadido sua vida.
Lucas entrou no carro e partiu pelo horizonte a fora.
Um flash back passou pela minha cabeça.
**
Berg - Prazer cara me chamo Gutemberg.
O cara apertou minha mão com desprezo, e falou apenas um oi seco.
X
Berg- Opa Lucas, beleza, eu sou o Berg la do escritório, esta lembrado de mim?
Lucas – Vagamente, você é o filho do empregado do meu pai, é isso?
X
Lucas - Que porra é essa?
Berg - Porra é essa o que véi?
Lucas - Eu não tomo cerveja...
Berg - Então va tomar no cú, e ja é cerca minha.
Lucas - Tu mandou eu ir tomar aonde?
Enfim consegui ter a atenção daquele otário, pela primeira vez estávamos tendo um dialogo... hehe.
X
Lucas - beleza, vamos jogar uma partida, e quando eu ganhar, você vai pegar meu whisky.
X
Lucas - Que tu quer no meu quatro, porra?
Berg - Vim trazer isso aqui, tava devendo, vim pagar!
X
Lucas – Então eu vou puxar um ronco aqui, vocês arrumam tudo, churrasco, piscina, e o caralho todo que tiver que arrumar e quando terminarem, me chamem, e saiam da casa, você e seus amigos, prometo que vou tentar curtir, mas sem a presença de vocês, blza?
Berg – Dessa forma você vai curtir?
Lucas – Bem mais, eu te garanto!
X
Berg – Oi Sr Edgar!
Do outro da linha – Não é o Edgar não, sou eu... O lucas!
X
Lucas – Berg cala a boca e presta atenção. Eu não sou quem você imagina que eu seja, nem meu pai é esse santo todo que você pensa. Eu tenho meus motivos pra agir como agi Berg, desculpa se eu tratei você mal.
X
Lucas – Olha pra mim, olha pra mim caralho, fala olhando nos meus olhos, diz que você não quer nada comigo. Mas presta atenção Berg, se você não quiser mais contato comigo, juro, que sumo e nunca mais você vai me ver.
X
Berg – A vida é tão curta cara, hoje estamos aqui e amanhã?
Lucas – Só Deu sabe...
Nessa hora minha barriga roncou.
Lucas – Que foi isso?
Berg – Sei la mano, veio la de fora.
Lucas – ahan, sei (kkk)
X
Lucas – Blza, vamos morar juntos mo, você vai ver.
Berg – Agora eu preciso desligar Lucas, depois agente se fala tah!?
Lucas – Ta bom mo.
Berg – Falou.
Lucas – Berg.
Berg – Oi Lucas.
Lucas – Eu te amo muito.
**
Quando dei por mim, estava sentado na calçada em frente a minha casa, minha cabeça estava abaixada e lagrimas rolavam pelos meus olhos.
Algumas pessoas passam por nossas vidas e deixam eternas saudades, pode ser família, amigos, namoros, cada um tem uma importância, cada um marca de sua maneira. Lucas foi algo bom na minha vida, fez parte da minha historia e não daria pra esquecer nunca.
XX
A noite chegou e eu tinha que ir à casa do Beto. Estava sem condição de sair, cabeça doía por causa da bebida, eu estava triste por causa do Lucas, cansado pensando na minha mesada que iria ser cortada. Mandei um whats pro Beto explicando que não poderia ir, não esperei nem ele responder e cai na cama, me embrulhei e o sono chegou rapidão.
xXx
Beto – Berg. ( o Beto me chamava como se fosse cochichando)
Beto- Berg. Acorda bebezao, isso é hora de dormir não.
Berg – beto. (falei sonolento) que horas são vei?
Beto – 01:25
Berg – Da madrugada?
Beto – é. (Beto falava na ponta da língua, como se não quisesse acordar meus pais).
Berg – porra Beto, vai pra casa vei, deixa eu dormir. Tu acordou meus pais?
Beto – teus pais tao acordados jogando baralho la na sala, acho que são amigos do teu coroa. Tao mais vivos tu que tu véi. (kkkk)
Berg – Tomar no teu cu vei. Vai pra casa po, amanha é dia de faculdade.
Beto – Você disse que tava mal, eu trouxe uma surpresa que vai te deixar animado.
Berg – E o que é?
Beto – agora se alertou neh interesseiro!?
Berg – não po, só perguntei, queria saber o que era.
Beto – posso ligar um abajour?
Berg – tenho essas coisas não mano.
Beto – então vou ligar a lâmpada.
Beto se levantou, e ascendeu a lâmpada. Senti um leve desconforto em meus olhos.
Beto – pega.
Berg – o que é isso po?
Beto – lê porra, ta cego?
Berg – puta merda, caldas country, não acredito, nos vamos?
Beto – Não sei, o que tu acha?
Berg – a Debora vai?
Beto – a ideia é so nos dois, e o Guga e o Kadu se eles quiserem.
Berg – porra mano, que maneiro. Vamos de que?
Beto – carro, tu garante ir revezando no volante?
Berg – claro po, como no ano passado.
Beto – e ae, o que eu mereço por ter trazido esse passaporte pra ti?
Berg – a véi, nem rola.
Beto – a gente tranca a porta.
Berg – o problema não são meus pais aparecem, eles sempre batem antes de entrar.
Beto – E qual é o problema então?
Berg – Tou mal mano, desde mais cedo tou sentindo umas dores estranhas.
Beto – que tipo de dor véi?
Berg – acho que é cachaça manin.
Beto- ressaca?
Berg – não, a ressaca vai vir amanha, por enquanto é só uma dor chata mesmo.
Beto – mas já tomou algum remédio? Quer que eu traga algo?
Berg – não mano, só quero dormir mesmo, não tou aguentando ficar acordado não.
Beto – de boa, vou desligar a lâmpada e cair fora então. Amanha agente se fala na aula. Blza?
Berg – blza.
Beto desligou a luz e saiu, eu me embrulhei e fechei meus olhos. Senti uma sensação estranha como se tivesse mais alguem dentro do meu quarto. E realmente tinha mais alguém. Beto deitou atrás de mim, e me acolheu.
Berg – Beto?
Beto – relaxa, vou te comer não, só quero ficar aqui com você daqui a pouco eu vou pegar o beco. Blza?
Eu fechei meus olhos e apaguei com meu brother abraçado a mim.
**
Se é ser humano ou se é um anjo
Diz aí quero ouvir de você
Eu nem sei se te mereço tanto
Só queria saber
**
Continua...