Beto desligou a luz e saiu, eu me embrulhei e fechei meus olhos. Senti uma sensação estranha como se tivesse mais alguém dentro do meu quarto. E realmente tinha mais alguém. Beto deitou atrás de mim, e me acolheu.
Berg – Beto?
Beto – relaxa, vou te comer não, só quero ficar aqui com você daqui a pouco eu vou pegar o beco. Blza?
Eu fechei meus olhos e apaguei com meu brother abraçado a mim.
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Sábado, dia de sol e curtição, dia de mudanças: mudança de habitat, mudança de vida, que venham novos dias, que venham novos tempos, que meu presente seja melhor que meu passado e inferior a meu futuro, que eu continue em uma crescente.
Acordei cedo, desci as escadas, tomei um café ao lado de minha família, arrumei minhas malas, coloquei os moveis no frete que o papai havia encomendado, tomei um banho e parti para casa do Beto.
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Fizemos um brinde à nova fase que iniciava em nossas vidas: Beto, Kadu, Guga e eu.
Kadu – brinde com cachaça po. Cadê a champanha?
Beto – tem essas frescuras aqui não.
Kadu – frescura o que? É muito é bom.
Beto – quer camarão também não filhão?
Kadu – se for a alho e óleo eu aceito sim.
Beto – vou já colocar minha rola no alho e óleo e te servir.
Nos quatro rimos ao mesmo tempo.
Meu celular tocou, pedi licença e sai pra atender.
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Berg – fala rafa.
Rafa – e ae professor, ta sumido?
Berg – nada, tou na correria aqui com a mudança.
Rafa – quer dizer que tu foi mesmo morar com o Beto?
Berg – mesmo.
Rafa – Tou ligado.
Berg – e tu po, fazendo o que de bom?
Rafa – tou aqui em casa, nada pra fazer. Que dar uma passadinha aqui não?
Berg – Pode ser, quer dar uma estudada é?
Rafa – não, hoje estou querendo curtir. Tomar umas na beira da piscina. Posso contar contigo?
Berg – Pode com certeza, mas tem que ser a tarde, tou ajudando os caras aqui com a mudança ae não posso sair agora.
Rafa – pode ser, mas tu vem de certeza?
Berg – certeza.
Rafa – blza, vou esperar.
Berg – Falow.
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Desliguei o telefone e voltei ao interior da casa, os caras já estavam fazendo outro brinde.
Berg – Porra, vocês são sem noção mesmo neh!?
Kadu – por que mano?
Berg – vao ficar bêbados e como é que vamos terminar de arrumar as coisas?
Kadu – não termina, joga tudo no quintal. (rs)
Beto – kkkk, boa ideia manin, vamos jogar essas porras tudo no quintal.
Berg – vao tomar no cu seus filhos de uma puta vou arrumar minha cama e meu roupeiro e procurar o beco.
Beto – tu vai pra onde mano?
Berg – Vou aparecer la na casa do Rafael.
Beto – Visxiiii doido, vai dar não, vamo arrumar as coisas que hoje a noite tem festa.
Berg – festa aonde po?
-aqui (responderam Beto, Kadu e Guga ao mesmo tempo)
Berg – a vei, que se foda, eu vou ajudar, mas se vocês forem ficar bêbados agora, eu vou so arrumar minhas coisas e cair fora.
Os caras deram uma pausa na loura gelada e mãos a obra. Às 14 horas já tínhamos terminado de arrumar o suficiente pra deixar a casa novamente com espaço. Kadu foi comprar comida já que não tinha dado tempo de fazer. Guga e eu fomos ver se encontrávamos tochas, queríamos fazer um lual no grande quintal da casa do Beto.
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Beto – Porra vei. Vocês foram plantar esses bambu? (Beto reclamou da demora quando nos chegamos)
Berg – va se fuder. Por que tu não foi atrás seu porra?
Beto – da próxima vez eu vou mesmo, bando de lesos da porra. (rs)
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Almoçamos o rango que o Kadu havia comprado e depois disso fomos ornamentar tudo. Começamos colocando as tochas em pontos estratégicos, depois o Beto limpou a churrasqueira, Kadu e eu colocamos o freezer do lado de fora da casa, Gustavo foi a sua casa buscar um violão. Ainda tínhamos que comprar a cerva e temperar a carne.
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Berg – bom pessoal, eu vou dar uma saída, mais tarde eu tou de volta.
O Beto se aproximou de mim.
Beto – ta indo a casa do Rafael?
Berg – é!
Beto – Que tu vai fazer na casa do Rafael po?
Berg – Vou dar uma passada la caralho, daqui a pouco eu volto.
Beto – Deixa pra outro dia velho, olha o monte de coisa que temos que fazer ainda.
Berg – que monte de coisa Beto? Já fizemos praticamente tudo. Na volta eu ajudo a assar a carne. Blza?
Beto – não é somente isso, tem uma pa de coisas. Qual é o numero do Rafael?
Berg – pra que?
Beto – Me da o numero do Rafael porra.
Dei o numero e Beto fez algo que eu não estava acreditando.
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Beto – alo, Rafael? É o Beto, blza?
Beto – é que o Berg não vai poder ir ae agora, estamos pegado aqui em casa, vamos dar um festa aqui hoje. Aparece la pelas 20 horas, pode ser?
Beto – Não cumpade, sem problemas nenhum, eu aviso a ele.
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Berg – Porra foi essa mano?
Beto – resolvi a parada. (falou o Beto colocando o celular no bolso da calça) e que coisa mais feia brother, tu não tinha convidado teu ‘’best friend’’?
Berg – tu é foda velho, tu é foda. (sai de perto do Beto, puto da vida, mas ainda consegui ouvir o seu sorriso sarcástico).
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Já era noite e a galera da faculdade estava chegando, a turma ‘’super-choque’’, vieram também pessoas de outros cursos, alguns amigos menos chegado, mas que não deixavam de serem amigos.
Estava eu e Kadu próximo a churrasqueira, quando Cecilia veio nos cumprimentar.
Cecilia – Oi amores.
Berg – Oi Bebe. (eu dei um abraço nela, ainda sentia uma quentura naquele abraço).
Cecilia – e ae como tens passado?
Berg – bem, na medida do possível.
Cecilia – e namorando muito?
Antes que eu respondesse, Kadu tomou a iniciativa.
Kadu – Namorar pra que se o bom mesmo é comer?
Cecilia – Tu és muito babaca Carlos Eduardo. (falou Cecilia aos risos)
Berg – tenho que concordar com a Cecilia Kadu, tu é muito babaca mesmo.(rsrs)
Kadu – Vocês pensam assim porque estão apaixonados. (nessa hora a Cecilia olhou pra mim e começamos a rir, o Kadu não entendeu nada)
Kadu – eu vou pegar umas cervas, os pombinhos estão servidos?
Berg – Pra moça você trás uma vodca com um pouco de suco de laranja e gelo. Acertei? (perguntei olhando para a Cecilia)
Cecilia – em cheio. Continuo com os mesmos gostos.
Berg – E pra mim pode trazer uma latinha.
Kadu – sim senhor. (kadu fez continência e saiu para pegar as bebidas).
Berg – kadu, kadu, eu tentei gritar seu nome e a Cecilia reforçou, parecíamos um coral. (kadu já ia próximo ao freezer).
Kadu – O que foi?
Berg – Trás sal com limão também.
Kadu – Beleza.
Cecilia se aproximou e me deu outro abraço.
Cecilia – você está tão bonito Berg.
Berg – Você também ta linda.
Cecilia – gentiliza sua.
Berg – falo serio, você ta linda.
Cecilia – ‘’thank you baby’’. Você nem respondeu minha pergunta, esta ou não namorando?
Berg – Não, não. Estou livre e solto na pista.
Cecilia – opa. Se você curtisse eu ia entrar nessa pista.
Berg – Pois é neh!? (ri sem graça)
Cecilia – Berg, eu estou começando um lance com um carinha ae.
Berg – que bacana, fico feliz por você.
Cecilia – pois é, mas eu queria tua permissão antes de engatar um lance mais serio com essa pessoa.
Berg – Ué. Por que minha permissão?
Cecilia – é que eu estou tendo um caso com o Guga, mas eu quero tua permissão antes de nos partimos pra algo mais serio.
Berg – O Guga, Gustavo meu amigo?
Cecilia - esse mesmo.
Berg – humm, então vocês tao de trairagem pela minhas costas, ne safadinhos?(rs)
Cecilia – Não Berg, eu juro que começamos bem depois de você disser que não rolaria nada entre nós dois.
Eu comecei a rir.
Berg – Cecilia, eu tou brincando. Vocês tem meu total apoio, mas e quanto à namorada dele?
Cecilia – Ele não esta mais namorando.
Berg – Ah não?
Cecicila – Não. (cecilia ria com minha cara de desorientado)
Berg – Bem, se é assim, permissão concedida.
Eu dei um abraço forte nela, sabia que ali seria nossa despedida, depois que ela começasse a namorar serio, com certeza nossa amizade iria mudar.
Kadu chegou com as bebidas e brindamos aos novos tempos. Bem na hora do brinde eu vi ao longe Beto beijando a Debora, e veio em minha mente a lembrança do que ele havia me dito a alguns dias antes.
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Beto – então o problema é a Debora?
Berg – Claro po, tu acha o que?
Beto – mas eu não posso terminar com a Debora, já são anos juntos, nós temos planos de casar.
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Quem eu estava querendo enganar? O que eu estava fazendo com a minha vida? Ate aonde iria com essa historia? Entre Beto e eu seria apenas e sempre putaria, e eu tinha que me acostumar.
Tomei uma golada da cerveja como se fosse um Salum.
Kadu – Uhhhhhu, isso ae mano, vamo curtir.
Berg – vamo sim véi. Vamo aproveitar. Nossa liberdade começa hoje.
Kadu – é isso ae, toca aqui parceiro. ( kadu estendeu o braço e nos cumprimentamos feito dois abestados)
Cecilia apenas sorria. Pedi licença e fui ao freezer pegar outra cerveja. Quando levantei a tampa e tentei pegar uma latinha, alguém toca no meu ombro.
Rafa – E ae moço, pode me servir uma dose?
Berg – Fala mano, que bom que tu veio vei.
Rafa – pois é, o Beto e o Kadu me convidaram, já que você se esqueceu de mim. (rs)
Berg – Esqueci não mano, eu ia chamar quando fosse la na tua casa.
Rafa – estou brincando mano, relaxe. E essa bebida sai ou não sai?
Berg – só se for agora, quer beber o que?
Rafa – o que você tomar eu topo.
Berg – confia no meu gosto?
Rafa – confio em você.
Berg – então beleza.
Servi ao Rafa e ficamos um bom tempo conversando com a costa encostada no freezer.
Rafa – e o Beto?
Berg – O que tem ele?
Rafa apenas me olhou sem dizer nada e eu conclui o que ele queria saber.
Berg - a mano, na mesma.
Rafa – qual mesma?
Berg – olha la pra ele. O Beto ta de chamego com a namorada desde que ela chegou.
Rafa – e tu ta incomodado com isso?
Berg – rapaz brother, vou mentir não tou incomodado sim.
Rafa – já falou pra ele?
Berg – Mais ou menos.
Rafa – como mais ou menos Berg?
Berg – eu não quero que ele saiba que eu tou na dele. Entende?
Rafa – querendo se fazer de forte?
Berg – querendo descobrir se ele vai querer ficar comigo num lance mais serio.
Rafa – você só vai saber falando com ele, ficando longe assim ele nunca vai saber.
Berg-Não. Não vou me humilhar a esse ponto mano.
Rafa – Se humilhar? Na boa mano, amar não é nenhuma humilhação, amar é não ter medo de arriscar. E tu estas agindo totalmente ao contrario, tu esta com medo cara.
Eu abaixei minha cabeça para que o Rafa não visse meus olhos começando a ficarem vermelhos.
Berg – eu tenho medo de perder esse cara. Eu tenho medo de agente se distanciar e eu não encontrar outra pessoa comparada a ele.
Rafa – difícil ele não querer você. Ate a forma de ele te olhar é diferente.
Berg – ele me olha como irmão.
Rafa – como irmão querendo fazer incesto.
Eu dei um sorriso amarelo.
A festa estava bacaninha. Bebida e churras rolando, não era uma festa dançante, era mais pras pessoas socializarem, conversarem, aproveitarem um pouco do tempo que resta junto a quem tem apreço.
O som foi pausado e Gustavo pegou o violão dele, nos aproximamos, formamos uma roda, sentamos no chão e estava oficialmente aberta uma roda de viola. Eu estava com uma long neck e rafa outra.
Gustavo começou a mandar modão e la pelas decima, tocou uma musica pra matar qualquer um.
**
Não pára de chover
E eu preciso do sol pra lembrar seu calor
Se eu te magoei
Desculpa estou aprendendo o que é amor
Nas noites mais escuras
Nos bares, nas ruas, tudo é solidão
Não me deixe sozinho, falta de carinho
Rima com nova paixão
Eu quero o seu amor
Eu quero ser seu homem, se você quiser
Se eu tiver seu amor
Juro não preciso amar outra mulher
Não deixe apagar, a fogueira do meu coração
**
Eu tinha que ser muito forte pra não chorar ali na frente de todos. Olhei para o rafa que estava com o semblante calmo tentando me passar tranquilidade.
Rafa – quer sair daqui?
Berg – quero.
Rafa – então vamos.
Levantei-me, sacudi a parte traseira da bermuda que estava suja do chão e partimos sem rumo. Conforme me aproximava do carro do rafa que estava estacionado na rua da casa do Beto, mais longe eu ouvia a galera cantando, me deu uma vontade de chorar, era como se eu estivesse me despedindo de todos eles. O Rafa desarmou o alarme e eu entrei no banco do carona.
Rafa – e ae sr passageiro, qual o destino?
Eu olhei para o lado de fora do carro e vi todos aqueles carros e motos estacionados, muitos ali eram realmente meus amigos, outros eram apenas colegas de farra. Naquele momento eu estava querendo paz, estava querendo sossego.
Berg – não sei véi. Qualquer lugar tranquilo pra mim ta bom.
Rafa – pode ser o cemitério?(rs)
Berg – pode mesmo! (ri com vontade de chorar)
Rafa – Besta. (Rafael sorria tentando me fazer sorrir também) Posso escolher o destino então?
Berg – claro vei, por sua conta.
Rafael ligou o carro e partimos, a cidade estava movimentada. Com certeza as pessoas queriam um lugar pra não ter que passar o sábado em casa.
Não falávamos nada, apenas seguíamos. Rafael entrou na BR e eu comecei a ficar assustado, tirei o celular do bolso e vi que pouco a pouco eu ia perdendo sinal. Olhei para o Rafael e ele não falava nada, nem movimentava o rosto, estava concentrado na estrada.
Berg – Para onde quer que seja o lugar que estávamos indo, eu sabia que estava em boas mãos.(eu pensava)
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Não pára de chover
E eu preciso do sol pra lembrar seu calor
Se eu te magoei
Desculpa estou aprendendo o que é amor.
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Continua...