12. FELIZ NATAL?
Os lábios de Tatiana produziram o beijo mais insípido que eu já recebera, mas meu coração se comprimia no meu peito, e ribombava em pancadas violentas. A eletricidade que tomava cada célula do meu corpo, era causada pelos olhos de Giuliano. Como uma estátua imóvel, ele me olhava da cozinha, e eu devolvia o mesmo olhar, tentando dizer para ele que aquilo não fora causado por mim.
- Que saudades, meu amor – Tatiana pulava pendurada no meu pescoço, tentando alcançar a minha boca, mas eu só lhe oferecia o rosto.
- Como, vai meu filho? – meu pai, para a minha salvação, tomou passagem e me abraçou, beijando a minha testa com muita ternura.
Desejei com todas as minhas forças que ele percebesse pela minha tez, que tudo ia muito bem, até a chegada deles três.
- Vai ficar parado aí, Benjamim? Não vai me dá um abraço – minha mãe disse, com um olhar extremamente desconfiado.
Eu podia ouvir trovões. Um sentimento muito ruim se apossou do meu coração, como um presságio agourento. Uma certeza de que uma terrível tempestade se aproximava de todos, naquela casa, e que depois da visita da minha mãe, nada mais seria como antes.
Andei em sua direção com passos lentos, e a abracei mecanicamente, tendo apenas o medo como companhia sentimental.
- Não me subestime – ela sussurrou no meu ouvido. – Você sabe que o que dona Laura quer, ela consegue.
- Eu estou familiarizado com seu jeito de ser e agir – eu respondi, também sussurrando.
- Giuliano! – meu pai correu até a cozinha, e arrastou o meu primo para a sala.
- Como vai, seu Roberto? – Giuliano estendeu a mão para o meu pai, mas seus olhos buscavam a minha presença.
- Que história é essa de “seu Roberto”? É tio Roberto, rapaz – meu pai o abraçou com força. – Você está enorme! Que beleza de rapaz você se tornou.
Giuliano abriu um sorriso tímido, mas caloroso, afinal, o meu pai sempre foi muito carinhoso com ele. Fez durante anos as vezes de parente de sangue, enquanto a minha mãe escancarava o seu desprezo pelo meu primo.
- Dona Laura? – ele inclinou a cabeça para minha mãe, pois, suponho, que era toda a cortesia que restara dele para ela, depois de tanto despeito.
- Não estou precisamente bem, rapaz – ela disse, com um olhar de asco. – Nunca é agradável ser forçada a situações que poderiam ser evitadas.
Meu pai segurou forte no braço da minha mãe, como um alerta de que ela deveria pesar suas palavras antes de cuspi-las como vespas.
- Deve ser o cheiro horrível de mato – dona Laura ocultou o que realmente queria dizer.
- É comum um pulmão já congestionado com a poluição das grandes cidades, sentir-se assim.
Minha mãe se esquecera de que Giuliano não era mais aquele garotinho vulnerável. Ela provava o amargor de não poder mais ser vitoriosa sobre ele, por isso, não podia fazer mais do que lançar olhares ferozes para o meu primo, que também não recuava.
- Aonde, está sua avó, Benjamim? – meu pai perguntou, quebrando um pouco do clima azedo.
- Estou aqui! – a voz da minha avó soou do alto da escada, potente e com autoridade.
- Vó a senhora não podia sair da cadeira de rodas – eu pus as mãos na cabeça, ao vê-la apenas de bengala, fazendo um esforço desnecessário.
- Por que a senhora faz isso, hein? – Giuliano correu ao seu encontro.
- Não preciso de ajuda, eu estou bem! – ela respondeu com firmeza.
Dona Laura a observava descer, sem um pingo de compaixão nos olhos. Havia na verdade humilhação em seu semblante, como se estar ali fosse uma demonstração de derrota ou cessão. E minha mãe sempre fez questão de ser a parte que nunca cedia. Fosse na vida particular, fosse na vida profissional.
- Olá, mamãe – secamente, foi o que a minha mãe lhe disse, sem mover um passo na direção de vovó Elisa.
- É isso que você tem para me dizer, depois de dez anos de reclusão? – Vovó Elisa parou, ao descer o último degrau.
Minha mãe foi até ela e lhe deu um abraço sem muito apego, cortando logo o laço e mostrando seu “jeito Laura de ser”.
- Nossa visita será muito breve. Viemos apenas buscar o Benjamim, pois ele já passou o tempo demais por aqui, e não é de bom tom deixar sua noiva sozinha, faltando tão pouco tempo para o casamento.
- Você fala como se seu filho fosse uma criança – vovó Elisa contra-argumentou.
- Não é, mas age feito uma – minha mãe disse. – Cabe a mim lembrá-lo de suas responsabilidades constantemente, já que ele parece ter um problema sério com memória.
- Por que você mesma não deixa ele dizer o que sente e o quer fazer da sua vida?
- Porque, dona Elisa, todas as vezes que eu fiz isso, as coisas não terminaram bem, creio que apesar de seu estado, a senhora não se esqueceu disso. – minha mãe olhou pra Giuliano, rememorando os eventos de dez anos atrás.
Meu primo deu apenas as costas para todos, inclusive para mim, e subiu as escadas rumo ao seu quarto. Como eu queria desaparecer naquele momento. Ou melhor, queria desaparecer com Giuliano.
- Olá, dona Elisa, eu sou a Tatiana, noiva de Benjamim – ela abraçou a minha avó, que a acolheu em seus braços com polidez.
- Como vai, minha querida? Você é muito bonita – minha avó respondeu.
- Dona Elisa, como vai essa força? – meu pai estendeu os braços para a vovó Elisa, fazendo as vezes de filho, já que dona Laura não se importava em deixar este vácuo.
- Estou levando as coisas de acordo com a vontade de Deus, meu filho. E agora muito feliz por vê-lo.
- Eu também, dona Elisa, estava morrendo de saudades desse lugar. – seu Roberto correu os olhos pela casa, reconhecendo cada canto da mesma, que a exceção de uma reforma ou outra, continuava praticamente igual.
Fiquei em silêncio quase o tempo todo, enquanto os outros conversavam, tentando dar um ar amistoso para aquela chegada inesperada, até que Rosa veio e conduziu meus pais e Tatiana para os quartos, aonde ficariam instalados.
- Pode instalar Tatiana no quarto de Benjamim, Rosa – minha mãe ordenou.
- Não há necessidade, mãe, há quartos na casa suficientes para ficarmos cada um em sua privacidade – eu protestei.
- O que é isso meu amor? Um ataque de puritanismo, a essa altura? – Tatiana me interrogou, simulando o mesmo ar autoritário da minha mãe. – Quantas vezes já não dormimos juntos?
- Você não devia estar com seus pais, no Natal? – perguntei secamente, ignorando toda a sua fala anterior.
- Sim, mas eu não quis passar esse dia longe de você – ela respondeu. – Mas pelo jeito, parece que todo o meu esforço e a minha dedicação em ficarmos perto um do outro, te incomoda.
- Calma, Tatiana, perdoe o Benjamim, ele só está em choque com a nossa chegada surpresa, mas aposto que seu coração vibra de alegria por tê-la aqui ao seu lado – dona Laura tentou remediar.
- Não é o que parece, Laura, um bloco de gelo demonstraria mais afeto com a minha presença do que o Benjamim! – Tatiana falou com a voz estridente.
- Aonde devo instalar a moça, então? – Rosa perguntou um tanto acuada, no meio da situação belicosa.
- No quarto do Benjamim! – minha mãe exclamou.
- Não! Agora eu faço questão de ir para o quarto de hóspedes – Tatiana me deu as costas, e fez sinal para que Rosa a levasse até lá.
- Façam como você achar melhor – disse, deixando todos nos corredores e indo para o meu quarto. Com certeza Giuliano estava ouvindo toda a conversação, e eu desejava mais do que tudo ter com ele, e lhe explicar a situação. Que dessa vez seria diferente.
Mal eu entrei no meu quarto, dona Laura atravessou a porta logo atrás, feito um furacão. Ela fechou com violência, já bradando:
- EU NÃO VOU TOLERAR SUA REBELDIA, MOLEQUE!
- Eu é não vou tolerar que você estrague a minha vida mais do que já fez! – falei com firmeza, mas em um tom mais brando.
- Você vai agora pedir perdão para Tatiana de joelhos, se for preciso, e vamos todos embora desse sítio.
- Não! – eu disse olhando bem no fundo dos seus olhos.
- Benjamim, Benjamim, você não me viu perder a paciência de verdade! – ela espumava e suas mãos tremiam. – Essa sua pirraça vai terminar de uma vez por todas.
- O que senhora quer de mim? Quer que eu case com uma pessoa que eu não amo?
- Quero evitar que a nossa família não caia em desgraça, seu tolo – ela pôs as mãos na cabeça. – Sem esse casamento o escritório está arruinado. A nossa família está prestes a perder tudo para os bancos.
- Eu não vou vender a minha alma, só para a senhora continuar tomando seu uísque caro.
- O que você acha que eu quero? Que ame a Tatiana? Isso não tem nada a ver com sentimentos! Gente medíocre é que tem esse tipo de preocupação.
- Não é assim que eu vejo as coisas – falei revoltado. – Eu não amo a Tatiana.
- Não seja piegas! Poupe-me dessa sua visão romântica! Casamento não tem nada a ver com amor – minha mãe me jogou na cara, como se fosse a coisa mais normal do mundo de se dizer.
- Você devia parar para ouvir as barbaridades que diz. Como acha que o papai se sentiria ouvindo isso?
- O quê? Você acha que eu casei por amor ao seu pai? – ao dizer isso, ela virou-se e deu de cara com seu Roberto, que quase entrou no quarto, mas voltou assim que confrontou a verdade das palavras nos olhos de dona Laura.
- Pai, espera! Quero falar com você – tentei acompanhar ele, mas minha mãe me reteve pelo braço.
- Ainda não terminamos, Benjamim.
- Não há mais a nada a ser dito – puxei meu braço de suas mãos abruptamente. – Você é que devia sair correndo atrás dele e implorar o seu perdão de joelhos.
Deixei-a sozinha no meu quarto, e desci as escadas atrás do meu pai, que já rumava para fora da casa.
- Pai? – gritei, mas ele saiu sem olhar para trás.
Corri até alcança-lo. Meu pai caminhava, agora mais lento, em direção ao pé de cajazeira.
- Pai, não dê atenção para o que sua mulher diz – eu me aproximei, caminhando ao seu lado.
- Já não é a minha mulher a bastante tempo, filho – ele disse, olhando para a frondosa que se erguia à nossa frente. – Não se preocupe, eu vou sobreviver a mais essa.
- Posso fazer companhia para o senhor? – perguntei, pois queria muito conversar com ele sobre Giuliano.
- Claro que sim – ele apertou os meus ombros e fomos caminhando juntos.
Em silêncio, nos aproximamos da cajazeira. A brisa fria, carregada de gotículas de água umedecia os nossos rostos com uma sensação agradável de frescor juvenil. As folhas da cajazeira, dançavam de acordo com a cadência do vento. Seu abrigo era um refúgio agradabilíssimo.
- Queria que a minha vida fosse livre e cheia de vida como esse vento. – meu pai disse abrindo os braços e fechando os olhos.
- Imagino que carregar esse casamento seja um fardo muito pesado e que já o exauriu até o limite – eu comentei, observando seu jeito tão doce de sentir o vento no rosto.
- Se dissesse que a declaração de sua mãe foi uma surpresa para mim, estaria mentindo – meu pai falava ainda com os olhos fechados. – Cheguei a pensar que ela me amou, pelo menos nos ´primeiros anos de casamento, mas descobri que isso não passou de ilusão. O casamento não foi mais que um processo judicial para ela, ou um mero protocolo, no qual ela devia seguir a liturgia, tão fria quanto metal. Não deixe que ninguém tome as rédeas de sua vida, Benjamim.
- Não quero me casar com Tatiana – disse com amargura. – Sei que isso vai causar a maior confusão na nossa família, e que a minha mãe talvez nunca me perdoe, pelo que ela vai considerar uma traição.
- Se não ama essa moça, esqueça sua mãe e não se case – meu pai abriu os olhos e me disse segurando nos meus ombros. – Não cometa erros dos quais você tem consciência.
- Eu sei, mas não posso dizer que um lado de mim não pense nos negócios da família – abaixei a cabeça, enquanto uma lágrima furtiva escapava dos meus olhos.
- Se o escritório está falido, a culpa é minha e de sua mãe, que não soubemos gerenciar aquilo direito – meu pai falou com convicção. – Eu particularmente acho que será a melhor coisa. Nunca gostei mesmo de trabalhar dentro de um escritório de advocacia, como tanto queria o meu pai. Gosto do ramo jurídico, mas exercido no âmbito acadêmico. Quero dar aulas. É disso que gosto e é isso que sei fazer de melhor.
- Então faça, e esqueça a mamãe – devolvi o conselho.
- É isso que vai acabar acontecendo mesmo, pois sinto que a nossa jornada, juntos, chegou ao fim. – ele sentou-se ao pé da cajazeira. – Sabe porque estamos aqui, não sabe? Não é simplesmente por conta de seu noivado. Tatiana poderia muito bem esperar a sua volta.
- É por causa do Giuliano – eu disse, sentado ao seu lado. – Por que ela o odeia tanto?
- Ela odiava sua tia Helena, mãe de Giuliano, porque sempre foi melhor do que ela em tudo, além de ser simples e humilde – meu pai começou a debulhar a história. – Quando sua tia engravidou de um cafajeste, Laura comemorou vitoriosa, com a certeza de que sua avó e seu avô expulsariam a irmã de casa, e reconheceriam que ela não era tão boa, quanto julgavam que fosse.
- Que coisa mais mesquinha – comentei envergonhado.
- Mas as expectativas de sua mãe foram frustradas, porque os pais delas deram total apoio a Helena, e depois de sua morte, acolheram Giuliano como filho. Sua mãe odeia o menino, pois para ela, ele é a extensão de Helena.
- Meu amor pela minha mãe só fica cada vez mais machucado e débil com o tempo.
Ouvindo com atenção o que eu falava, meu pai inclinou a cabeça para cima e viu as letras iniciais do meu nome e do de Giuliano tatuadas na árvore. Ele deu um sorrisinho de constatação e fez a pergunta a qual nunca tive coragem de responder.
- Você ama o Giuliano, não é? E eu não estou falando de um amor fraternal, você sabe muito bem. – ele disse ainda olhando para as letras feridas na árvore.
- Sim, eu amo – disse com orgulho. – E não é um simples amor de namorado. Amo como um homem que deseja cuidar e estar ao lado para todas as horas. É com ele que eu quero estar, e foi por ele, também, que eu vim para cá. Pensar em ficar separado do Giuliano, é uma coisa que me destrói por dentro.
- Um amor assim não nasce duas vezes na vida, Benjamim – meu pai fechou os olhos novamente. – Eu sei que deve ter sido difícil no começo, aceitar sua sexualidade, e eu me sinto tão culapado por não ter ajudado você. Deixei que sua mãe separasse os dois, mesmo sabendo que o que havia entre vocês não era uma coisa passageira, uma brincadeira de garotos. Havia um sentimento forte que explodia nos olhos de dois, quase indisfarçável.
- Achei que eu nunca mais o teria de novo, mas depois de idas e voltas, confrontos e desabafos, conseguimos superar as mágoas e agora estávamos começando a reatar.
- E sua mãe, como uma ave de rapina, chegou no momento mais decisivo – meu pai completou. – Seja forte e resoluto, eu vou te dar todo apoio que faltou no passado.
- Ah, pai, eu amo tanto o senhor – nos abraçamos às lágrimas e aos risos.
Meu pai foi sempre assim, acho que a minha imaturidade me cegou quanto ao fato de que eu poderia contar com ele para me orientar e me amparar, no meu processo de auto aceitação da minha sexualidade. As coisas teriam sido tão mais fáceis, teria evitado tanto sofrimento gratuito, e talvez eu e Giuliano nunca tivéssemos nos separado.
Conseguinte ao nosso relaxamento sob a sombra da cajazeira, que levou quase toda manhã, voltamos para a casa. Meu pai segurava firme na minha mão, que já suava cântaros. É claro que eu não ia chegar botando o pau da barraca abaixo, era necessária agilidade, eu sabia, mas não seria positivo agir com precipitação.
Encontramos todos já à mesa do almoço, inclusive Giuliano, que parecia estar ali a muito contragosto, provavelmente se tratava de obra da minha avó.
- Resolveram nos honrar com suas digníssimas presenças? – minha mãe já ia começar.
- Laura, eu estou com fome, a comida da Rosa está cheirando muito bem, mas eu dispenso o seu amargor como condimento – disse meu pai com frieza.
- Ora, como se atreve a falar dessa forma comigo? – minha mãe jogou o guardanapo sobre a mesa com violência.
- Por favor, Laura, a hora da refeição é sagrada nesta casa, controle-se – minha avó foi enérgica, fazendo minha mãe recuar. – Benjamim e Roberto, sente-se conosco, que Rosa já vai servir.
- Amor, você deveria ter me chamado para o passeio, quero muito conhecer a propriedade – Tatiana disse de forma muito afetuosa, como se o nosso desentendimento por conta dos quartos, nunca tivesse acontecido.
- Depois do almoço ele vai fazer isso, minha querida – minha mãe deu umas palmadinhas na mão de sua “norinha”.
Giuliano estava com todas as veias do corpo ao ponto de explodir. Seus punhos cerrados, pressionavam o tampo da mesa de tal forma, que eu estava vendo o momento de ele partir o móvel e em seguida partir a minha cara ao meio. Seus olhos me devoravam não com paixão, mas com indignação. Sei que ele estava esperando uma reação minha, em defesa de nosso relacionamento.
- Você é casado, Giuliano? – Tatiana perguntou a ele, para o meu desespero.
Meu primo me olhou, como se esperasse que eu desse aquela resposta, mas outra pessoa se antecipou, a que eu menos desejei que fizesse.
- Não se pode chamar de casamento, caso ele tenha ou venha a ter – minha mãe levou uma taça com água até boca, enquanto todos direcionavam sua atenção para ela.
- O que você quer dizer, dona Laura? – Giuliano perguntou, comprimindo os lábios.
- Eu também não entendi – Tatiana se comportava como uma tolinha.
- Como você pode ser tão cruel? – meu pai tentou intervir, mas fracassou.
- Giuliano é uma bicha – minha mãe disse, usando toda a sua fonte de desprezo. – Ele não é homem! Também, não podia ser diferente, tendo a mãe que teve.
- Cala a sua boca, sua desgraçada! – meu primo bateu com toda força na mesa.
- Diz para mim, Giuliano, quando você fica com outro homem, quem é a mulher dos dois? – minha mãe simulava tranquilidade.
Giuliano se levantou da cadeira, abaixou o calção que estava usando, e pôs o pau para fora, que mesmo mole, mostrava toda a sua potência.
- Tá vendo alguma mulher aqui?! – ele gritou balançando o cacete na direção da minha mãe.
- Seu animal imundo, você pensa que está em um de seus prostíbulos, como essa gente anormal com quem você deve andar? – Minha mãe tampou o rosto, mas Tatiana pareceu gostar do que via.
- Eu podia sim ser mulher – Giuliano guardou o pau no calção. – Mas ser uma como você, seria uma maldição. E nunca mais fale da minha mãe, pois você não será metade do que ela foi.
Giuliano olhou para mim, antes de sair para o seu quarto.
- Você continua a mesma pessoa horrível de sempre – minha avó disse com um peso no coração. – Não sei o que eu e seu pai fizemos, mas algo de muito podre deve ter passado em nossa educação.
- Isso não tem nada a ver com a senhora e seu falecido marido, dona Elisa, foi Laura que escolheu ser assim, e vai ter que pagar um alto preço por suas escolhas – meu pai disse, se levantando. – Eu vou falar com o Giuliano.
- Não, pai, eu vou falar com ele – disse começando a agir.
- Senta, Benjamim – minha mãe ordenou.
- Acabou – eu disse para ela, subindo para o quarto de Giuliano.
Invadi o seu quarto sem a menor cerimônia, ele estava chorando de ódio pelas barbaridades que a minha mãe disse, principalmente por ter se referido a tia Helena daquela forma.
- O que você quer aqui, Benjamim? Vai ficar com sua noiva, seu canalha!
- Giuliano, me desculpa, as coisas aconteceram rápido demais – eu tentava segurá-lo, mas ele não deixava, parecia um touro bravo. – Eu ia te contar tudo sobre o noivado, e como a minha mãe armou essa presepada.
- Para de fugir das suas responsabilidades! – ele me segurou e me empurrou na parede, armando um soco. – Sua mãe é uma megera, mas você não é um bebê de colo.
- Eu sei disso, e é por isso que vou acabar com o noivado – eu disse, mas ele não abaixou o punho cerrado. – Vou conversar com a Tatiana e pôr um fim nessa história. Eu quero você. Eu amo você.
- Ama? Então desce comigo agora e diz tudo isso para eles lá embaixo.
- Queria fazer isso com calma, não no meio desse tsunami – me arrependi de ter dito isso.
- Eu sabia – ele me soltou. – Você não me ama porra nenhuma! Não é capaz de um ato corajoso por esse amor que você professa tanto ter.
- Não diga isso! Não duvide do meu sentimento!
- Duvido sim, porque eu já fui golpeado por você uma vez e não vou mais cair nessa.
- Tudo bem, Giuliano, eu desço agora com você e conto tudo – disse, sentindo os meus lábios secarem.
Ele me olhou com desconfiança, limpou o suor as lágrimas e me puxou para fora de seu quarto, me arrastando escada abaixo. Minha mãe ainda discutia com meu pai, porém eu não podia adiar aquilo, ou dessa vez eu o perderia para sempre.
Enchi o meu peito de ar e o meu coração de coragem, e deixei as palavras sinceras fazerem o resto do serviço:
- Tatiana, tudo isso foi um erro – eu comecei, chamando a atenção da família para mim. – Nosso noivado nunca devia ter acontecido. Eu nunca amei você, e nunca quis me casar, pois esse era o desejo da minha mãe e não o meu.
- O que você está dizendo, Benjamim? – Tatiana se levantou e caminhou até onde eu estava.
- Eu não te amo, e não vou me casar com você – falei com convicção. – Amo outra pessoa.
- Outra pessoa? Quem é ela?! – Tatiana se enchia de ódio.
- Não é ela, é ele – eu corrigi. – Está aqui ao meu lado, é o meu primo Giuliano.
- Você só pode estar brincando, ou então está louco – ela disse dando um riso nervoso, e olhando para minha mãe, que estava de boca aberta.
- Estou falando sério – segurei na mão de Giuliano. – Eu sou gay, e este é o homem que eu amo. Lamento muito, mas coisa alguma vai me fazer mudar de ideia.
CONTINUA...
____________________________________________________________________________________________________
Oi turma, saudades de vocês. Sei que já tem muita gente me xingando por conta da demora da postagem. Eu sou conferencista, e tive que palestrar em dois eventos neste final de semana, o que me esgotou para cacete. Não me mandem tomar no cu ou coisa do tipo, em vez disso, comentem. São os comentários de vocês que me fazem postar mais rápido. Queria pedir só mais uma coisinha, se não for demais. Se você não gosto do conto, e decidiu me dar uma nota baixa, por favor, explique a razão, talvez eu possa melhorar. Muitas beijocas. Beijocas fofas para joaopegomes, erypn, sephiro, good-boy, isabela^^ e para todos que comentaram. Beijocas megafofas para o Bolt, que foi quem me sensibilizou a dar continuidade ao conto.
_____________________________________________________________________________________________
Conversa privada: Plutão, lembro que você tem o costume de salvar histórias de seus autores favoritos, algo que comecei a fazer também, você teria os contos do Escritor Contista? Caso tenha, me mande todos por e-mail: jon_theo@hotmail.com
______________________________________________________________________________