(Enfim sós)
Depois de entrar na sala da presidência Carol pode enfim respirar olhou na direção da mesa de Anna-Lú e um sorriso teimoso voltou aos seus lábios. Por mais que quisesse negar a vontade que tinha era de sentir Anna-Lú daquele jeito que a tirava de órbita apesar de cafajeste, era extremamente envolvente, inspirou fundo, pois a sala ainda exalava o perfume de Anna-Lú. “Que coisa mais ridícula Carolina, ficar inebriada pelo perfume daquela cafajeste, eu vou é trabalhar que é a melhor coisa que faço” pensou Carol.
Então rodeou sua própria mesa e instalou-se, pôs-se a distrair-se com coisas pequenas como ligar seu computador e ler seus recados, mantendo Anna-Lú longe de seus pensamentos ao menos até que ela voltasse para a sala aí não teria jeito de evitar que não só seus pensamentos, mas todos os seus sentidos se voltassem para ela. Carol não era dessas mulheres que se isolam para chorar ou lamentar, agora ela tinha Alicia como prioridade e com sua mãe por perto faria o impossível para tirar Anna-Lú da cabeça, afinal se fora capaz de sobreviver a Maggie por muitos anos, seria capaz de conviver com Anna-Lú sem querer tocá-la a todo instante, ao menos era o que tentava se convencer.
Enquanto isso Carol adiantou o trabalho pendente, alguns minutos mais tarde finalmente Anna-Lú voltou e um sorriso involuntário surgiu em meu rosto, ela realmente estava linda e Carol teve a impressão de que ela ruborizou quando os olhares se cruzaram, abriu e fechou a boca várias vezes como se quisesse dizer alguma coisa, mas rapidamente Anna-Lú sentou-se em sua cadeira e pôs-se assinar papéis até que de repente ela quebrou o silêncio.
Bom dia Carolina! – disse enfim.
Ah, bom dia senhorita Garcia, manhã difícil? O que andou acontecendo por aqui? – perguntou Carol amigavelmente, fazendo Anna-Lú relaxar um pouco.
Pois é, estamos atrasados com a campanha do sabão em pó e eu odiei a composição do jingle, e por falar nisso queria sua ajuda para escolher um que preste. Ah e sobre a tarefa que você passou para os colaboradores, eu enviei os resultados para o seu e-mail, inclusive o meu, andei olhando alguns, e se queres saber, eles até que foram bem criativos e estão trabalhando mais animados e isso é fundamental na publicidade, então eu diria que seu teste foi bastante produtivo e compensador – falou Anna-Lú num fôlego só.
Que bom que gostou dos resultados, vou olhá-los e aí eu decidirei quem se saiu melhor, obrigada por me deixar a par de tudo – assentiu Carol.
Não tem o que agradecer. Bom eu vou até a direção de arte ver se o cenário para a sessão de fotos da joalheria está pronto o fotógrafo e as modelos virão hoje.
Tudo bem – respondeu Carol.
O dia transcorreu sem maiores incidentes e o clima entre Anna-Lú e Carol era puro flerte, troca de olhares, sorrisinhos de canto, toques sutis, descargas de sedução. Um pouco antes do fim do expediente Anna-Lú decidira que teria uma conversa com Carol ali mesmo, não era o lugar ideal, mas era o mais propicio naquele momento, até porque ela não teria cara para convidar Carol para jantar depois do papelão que fizera logo cedo e com um movimento lento foi até a mesa de Carol que se encontrava em pé juntando suas coisas. Juntou todo o charme que aprendera a destilar e tocou uma mecha do cabelo de Carol e colocou atrás da orelha, o coração de Anna-Lú batia veloz, sentia-se uma adolescente prestes a se declarar pela primeira vez.
Carol retesou-se instantaneamente com o toque de Anna-Lú, definitivamente não estava preparada para aquilo, mas sem conseguir conter-se encarou o olhar de Anna-Lú que neste momento desempenhava o mesmo fascínio que uma torta de chocolate pra Magali da turma da Mônica, impossível resistir. Como Carol não se afastou Anna-Lú aproximou ainda mais o rosto e sem que nenhuma das duas fizesse qualquer esforço para se controlar os corpos se enroscaram por conta própria, o calor começando a se espalhar por ambos os corpos e, quando os lábios estavam quase se tocando o porta-canetas virou-se sobre a mesa de Carol tirando-as daquela espécie de câmera lenta.
Carol logo se desvencilhou dos braços de Anna-Lú, que por sua vez continuava a encarando profundamente, Carol estava inquieta e nem sabia o que fazer estava ficando preocupada já que Anna-Lú simplesmente não dizia nada, apenas a olhava e Carol não sabia onde por as mãos, não conseguia sequer pensar quando Anna-Lú a olhava daquele jeito, então somente pegou sua bolsa e virou em direção a porta estava quase alcançando a maçaneta quando sentiu a mão de Anna-Lú envolvendo a sua.
Não! – falou Anna-Lú.
Não o quê?! – assustou-se Carol.
Você não vai fugir desta vez! – respondeu Anna-Lú e sua voz ecoou intensamente rouca. E Carol ficou surpresa com tamanha intensidade ao ouvi-la, que sentiu um arrepio se espalhar ao longo de seu corpo.
Fugir?! Fugir de quê ou de quem? De você? – perguntou relutante, e Anna-Lú apenas continuou olhando e segurando-a pelas mãos.
Olha só senhorita Garcia, solte-me, quê que é vai me trancar aqui contra a minha vontade? - continuou Carol. E nem assim Anna-Lú a soltou.
Não! Já disse que você não vai fugir desta vez! – ela respondeu e sem aviso puxou-a para mais perto, Carol aproveitou para soltar-se, mas Anna-Lú foi mais rápida e antes que ela pudesse perceber Anna-Lú já contornava a cintura de Carol.
Hoje você fica aqui comigo e não vai fugir Carolina! – disse categoricamente.
Fugir de quê criatura? – Carol retrucou petulante.
De nós! – respondeu.
Como é que é?! – grunhiu Carol fazendo uma concha atrás da orelha como quem não escutasse direito.
Precisamos falar sobre nós! – repetiu. E Carol olhou para ele pasmada.
N... na..não-existe-um-nós Garcia, então me solta porque não temos realmente nada pra conversar – retrucou Carol muito embaraçada com a proximidade, pois não conseguia encontrar uma única parte de si que não quisesse verdadeiramente estar ali, naquele abraço.
É claro que existe Carolina e você sabe muito bem disso, ou vai dizer que não sente nada quando estamos assim? – perguntou fazendo os corpos colarem ainda mais.
Eu ...eu não sei do que você está falando – exaurida de tentar relutar contra seus sentidos Carol tentou ser indiferente.
Vai negar que quando me toca seu corpo arrepia?
NÃO, NÃO DIZ MAIS NADA, não quero ouvir mais nada! – pediu, mas Anna-Lú continuou sem se importar com os protestos de Carol.
Que seu coração palpita tanto que até sai do compasso? Vai negar que assim como eu não consegue pensar em mais nada ou sequer consegue respirar quando estamos perto? Ah, Carolina depois de muito tempo você é a única que conseguiu quebrar a armadura que eu levei bastante tempo para construir, e quando você me beijou naquele corredor de hospital foi como se finalmente eu tivesse voltado a viver – Anna-Lú finalmente abria seu coração para Carol, afrouxou o abraço e encostou-se a porta, ainda sem fôlego. Anna-Lú fechou os olhos pensando “o que foi que eu fiz?”, mas devagar sentiu uma respiração quente contra seus lábios e em seguida sentiu o doce dos lábios de Carol tocar os seus.