1ª PARTE
CAPÍTULO 10
EU TE AMOGabriel olhou para todos os lados, esperou, observou e teve certeza de quem ninguém estava vindo, era quatro e meia da madrugada, e só se ouvia uns insetos e o som da própria respiração, ele estava levemente alcoolizado, tonto, mas suficientemente são para saber o que estava fazendo, adentrou nas árvores naquele parque e abaixou a calça e a cueca até o joelho:
- Põe logo! - Disse rapidamente.
Jorge que estava logo atrás, pela primeira vez mais bêbado que Gabriel, pisava nas folhas e ria as ouvindo quebrar ao meio.
- Shh! – Advertiu Gabriel colocando um dedo na boca pedindo silêncio e outra mão abrindo o zíper da calça de Jorge. - A camisinha! – Comentou!
- Ah é! – Disse Jorge ainda rindo. Sentiu sua carteira no bolso de trás e tirou dali uma camisinha, abriu a embalagem com a boca, cuspiu para o lado e encaixou, colocando-a com a ajuda das nádegas de Gabriel, que ia se movimentando para trás e para frente conforme sentia Jorge entrar.
Gabriel se segurava, com esforço, um tronco de bambu com uma mão e outra colocava em sua boca para ter certeza de que não soltaria urro algum e estava se esforçando para fazer isso, enquanto sentia as fortes e profundas investidas de Jorge por detrás dele, que com cada vez mais força fazia Gabriel virar os olhos de prazer.
Era uma emoção que Jorge nunca tinha sentido antes. Nunca fizera aquilo bêbado, nunca fizera aquilo num lugar onde não havia cama, lençol e vergonha. Gabriel agora se apoiava com as duas mãos no bambu, já sabia que não iria mais manifestar som algum, ergueu ainda mais sua vasta bunda para ter certeza de que sentiria Jorge por completo. Durante uma semana os dois haviam transado todos os dias. Agora era possível ouvir o barulho das coxas de Jorge baterem contra as coxas de Gabriel que pouco se importou, pois estava chegando ao orgasmo naquele momento, quando ouviu o grande gemido de Jorge que avisara que estava chegando também.
Os dois chegaram ao ápice juntos, gozaram muito e ao mesmo tempo, gozaram da noite e gozaram da bebida, Jorge gozou em Gabriel e Gabriel gozou nos insetos que estavam passando pelas folhas embaixo dele.
- Eu te amo! – Disse Jorge baixinho, encostando o queixo nas costas e Gabriel.
- Oi? – Disse Gabriel num pulo, virando para Jorge, retirando momentaneamente seu pênis do ânus.
Jorge como se tivesse acabado de perceber o que havia dito, quase voltou ao seu estado sóbrio
- O quê? – Perguntou se fazendo de desentendido
- O que você acabou de dizer – disse Gabriel quase se atrapalhando nas suas palavras.
- Depende, o que você ouviu? – Jorge acabara de se descobrir bem-humorado quando bebia.
- Você disse que me ama? – Gabriel encarou Jorge com os olhos arregalados, que não sabia se aquilo era algo extremamente ruim ou extremamente bom.
- Talvez... – Disse Jorge percebendo que ainda estava com o pênis endurecido com a ponta da camozinha cheia de sêmen pendurada.
Gabriel estava chocado com a situação. Esqueceu completamente que estava no meio de um parque e segundos atrás tentava não fazer barulho.
- Mas... você... esse eu te amo aí foi para mim ou para o Michel... Michael...
- Mike – disse Jorge tentando voltar para a sua voz grossa, sem responder o que Gabriel tinha perguntado, tentando ganhar um tempo inútil para poder pensar no que falar.
- Jorge, esse eu te amo aí foi para mim ou para o Mike? – Refazendo a pergunta impacientemente.
- Eu já disse que o Mike não está mais aqui – Disse Jorge mais alto, constrastando o sentimendo passado de êxtase com uma recém cólera.
- Não foi isso que eu perguntei – Jorge percebeu que não iria conseguir sair daquela situação ileso.
- Vamos esquecer disso tudo? – Propôs –Vamos voltar para casa? Para sua casa – corrigiu rapidamente.
- Pode ser.... eu acho... mas olha lá, hein! Isso aqui, - disse ele usando o dedo par se referir à eles dois – É só sexo, viu! – Levantou a calça e saiu do parque.
Os dois voltaram para o apartamento em que Gabriel estava, de táxi e em silêncio.
“Eu te amo”, pensava Gabriel, o que infernos ele faria com um eu te amo a essa altura da vida? Não tinha tempo para “eu te amo”, ele tinha tempo era pra gemidos, suspiros, mamilos mordidos, para os “Vou gozar! ” E também “Está a fim de outra? ”, talvez um “Abre a boca”...Mas “Eu te amo”? Onde ele iria enfiar um “Eu te amo”?
Jorge não sabia porque dissera “Eu te amo”, talvez amasse mesmo. Jorge estava num ponto de confusão tão grande consigo mesmo que seria capaz de assumir que amava só para evitar a auto confrontação. E se ainda amasse Mike? Ou pior, e se amasse mesmo Gabriel? Não sabia qual era o pior ou melhor, aliás, qual fora a última vez que tinha dito “Eu te amo”?
“Puta que pariu, Eu te amo, sério!?’’
Todos os dias daquela semana Jorge e Gabriel tinham se visto, tinham mentido e tinham fodido e fodiam tanto que Gabriel sentia dois vazios quando Jorge não estava por perto.
Gabriel não assumiria, mas queria que aquele “eu te amo” fosse para ele mesmo, só não sabia que queria.
Os“não seis” estavam de volta, a anos não se viam. Achava que a situação não poderia ficar pior, mas agora que se deparava com o seu “eu te amo”, percebeu que estava enganado.
Chegando no apartamento nenhum dos dois percebeu que nenhum dos dois tinha falado absolutamente nada por um bom tempo. Gabriel arrumou os travesseiros sobre a cama e Jorge pegou os lençóis no guarda roupa. Os dois já dividiam uma intimidade absurda para quem convivia por tão pouco tempo, mas a medida que se foram conhecendo, foram se permitindo cada vez mais e todo programa agendado pelos dois começava e terminava em sexo.
Gabriel tinha com ele a ideia de que tudo isso era temporário, se agarrava a isso que o fazia regozijar as possibilidades, tendo um outro ponto de vista sobre as situações, já tinha chegado a quase comprar as passagens de volta para casa duas vezes, mas se dizia que não porque gostava da cidade, porque gostava dos amigos dali, mas nunca admitiria que ainda estava por causa de Jorge.
Jorge, por sua vez, ficava admirado com a juventude e sagacidade de Gabriel, sempre que eles conversavam, Jorge aprendia algo, de longe Gabriel era o preto mais lindo que Jorge já havia visto na vida, assustadoramente dividiam as mesmas opiniões sobre diversos assuntos. A conversa era boa, o sexo fantástico, mas aquele eu te amo saiu de onde? Será que ele não tinha se referido a bunda de Gabriel? Ele talvez só tinha perdido a chance de completar a frase, que seria... “Eu te amo bunda! ”
Nenhum dos dois fizera o esforço de fechar os olhos para fingir que estava dormindo, estavam sentados lado a lado onde Gabriel ainda possuía uma cara de indignado, Jorge por sua vez parecia mais calmo, mas ninguém saberia ao certo o que se passava na cabeça dele.
Os dois passavam muito tempo juntos e evitavam falar sobre algumas coisas, era como se amobos se auto censurassem, pois Jorge normalmente frequentava o apartamente onde Gabriel estava, mas nunca havia notado que suas roupas não ocupavam só o guarda roupa e sim também malas. O apartamente onde Gabriel estava era emprestado, por coinscidência seu pai tinha um amigo que o emprestara aquele local. O lugar era caseiro e trazia em seu interior uma ambientação familiar, talvez por isso Jorge nunca havia chegado a suspeitar.
- Eu te amo!? Esbravejou Gabriel – Eu te amo? Como assim eu te amo!? O que você está pensando de mim? Que você pode me amar sem pedir permissão? Quem te deu essa liberdade? - Perguntou Gabriel irritado.
Jorge ficou chocado com tantas perguntas e antes de tentar responder foi interrompido.
- Olha aqui Jorge, você pode vir, me comer e ir embora, mas “Eu te amo”? Isso é um pouco demais, não acha? – Gabriel vomitou todas aquelas palavras como se tivesse pensado somente nisso por muito tempo e estivesse contado os segundos para dizer aquilo
Jorge que antes se perdia nas suas próprias explicações agora fazia uma cara de feliz, e num tom perceptivelmente mais baixo e tranquilo que o do Gabriel retrucou:
- O que você quer Gabriel? - Perguntou calmamente.
- Hã? – Gabriel achou que ainda não tinha se feito claro o suficiente.
- O que você quer Gabriel? – Jorge percebeu que Gabriel era o desesperado da situação.
- Eu...
- Você quer que o “eu te amo” seja para você, né? - Indagou Jorge sorrindo.
- Para de tentar falar por mim como se você me conhecesse, Jorge.
- É inevitável que eu te conheça pelo menos um pouco né? – Gabriel, contrariado, não respondeu – O que você quer Gabriel? – Perguntou agora suspirando perto do seu ouvido, Gabriel com os braços cruzados ainda fazia uma expressão de quem poderia explodir a qualquer momento.
- Eu quero que você queira que eu te queira, tá? Falei!
- Ah – Comentou Jorge num tom irônico como se aquela confissão fosse esclarecedora – Então...
- Mas eu não quero te querer! – Completou Gabriel.
- Acho que entendi... E você me quer? – Jorge perguntou perto da nuca de Gabriel que se sentiria fortemente arrependido por ter revelado a Jorge que aquele era um dos seus pontos fracos.
- Eu não sei! Jorge, eu não sei! – Gritou descruzando os braços. - Eu não posso... – se lembrando de sua mentira – tem um monte de coisa que eu não sei sobre você...
- Você não sabe porque preferiu... – Jorge se justificava, mas agradecendo pelas coisas terem sido daquele jeito – disse que não queria se envolver – rindo - ...funcionou!
- Vai tomar no seu cu Jorge! – Vociferou Gabriel se levantando da Cama.
Jorge ria, agora deitando na cama.
Jorge nunca perdia a calma, o que era uma característica dele que irritava Gabriel profundamente. Gabriel se descabelava por qualquer drama adolescente, era assombrado pelas imagens dos meses que viriam, pensava nele com as passagens na mão, pensava nele pegando o avião e indo pra Europa. Pensava nele olhando para a janela num dia cinza. Como tinha se permitido chegar até ali?
- O que você acha que vai acontece com a gente Jorge? Que você pode ficar aqui, a gente vai brincar de casinha? Namorar? Casar? Ter filhos? Morrer felizes para sempre? - Gabriel não ficava irritado com frequência e sentia seu pé morrer sempre que o fazia.
- Por que você tem sempre que planejar o futuro? – Disse ele rindo – E se a gente deixar as coisas simplesmente acontecer?
A calma de Jorge agora era ofensiva para Gabriel.
- Deixar as coisas acontecer? Você está louco? Você não pensa no futuro? No que vai ser daqui a alguns meses? No que você vai fazer?
- Meses? Por que tanta preocupação? – Jorge sentou novamente na cama falando num tom relativamente mais calmo e mais baixo que Gabriel.
- Por quê? Ah, porque... – fez uma pausa fechando os olhos e encarando o teto, ele já tinha percebido que não conseguia mentir olhando nos olhos de Jorge e isso o surpreendia... – Porque tem muita coisa para acontecer... muita coisa pode acontecer...
- Mas o que que vai acontecer? Me diz... – É porque eu sou velho? Você está com medo que eu morra é isso? - Jorge achava toda aquela preocupação denecessária e se divertia com o nervosismo de Gabriel e mantinha aquele sorriso lindamente irritante que fazia com que Gabriel quisesse pegar uma meia do chão e colocar na boca dele.
- Não, não seja bobo Jorge. – Disse Gabriel, agora baixando a voz, consideravelmente mais calmo que antes. – Mas... – continuou Gabriel, voltando para cama. – Eu te amo? Jorge... como a gente veio de Rod Stewart até aqui?
Jorge olhou nos olhos de Gabriel e se ajoelhou em cima da cama, pegando com as duas mãos no rosto de Gabriel
- Olha Gabriel, esse tipo de coisa a gente não liga e desliga como uma cafeteira... eu não to dizendo que eu te amo, te amo, entende? Mas eu tô começando... Isso é realmente uma coisa ruim!?
Gabriel olhou nos olhos de Jorge e viu sinceridade neles. Não respondeu, olhou em outra direção, lacrimejou e voltou a encará-lo.
-Eu... eu só me preocupo sabe... Só isso. – Disse Gabriel baixinho.
Os dois se afogavam nas mentiras, pensando quanto tempo até o outro descobrir, Jorge estupidamente pensava que podia viver sem contar a verdade pra Gabriel, que por outro lado tinha uma mentira com data de validade.