Cap.11
Eu fiquei atônito. Não consegui dizer uma palavra depois de ter sido questionado daquela maneira por ele. Eu... Até aquele dia, aquele momento nunca havia pensado em algo assim antes, com ele. Eu nem sequer tinha certeza de que curtia homens, e não mulheres. Como estava confuso com os meus sentimentos !
- Só me diz uma coisa Ben, você curte homens ? - eu respirei fundo. Meu coração sacolejou dentro do peito. Eu poderia assumir de vez isso para alguém e para mim mesmo, ou continuar tentando me descobri de verdade.
- Eu... Eu não sei... - ele respirou fundo.
- Eu acho que sei...
- Sabe ?
- Sim... Algo dentro de mim está me dizendo... - naquele momento a ligação acabou caindo. E agora ? O que ele estaria pensando de mim, e pensando a respeito do que penso e sinto ?
NARRADO POR RAFAEL
Durante alguns dias eu fiquei me perguntando, o que realmente estou sentindo ? Será se estou ficando louco ? Ou com algum problema cardíaco ? Porquê meu coração acelera tanto quando ele está por perto ? Por que ? Parei, olhei me no espelho... Eu nunca havia sentido algo assim na minha vida. E também nunca havia sentido algo assim por uma pessoa. Eu não estava me compreendendo. Sentia como se quisesse me esconder. Como se não quisesse enxergar a verdade. Mas que verdade ? Qual verdade ? Eu não queria admitir a verdade... Eu não queria admitir o quão ele estava dominando os meus pensamentos.
- Rafael ? - ouvi aquela voz causadora das minhas dúvidas.
- Oi Ben... - virei me e o encarei. Segurava com as duas mãos na alça da mochila, envergonhado.
- Sabe... Você nunca conheceu a minha casa até hoje, não é ? Por acaso não gostaria de ir lá hoje ? - como sempre, não conseguia descrever o que sentia quando ele me pedia algo. Era como ficar entre o fogo e a espada, e não poder se abster de uma escolha.
- Ir hoje a sua casa ?
- É... Minha mãe gostaria muito de te conhecer...
- Ah Ben... Eu... - olhar para aquele rosto branquinho, acabava me tirando qualquer resistência. Eu não conseguia dizer não. E mais uma vez isso se repetiu - Eu vou sim.. Pode deixar, eu vou na sua casa, é só me avisar o horário - ele sorriu...
- Tudo bem... Eu vou esperar... - assim que ele se foi, fiquei sozinho no vestiário. A cada dia que passava, eu via que não tinha mais para onde correr. Não tinha aonde se esconder, eu tinha que encarar a verdade. E a verdade é que ele não saia da minha cabeça... Que... Agora eu podia entender plenamente o que se passava na cabeça do meu irmão. O quão involuntário começou esse sentimento... E agora nem se eu quisesse conseguiria para-lo. Isso me deixa extasiado, e ao mesmo tempo com medo. Medo do que sinto, medo do que isso pode me causar... Eu não sou gay, nunca senti atração por um homem na minha vida. Pelo contrário, sempre abominei isso, e por um longo tempo deixei de falar com o meu irmão por isso. Porém, agora tudo se voltava contra mim. Eu não estava conseguindo me acostumar com esse rosto loiro correndo ao meu lado.
NARRADO POR BEN
Eu não queria magoar ninguém... Mas também não conseguia negar para mim mesmo a minha preferência pelo meu companheiro de ataque. A forma que ele me Olha, a forma como ele sorri, as suas formas, tudo me atrai. E eu tenho certeza que não é uma simples atração passageira. É algo mais complexo, mais firme... A forma como ele me trata, me faz ve-lo com outros olhos. Agora eu não consigo mais parar de pensar nele. E quanto ao Léo ? Bem... Eu não sei... Ele é uma pessoa legal... Mas não me atrai sentimentalmente. Exatamente por isso eu não sabia o que dizer quando ele me indagou daquela forma. Me arrumei, organizei um pouco da bagunça que estava tomando conta da casa aquele dia e fiquei esperando a chegada dele. Pouco antes do horário que eu havia marcado, ele chegou na minha casa. Sorridente e sedutor como sempre, me cumprimentou.
- Oi Ben... Que linda casa a sua... Acho que é mais bonita que a minha...
- São os seus olhos kkkk Ela nem é tão bonita assim.
- É sim, lindíssima.
- Já que você diz... Vamos entrando, está passando o jogo da Seleção Sub-20.
- Em falar em seleção, você sabe que logo teremos a Copa América.
- É, eu sei...
- Espera ser convocado ? - fiquei de cabeça baixa.
- De verdade, eu não sei dizer Rafa... Tem tanta gente boa e... - ele me fez parar de andar.
- Nós nunca devemos nos rebaixar, Ben. Se nós mesmos não confiarmos em nós, quem confiará ?
- Eu confio em mim - disse - mas é que não tenho tanta fé assim.
- Pois Não desista. Tenho certeza que logo te convocam, você está jogando muito !
- Você acha mesmo ?
- Tenho certeza...
MINUTOS DEPOIS
Não nego, estava nervoso em te-lo na minha casa. Eu sempre ficava nervoso quando ia recebe-lo, mas naquele dia eu estava mais. Ele é uma pessoa que me deixa nervoso... Peguei sorvete na geladeira e levei para a Sala, e começamos a comer com a colher.
- Alguém finalizou ?
- A França chutou uma vez.
- E o Brasil ?
- Até agora nada, os caras tão todos presos nos volantes da França.
- Se eu tivesse sido convocado... - ele riu.
- Desconfio que você não foi justamente porquê o técnico quer contar com você na principal.
- Eu espero que seja mesmo - nessa invenção de assistir o jogo com sorvete na colher, acabei me sujando pois o sorvete pingou - aí, que droga !
- O que foi ?
- Me sujei... - ele riu.
- Tão grandinho para estar se sujando... Deixa eu ver... - ele pegou um lenço que carregava e logo começou a limpar o sorvete, que havia caído sobre o meu tórax, quase no pescoço. Não nego, vê-lo tão perto, sentir seus toques e o seu cheiro me fez acelerar o coração. Ele percebeu... - está nervoso Ben ?
- Não... - falei, tentando mudar de assunto, já percebendo que iria corar.
- Mas e esse coração acelerado aqui ? - e então ele colocou a mão sobre o meu peito, e claramente pode sentir a escola de samba que tomava conta do meu coração naquele momento - nossa, mas porquê está batendo tão forte ?
- Eu não sei - falei, baixando a cabeça e me retraindo. Peguei na sua mão e começei a tira-la dali - imagino que seja por... - não pude terminar. Fui interrompido.
Continua
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