Cap.6
Eu nunca tinha sido assaltado. Sempre cercado de seguranças, nunca havia dado chance para esse tipo de coisas. Mas agora era diferente. Eu não tinha mais quem me protegesse.
- Anda porra, você não ouviu ? - eram dois homens, um pouco mais altos que eu. Não estavam encapuzados, eu podia ver os seus rostos. Portavam uma faca. Eram negros, os dois - quer levar uma facada ?
- Calma cara, eu... Eu... Eu não tenho nada.
- Como não tem nada ? Todo na beca e vem dizer que não tem nada. Tá querendo me enganar mané ? Quer morrer ?
- Pode olhar porra, eu não tenho nada - disse, esvaziando os bolsos e levantando a camisa.
- Então me dá essa roupa, eu quero a roupa.
- A minha roupa ?
- Tu é surdo caralho ! Tira logo essa roupa mané - não tive escolha, ou tirava, ou eles iam me esfaquear ali naquela roupa. Acabei tirando e fiquei apenas de cueca naquela chuva. Quando eles me viram quase nu, sorriram de uma forma sádica entre eles. Um sorriso que me assustou...
- Pronto ! - olharam o meu corpo de cima a baixo e então olharam para mim.
- Olha, você tem um corpão ein... Que tal a gente dar uma brincadinha ? - meus olhos arregalaram, eu Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Eles queriam me estuprar !
- Não... Não por favor... - imediatamente começei a chorar. E começei a pedir ajuda ao Deus divino. Eu nunca fiz nada tão ruim quanto um estupro. Não merecia isso !
- Cala a boca ! E colabora... Que vai ser mais rápido e de brinde eu não furo você... - o que eu podia fazer, lutar com eles ? Eram dois, e eram fortes, eu não tinha chance contra eles. Achei que não tinha mais saída, ia me sentir o homem mais sujo do mundo dentro de minutos. Quando senti a mão de um deles na minha bunda, a ânsia de vômito veio na garganta. Eles fediam a álcool, deslizavam aquela faca no meu corpo, não havia mais o que eu pudesse fazer. E para piorar, a rua estava deserta. Não passava um carro que fosse. Apenas Fechei os olhos, e fiquei esperando eles fazerem o que queriam. E quando eu Achei que já não tinha mais chance... Quando...
- Soltem o rapaz, ou então vocês morrem agora... - aquela altura, eu já estava no chão sujo da calçada, com uma mão dentro da cueca me apalpando. Quando ouvi aquela voz, foi como se um frenesi acontecesse...
"- Eu disse a você que não ia ser tão fácil..."
"- Você pode ter dinheiro, mas quem tem verdadeiros amigos sou eu"
Não podia ser. Eu... Não podia estar escutando aquela voz de novo. De repente os homens me soltaram, para o meu alívio e saíram correndo. Só então eu tive coragem para abrir os olhos. O homem, ainda longe, estava sob uma sombra, eu não conseguia ve-lo. Porém, quando chegou perto de mim, eu tive certeza...
- Você está Bem ? - perguntou ele, com aqueles olhos castanhos que muitas vezes despertaram coisas dentro de mim. Era Marcos, eu tenho certeza ! - eles fizeram algo demais com você ?
- Não... Só... Me roubaram - falei, me pondo sentado, pois não queria que ele visse o meu rosto. Se eu o reconheci, porquê ele não poderia me reconhecer.
- Pega - de repente então ele tirou o paletó do terno que estava usando, e colocou nas minhas costas - vamos ?
- EI ? Aonde você vai me levar ?
- Para dentro da empresa, para você se secar...
- Essa empresa ?
- Sim... - ele não tinha visto o meu rosto até ali. E eu nem sabia o que ele faria quando visse. Imaginava que era capaz de ele me jogar na rua novamente, sem roupa... Me abraçou fortemente, como se quisesse me proteger da chuva, e aos poucos me levou para dentro. Ali, dentro do seu abraço, eu fiz uma coisa que nunca Achei que ia fazer ao lado dele. Chorei. De alívio, porquê ao menos a minha dignidade não havia sido tirada de mim. Alguns minutos depois, completamente molhados, Estávamos debaixo de um prédio, na recepção do mesmo.
- Meu Deus, o que houve ? - perguntou uma mulher, vindo na nossa direção.
- Uns bandidos queriam estupra-lo aí na frente e eu impedi - disse...
- Você está bem, eles não te fizeram nada ?
- Não... Só levaram a minha roupa - falei, timidamente.
- Oh meu Deus, tá impossível viver nesse Rio de Janeiro, até roupa tão roubando... - eu Ergui levemente o olhar, e o olhei. Ele continuava alto e bonito. Com a roupa totalmente molhada, era possível ver o corpo bonito, que só havia melhorado nos últimos anos. Agora barbudo, mas ainda assim idêntico a aquele adolescente esquentado que havia sido meu rival no Ensino Médio, e que agora salvou a minha vida.
- Vai lá Michelle, traz um Chocolate Quente para ele, por favor...
- OK - ele ainda não havia visto o meu rosto, eu não havia deixado. E eu estava com medo do que ele iria fazer quando soubesse. Andou, sentou-se ao meu lado no sofá da recepção, e então tirou a gravata e a balançou os cabelos, como forma de tirar o excesso de água.
- Como foi que isso aconteceu ? - ele perguntou
- Eu estava andando na rua e eles me abordaram, pedindo para eu dar tudo. Só que eu não trouxe nada, só a roupa. Então ele me fez tirar e... Quando viu o meu corpo me achou bonito e... Quis me estuprar - falei, com lágrimas nos olhos e o coração apertado só de lembrar.
- Mas porquê você foi sair a noite, a pé ? Você sabia que é arriscado, não ?
- Isso nunca tinha acontecido comigo...
- Mas hoje em dia é comum... É muito perigoso andar por aí, por isso eu pedi o direito de portar armas ao governo. Mas pelo menos agora já passou... Você está seguro aqui... - logo a mulher trouxe uma xícara e me entregou.
- Obrigado - peguei a mesma e começei a tomar, ainda escondendo o rosto dele.
- Vai lá na minha sala e traz aquela camisa azul, aquela calça jeans e aquele tênis que tem lá, por favor...
- OK Seu Marcos - e Então a mulher se foi, nos deixando mais uma vez sozinhos.
- Você é novo por aqui ?
- Não... Moro no Rio a 5 anos...
- E ainda não aprendeu como se deve andar por aí ?
- Agora eu sei... Como devo andar... - ele estava bem diferente do que era na adolescência. A julgar pelas ordens que ele estava dando aquela mulher, ele devia ter um cargo alto naquela empresa.
- Por que você estava andando na rua tão tarde ?
- Bem... Eu... Fui expulso de casa...
- Como assim ?
- Fui expulso de casa pelo governo...
- Pelo governo ?
- É... Meu pai... Ele perdeu tudo o que tinha... Até o apartamento. Eu estava andando na rua a procura de algum lugar para ficar e... Também para pensar sobre tudo o que aconteceu comigo.
- E o que aconteceu com você ? - ele era curioso. E ficou preocupado com o silêncio que eu fiz - Ah, não quer falar sobre isso ? Tá bom.
- Não é isso.. É que a história é longa...
- Não pode resumir ? - respirei fundo.
- Bem... Meu pai era rico. Porém ele perdeu tudo, faliu por causa de umas besteiras que fez e por eu e minha mãe na rua da amargura, sem nem ter como comer. Perdemos o apartamento, tudo foi confiscado para pagar as dívidas dele... E agora... Estou aqui. Desempregado e sem ter como viver - ele me ouviu atentamente. Nem parecia aquele garoto que me odiava.
- Está passando necessidades ?
- Estou ... - falei, limpando os olhos - eu nem estou mais tão preocupado comigo. Estou mais preocupado com minha mãe. Ela nunca fez nada de mal para estar passando por isso.
- Se você quiser... Nós podemos procurar a sua ficha e tudo mais e... Dependendo de como for eu posso te oferecer um emprego aqui...
- Mas... Como ?
- Eu sou o diretor dessa companhia senhor... Eu posso dar um emprego a você - arregalei os olhos. Então essa era a rasteira que a vida queria me dar. Aquele que eu mais tentei humilhar na vida, agora estava por cima. E eu... estava por baixo - mas nós temos que conversar muito mais a respeito disso... Como é o seu nome ? - eu sei... Tenho o meu orgulho... Mas pelo menos uma vez na vida, eu tinha que fazer algo de bom. E se eu conseguisse um emprego naquela empresa, conseguiria ao menos sustentar eu e minha mãe... E não podia dar ao luxo de perder essa chance por uma briga que ocorreu antes. Então... Menti o meu nome.
- Daniel - falei, com o orgulho na boca e ao mesmo tempo a necessidade.
- Então... Daniel, Porquê você está escondendo o rosto de mim ? Vira o rosto, eu quero ve-lo...
Continua
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